26.7.18

Grécia: tragédia e tristeza




Quem acompanhou de perto o processo grego, há três anos, como foi o meu caso, não esqueceu certamente o nome de Zoe Konstantopoulou e o que se seguiu, depois do OXI no referendo e da aceitação do terceiro resgate. Tudo isto é muito triste, para além de toda a tragédia que está a atingir a Grécia!

«Eu era membro do Syriza e presidente do Parlamento no primeiro governo. Não era só próxima. Era alguém que, de coração, acreditava naquilo que estávamos a fazer. Estou na triste posição de constatar que Tsipras não só tinha escolha, como fez a escolha de trair o povo e entregar o país e que fez essa escolha muito antes das eleições de 2015. Lamento imenso que tenhamos sido todos defraudados, sinto-me frustrada por ele ter defraudado toda a população, não só os seus camaradas e o seu partido. Tenho a certeza, porque estava na presidência do Parlamento na altura, que os dois relatórios que o Comité para a Verdade sobre a Dívida Grega produziu a dizer que a dívida grega era ilegal e devia ser anulada nem sequer foram usados por Tsipras. Ele também não honrou o mandato do povo. Não estamos a falar de escolhas em abstrato. As pessoas foram chamadas a votar [no referendo de 5 de julho de 2015] e votaram "Não" a mais austeridade. Tsipras violou esse "Não", transformou-o em "Sim" e assim tem estado a governar nos últimos três anos. Se ele tinha escolha? Tinha. E fê-la. A sua escolha foi manter-se no poder e, por isso, ficará nas páginas negras da História. O povo grego não esquecerá. O Tsipras em quem confiaram, o Tsipras que representava esperança, traiu-os da forma mais cínica possível.»
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2 comments:

Francisco Apolónio disse...

E quem avisou e quem o apoiou?

Kke disse...

Mas não é esse o modo mais fácil de a esquerda fugir com o rabo á seringa? Dizer que simplesmente tsipras se vendeu é que foi por isso que a revolução encalhou na sua gloriosa marcha? Estive no encontro plano B organizado pela esquerda europeia e não vi ninguém a admitir que a esquerda não tem de facto um projecto de transição para o socialismo. Nem os eurodeputados com salários principescos se levam a sério. Não estou a dizer que não são sérios nas suas intenções, mas é lógico que não queiram admitir a impotência (é incompatível com o plano de negocio que se chama democracia parlamentar).

Aproveito para dizer que sou contra o dar a cara para comentar. As ideias têm de valer por si mesmas.