6.8.18

A vaga de calor



«Nem os super-heróis nos salvam do calor. Telefonaram a Iceman, mas este estava no chuveiro. Enquanto Portugal tem um olho de prevenção nos incêndios e outro no abano que usa para fazer aparecer alguma brisa refrescante, a Europa torra. Calores extremos na Suécia, incêndios devastadores na Grécia, sol escaldante no Japão. Nas esquinas, olhando para a forma como temos maltratado um planeta vivo como é a Terra, desde a Revolução Industrial, há quem tenha um taco de basebol para acertar na cabeça dos políticos de serviço ao Governo do momento.

Mas a questão é que, ao contrário do que Donald Trump pensa, as alterações climáticas não são "fake news". São uma questão séria. Com severas implicações sociais, ambientais, económicas e políticas. A água vai ser o petróleo deste século e muita da migração que vem de África em busca da Europa vai aumentar ainda mais por causa disso. A fúria social vai caminhar de mão dada com o calor.

O aquecimento global é real. Sente-se. E o problema é que não podemos fugir dele. Nem nos podemos esconder, fingindo que não é nada connosco. Vai trazer alterações radicais às sociedades. Mais calor, mais fogos, menos água, vão ser a norma e não a excepção. O ritmo das estações, como as conhecemos há 20 ou 30 anos, alterou-se.

A Terra deixou de ser um relógio. Os habitantes daquilo a que se chamou o terceiro pedregulho a contar do Sol vão ter de se confrontar com fenómenos extremos com cada vez maior frequência.

Mas como irão os políticos e os eleitorados lidar com estas questões? As boas (ou más) decisões já não vão afectar apenas o dia seguinte: vão determinar o curto prazo. Em Portugal, a classe política dedicou-se a procurar os culpados dos incêndios do ano passado, mas não se viu que ela estivesse interessada em que a sociedade debatesse e se inteirasse do problema mais vasto. São precisas boas políticas e bons políticos para enfrentar esta vaga de calor. Que derrete muitas certezas políticas, económicas e sociais.»

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