22.8.18

Centeno encontra-se com Mr. Hyde



«Há encontros mais prováveis do que outros. Mas o de Mário Centeno com Mr. Hyde não cabe apenas numa canção dos saudosos Ban. Não se sabe se Centeno é, de dia, o Dr. Henry Jekyll e, de noite, o ruim Mr. Hyde. Ou melhor, se é Jekyll quando está no Ministério das Finanças do Governo PS e Hyde quando está sentado na cadeira dourada do Eurogrupo. Esta confusão de personalidades é, claramente, desgastante. Porque, às tantas, não sabemos já quem é Mário Centeno. Duvida-se mesmo de que Mário Centeno saiba quem é Mário Centeno. Centeno queria ser um pauzinho na engrenagem mas, depois do seu teledisco sobre a Grécia, tornou-se na engrenagem que devorou o pauzinho. Sabia-se que quando se sentasse na cadeira da presidência do Eurogrupo, Mário Centeno iria transformar-se num sorridente Jeroen Dijsselbloem, também ele uma voz do Partido Trabalhista holandês. Mas não se julgava que o choque eléctrico criasse um problema de duplicidade de identidade. Centeno, depois de dizer que "a Grécia voltou à normalidade", deixou de ser especialista em finanças: é um ilusionista com diploma passado por uma universidade alemã. Nada que admire.

Grécia e Portugal foram os bodes expiatórios da incompetência e dos dogmas económicos e culturais de Bruxelas e Frankfurt para enfrentar a crise financeira global. Foram os sacrificados para salvar Itália e Espanha. Se era necessária austeridade, ela tornou-se uma obsessão que corroeu a sociedade e todos os contratos sociais. Na Grécia, começou-se por salvar os bancos alemães e franceses. Depois foi o PIB a cair a pique, as centenas de milhares de gregos a sair do país e a "recuperação", com uma dívida externa que nunca poderá ser paga, uma economia sufocada e salários cada vez mais baixos. E já nem se fala na forma como a gentil Europa abandonou os gregos nos dias mais críticos da chegada de migrantes às suas costas. O caldo de cultura perfeito para o crescimento da extrema-direita. O custo social da tragédia grega é a maior dívida da Europa a esse país. Só Mr. Hyde não a vê.» .

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