16.9.18

Os robôs vão mesmo roubar-nos o emprego?



«As contas podem ser feitas de várias formas. Nenhuma favorece os humanos na guerra contra os robôs pela manutenção dos postos de trabalho. O Fórum Económico Mundial antecipa que os avanços da robótica e da inteligência artificial colocarão cinco milhões de profissionais no desemprego até 2020. A Universidade de Oxford defende, que nos próximos 25 anos, 47% dos empregos que hoje conhecemos podem desaparecer. A consultora EY avança que, em sete anos, um em cada três postos de trabalho serão substituídos por tecnologia inteligente e os vários estudos que a Deloitte já realizou sobre o tema referem que, até 2030, 40% dos empregos atuais não existirão.

Mas é o próprio partner da Deloitte em Portugal, Sérgio Monte Lee, a aconselhar prudência na análise. Como em todas as revoluções, também nesta a análise não pode ser feita apenas a partir de uma das perspetivas, a eliminação de postos de trabalho. É preciso refletir sobre a natureza dos empregos extintos e sobre a tipologia dos novos empregos que a automação ajudará a criar. Um dos estudos mais citados sobre o futuro do emprego, de Carl Frey e Michael Osborne (2014), demonstra que as profissões que enfrentam maior risco de substituição estão sobretudo associadas ao desempenho de tarefas rotineiras e braçais, mas não necessariamente pouco qualificadas.

A prática demonstra que a tecnologia está também a substituir profissionais qualificados, como contabilistas, analistas de crédito, bancários e outros que exercem funções complexas mas repetitivas. Mas nem por isso a qualificação deixará de ser relevante no futuro. O estudo da Deloitte reforça que os novos empregos a criar serão forçosamente mais qualificados, requererão uma reciclagem técnica constante e um leque de competências comportamentais-chave como a capacidade de resolução de problemas complexos, a criatividade e o raciocínio matemático, sem esquecer a inteligência emocional (a tal que nos distingue das máquinas).

As máquinas continuam a necessitar de humanos que as operem. Pelo que a cooperação entre homens e máquinas no mercado de trabalho afigura-se como o caminho mais certo e até os empresários já o reconhecem. “82% dos líderes empresariais esperam que as suas forças de trabalho humanas e tecnológicas funcionem, em equipas totalmente integradas, nos próximos cinco anos”, conclui um estudo da Dell realizado a 3800 líderes de empresas globais.

Revolução transversal

Na verdade, os impactos da inteligência artificial no emprego vão já muito além da substituição do homem pela máquina. Não é só o emprego que está a mudar, mas também o modo como procuramos emprego e os processos de recrutamento em si. A inteligência artificial já ganhou terreno na identificação de candidatos, na triagem de currículos e até numa das mais essenciais e críticas etapas do processo de seleção, a entrevista.

Se durante décadas a maior preocupação de um candidato era criar um currículo capaz de passar no crivo do diretor de Recursos Humanos, a tecnologia alterou isso. Há cada vez mais empresas a substituir a triagem manual de currículos (e até a validação das informações dos candidatos) pelo uso de algoritmos que aceleram o processo. Na fase da entrevista, momento determinante do processo de seleção, os robôs também já estão em destaque. O robô Vera, criado por uma startup russa em 2017, é já utilizado por gigantes como a Ikea, L’Oréal e PepsiCo, Microsoft, Burger King e Auchan para entrevistar candidatos — humanos! — em processos de recrutamento. Isto dispensa a intervenção humana dos especialistas em recrutamento e seleção? Ainda não, mas já lhes coloca tantos desafios como aos candidatos. A questão de fundo não é se os robôs vão ou não eliminar postos de trabalho. É se os humanos estão preparados para ‘coabitar’ com os robôs nas várias dimensões da sua vida.»

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