17.10.18

A teoria dos gansos



«Mário Centeno não é um cobrador do fraque sorridente. É um moderno Jean-Baptiste Colbert, o ministro das Finanças do gastador Luís XIV. O OE de 2019 é a prova de que leu, com rigor, o ensinamento maior de Colbert: "A arte da tributação consiste em depenar um ganso para conseguir o maior número de penas com a menor quantidade possível de assobios." Os gansos, no caso, são os portugueses. Como já eram antes deste OE e como vão continuar a ser depois dele. No mundo de Centeno não há almoços grátis, nem jantares à borla. O que dá retirará em forma de cativações. A União Europeia quer gansos amestrados e Centeno cumpre, com rigor, essas instruções. Neste país não são só os ministros que são Centeno: todos os portugueses foram convidados a sê-lo. Por isso, este OE parece ser o melhor de dois mundos: uma distribuição de férias gratuitas na República Dominicana e um controlo austero dos gastos como desejam as forretas Bruxelas e Berlim. Para um OE em ano eleitoral é uma espécie de milagre das rosas. Mas era isso mesmo que António Costa desejava para a sua carga da brigada pesada para o ano de todas as eleições. Depois de uma remodelação governamental que transforma o Executivo numa legião romana, a diversão táctica chega com este OE. Sun Tzu não faria melhor.

A teoria dos gansos está publicada neste OE, com requinte literário. Está lá tudo o que tornará os gansos mudos: aumentos para a Função Pública, aumento extra para os pensionistas, descidas das propinas universitárias e os preços "populares" dos passes sociais (estes chegarão bem nas vésperas das legislativas de 2019, para que ninguém se esqueça). Tudo o que o manual do bom OE eleitoral ensina. Há folgas e serão controladas a conta-gotas, com mais uns impostos indirectos e cativações, arte em que Centeno é mestre. Os gansos continuarão a ser depenados, porque Portugal é um país onde os impostos reinam sobre tudo há séculos, mas terão ração reforçada. Depois só se espera que sigam em marcha ordeira para as urnas eleitorais.»

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