20.1.18

Equívocos


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A geração mais preparada de sempre?

Kennedy versus Trump




Foi num 20 de janeiro, há 57 anos, que John Kennedy tomou posse como 35º presidente dos Estados Unidos. E Trump é o 45º...
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Humor mais do que negro



Mas que imagem! Do ministro de Salazar ao senhor que ficou com a fama de roubar mantas em aviões. Numa conferência em Cavaco afirmou: «Não há nada como uma pessoa afastar-se para passar a ser excelente.»

Daqui.
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Três mitos



Daniel Oliveira no Expresso de 20.01.2018:


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19.1.18

#TriumphToo ?

Dica (699)




«Stiglitz says that a corporate-driven policy agenda and the distorted economic views bolstering them have deepened inequality and undermined social stability in regions across the world. Economic theory is actually much more qualified in its endorsement of free trade and efficient markets than policymakers .made it out to be, he says. Looking ahead, anti-globalization movements and technological disruption represent a challenge to African countries in particular. Addressing it will require a multi-pronged approach that involves governments and the manufacturing, services, and agriculture sectors.» (Vídeo)

Namíbia first




«Para tirar proveito do desprezo de Trump, uma empresa de turismo publica um orgulhoso vídeo promocional que já foi visto por mais de 1 milhão de pessoas.

E a Namíbia é mesmo uma maravilha!
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Entrevista com o diabo



«Negócios: Olá, Diabo. Este é o segundo ano em que aceita ser entrevistado. Desde já, o nosso agradecimento.

Diabo: Eu é que agradeço o convite. É a minha oportunidade para esclarecer algumas coisas que têm sido ditas. Não sou de confissões, mas tenho de confessar que me tem incomodado ser constantemente associado ao PSD. Não sei se é por ter esta cauda com formato de seta na ponta, mas eu quero deixar bem claro que sou apartidário.

Negócios: Mas sabe que o líder do PSD, que tantas vezes chamou o seu nome em vão, já foi afastado e que o partido tem um novo líder?

Diabo: Eu sei, a minha filha disse-me.

Negócios: O diabo tem uma filha?

Diabo: Tenho, sim senhora. Se Deus teve um filho, e o sexo para aqueles lados é pouco popular, por que raio não havia de eu ter uma filha?

Negócios: E também nasceu em Belém?

Diabo: Não, nasceu em Estremoz, distrito de Évora. Tinha de ser no Alentejo porque, a nível de temperatura, era o mais parecido com a casa do pai.

Negócios: Mas, afinal, a sua filha é quem?

Diabo: A Teodora Cardoso. Se o filho de Deus veio ao mundo para salvar a humanidade, a minha filha veio ao mundo para assustar os portugueses. Mas ando um bocado chateado com ela porque, como dizia Fernando Pessoa, o que era suposto era Jesus Cristo não saber nada de finanças, agora, a minha filha tem obrigação de dominar o tema.

Negócios: Acha que ela tem sido demasiado pessimista? Pode ter sido com boa intenção.

Diabo: De boas intenções está o inferno cheio, e eu vivo lá e preciso de espaço. Ela sabe isso! Já não há onde pôr boas intenções. Tive de arrendar um armazém em Odivelas para pôr lá umas quantas.

Negócios: É uma grande revelação que nos faz.

Diabo: Outra coisa que queria deixar bem claro é que eu não tenho nenhum negócio com a Doutora Manuela Ferreira Leite. Absolutamente nada, apesar de algumas pessoas pensarem que fui eu que lhe vendi o guarda-roupa.

Negócios: Isso vem a propósito das recentes declarações da Doutora Manuela, que admitiu "vender a alma ao diabo" para afastar o PS e a esquerda do poder?

Diabo: Exacto! Não estou minimamente interessado nesse tipo de negócios. Eu deixei de comprar almas uns anos antes da crise do "subprime". Por isso é que se deu a crise.

Negócios: Portanto, não há a menor hipótese de o PSD voltar ao poder através da venda da alma ao diabo?

Diabo: Esqueçam. Tentem vender aos chineses. O investimento em almas não compensa. As almas desgastam-se, são demasiado tangíveis. Mesmo que quisesse, não podia, agora tenho tudo investido em bitcoins.»

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18.1.18

Da série «Grandes Capas»



O Libération de amanhã, 19.01.2018.
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O problema da habitação



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:



Na íntegra AQUI.
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18.01.1934 - Marinha Grande e não só



Em reacção à Constituição que Salazar começou a preparar desde que chegou ao poder, em 5 de Julho de 1932, e que acabou por ser promulgada em Abril de 1933, à criação da polícia política (PVDE) e à legislação que neutralizou as organizações operárias, fascizando os sindicatos, gerou-se um amplo movimento operário que, depois de alguns acidentes de percurso, culminou na convocação de uma «Greve Geral Revolucionária» para 18 de Janeiro de 1934.

Porque na véspera a PVDE prendeu alguns dos principais responsáveis e activistas, o impacto foi menor do que esperado. Apesar disso, explodiu uma bomba no Poço do Bispo em Lisboa, na noite de 17, e o caminho-de-ferro foi cortado em Xabregas, em Coimbra, explodiram duas bombas na central eléctrica e houve movimentações em diversos outros pontos do país (Leiria, Barreiro, Almada, Sines e Silves). A mais significativa deu-se na Marinha Grande, onde grupos de operários ocuparam o posto da GNR, os edifícios da Câmara Municipal e dos CTT.

Mas a repressão foi forte e uma das suas decisões concretizou-se na criação de uma colónia penal no Tarrafal, para onde acabaram por seguir, em 1936, muitos dos detidos do 18 de Janeiro. Nove acabaram por lá morrer.

Estes acontecimentos puseram fim a décadas de sindicalismo livre, apesar de todos os condicionalismos persecutórios. Além disso, o falhanço que constituíram e a repressão que se seguiu liquidaram a liderança do movimento operário pelo anarco-sindicalismo.



Conselho de leitura: Fátima Patriarca - O «18 de Janeiro»: uma proposta de releitura.

Olhem bem: há um anzol por cima do vosso ecrã



«Se fixarem bem os ecrãs dos vossos computadores, tablets ou “telefones espertos” e, num repente, olharem para cima, hão-de ver um anzol. Um anzol que vai baixando, lentamente, até chegar à presa. Aliás não é um, são vários e não desistem. Já deles aqui se falou, em tempos, na crónica “Contos do mau vigário” (Dezembro de 2009). Mas como continuam, e ainda por cima têm êxito, convém voltar a eles. Até por motivos de actualidade: desta vez, atingiram duas conhecidas redes de supermercados, burlando os seus clientes. Anunciam descontos, concursos e prémios e esperam que alguém caia no engodo. Como o dinheiro é sempre muito atractivo, devem ter caído vários. Alarme: tudo falso, atenção! Mas para os que arriscaram na mira de uns “euros”, o prémio foi mesmo um anzol na carteira. Azares.

Desde a antiguidade que o conto do vigário é um posto e uma lenda. Milhões de criaturas já o tentaram, milhões já caíram nele desgostosamente. O mais idiota de tudo isto é que na maioria dos casos as mensagens de phishing (sim, vem mesmo de pesca, mas aqui o termo quer dizer técnica de fraude informática para roubar dados a quem caia na armadilha) são perfeitamente cretinas e não resistem a uma primeira leitura, mesmo que apressada. Numa recolha do “último grito” em aldrabices de anzol no espaço virtual, há exemplos incríveis.

Vejam-se estes: “NOTIFICAÇÃO MICROSOFT. Para receber as mensagens de forma gentil, clique em: UPDATE para permitir que você verifique as equipes.” Credível? Em que planeta? Os nomes da Microsoft, da Apple, de bancos ou empresas conhecidas são usados em logotipos claramente falsificados ou copiados de forma tão descuidada que só mesmo por distracção conseguem iludir alguém. Mesmo assim há quem caia. Vejam este, onde se pede para clicar num link: “Seguem abaixo o link da nota fiscal Nef= BRTREK-TREKYZZB referente a prestação de serviços”. Alguém clicará? Outro: “Lembre-se de que a ID da Apple expira em menos de 48 horas. Clique aqui para verificar agora.” Para quê, se nunca tive ID da Apple? “Clique aqui para acessar sua conta [no banco X]”. Para quê, se não tenho conta em tal banco? Também recebi, da “Fnac”, uma notificação de compra de uma televisão topo de gama no valor de 1.565 euros, convidando-me a seguir “a minha conta” num quadradinho pintado com as cores da empresa. Como não comprei nada a minha primeira tentação seria conferir tal disparate. Sim? Nunca. É isso que o anzol quer.

“Olá Cliente: [bancoY] De forma a ajudar a manter a segurança da tua conta (…), corima o teu acesso. Clique aqui para confirmar o teu acesso.” Não cheira mesmo a esturro? E este: “Notou Que você pagou duas vezes ao mesmo tempo a conta. Nós lhe falamos que você tem que adiar seus clientes de serviço de perfil [segue o nome umaconhecida operadora de telefones]. Proceder você descarregam documento anexo de documento e você segue as indicações. nós esperamos Você logo em [endereço falso].” Há uns mais delirantes: “Bom dia! O meu nome e Olena. Tenho 30 anos. Sou uma mulher loira com olhos castanhos. Escrevo-lhe, em volta de voce vir a conhecer mais perto. Espero, a minha carta para voce vem-lhe nao esquisitamente antes. Olho a verdadeiros, honesto, homem autentico. Infelizmente, fui capaz de fazer assim um em verdadeiro as vidas nao encontram. Sou preempcao de, bonitos mulher. Se acordei o seu interesse despertado? Como voce meu quadro? Que o produto glucklich se uma resposta escreve tornei-me. Espero, a sua resposta nao fazem esperar. Olenushka!” Em anexo, para descarregar, vem a “fotografia” fatal, que deixará o computador do incauto à mercê dos assaltantes. Ora finalizemos com um clássico da burla, em versão recente: “Bom-dia, O meu nome é Rania Hassan, francês de origem do Emirado do Kuwait. Sofro de uma grave doença. É viúvo e sem família. Leiam o ficheiro em anexo para ter cerca de informações suplementares. Quero fazer-vos uma proposta sou um presente de um valor 3,5 milhões de dólar. vi o vosso perfil e parece que a vossa pessoa que têm necessidade de mim. Deixo-vos o meu endereço eletrónico, contacto-me: [endereço falso]. Que Deus abençoe-os.” Enfim, vêm aos milhares: diários, insistentes, famintos. Mas por que raio nos deixaremos pescar por anzóis tão mal disfarçados?»

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17.1.18

Entretanto no Iémen



Milhares de crianças estão a ser mortas no Iémen.

25.000 de crianças morrem quando nascem ou durante o primeiro mês de vida.
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Dica (698)




«El autor analiza el movimiento #MeToo, la presidencia de Donald Trump y su retirada de la escritura en una entrevista con 'The New York Times'.»
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17.01.1944 – Françoise Hardy



Françoise Hardy faz hoje 74 anos. Em 20015, em luta contra um cancro, anunciou que tinha posto fim à carreira. Mas venceu o dito cancro e não passou de mais um hoax uma notícia que circulou esta semana anunciando a sua morte. Pelo contrário, está bem viva e leio hoje que trabalha num novo álbum com doze canções, que, diz ela,  «parle de choses en rapport avec mon âge». Nada mal!

Seja como for, quando desaparecer, nós, «les garçons et les filles de son âge», ficaremos para sempre a dever-lhe memórias de ternura e de inocência. Voltar a ouvi-la, nos seus primeiros tempos, devolve-nos uma ingenuidade que parece hoje irreal, quase impossível que alguma vez tenha existido.




Do seu álbum de 2012:




E, inevitavelmente, o início de tudo (1962), a canção ícone que ficou para sempre, com letra e música de sua autoria:


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Mas que país é este?



Ninguém me contou, isto está mesmo na página do Facebook da PSP:

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Toca a vender a alma ao diabo



«A recomendação é de Ferreira Leite para o presidente-eleito Rui Rio e já deu que falar: desunhe-se, se preciso for venda a alma ao diabo para correr com a esquerda do estribo do gabinete do Dr. Costa, se não mesmo da sua mesa, sabe-se lá onde essa gente se instalou. A bem dizer, Rio já tinha dito isso, sem ter que invocar o inconveniente diabo, que tem entre os laranjas a má fama de nunca chegar a horas. A tomar por certo o que correu o risco de anunciar durante a sua campanha, o objetivo de Rio é mesmo esse. Perdendo dentro de dois anos, vai já adiantando que a moral e os bons costumes recomendam que dê uma mão ao estouvado do Dr. Costa para o aliviar das más influências.

PUB Imagino os sorrisos de auto-condescendência no Bloco e no PCP. Afinal de contas, se o intuito da direita ao renovar-se é condensar a sua política no objectivo estratégico de se aliar ao PS no temor de que, preso a acordos com a esquerda, aquele partido amanse os seus compromissos europeus e outros avulsos, a começar pelo patronato que ama as leis laborais troikistas e pelos interesses que estremecem quando se fazem contas às rendas, então as esquerdas não poderiam exibir melhor certificado de competência e vitória. Nunca a esquerda foi tão evidentemente definida como o eixo da política pela direita. É aliás cândido que Rio tenha feito dessa subserviência ao PS um mote de campanha, e é não menos arrebatador que os incentivos que recebe, já de vitória no bolso, lhe peçam que não saia dessa sua linha de rumo.

Claro que para o PSD isso é suicidário. Votem-em-mim-para-eu-apoiar-o-PS é uma frivolidade, para os eleitores mais crédulos mais vale então votar no PS. Isso já se verificou em minúscula escala na última eleição, noutro quadrante, e não deixa de ser curioso que o PSD, à direita, acredite que se reforça com uma política que anuncia o seu próprio fracasso como alternativa. Mas é assim mesmo e a realidade impõe-se contra os cálculos: para a direita económica, o único desígnio presente é dar a maioria absoluta ao PS, sozinho ou em bloco central, na esperança de o trazer ao redil da saudosa tradição liberal, os mercados a tomarem conta da segurança social e da saúde, já para não esquecer os transportes de Lisboa e Porto que estavam prometidos a quem de direito. O conforto de alma, o fim de sobressaltos e da incerteza sobre a relação de forças, que os ministros são tão volúveis, tudo advoga esse bloco central, para uma direita que prefere perder por cem a perder por mil.

Acresce que esta linha diabista tem muitos entusiastas. Para a esquerda, é o cenário de sonho: a haver incerteza sobre se o PS se alia a Rio, nem é preciso fazer campanha sobre a necessidade de uma posição forte para que Portugal não retorne à pasmaceira da austeridade. Para o PS também não é mau, os que acham que o bloco central é uma segunda pele ficam aliviados e os que acham que o PSD deve ser reduzido a uma periferia política ficam animados. Para o CDS, interessante, fica com algum espaço, mesmo se a catadura de Rio lhe pode ganhar alguma “classe média”.

Fica um problema, que não é de somenos. Tal estratégia tem um preço de regime. O bloco central é uma coisa nos anos oitenta, saídos da revolução e com aflições constitucionais, e outra nos tempos de crise dos partidos quarentões. Assim, o único bloco central que os poderes económicos pretendem é mesmo a maioria absoluta do PS para que o tempo volte para trás. Tanto pior para as direitas.

Por isso, sem querer desmerecer a primazia do conselho de Ferreira Leite, repito com ela: Dr. Rio, venda mesmo a alma ao diabo, que nesse comércio espiritual é de aproveitar o momento em que a cotação vai alta. É a lei do mercado, percebe?»

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16.1.18

Dica (697)



O preconceito faz mal à saúde (Mariana Mortágua) 

«Há uma substância capaz de fazer face a sintomas associados a várias doenças graves, entre elas o cancro. Os seus benefícios estão comprovados. Tem efeitos secundários, mas não mais que muitas drogas legais, como antidepressivos ou analgésicos fortes. Quem precisa de aceder à canábis para uso terapêutico, ou quem acompanha a situação, conhece a revolta de saber que há um tratamento mais indicado que, por ignorância e preconceito, não está legalmente disponível. Eu já a senti.
O debate na Assembleia da República foi clarificador. Ninguém nega os benefícios do uso terapêutico da canábis, o que torna frágeis os argumentos contra a legalização. De todas as posições, a mais incompreensível, de tão conservadora, é a do PCP.»
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Carta à República





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Lisbon, your pilarete’s town


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Assim vão as eleições «democráticas»




Este tipo de factos é já preocupantemente habitual e põe em causa a saúde de eleições em democracia. E ainda por cima:

«O economista-chefe do Banco Mundial disse que os índices de competitividade chilenos serão corrigidos e recalculados. Nos últimos quatro anos, por exemplo, a queda do Chile foi provocada, quase em sua totalidade, pela alteração da metodologia de análise, não por mudanças nas medidas permanentes do ambiente comercial do país. “Com base nas coisas que estávamos medindo antes, as condições comerciais não pioraram no Chile sob a administração de Bachelet”, completou Romer.»
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Não há fatalidades



«Quem, por estes dias, se refere à tragédia de Tondela como prova de uma qualquer “maldição” que se abateu sobre a sua população omite que essa "maldição" é a negligência com que o Estado central e local trata funções suas que não considera sensíveis. A segurança do edifício de um clube recreativo no interior do país ou a execução de um ordenamento florestal adequado são matérias que emanam de deveres básicos de um Estado organizado.

PUB Falar em maldição é também, por isso, ignorar a dor das famílias afectadas e a insegurança que se vai instalando quanto à capacidade de resposta das administrações públicas para o que foram feitas e isso é o essencial, não uma fatalidade.

De cada vez que uma tragédia destas acontece, abre-se fogo legítimo sobre a responsabilidade dos líderes políticos nacionais e locais, mas também sobre a história. As décadas de receitas político-económicas que defendem Estados mais magros e menos regulados não geram apenas mais iniciativa privada e menos Estado. Quando este se desliga de certas competências, as delega nos privados ou as extingue e gera indefinições, a (já histórica) cultura laxista do risco encontra um terreno fértil para continuar a desenvolver-se, especialmente pelas franjas do licenciamento e da fiscalização. E no papel de protagonistas podem estar tanto interesses poderosos como amiguismos locais.

O que se passou na associação recreativa de Vila Nova da Rainha é associado, na sua origem, ao voluntarismo, ao desconhecimento, ao desleixo, a portas que abriam para dentro ou estavam trancadas, a materiais altamente inflamáveis, inadequados e de instalação deficiente. Mas essas são mais consequências do que razões. Estas são a forma como o poder local fiscaliza e como continuam por definir as responsabilidades e poderes da Autoridade Nacional de Protecção Civil a delegar nos bombeiros. Porém, perante riscos semelhantes de segurança que começam a evidenciar-se em outras áreas, como em edifícios escolares, os bombeiros não apagarão todos os fogos.

Um exemplo: depois do incêndio da torre Grenfell em Londres, que matou mais de 70 pessoas no verão passado, os bombeiros bem invocaram que os seus poderes legais não teriam nunca chegado para evitar a catástrofe. O problema era dos materiais.

Estes casos vão mostrando ainda uma linha que vai dividindo cidadãos: os de segunda, que são as vítimas, os mais desfavorecidos, os mais vulneráveis, os de menores recursos; e os de primeira, os outros a quem nunca nada disto acontece.»

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15.1.18

Os Salteadores



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Dica (696)



Restoring King (Thomas J. Sugrue) 

«There is no figure in recent American history whose memory is more distorted than Martin Luther King Jr.»
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Faria hoje 89 anos



Não vos posso prometer que não vos batam,
Não vos posso prometer que não vos assaltem a casa,
Não vos posso prometer que não vos magoem um pouco.
Apesar disso, temos que continuar a lutar pelo que é justo.

Martin Luther King
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Tremor de terra em Arraiolos?

As duas últimas inovações na política em Portugal...



 «…tiveram um único autor, o PS e António Costa. Por muito que custe ao PSD, foi o partido rival que as trouxe para a vida política e, em ambos os casos, saiu beneficiado com elas. Refiro-me à abertura eleitoral do PS ao voto dos não militantes nas eleições internas que opuseram Costa a Seguro, e a "geringonça". Nenhuma tinha qualquer precedente sério e a segunda mudou definitivamente o ciclo político e o sistema de alianças, e, mesmo que acabe mal, o mundo à esquerda nunca mais vai ser o mesmo. A primeira foi importada de algumas experiências europeias e verificou-se ser um êxito quando existem candidaturas fortemente competitivas, a segunda foi feita em contraciclo da política oficial da União Europeia.

O PSD ganha em discutir a sua política de alianças no contexto de 2018-19, seja com o CDS, seja com a possibilidade de apoiar um governo minoritário do PS ou vice-versa, mas a sucessão de tabus que o partido vai coleccionando e a discussão simplista e primitiva destes problemas bloqueia essa discussão. Portas percebeu, quando se afastou depois do fim do PAF, que, no contexto pós-troika, ou havia uma maioria absoluta de "direita" ou esta nunca chegava a governar mesmo tendo um dos seus partidos como mais votado. O dilema que até então existia à esquerda foi superado com a solução da "geringonça". Por outro lado, não é de menosprezar a dinâmica relacional que a aliança PS-PCP-BE gera, e que está longe de estar esgotada mesmo que haja metamorfoses no PCP.

Já a mudança do processo eleitoral no PSD para um modelo próximo do que o PS utilizou e que é cada vez mais comum na Europa, tal não só seria possível nestas eleições internas como era desejável. Era expectável que o confronto Rio-Lopes viesse a ser duro e que tivesse todas as potencialidades para mobilizar eleitores e simpatizantes do PSD, que em grande número se têm afastado do partido. As razões por que isso não tenha acontecido são todas más, e o fechamento do partido num aparelho que, fora das autarquias, não tem dimensão nem influência social é um péssimo sinal para o futuro.

O medo da discussão

O que esta campanha eleitoral interna no PSD está a mostrar é o peso crescente de tabus, de matérias que não se podem discutir sob pena não só de um aproveitamento demagógico e eleitoral por parte dos candidatos, como também de uma pseudodiscussão feita de anátemas e esconjuros, sem nada de substantivo para mostrar. Por exemplo, o PSD nunca discute o que fez, nem as orientações políticas do passado, a não ser quando os seus protagonistas já estão mortos, ou perderam completamente o poder político dentro do partido. É o caso de Balsemão, Mota Pinto, Cavaco e Manuela Ferreira Leite.

Sobre Luís Filipe Meneses há um enorme silêncio envergonhado, e sobre Marques Mendes e Nogueira um sentimento de irrelevância. Quanto a Marcelo, a sua posição actual, institucionalizou uma forma de ambiguidade, que impede a discussão do seu interregno. Santana, como é candidato, torna a discussão do seu governo "das trapalhadas" imediatamente instrumental. Mas é Passos que era essencial discutir e é dele e dos seus que vem a imposição de um grande silêncio, que é para Rio um grande óbice. Mas ele aceitou-o, sob a chantagem de Santana e do aparelho "passista", logo a culpa é dele. Colaborou para castrar a campanha eleitoral da discussão que era mais importante ser tida no PSD.

Na verdade, a discussão mais útil era a dos anos de Passos, desde o chumbo do PEC IV ao governo com a troika. Esses anos estão muito menos esclarecidos do que se pensa – por exemplo, há uma ocultação deliberada do que foi "autoria" da troika e do PSD – e é vital discutir o enorme desvio programático e político à história e tradição do PSD em direcção a um partido "de direita" entendido como neoliberal. Muito da crise actual de influência do partido, assim como muita da margem de manobra do PS e da "geringonça" devem-se à herança dos anos de Passos, e sem a sua discussão (do meu ponto de vista, ruptura), o PSD perderá relevância e função.»

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14.1.18

Dica (695)




«In a political system where money and name recognition are key factors in winning elections, celebrities are well positioned to do well, particularly within a field of uninspired and uninspiring professional politicians.»
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Predestinações




«Nós somos um Rio / Que não vai parar / É um desafio / Crescer, trabalhar / Anda, vem daí / Junta-te a mim / Fazer um país / E eu vou dizer sim…»

(Letra de Dias Loureiro)
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#ShitHolePresident!




«O Presidente dos Estados Unidos recorreu ao calão, com a expressão "shithole countries", depois de dois senadores lhe terem apresentado um projeto de lei migratório ao abrigo do qual seriam concedidos vistos a alguns cidadãos de países que foram recentemente retirados do Estatuto de Proteção Temporária (TPS, na sigla em inglês), como El Salvador, Haiti, Nicarágua e Sudão.
As redes sociais de todo o mundo reagiram.
No Haiti, as pessoas usaram o Twitter para partilhar fotos do seu país de colinas verdes, palmeiras e água azul-turquesa.
"Hey #ShitHolePresident!" escreveu Harold Isaac. "Aqui está o meu país de merda".»
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O nosso vergonhoso silêncio perante as prisões políticas em Espanha



«Estamos sempre prontos para protestar contra tudo e contra todos. Há mil e um movimentos de solidariedade com os presos de Guantánamo, em Israel, no Irão, na Arábia Saudita, na Venezuela, em Angola, na Guiné Equatorial, em Cuba, na Rússia, etc., etc. e aqui, ao nosso lado, permanecem presos membros do governo catalão, dirigentes de associações independentistas, deputados e alguns que não estão presos estão exilados como é o caso do presidente da Generalitat. A justificação estatal é de que se não se trata de presos políticos. Então o que é que são? São presos comuns?

Foram presos pela sua participação num processo independentista, que resultou da vontade da maioria dos catalães e que foi reafirmado nas eleições que o Governo espanhol convocou ao abrigo de um artigo da Constituição que lhe permite suspender os direitos autonómicos. Nessas eleições, os partidos e associações a que estão ligados os presos tiveram uma maioria de deputados, pelo que mesmo numas eleições convocadas com o objectivo de travar nas urnas o processo independentista, mas que acabaram por ter um significado referendário, a intenção do Governo espanhol resultou num reforço e não num enfraquecimento da legitimidade das posições políticas dos presos.

O catalanismo, mesmo com a violência da guerra civil, tem sido no essencial um dos movimentos independentistas mais pacíficos em Espanha, e, nas últimas décadas em particular, é essencialmente um movimento cívico, linguístico, cultural, democrático, e, como se vê, com enorme apelo popular. Pelo contrário, o espanholismo militante, o centralismo monárquico castelhano, que existiu sempre e que veio agora ao de cima com intensidade, tem uma longa história de crimes e violência. Constituiu e constitui uma espécie de fundamento de movimentos como o falangista, de que toda a extrema-direita e muita da direita espanhola permanece próxima ou herdeira. Tem na sua história uma componente autoritária, antidemocrática e antiliberal, que semeou mártires por toda a Espanha no século XX. O modo como Rajoy respondeu com intolerância e violência ao processo catalão é directamente subsidiário dessa tradição e levantou a lama desse fundo espanholista agressivo da direita.

Os socialistas apanhados nas suas contradições contam cada vez menos, a não ser para legitimar Rajoy e o PP. O Ciudadanos aproveita e bem a sua oportunidade política de substituir, pelo menos na Catalunha, um PP quase inexistente. E os independentistas têm o seu próprio labirinto para nele caminhar. Mas, seja como for, existem os presos políticos e os presos políticos são também responsabilidade nossa.

A União Europeia de há muito que está longe de ser o local da democracia e dos direitos dos povos e tem critérios dúplices. Fecha os olhos ao Governo da Áustria, que entregou à extrema-direita pastas cruciais para a segurança do Estado e para a emigração e refugiados, é complacente com os húngaros, e, mesmo com os polacos, faz muito menos do que exigia a gravidade da situação. Mas o silêncio face a um país-membro que tem nas cadeias presos políticos é inadmissível.

É também por isso que a responsabilidade de solidariedade para com os presos políticos catalães é também uma exigência cívica para nós portugueses.»

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