30.6.18

Uma imigrante como outra qualquer


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Oh!... Choro, pois



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Balanço de uma manhã de Sábado



Andei pelas redes sociais, na esperança de ler novas reacções ao comunicado dos 28 sobre Migrações, com aplausos ou críticas provocadas pelo mesmo. Em vão.

Encontrei fundamentalmente duas discussões transcendentes:
- Dezenas de ataques e defesas de políticos que estiveram ontem num palco a cantar, com discussões acaloradas para se decidir se se tratou de populismo ou antes pelo contrário, e com um tom apimentado por entoarem uma canção do tempo da outra senhora;
- Menos dezenas de discussões, mas também com louvor ou escândalo, porque Medina cedeu 15 lugares de estacionamento a Madona, perto da residência da mesma – de borla, evidentemente.

Entretanto, mais de 100 migrantes morreram ontem afogados no Mediterrâneo.
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A Europa a implodir



«Não é apenas o mundo global idealizado pelos americanos que está a ruir. É também a própria ideia de unidade europeia, criada à volta das sementes do Iluminismo, quando a Europa era considerada a autoridade moral que era olhada como referência moral, política e mesmo económica e social. Continente de migrações constantes e de fronteiras porosas, solidificada por uma moeda comum e por uma burocracia tentacular, a União Europeia foi um sonho que rapidamente começou a ser dinamitado quando a Grã-Bretanha decidiu não entrar no euro, impedindo que o petróleo do mar do Norte passasse a ser cotado nos mercados internacionais na moeda europeia. O dólar tinha aí a sua vitória. Hoje os EUA olham para a Europa unida como um alvo a abater. Washington não quer aliados: quer nações devotas. Por isso, dividir para reinar é a nova tese.

Quando Angela Merkel cair, que sobrará do sonho europeu de alguns? A crise migratória apenas pode acelerar a destruição da UE. Na era em que o dinheiro navega pela internet, os seres humanos viajam em barcos frágeis. É este o mundo da pós-verdade. E a UE continua sem ser capaz de dar resposta a este desafio que não vai parar, mesmo que Espanha receba umas centenas de migrantes e Portugal e França outros milhares. A política de destruição das zonas-tampão na Síria e na Líbia (a pretexto da "democracia", que como se sabe foi implantada naqueles países depois da intervenção militar dos EUA, de França e da Grã-Bretanha), a falta de investimento europeu na metade superior de África, e outros equívocos criaram a bomba-relógio que agora chegou à Europa. Afinal a globalização não alimentou uma "empatia global" (em que alguns acreditaram), e a conexão global ficou-se pelos cidadãos sem pátria que viajam nas classes executivas e tratam de tudo por via digital.

A política de austeridade cega e a forma como foram abandonados os países que têm fronteiras como o Mediterrâneo geraram esta situação. Não admira que Grécia, Itália e Malta estejam fartos. E os populistas bebem aí a água tónica. Donald Trump, Matteo Salvini ou Víktor Orban são apenas a linha da frente para o que aí vem. O problema é que, neste momento de grandes incertezas, a disparidade de interesses nacionais e mesmo os diferentes posicionamentos ideológicos estão a desintegrar a comunidade de países europeus. E como esta questão é muito emocional o problema torna-se ainda mais grave.

Conseguir travar o fluxo de migração africana de forma sensata só é possível com a criação de condições económicas, sociais e políticas de estabilidade e desenvolvimento sustentado na metade superior do continente africano. De outra forma será impossível fazer muros para evitar que os migrantes assaltem o "castelo europeu". É aqui que ainda existe um sonho de sobrevivência e possível sucesso para eles e é isso que os leva a arriscar a vida nas águas do Mediterrâneo. Porque, para trás, deixam lugares que lhes ameaçam a vida e não lhes oferecem nenhum destino. Ou seja, esta discussão é complexa, mas fácil de ser sintetizada por políticos, ora populistas ora burocratas. O destino da Europa unida também se discute aí.»

Fernando Sobral
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29.6.18

José Tengarrinha – um grande resistente que hoje desaparece



José Manuel Tengarrinha morreu hoje, 29 de Junho, às 14h30, em Lisboa, vítima de doença prolongada. Tinha 86 anos.

O corpo vai estar em câmara ardente na Basílica da Estrela a partir das 18h de Domingo, de onde sairá no dia seguinte, para ser cremado em cerimónia reservada à família e amigos próximos.
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O que seríamos sem ele...


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Migrações: o «acordo possível»?




Foi o «acordo possível», leio e oiço muito por aí, aparentemente com alívio. «Sensato», afirma o PR.
Eu digo «tristeza». E acrescento «vergonha».

José Manuel Pureza no Facebook, em comentário ao vídeo:

«O que tinha sido anunciado como cimeira Merkel/Macron para salvamento do Euro, foi, na realidade, a cimeira Salvini/Orban, para aprovação da política da extrema-direita para os migrantes.
O Conselho Europeu decidiu:
1)aprofundamento do acordo com a Turquia;
2)criação de campos de detenção no norte de África;
3)criação de campos de detenção nos Estados-membros que se ofereçam para o efeito.
Fica assim provado que sob o pretexto de travar a extrema-direita, os governos europeus aplicam a política da extrema-direita.»
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Salvar a Pastelaria Suíça? Mas está tudo doido?




A Suíça concorreu para ser loja histórica e desistiu. Ouvi ontem o dono dizer que o negócio não ia bem, que está cansado e que não quer continuar. Não vou lá há alguns anos, mas tenho lido por aí que a qualidade daquilo que serve deixa muito a desejar e já há bastante tempo.

Mas sobretudo: por que motivo se devia preservar a memória histórica da dita pastelaria? Só porque tem quase 100 anos? Está ligada a algum acontecimento relevante, tem algumas características arquitectónicos ou de «design» de interiores, que a isso obrigue? Tem algo que permita compará-la com o Martinho da Arcada, a Brasileira ou o velho Chave d’Ouro? Ou está apenas ligada a saudades de torradas, bolos e meias de leite? Sinceramente: se há pessoas com a mania de memórias históricas, eu sou certamente uma delas. Mas salvar a Suíça?

No dia em que o Califa fechar, aqui em S. Domingos de Benfica, várias gerações sentir-se-ão órfãs. Mas espero que não peçam que ninguém, muito menos qualquer governo, pague para lhes preservar as memórias! Há várias gerações que Lisboa deixou de ser «a Baixa». Por favor…
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Os 28 e as Migrações



Quem quiser ter uns pesadelos de 6ªf. à tarde pode ler aqui as conclusões a que chegaram esta madrugada.
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Mister Marcelo goes to Washington



«Marcelo Rebelo de Sousa visitou Trump na Casa Branca e a visita está a dar que falar. Ainda a recuperar de um desmaio, o nosso PR, mal saiu do carro, deu um aperto de mão (à Cais do Sodré) a Trump com tanta energia que "o cor de delícia do mar" ia caindo. Trump deu um passo em frente e Marcelo quase que lhe arrancava um braço. Ficou ali entre o aperto de mão e o golpe de Krav Maga. Mais um bocadinho e os seguranças teriam agido. Trump ainda a tentar colocar o ombro no sítio, ficou a pensar: "Irra, que estes espanhóis são brutos. Trump tem dói-dói."

Seguiu-se a habitual conversa na sala onde estão uns bustos e, aí, Marcelo continuou a fazer "bullying" a Trump. Depois de Trump ter dito que o filho gosta de futebol e que Portugal tem estado bem no Mundial da Rússia, Marcelo informou o PR dos EUA que existe uma pessoa chamada Cristiano Ronaldo, o melhor jogador de futebol do mundo, e é português. É assustador pensar que Trump nunca tinha ouvido falar em Ronaldo. Uma coisa é não acreditar no aquecimento global, achar que, se calhar, a terra é plana, etc., outra é não conhecer Ronaldo. É uma assustadora falta de conhecimento do mundo em que vivemos. Aposto que se ele quiser saber quem é o Cristiano, basta ir ao histórico do computador da Melania.

Após Marcelo ter esclarecido que Portugal tinha o equivalente a Putin em termos de jogador de futebol, Trump quis ser engraçado e lançou a pergunta - "e se esse Ronaldo concorresse à presidência contra si, ganhava?" O nosso PR nem hesitou e, com um pequeno toque no braço do PR americano, para não lhe deslocar o braço que ainda estava bom, respondeu: "Vou explicar-lhe uma coisa, Portugal não é como nos Estados Unidos." Como quem diz: "Toma lá, cabelo de dente-de-leão. Nós não andamos a eleger Presidentes popularuchos só porque tiveram programas na televisão, etc."

De seguida, o nosso PR deu uma lição de história a Trump, relembrou que Portugal foi o primeiro país a reconhecer a independência dos EUA e que foi ele que ajudou a fazer a Constituição de Portugal. Trump estava à beira de um esgotamento com tanta informação. Parecendo que não, o Presidente dos Estados Unidos já tem uma certa idade e não tem o arcaboiço da rainha de Inglaterra.

Depois, Trump discursou sobre a sua política e Marcelo foi abanando a cabeça a fazer que não discretamente. Foi mortal. Até António Costa ficou arrepiado: "Se ele se lembra de fazer isto comigo...!"

Marcelo deu um baile a Trump na Casa Branca, só não sei se foi boa ideia Marcelo ter dito a Trump que existem cerca de um milhão e meio de luso-americanos a viver nos EUA. Se ele topou que levou baile, já sabemos em quem se vai vingar. É fazerem as malas.»

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28.6.18

Santana Lopes 1996


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Bruxelas e os Migrantes


«Não, o que se está a debater no Conselho Europeu de Bruxelas não é a “crise da imigração”, é a crise do egoísmo.

Recordo que cada um dos migrantes ( criança, mulher, homem) é um ser humano como nós, revestido dos mesmos direitos e dignidade. Direitos e dignidade não se medem pelo nível de melanina na pele.

O que se está a pensar na Europa devia envergonhar-nos a todos profundamente. As empresas europeias são das que mais beneficiam da exploração dos recursos do continente africano, o nosso lixo electrónico, os nossos navios desactivados são despejados nesse Sul que nos parece longínquo e que demasiados só conhecem dos universos paradisíacos e paralelos criados para turistas.

Em tempos entrevistei um pedófilo nórdico que tinha abusado de pré-adolescentes tailandesas (conhecidas como “street meat”). À pergunta “porquê” respondeu-me “estava a ajudá-las”.

Quando penso na Europa e nos campos de concentração a que eufemisticamente chama “plataformas de desembarque” penso neste homem e na abjeção que me causou.

Eu vivi em “plataformas de desembarque”, comi com estas pessoas, ouvi-lhes as histórias, a voz, muitas seguraram-me a mão: “não se esqueça de mim”. Traí-as.»

Helena Ferro de Gouveia no Facebook
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A Grécia não é a Itália, nem Malta – é bem mais decente




«“We have to find a way, in the framework of the international law, to share the burden and to not have this unfair position for the frontline countries but also for Germany … because it’s not fair all these people to go to Germany, if we believe that this is a European problem.” (…)
Tsipras added that there were bigger issues to address than migration. “I think that the dilemma we have ahead is more serious … The dilemma that we have ahead is what Europe do we want?”»
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Lisboa e as alforrecas



«Há alguns dias, António Costa disse, no Porto, que: "O crescimento do turismo não pode transformar as cidades num parque de diversão para adultos." Estimulado, acrescentou mesmo que: "O essencial não é restringir o turismo, mas aumentar a oferta de habitação para quem não é turista, caso contrário os turistas deixam de vir. Eles vêm enquanto as cidades têm vida e autenticidade, que é dada por quem lá vive."

Homer Simpson ou mesmo um marciano julgariam que as frases críticas assentavam que nem uma luva à política de Fernando Medina e de Manuel Salgado em Lisboa, que deseja transformar a cidade numa sucursal da Disneylândia. As frases, sensatas, resvalam na couraça da indiferença dos dois homens que já conseguiram que a Baixa da cidade deixasse de ter lojas históricas, que os bairros populares desfilem nas marchas com marchantes que vivem na Margem Sul e que o imobiliário se tenha tornado na política oficial da edilidade, à volta da qual tudo funciona. Agora até há uma mirabolante "cidade verde", que só se vislumbra a partir de uma máquina de realidade virtual existente num gabinete pós-moderno na Praça do Município.

Medina e Salgado têm transformado Lisboa em tudo aquilo que António Costa diz que não deseja. E que destrói, a prazo, o que diferencia Lisboa de Barcelona ou do Dubai. Há aqui, claro, uma síndrome de Hyde e Jekyll no PS, sabendo que Medina deseja ser líder do mesmo. A política habitacional da CML é feita de betão e de aquisições de casas por estrangeiros ricos, servidos por arquitectos modernos à altura das circunstâncias. É uma cidade de ficção, uma Cinecittà romana onde só se realizam "western spaghetti" à moda de Salgado. A Lisboa de hoje é o fruto daquilo que Oliveira Martins já vislumbrava em 1891: "Temos a consistência das alforrecas..." Esta nova Lisboa, pretensamente moderna, é um desastre. Com a consistência de uma alforreca. Fornecida por uma loja multinacional da Baixa.»

Fernando Sobral
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27.6.18

Da série «Grandes Capas»



«Ports interdits, frontières grillagées, murs de séparation… Le Conseil européen qui s’ouvre ce jeudi est celui d’un continent d’exclusion qui se replie sur lui-même.»
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Maria Velho da Costa, 80



Com um imperdoável dia de atraso, não quero deixar de assinalar que a «minha» escritora portguesa mais do que preferida, que conheci como Fátima Bívar bem antes de tudo o que veio a celebrizá-la, chegou ontem aos 80.

Maria de Fátima de Bívar Velho da Costa nasceu em 26 de Junho de 1938. Andámos por aí, na noite de Lisboa, em grupos improváveis que já se foram esvaziando pelas leis da vida – e do fim da mesma.

Se foi sobretudo a sua colaboração nas célebres Novas Cartas Portuguesas, que escreveu a seis mãos com Isabel Barreno e Teresa Horta e que a trouxeram, com estrondo, para a ribalta da perseguição da PIDE e dos tribunais, ela é para mim, antes de mais e acima de tudo, a grande autora de Maina Mendes (1969) que li de um trago e já reli nem sei quantas vezes. Muitos outros livros vieram, talvez com destaque para Missa in Albis (1988).

Parabéns, Fátima!
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E não há racismo em Potugal?



(Fotografia divulgada no Facebook)


A ler, nem comento.
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O nosso VAR



«Imaginemos, por momentos, que havia um VAR na política nacional. Que, após uma decisão qualquer, intervinha, e deixava ministros, deputados e cidadãos em suspenso. Sobre se existia um fora-de-jogo num concurso público, um penálti duvidoso numa nomeação, uma simulação na distribuição de fundos públicos. O VAR, no futebol, prometeu o fim dos fingimentos e a nobre vitória da verdade sobre a mentira. Repara-se, neste Mundial de futebol, que ele democratiza o erro. Tentando acabar com os erros, erra tanto como os mortais árbitros. E, além disso, destrói a emoção e a dúvida, a sorte e o azar, que são a essência do futebol. E que, de alguma maneira, também o são da política. Se o VAR se aplicasse ao modo austero como a selecção nacional tem jogado neste futebol, diríamos que Portugal ainda não saiu da tutela da troika. Portugal não investe, poupa. E, muitas vezes, esquece-se de jogar futebol. Não arrisca, não tem fibra, defende em vez de ousar, atacar. Fernando Santos, ao colocar Ricardo Quaresma em campo, tinha uma ideia: que ele cruzasse para que a cabeça de Ronaldo marcasse golo. Não aconteceu assim.

No sábado defrontamos um tenaz Uruguai, também ele sôfrego em busca da bola, e com melhores talentos do que o Irão ou Marrocos. Se contra estes Portugal viu jogar, teme-se o que aí vem. Sofrimento e fado, como é habitual. E crença em Ronaldo. Só que Portugal não sabe jogar ao ataque, dentro da engenharia conservadora de Fernando Santos: Bernardo Silva, por exemplo, está mais preocupado em defender do que em criar rupturas ofensivas. Não há desmarcações, nem fibra. Portugal gere o jogo de longe, sem pôr o pé, à espera que Ronaldo, num dia sim, resolva. Mas esta foi sempre a táctica do seleccionador. Uma cultura táctica que não é diferente daquela que encontramos na política portuguesa: o tempo, ou a sorte, há-de resolver os problemas mais sérios. O caso do Infarmed é exemplar: decisões tomadas a medo são potenciadoras de desastres futuros.»

Fernando Sobral
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26.6.18

A geringonça acabou e quem perde é Costa



Daniel Oliveira no Expresso diário de 26.06.2018:

«Na semana passada, esquerda e direita juntaram-se em torno da redução dos combustíveis. Não debaterei aqui a medida propriamente dita, de que discordo (não me parece que perante o estrangulamento dos serviços públicos esta seja a prioridade) e sobre a qual tenho todas as dúvidas constitucionais, pelo menos em relação ao projeto do CDS. Mas interessa-me o significado político desta aprovação. A lealdade tem dois sentidos. E se o PS negoceia a precariedade com o BE e depois quer aprovar um resultado bem diferente com o PSD, é normal que não espere comportamento diferente dos seus parceiros. Se as alianças do PS passaram a ser de geometria variável isso não tem só vantagens. Não aumenta apenas as possibilidades de alianças suas, aumenta as possibilidades de maiorias contra si.

Perante o aumento do período experimental para seis meses, sem qualquer limite na repetição de experiências, o Bloco sentiu-se traído naquilo que considera ser uma nova brecha por onde tudo passa, como foram os recibos verdes. Uma brecha que desvirtua o acordo negociado com o Governo. E sente-se traído porque só soube desse “pormaior” na véspera do acordo de concertação social.

António Costa teve oportunidade de corrigir a deslealdade e resistiu. Ao que parece, várias vozes no grupo parlamentar do Partido Socialista apelaram ao óbvio: que se acrescentasse, no que foi acordado com os parceiros sociais, uma norma que impedisse a utilização abusiva do período experimental. Se os patrões assinaram o acordo de boa-fé não terão nada contra isto. Mas do Governo, a mensagem foi a de que não se devia tocar no que foi acordado no Conselho Económico e Social. Só que desta vez aconteceu uma coisa inesperada: Carlos César atravessou-se e disse que depois da “concertação social” chegou o momento da “concertação parlamentar”. Explicou que ainda é a Assembleia da República que aprova leis e que o Governo ainda depende de uma maioria parlamentar.

A estratégia de António Costa é óbvia: julgando que tem o eleitorado de esquerda no bolso e sabendo que o PSD está com dificuldades de liderança, está a tentar pescar votos à direita. Os eleitores não têm noção destas minudências. Mas sentem um clima político bem diferente do primeiro ano da geringonça. O problema do taticismo é sempre uma questão de grau. Em falta é ingenuidade, em excesso é falta de rumo. E o excesso de taticismo de António Costa é cada vez mais evidente.

O erro de Costa é pensar que algum voto está garantido. A verdade é que o fascínio dos eleitores de esquerda por Costa resulta, sempre resultou, mais do que da suas posições políticas, da facilidade de diálogo que mostrou ter à esquerda. E da escolha inédita que fez em 2015. Paradoxalmente, Costa conquista votos aos partidos mais à esquerda quando os trata bem. Quando os desrespeita perde simpatia destes eleitores.

A economia não está pior, não houve (por agora) incêndios. No entanto, o PS está a cair nas sondagens e a maioria absoluta é cada vez mais improvável. Não é por causa da lei laboral, dos combustíveis ou das picardias com o BE e o PCP. É porque se está a perder a sensação de que Costa lidera uma coisa diferente. É evidente que a geringonça acabou. E sem a geringonça António Costa é só António Costa. Não tem nada de novo. Não tem nada de esperança. Se não arrepiar caminho, vai descobri-lo nas próximas legislativas. Até porque, ao contrário de Passos Coelho, Rui Rio não assusta o eleitorado de esquerda. Não chega para fazer renascer o voto útil que o próprio Costa se encarregou de matar.»
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Salvador Allende nasceu num 26 de Junho



... há 110 anos, em Valparaíso, no Chile. Afirmou, bem antes de 11 de Setembro de 1973, que estava a cumprir um mandato dado pelo povo e que só sairia do palácio depois de o cumprir. Ou que o faria «com os pés para diante, num pijama de madeira». Assim aconteceu. Sabe-se agora que se suicidou durante o ataque ao Palácio de la Moneda, em Santiago do Chile.

O seu último discurso:



E o que Luis Sepúlveda escreveu hoje no Facebook:
«El mayor honor que me ha deparado la vida fue conocerlo, estar cerca de un gran líder, de un hombre que trascendía por su claridad, inteligencia y valor. (…) Honor y Gloria para un Hombre digno. El Compañero Presidente.»
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Argélia abandona migrantes no deserto do Sahara




«Mais de 13 mil migrantes foram abandonados no deserto do Sara pelas autoridades argelinas, nos últimos 14 meses. Debaixo de temperaturas que rondam os 50 graus centígrados, militares obrigam as pessoas a andar, sem direito a água, nem comida, São empurrados para fora do país em direção ao Niger, por um caminho de 15 quilómetros, onde nem todos chegam até ao fim. (…)

As deportações massivas da Argélia começaram a aumentar desde outubro de 2017, quando a União Europeia pressionou os países do Norte de África para impedirem os migrantes de chegarem ao Mediterrâneo. Ao contário do Níger, a Argélia não recebeu qualquer apoio financeiro do grupo comunitário para gerir a atual crise migartória, apesar de, entre 2014 e 2017, ter recebido cerca de 95 milhões de euros da União Europeia em ajuda humanitária. (…)

A Organização Internacional para as Migração estima que por cada vida perdida no Mediterrâneo haja dois migrantes que ficaram no deserto. No Saara, desde 2014, poderão já ter morrido mais de 30 mil pessoas.» 

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A confusão táctica



«Em certos momentos, o PSD parece a equipa de futebol da Argentina: é uma enorme confusão táctica. Ninguém se entende: todos jogam para Messi e este, quando está amuado, esquece-se de driblar e rematar.

O resultado é um tango trágico: ninguém sabe o que está ali a fazer. Nem o treinador, nem mesmo Maradona. No PSD, há uma guerra civil silenciosa, que de vez em quando se assemelha a um vulcão adormecido: começa a deitar lava e deixa um rasto de fumo tóxico. Ninguém duvida de que os tambores da guerra continuarão a soar até próximo das legislativas e terão o seu expoente quando se discutir a sério o OE de 2019. Rui Rio e a maioria do grupo parlamentar estão em trincheiras opostas: qualquer trégua é apenas temporária. Os deputados sabem que, se Rio aguentar até às legislativas, eles dificilmente voltarão a fazer parte das listas. Algo que, como se sabe, poderá ser doloroso para o povo português. Como reagirão os portugueses, depois de Tony Carreira ter deixado de ser um herói absoluto, se perderem um barítono como Carlos Abreu Amorim? Será uma comoção nacional.

Rui Rio tem vindo a apostar numa estratégia de desgaste. Os resultados nas sondagens não são maus e isso conforta-o. Pode não apresentar grandes, médias ou pequenas ideias para o país, para lá da "teoria dos consensos" (que valem zero), mas aguenta-se. Isso permite-lhe mandar mensagens cifradas para Fernando Negrão, que segundo consta lidera a bancada do PSD, por causa do voto a favor do projecto do CDS para diminuir o imposto sobre os combustíveis. Porque isso diminuirá a receita fiscal. Rio sabe que este é um país onde o Governo é uma espécie de CEO dos impostos: sem eles, afoga-se; com eles, pode fazer alguns truques de magia para iludir os eleitores. Quando o segundo escalão de maiores rendimentos de IRS (os "quase ricos") começa perto dos 36 mil euros, isso diz muito sobre a indigência nacional quando nos comparamos com a Europa. O problema é que o pântano onde caminha o PSD é idêntico àquele que Portugal calcorreia.»

Fernando Sobral
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25.6.18

Dica (776)



Estragos no elevador (Manuel Carvalho da Silva) 

«A ideia de igualdade é para os portugueses nova. Ganhou forma com a democracia e com as instituições por ela criadas: i) a liberdade sindical, o direito à negociação coletiva, à greve e a uma legislação do trabalho moderna deram dignidade aos trabalhadores, valorizaram os seus salários, atualizaram a estrutura da economia; ii) o poder local democrático criou infraestruturas básicas imprescindíveis; iii) a escola pública de qualidade surgiu gratuita e para todos; iv) o Serviço Nacional de Saúde veio com acesso universal; v) os transportes e outros serviços garantiram direitos fundamentais aos portugueses em cidades, vilas e aldeias; vi) e também, em dimensão insuficiente, algumas políticas de habitação foram positivas.
Tudo isto são peças do elevador social. Quando uma se avaria, o elevador engasga-se. O que caracteriza o funcionamento do elevador é o facto de todas as suas peças existirem para aproximar, para incluir e não para dividir ou segregar.»
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A sério, senhor presidente?



“Um presidente da República é eleito para sofrer”

A sério? Votaram em si para PR para sofrer por causa da bola?
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Estes querem ser os novos presidentes da Junta




Olhem que três!... Vêm aí tempos interessantes: «nós é que somos os verdadeiros progressistas».

«El objetivo de la plataforma es "salir del eje derecha e izquierda en favor de uno que enfrente a progresistas contra populistas". (…)
La plataforma pretende salir de los "antiguos partidos políticos" y, por tanto podría implicar la creación de un grupo nuevo en el Parlamento de Estrasburgo: "Debemos evitar cerrarnos en un grupo ya estructurado".»
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Antoni Gaudí nasceu num 25 de Junho



Antoni Gaudí nasceu em 25 de Junho de 1852 e teve uma morte insólita, a poucos dias de fazer 74 anos: ao sair da sua catedral Sagrada Família, foi atropelado por um carro eléctrico numa rua de Barcelona. Sem documentos nem dinheiro na algibeira, acabou por ser levado para um hospital e depositado numa ala comum reservada aos pobres.

Estranhando a ausência, os seus colaboradores localizaram-no no dia seguinte, quiseram levá-lo para um hospital com melhores condições, mas viram a proposta recusada pelo próprio e assistiram à sua morte em 10 de Junho de 1926. Dois dias depois, uma multidão prestou-lhe uma última homenagem, num longo cortejo que acompanhou a urna até à cripta da catedral.

Polémico como poucos, odiado por alguns, idolatrado por outros, único para todos. Em jeito de homenagem, fotos de algumas das suas obras mais emblemáticas. 



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A síndrome da paixão da educação



Francisco Louçã no Expresso Economia de 23.06.2018:

«É tudo uma embrulhada. Começa pelas contas: o gasto com a contagem do tempo de serviço dos professores seria de 90,2 milhões de euros este ano, dizia o Governo, agora é de 37 milhões, corrige o mesmo Governo. Mas não respire fundo, para o próximo ano a conta estava errada mas não por excesso, era por defeito, duplique o número. É tudo um bocado nas costas do envelope, mas é assim que vai o debate acerca do congelamento das progressões das professoras e professores. E depois vem a política, o voto do Parlamento e a declaração de compromisso assinada entre o ministro e os sindicatos previam a reposição no contexto da sustentabilidade das contas públicas, só que o Governo explica agora que se esqueceu de traduzir isto para português: é que a sustentabilidade impede a reposição, ponto final.

Há várias leituras políticas possíveis. Uma é que os sindicatos tomaram uma posição moderada, aceitando um plano de reposição em seis anos, o que significa que os professores aceitam um sacrifício. Outra é que o Governo deu sinais, compromissados e assinados, de querer conversar, mas afinal recusa negociar. Eleitoral e politicamente, este risco só é aceite pelo Governo se calcular que a demonstração de autoridade antissindical vale mais do que o voto dos sacrificados.

Mas há um problema mais de fundo: como é que foram retirados estes direitos legais? Foi em nome do argumento de uma situação de exceção. Repare bem, a lei não foi mudada. Quem ensina tem a mesma carreira. Só que se impôs a noção de que há um estado de sítio que permite anular o valor das leis por uma regra orçamental. Ora, a suspensão da legalidade em nome do direito de exceção tem imensas consequências para a vida democrática: onde para esse direito de ilegalizar as leis? Pelos vistos, para Tiago Brandão Rodrigues, esse estado de sítio eterniza-se.»
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24.6.18

Love is in the air


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Data histórica na Arábia Saudita



As mulheres já guiam e já têm lá o Jorge Jesus.
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O paraíso na terra só pode ser um offshore



«Associar imigração, delinquência e terrorismo é uma falácia que o populismo nacionalista dos dois lados do Atlântico utiliza cinicamente para subir nas sondagens e ganhar eleições. Não interessa que a combinação seja simplesmente mentirosa, como fez Donald Trump, ao proclamar que a delinquência na Alemanha subiu com a entrada de refugiados no país, quando a verdade é substancialmente oposta: a criminalidade desceu cinco por cento (para o nível mais baixo desde 1992). Não interessa sequer que os crimes cometidos por imigrantes tenham descido 23%. Vale tudo quando o objectivo é a demonização dos imigrantes; quando o alvo é o outro. Não interessa que os principais actos terroristas nos EUA tenham sido praticados por cidadãos de países muçulmanos excluídos da lista de impedidos a entrar nos EUA.

PUB A deriva xenófoba da extrema-direita europeia no poder utiliza o imigrante politicamente de forma desonesta para conquistar e manipular eleitorado, recorrendo a uma retórica desprezível, seja a Liga de Salvini no novo Governo italiano, seja a CSU para travar a escalada da AfD na Baviera ou Os Republicanos franceses para competir com a Frente Nacional rebaptizada. “Ontem os refugiados, hoje os ciganos” [que a Itália quer recensear, para expulsar quem está “em situação irregular”], amanhã a legalização das armas”, dizia ironicamente o ex-primeiro-ministro italiano Paolo Gentiloni, mas a lista pode expandir-se sem grande originalidade. A lógica é simplesmente assustadora e assustadoramente simples: é a retórica do quanto pior, melhor. Uma Europa que não é capaz de se pôr de acordo em matéria de asilo, o chamado regulamento de Dublin, não é capaz de se pôr de acordo quanto ao respeito pela vida humana.

Os globalizadores de ontem são os nacionalistas de hoje: sonham com muros bonitos e grandes por todo o lado, fronteiras bem fechadas, homogeneidade ética e aquilo a que chamam centros de acolhimento, bem longe das suas fronteiras. Os globalizadores de ontem fazem do antigo estratega da administração Trump, Steve Bannon, um ideólogo e acreditam que chegou o momento de lançar um movimento internacional nacionalista com o objectivo de “devolver o poder às pessoas numa revolta popular”. A quem?

Só o dinheiro poderá continuar a circular por onde muito bem entender. O dinheiro pode ser clandestino; os humanos não. O paraíso na terra só pode ser um offshore.»

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