11.8.18

Nunca Deus terá sentido tão grande responsabilidade desde a criação do Universo



.

Deu a louca na Farinha Amparo




Vou ali saber os horários de transportes, que me levem depressa para a Pasárgada.
.

Segurança garantida



Pescado no Facebook.
.

O ministro clandestino que quer um não-acordo não-escrito



Francisco Louçã no Expresso Economia de 11.08.2018:

«Já foram duas as vezes e prometem-se mais episódios da telenovela. Um tal ministro, não um qualquer, ele é do núcleo restrito da coordenação do Governo, penso que são só cinco nessa faina, tem vindo sorrateiramente a público comentar o presente e explicar o futuro. Encontrou um canal privilegiado, como se diz na gíria, e usa-o para chistes, apreciações e até anunciações do que o primeiro-ministro pensaria fazer. Foi dele a esplêndida conclusão de que António Costa, se vencedor das próximas eleições, fará um acordo com as esquerdas, mas nunca com papel assinado. O assunto merece atenção, teve mesmo direito a manchete do jornal do tal canal. Assim, um ministro anónimo anuncia ao país como vai o seu partido resolver as dificuldades, com bordoada neste e afagos naquele.

A vantagem do biombo

Pode interrogar-se alguém que leia essas florentinas intrigas sobre a razão do anonimato. O ministro, o canal diz-nos solenemente que é um ministro, está clandestino por alma de quem? Recorre ao anonimato porque tem medo do primeiro, mas antecipa oficiosamente as suas palavras? Será tudo mentira? Existirá o ministro ou será simplesmente uma forma de o próprio canal se citar a si próprio e assim explicar urbi et orbi o que entende ser mais conveniente para o país? Disso não pode haver certeza. O recurso ao anonimato, que neste caso contraria as regras da deontologia jornalística por não ter qualquer justificação, é simplesmente uma forma de fazer política malandreca, atirando a pedra e escondendo a mão. Quem colabora nesta farsa de um debate político escondido atrás de um biombo sabe que está a envenenar a democracia e a estimular uma agressividade gratuita.

E é que o ministro clandestino usa e abusa dessa perfídia. Fá-lo tratando o PCP com uma condescendência viperina, como se fosse um partido facilmente manipulável, indicando mesmo um dos seus deputados como um parceiro de Governo que seria absorvível sem dificuldade. Para quem conhece o PCP, nada de pior lhe pode ser atirado do que estas palavras melosas sobre a adaptabilidade e cedência do partido. Ao Bloco, o ministro clandestino reserva fel e suponho que vai servir novas doses em breve. Mas nos dois casos a sua estratégia resume-se a isto: destruir a confiança, minar as conversações, impedir as comunicações, exibir estados de alma, garantir falsa fé. O ministro clandestino é um bombista.

Depois da falsa partida de Santos Silva, que veio exigir aos partidos de esquerda que se convertessem ao santossilvismo, o nosso ministro clandestino pode pensar como Santos Silva e até falar como Santos Silva, mas anónimo será sempre.

O não-acordo não escrito

Resta ainda a fantasia do acordo-sem-acordo-escrito. Nisso aproveitando as palavras de Jerónimo de Sousa, repetidas com ingenuidade ou engenho por João Oliveira, o ministro clandestino atreve-se mesmo a afirmar — como o anonimato facilita a fanfarra! — que o primeiro-ministro-ele-próprio estaria disposto a essa modalidade curiosa. Só que as palavras nem sequer enganam e cada um fala de coisa diversa: o PCP refere-se a não haver acordo escrito, ou seja, a não haver acordo e ficar tudo em aberto; e o tal ministro a haver acordo não escrito, ou seja, a haver um acordo secreto. Porque, entendamo-nos: se não fica escrito ou não é acordo ou é um acordo secreto. E isso não convém nada à esquerda. Se secreto, é pífio; se nada, nada é e então fingir é o pior remédio.

Imagine por um instante quem lê estas linhas que não tinha havido acordo escrito em 2015. Acha mesmo que o Governo tinha concretizado 600 euros de salário mínimo, ou que tinha recuado no bónus patronal no caso da TSU? O acordo escrito foi o que garantiu os mínimos que foram cumpridos. Conversa fiada em vez do acordo seria desacordo sempre que fosse tempo de decisão.

Como toda a gente percebeu, este cenário só é falado porque um acordo em 2019 é muito mais difícil do que em 2015. Primeiro, a razão de afastar a direita já não vale, está afastada. Segundo e mais importante, o acordo depende de políticas estruturais nas contas públicas e por exemplo no SNS, mas o PS está a dar sinais de nem querer ouvir falar disso. Por isso, só haverá acordo se for escrito. Um não-acordo é navegar à vista e chamar-lhe acordo seria enganar toda a gente. Por isso, a proposta de um acordo sem acordo é a forma do ministro clandestino operacionalizar a sua oposição à ‘geringonça’, que vem de 2015 e sobretudo se preocupa com 2019.»
.

10.8.18

Os Pobrezinhos



Era assim...
.

Dica (795)



Is capitalism rigged in favour of elites?
.

E a China lá tão longe



Distância Pequim Hong Kong = 1958 km, tempo de viagem 9 horas.

Os passageiros poderão viajar de trem-bala de Beijing até Hong Kong em nove horas a um preço de cerca de 1.000 yuan ($ 146), graças à linha de alta velocidade Guangzhou-Shenzhen-Hong Kong, cuja secção de Hong Kong será inaugurada no próximo mês.

(Via Diário do Povo Online no Facebook)
.

Incêndios: o nosso Frankenstein



«Em 10 de Abril de 1815, na paradisíaca ilha de Sumbawa na Indonésia, o vulcão Tambora rebenta. A explosão é tão devastadora que a montanha onde está o vulcão perde 1.500 metros de altura, passando de 4.300 metros para 2.800. O estrondo escuta-se a centenas de quilómetros de distância. Milhares de pessoas morreram, entretanto, devido aos gases tóxicos ou queimadas pelas cinzas. Para a atmosfera são largados enxofre e cinzas numa escala nunca conhecida. Uma nuvem negra transforma o dia em noite. E esta nuvem, caminhando lentamente, acaba por chegar à Europa em meados de 1816, e deixou o Velho Continente sem Verão. Foi nesse mundo de frios aguaceiros que Mary Shelley criou a imortal personagem Frankenstein. Em Junho de 1816, em Villa Diodati, Lorde Byron desafiou os presentes ali a escrever um conto de terror. O ambiente externo é convidativo: chove durante três dias seguidos e o céu está sempre escuro. Frankenstein torna-se um símbolo dos nossos medos. Shelley sonhou com um cientista que criava a vida e ficou horrorizado com o resultado do que fez.

Os incêndios tornaram-se o nosso Frankenstein. O verde transforma-se em cinzento, o azul dos céus em cinzento. E o medo vai corroendo todas as certezas. O incêndio que começou em Monchique vai alimentar muitas teorias, certezas e incómodos. Durante muito tempo. Mas, independentemente de tudo, ele mostra a incapacidade estrutural de Portugal conviver com os seus problemas. Numa época em que o eucalipto se tornou o Diabo à solta e o culpado de todos os males, convém discorrer sobre um tema mais vasto: a sustentabilidade do nosso interior. Na zona de Monchique, o eucalipto domina, mas o sobreiro e o medronheiro também existem em grandes quantidades. E é ele o pulmão económico da região, mesmo com a chegada do turismo. E é aí que voltamos à questão crítica: como é possível ordenar o território, que a cada ciclo de 12 anos se tem de defrontar com incêndios destes (fala-se já que o próximo de grandes dimensões será na serra de São Mamede), se a pequena propriedade privada domina e o Estado tem uma pequena parte do território, ao contrário do que sucede na Europa? Mais, como Estado parece ser incapaz de gerir o que tem (veja-se o incêndio do ano passado no pinhal de Leiria), que lições pode dar para que os pequenos proprietários se juntem? Sem esta questão prévia parece impossível combater-se o que será um hábito, até por causa das alterações climáticas.

A economia é fulcral. A ela alia-se o repovoamento. Sem oferta, não se atraem jovens para reocupar estas terras isoladas e desertas de gente. A política de abandono por parte do Estado do interior levou também a estas catástrofes. Ou seja, sem uma reforma estrutural da acção do Estado, sem uma gestão profissional da "floresta" e sem a associação de pequenos proprietários (uns idosos, outros ausentes), nada mudará. Há depois a capacidade operacional dos bombeiros (e a sua coordenação). Parece que as opções com base política ainda se sobrepõem muitas vezes à qualidade e conhecimento. Será fácil agora criarmos uma caça às bruxas para descobrir culpados. Mas este Frankenstein veraneante que nos incomoda tem que ver sobretudo com a incapacidade de Portugal tomar decisões estruturais. Neste sector, como em muitos outros.»

.

9.8.18

Mr. Zorba lá se vai aguentando




Apesar dos 93.
.

Nagasaki para além da bomba




A acção da célebre ópera de Puccini, Madame Butterfly, passa-se em Nagasaki e relata uma relação trágica entre um oficial da marinha americano e Cio-Cio-San (butterlfy ou borboleta), uma gueixa de 15 anos.

Entre 1915 e 1920, o papel de Cio-Cio San foi interpretado por uma célebre cantora japonesa, Tamaki Miura, e há uma estátua sua, e outra de Puccini, no magnífico Jardim Glover que se situa numa colina sobre Nagasaki e ao qual se acede pelo maior e mais íngreme complexo de escadas rolantes, que alguma vez me foi dado ver e utilizar.

Aí se visita também a residência de Thomas Blake Glover, um empresário escocês que muito contribuiu para a modernização industrial do Japão - uma lindíssima casa de estilo ocidental, a mais antiga que resta naquele país.



.

09.08.1945 – Nagasaki depois de Hiroshima



Já tinha estado em Nagasaki, mas sem visitar o Museu da Bomba Atómica. Fi-lo este ano e aqui fica o relógio parado na hora em que se deu a tragédia. Mais informação sobre os acontecimentos AQUI.
.

O antigo regime e a revolução



«Uma impiedade difusa foi-se apoderando do Mundo e contamina o ar que respiramos. É um sentimento atroz mas não há modo de contrariar tão perversa tendência. Onde essa crueldade impiedosa se revela com mais exuberância é, desde logo, na Comunicação Social. Não há tragédia que não mereça a abertura do telejornal, fotografia na primeira página do diário ou na capa da revista, multiplicação de comentários nas redes sociais, reportagem exaustiva em busca de um qualquer testemunho, de preferência, íntimo, doloroso, identificável.

A catástrofe, qualquer que seja, tem de ser percebida em todas as dimensões que propiciar, com imagens das vítimas, capturadas de distintas perspetivas, ângulos e distâncias. Normais e distorcidas. A cores e a preto e branco. Depois, as autoridades oficiais, os especialistas de turno e os curiosos locais comentam a ocorrência de forma a que cada espectador se assuma como participante e possa escolher o seu "próprio" ponto de vista acerca do ocorrido. E o exercício dura até à exaustão para ciclicamente ser evocado, repetido ou renovado, logo, amanhã ou no ano seguinte. Temos o ciclo dos fogos, na Califórnia, na Suécia, na Grécia ou em Monchique. Estes, com as inundações e as tempestades dos trópicos, formam o ciclo das catástrofes sazonais mas a natureza oferece também oportunidades alheias a periodicidades certas, como os terramotos e as erupções vulcânicas, no México ou na Indonésia.

Há sempre alguma desgraça com causa humana e um repórter disponível para enviar a qualquer hora e a qualquer lado, seja para um acidente por flagrante incúria, numa gruta da Tailândia, seja um desastre de aviação ou mais um naufrágio no Mediterrâneo. Entretanto, os repórteres de guerra passaram à história, arrastados pelo declínio das guerras convencionais... e, sobretudo, porque é agora muito mais apelativo e eficaz na disputa pela captação de audiências, a cobertura de atentados terroristas ou a exposição da ruína urbana provocada pelos bombardeamentos ditos de retaliação, na Síria ou no Afeganistão.

Ao contrário dos auto de fé encenados pelo Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, a exibição contemporânea do horror não está ao serviço de uma religião específica. Tal como o circo, no Coliseu da Roma imperial, conjuga com o entretenimento, o culto do esplendor da força. Consumida em estado de distração, a brutalidade apaga sentimentos de compaixão e desfaz laços de solidariedade.

A informação tornou-se um mero condimento do espetáculo. Os telejornais seguem o modelo dos "reality shows". Exibe-se, demorada e repetidamente, as feridas das vítimas, o sangue, as cinzas, as casas esventradas pelo fogo ou pelas bombas, as lágrimas que correm dos olhos de quem tudo perdeu, o rosto desfigurado dos sobreviventes, os cadáveres. A seguir, destacam-se os "crimes comuns", mais algum escândalo político ou financeiro e, por fim, no bloco internacional, reportam-se as obscenidades brutais diariamente debitadas pelo presidente dos Estados Unidos da América, por governantes austríacos, italianos, húngaros ou polacos e outras personagens congéneres da extrema-direita europeia.

De facto, a eleição de Donald Trump e a ascensão galopante dos neofascistas europeus patrocinados pelo seu incansável ideólogo, Steve Bannon, são causa e, simultaneamente, resultado dessa promíscua inoculação que baralha a realidade com a ficção, a informação com o espetáculo, e promove a banalização do horror. Os confrontos violentos da guerra fria, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, eram travados em torno de valores comuns: a liberdade, a igualdade, a dignidade humana, o direito dos povos à autodeterminação. Hoje, o ódio e a violência dispensam qualquer ideia ou projeto de sociedade. A civilização das luzes é a barricada que nos resta, entre "o antigo regime e a revolução", como explicava, em 1856, Alexis de Tocqueville.»

.

8.8.18

Resistimos a isto...



E será que entranhámos a primeira das três máximas do fim da página?

«A resignação é a primeira condição da vida.»
.

Há muitas necessidades que não são médicas, a madeira é uma delas – e há uma portuguesa a resolvê-las




Marta Gonçalves, Expresso diário, 08.08.2018:

Quais as maiores necessidades das pessoas que são forçadas a fugir de casa e a seguirem as rotas migratórias?

Na verdade, o que vemos na Europa é uma pequena parcela das pessoas que neste momento estão a migrar. São os que conseguiram sair da Líbia, mas há muita gente retida em território líbio, no Níger, na Nigéria. Neste momento, estamos ativamente num projeto do México, devido aos migrantes que atravessam a fronteira para os EUA, que é uma rota migratória com problemas parecidos. Como eles passam muito tempo ao relento, uma simples constipação pode transformar-se numa infeção muito mais difícil de tratar no momento em que são atendidos pelos médicos. Ou uma diarreia ou uma ferida que depois se transformam em problemas não só crónicos como muito mais difíceis de tratar. Há também necessidades que não são médicas, mas sim logísticas - estamos a falar de pessoas que já viajaram muitíssimo. Por exemplo, para as pessoas a bordo do Aquarius, a travessia no Mediterrâneo foi apenas a última fração da viagem. Estiveram muito tempo expostos à violência e sem terem uma cola social - aquilo que se perde quando saímos do nosso ambiente, da nossa cultura, da nossa família. Isso perde-se, e numa família que está sozinha, numa mãe que viaja sozinha com o filho, e às vezes com os filhos de outros, é um grande problema. Depois, há os problemas de saúde mental, que causam grande transtorno. Muitas vezes as pessoas que não estão capazes de viajar por essas mesmas razões são as mais vulneráveis à violência, por não conseguirem tomar decisões, por não terem dinheiro, por parecerem frágeis.

O trabalho da Unidade de Apoio aos Deslocados Internos dos Médicos Sem Fronteiras consegue minimizar esta dor e violência? De que forma conseguem facilitar a vida destas pessoas ao longo do percurso?

As missões já estão em sítios estratégicos para encontrar as pessoas no momento em que estão no estado mais vulnerável. Um dos problemas que vemos no México, por exemplo, é que só estamos com os migrantes que vêm do sul do país quando estão prontos para a última etapa - e também a mais violenta: atravessar a fronteira para os EUA. O que acontece é que atendemo-los e depois perdemos-lhes o rasto.

Através de uma série de encontros com migrantes e com organizações locais que conhecem muito bem a realidade, concluímos que quando os migrantes têm acesso ao Facebook e a redes sociais, utilizam-nas como ferramenta pessoal. Ora isto permite aos Médicos Sem Fronteiras voltarem a entrar em contacto com essas pessoas quando já estão mais à frente no caminho. E também permite eles nos contactem sempre que precisarem. Esta é uma solução possível no México, mas não em África, onde temos de pensar em estratégias diferentes.

Neste momento, estamos a idealizar kits que podemos distribuir em pontos de passagem das rotas que permitam a quem faz o caminho estar informado: os perigos que podem encontrar, como se podem manter nutridos, como evitar feridas ou o que fazer no caso de uma violação. E depois há também a violência sexual, não apenas sobre as mulheres mas também sobre crianças. Estamos também a pensar em kits não só de prevenção como de resposta, que inclua uma pílula do dia seguinte. Há muitas necessidades que não são só médicas e que se não tiverem resposta representam um problema muito maior para a saúde do que uma doença.

Que necessidades são essas?

Tem mais que ver com proteção do que cuidados médicos. Uma criança que fica órfã e tem de lidar com os irmãos não sabe como reagir ou como organizar a sua vida ou quem procurar. Esse é um dos casos que encontramos com maior frequência. Precisam de apoio de alguém, tanto psicológico como na gestão da família. Na Nigéria, estamos a começar um projeto de alternativa ao uso da madeira como combustível para cozinhar (e estas são pessoas um pouco diferentes, porque chegam aos campos e não têm absolutamente nada, escaparam depois de serem raptadas por grupos armados). Uma das principais necessidade que dizem ter - e não é só uma necessidade, mas também um motivo de conflito - é a madeira. Não há madeira para todos e é cara. Quem não pode pagar, vai para a floresta procurar - e fica novamente sujeito a violência. Este é um exemplo de uma questão não médica, fora daquilo que é nosso tipo de operações. Mas sendo os Médicos Sem Fronteiras a única organização no local, há a responsabilidade de dar resposta. Assim introduzimos uma tecnologia que permite fazer combustível com materiais locais, evitando que tenham de deslocar-se para ir à lenha.



Agosto daquele ano mágico



Um belo texto sobre 1968.

«Mientras los soixantehuitard crecían y se desinflaban, en el mundo ocurrían otras cosas. A más de mil kilómetros de distancia de París se desarrollaba otro experimento social, el más importante de 1968: la Primavera de Praga, un periodo de liberalización política en el seno del comunismo, en Checoslovaquia, durante la Guerra Fría. (…) 

1968 fue mucho más que Mayo. Algunos estudiosos han establecido analogías entre los años 1848 y 1968. Hubo estallidos en diversos lugares de Europa, una serie de revueltas sin relación aparente entre sí, aunque con concomitancias genéricas similares, contra el predominio del absolutismo y del autoritarismo. (…) Cuando finaliza el experimento checo de socialismo de rostro humano todavía no había terminado el año mágico de 1968. Apenas unas semanas después, en un lugar muy alejado del escenario europeo, los estudiantes mexicanos se rebelaban y eran masacrados.»
.

Apitó comboio!



«Pedimos desculpa por o secretário de Estado das Infra-estruturas, Guilherme W. d'Oliveira Martins, ainda não ter sido cancelado. Circula com uma hora e meia de atraso e dará entrada na linha 3. Se der. Ao fim de uns anos no seu emérito cargo governativo, Guilherme W. enganou-se na carruagem e o seu destino é o museu de memórias da CP. Se esta empresa subsistir ao seu mandato e ao do seu superior hierárquico, Pedro Marques. O país consegue sobreviver ao momento em que o secretário Guilherme W. fez um número de comédia e disse que na CP "não há colapso nenhum". Portugal é mesmo capaz de suster a respiração durante uns minutos, sem se engasgar, depois de o escutar a debitar que "há uma ideia errada de que não há comboios suficientes e que os passageiros estão a perder qualidade de serviço". Esta frase deveria ser transmitida como um rap no percurso do Alfa Pendular, no meio de uma versão mais ligeira de "Apitó Comboio!", para que os passageiros tivessem direito a um momento de humor enquanto destilam.

O secretário Guilherme W. pode saber muito de comboios. Pode até ser especialista em pistas de comboios em miniatura. Mas desconhece o que se passa na CP e nesse elefante branco que é a Infraestruturas de Portugal. É por isso que culpa o PSD e o CDS de todos os males do mundo nos caminhos-de-ferro. Como se, com a sua chegada ao nobre cargo de secretário de Estado das Infra-estruturas, tudo tivesse mudado. Não. A desgraça continuou. Não houve investimento no reequipamento da CP. O que estava ferrugento colapsou. O secretário Guilherme W. esquece-se de que as pessoas não querem que os comboios sejam armas de arremesso político. Querem apenas que funcionem. Não interessa agora se esta política seguida, há anos, de destruição da CP, tornando-a frágil e baratinha, só tenha como objectivo privatizar os seus percursos mais rentáveis. Essa é outra história. O que conta agora é que, na CP, não há comboios, nem horários cumpridos, nem oferta razoável, nem ar condicionado. Só há alguém que é acusado de ser secretário de Estado.» 

.

7.8.18

Ele aí está



.

Dica (794)




«This narrative by Nathaniel Rich is a work of history, addressing the 10-year period from 1979 to 1989: the decisive decade when humankind first came to a broad understanding of the causes and dangers of climate change. Complementing the text is a series of aerial photographs and videos, all shot over the past year by George Steinmetz. With support from the Pulitzer Center, this two-part article is based on 18 months of reporting and well over a hundred interviews. It tracks the efforts of a small group of American scientists, activists and politicians to raise the alarm and stave off catastrophe. It will come as a revelation to many readers — an agonizing revelation — to understand how thoroughly they grasped the problem and how close they came to solving it.»
.

Marcelo e dress code



Não tenho esquisitices neste domínio. Já me habituei a ver e ouvir Marcelo em traje de banho a falar como presidente da República, dia após dia, e, se aparecer assim na Sala das Bicas, em Belém, já acharei normal. Mas espero que nunca mais critiquem os xanatos dos Mujicas deste mundo.
.

Eleições na descontinuidade



«As crises de descontinuidade, aquelas em que o presente não liga o passado com o futuro, não encontram solução satisfatória através da utilização dos procedimentos eleitorais se antes da próxima data eleitoral os partidos concorrentes não tiverem feito a actualização dos seus programas e das suas propostas. Sem a orientação actualizada dos partidos, os eleitores ficarão presos nas suas memórias, porque não haverá nenhuma entidade política que os informe do que está a ser esta crise e do que a mudança vai implicar. Os eleitores têm os seus interesses e as suas expectativas e escolhem os que prometem defender os seus interesses e confirmar as suas expectativas. Quando há uma crise de descontinuidade, os interesses já não se definem nem se defendem do mesmo modo e as expectativas, pela natureza das coisas, já não vão ser confirmadas depois de tudo o que mudou.

A crise financeira de 2008 pertence ao tipo de crise de descontinuidade, mas foi tratada como se fosse um desequilíbrio temporário que poderia ser corrigido e controlado dentro da mesma estrutura de interesses e expectativas. Por isso, os debates que estimulou estabeleceram-se entre os defensores da austeridade para controlar défices e dívida, e os defensores dos estímulos ao crescimento, que também prometiam controlar défices e dívida. Como nem os défices nem a dívida foram controlados, como nem a austeridade nem o crescimento foram suficientes, será melhor admitir que a crise não era um desequilíbrio temporário, era o efeito de uma mudança de natureza nos movimentos de capitais, nos movimentos de pessoas em função dos diferenciais demográficos, nas condições de competitividade na economia mundial.

Quando hoje é evidente que Estados Unidos e Rússia, Trump e Putin, estabelecem uma aliança estratégica para fragmentar a União Europeia, apoiam os movimentos do nacionalismo populista, promovem as soluções autoritárias e a formação de barreiras alfandegárias, também se tornou evidente que os debates sobre austeridades e estímulos não captaram a natureza da crise nem anteciparam as suas consequências.»

.

6.8.18

06.08.1945 – Hiroshima



.

06.08.1966. Chamaram-lhe «Salazar»




E, no entanto, com a sagacidade que o caracterizava, o presidente do Conselho de Ministros previu o que viria a acontecer alguns anos mais tarde. Antes do início das cerimónias da inauguração, ao ver o seu nome num dos pilares, terá perguntado: «As letras estão fundidas no bronze ou simplesmente aparafusadas? É que, se estão fundidas no bloco de bronze, vão dar muito trabalho a arrancar.» Deram algum trabalho, sim, mas aconteceu:



No dia na inauguração, claro não se escapou a mais um discurso do inefável Américo Tomás:



Atravessei a Ponte alguns dias depois de ter sido inaugurada, no velho carocha de um amigo, com um bote em cima, a caminho da Arrábida. Começava uma nova vida, chegava-se muito mais rapidamente ao paraíso das nossas férias, sem cacilheiros dependentes de nevoeiros, nem longas filas de espera quando era preciso embarcar também um automóvel. Para quem vivia «do lado de lá», foi a facilidade quase inimaginável de alcançar Lisboa mais facilmente para chegar ao trabalho, ao liceu ou à faculdade ou simplesmente para passear.

Não deve ser fácil para quem nasceu mais tarde imaginar Lisboa sem «a Ponte». Mas nós, os seus antepassados, sobrevivemos. 
.

Refugiados em Portugal



.

A vaga de calor



«Nem os super-heróis nos salvam do calor. Telefonaram a Iceman, mas este estava no chuveiro. Enquanto Portugal tem um olho de prevenção nos incêndios e outro no abano que usa para fazer aparecer alguma brisa refrescante, a Europa torra. Calores extremos na Suécia, incêndios devastadores na Grécia, sol escaldante no Japão. Nas esquinas, olhando para a forma como temos maltratado um planeta vivo como é a Terra, desde a Revolução Industrial, há quem tenha um taco de basebol para acertar na cabeça dos políticos de serviço ao Governo do momento.

Mas a questão é que, ao contrário do que Donald Trump pensa, as alterações climáticas não são "fake news". São uma questão séria. Com severas implicações sociais, ambientais, económicas e políticas. A água vai ser o petróleo deste século e muita da migração que vem de África em busca da Europa vai aumentar ainda mais por causa disso. A fúria social vai caminhar de mão dada com o calor.

O aquecimento global é real. Sente-se. E o problema é que não podemos fugir dele. Nem nos podemos esconder, fingindo que não é nada connosco. Vai trazer alterações radicais às sociedades. Mais calor, mais fogos, menos água, vão ser a norma e não a excepção. O ritmo das estações, como as conhecemos há 20 ou 30 anos, alterou-se.

A Terra deixou de ser um relógio. Os habitantes daquilo a que se chamou o terceiro pedregulho a contar do Sol vão ter de se confrontar com fenómenos extremos com cada vez maior frequência.

Mas como irão os políticos e os eleitorados lidar com estas questões? As boas (ou más) decisões já não vão afectar apenas o dia seguinte: vão determinar o curto prazo. Em Portugal, a classe política dedicou-se a procurar os culpados dos incêndios do ano passado, mas não se viu que ela estivesse interessada em que a sociedade debatesse e se inteirasse do problema mais vasto. São precisas boas políticas e bons políticos para enfrentar esta vaga de calor. Que derrete muitas certezas políticas, económicas e sociais.»

..

5.8.18

Dica (793)




«A fim de ganhar as eleições presidenciais de Novembro de 2006, Daniel Ortega conseguiu tornar aceitável a sua eleição pelas classes dominantes. Ortega fez também por conservar o apoio de uma série de dirigentes das organizações populares sandinistas.»
.

Entretanto na China



Chine : un intellectuel dissident disparaît après une interview interrompue en direct.

Estava a dar uma entrevista pelo telefone, a polícia entrou-lhe em casa e ele está desaparecido. Nada de novo porque isto aconteceu na China? Pois… talvez por enquanto.
.

CP? Absolutamente extraordinário!




«Vendas suspensas para diminuir calor a bordo, porque ar condicionado dos alfas pendulares não arrefece quando a temperatura está acima dos 42 graus.»

Os EUA arriscam perder a guerra comercial com a China



Joseph E. Stiglitz no Expresso Economia de 04.07.2018:

«O que começou por ser uma escaramuça comercial, com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a impor taxas aduaneiras sobre o aço e o alumínio, parece estar rapidamente a transformar-se numa guerra comercial generalizada com a China. Se as tréguas aprovadas entre a Europa e os EUA se mantiverem, Washington enfrentará quase exclusivamente Pequim, em vez de enfrentar o mundo (e, evidentemente, o conflito comercial com o Canadá e o México continuará em lume brando, dadas as exigências dos EUA que não podem nem devem ser aceites por qualquer um desses países).

Além da afirmação verdadeira, mas agora já óbvia, de que todos perderão, o que podemos dizer das consequências possíveis da guerra comercial de Trump?

Em primeiro lugar, a macroeconomia triunfa sempre: se o investimento nacional dos EUA continuar a exceder as suas poupanças, o país terá de importar capital e de manter um défice comercial assinalável. Pior que isso, devido aos cortes fiscais promulgados no fim do ano passado, o défice orçamental dos EUA está a atingir novos máximos — recentemente, foi previsto que ultrapassasse 1 bilião de dólares até 2020. O que significa que, quase certamente, o défice comercial aumentará, independentemente das consequências da guerra comercial. O único cenário em que isso não acontecerá é se Trump levar os EUA para uma recessão, fazendo os rendimentos diminuir tanto que o investimento e as importações caiam a pique.

A “melhor” consequência da obtusa insistência de Trump no défice comercial com a China seria a melhoria do saldo bilateral, contrabalançada por um aumento correspondente no défice com um qualquer outro país (ou países). Os EUA poderiam vender mais gás natural à China e comprar menos máquinas de lavar; mas venderiam menos gás natural a outros países e comprariam máquinas de lavar, ou quaisquer outros bens, à Tailândia ou a outro país que tenha evitado a colérica ira de Trump. Mas, como os EUA interferiram com o mercado, pagariam mais pelas suas importações e conseguiriam menos pelas suas exportações do que em caso contrário. Em resumo, a ‘melhor’ consequência significa que os EUA ficarão pior do que estão hoje.

Os EUA têm um problema, mas não com a China. O seu problema é interno: a América tem poupado demasiado pouco. Trump, como muitos dos seus compatriotas, tem uma visão imensamente míope. Se tivesse um mínimo de entendimento da economia e uma visão de longo prazo, teria feito o que pudesse para aumentar a poupança nacional. Isso teria reduzido o défice comercial multilateral.