28.2.19

O Marcelismo e o «meu» sismo de 1969



Hoje, jornais e redes sociais estão cheios de testemunhos pessoais sobre o sismo de há 50 anos. Aqui fica o meu.

Dava então aulas na FLUL, o meu salário não chegava a 2 contos por mês (é só fazerem as contas, menos de 10 euros), acrescido de mais 1 conto e tal por dar também teóricas, o que não estava previsto na função dos assistentes – uma vergonha, mesmo para a época.

Mas para meu azar e de muitos, já devia haver «cativações» na era de Marcelo I, e, chegados ao fim de Fevereiro de 69, ainda não nos tinha sido pago um tostão do tal acréscimo precioso a que tínhamos direito. Alguém se lembrou então de pedir uma audiência ao ministro da Educação, José Hermano Saraiva, e, audiência concedida, lá fomos recebidos em grupo ao fim da tarde do dia 27. Saímos com a certeza de que o problema seria resolvido (e foi) e resolvemos acabar a tarde e a noite a festejar em casa do irmão de uma das contestatárias (btw prima direita do ministro em questão).

A conversa durou até altas horas da noite, cheguei a casa a caí num sono à prova de bala – e de tremor de terra. Ou seja: não senti nada, não acordei, e a minha mãe, com quem ainda vivia então, viu tudo tremer e, embora apavorada, não me acordou (o que as mães não fazem pelos filhos…), mesmo quando um meu amigo atravessou Lisboa e tocou à campainha para perguntar se não queria que nos evacusaase no seu carro.

E foi assim que falhei a única hipótese de ver os meus vizinhos em cuecas nas ruas de Lisboa.
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