2.1.21

Maria José Morgado

 



Sempre polémica, mas a merecer ser ouvida.
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Presidenciais - Debates



 RTP1, 21h


Na TVI24, 22h, João Ferreira / André Ventura
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Porque não mudar as empresas para onde o trabalho infantil é legal?




 

«Sim, falta responder à pergunta que Christina Hoff Sommers faz no vídeo There is no gender wage gap e que inspirou esta mini-série de coffee breaks sobre desigualdade salarial: se os salários são a maior despesa das empresas e se as mulheres ganham menos, porque é que as empresas não contratam só mulheres? 

A pergunta é dita como prova de que não existe desigualdade salarial e é repetida no Ocidente como se fosse um slogan publicitário. 

Hoff Sommers sabe que a pergunta é absurda, puramente retórica e que parte de uma premissa irreal. O que está ela a propor? Que as empresas passem a rejeitar todos os candidatos homens e se regresse a um século XIX ao contrário, com os homens em casa e as mulheres no mercado de trabalho? Que as empresas contratem mulheres com menos mérito, menos talento, menos experiência só porque são mulheres e ponham de lado os homens só porque são homens? O mínimo que se pode dizer é que seria sexista, discriminatório e ilegal. Não faz sentido e Hoff Sommers sabe-o muito bem. 

Perguntar porque é que as empresas não contratam só mulheres, disse-me um amigo, “é como perguntar: ‘E se fizéssemos isso no Dia de São Nunca à Tarde ou quando as galinhas tiverem dentes?’”. São perguntas sem resposta. 

Caro leitor, se testar o modelo de Hoff Sommers verá que é evidente quão absurda é a proposta. Façamos a experiência: porque é que as empresas, cujo interesse é terem lucro, não se mudam todas para a China, onde os salários são mais baixos? Tem lógica, mas não faz sentido. Ah, já sei: a China é longe e a mudança exigiria dinheiro. Ok. Então porque é que as empresas, cujo interesse é terem lucro, não se mudam todas para os paraísos fiscais, onde se pagam menos impostos, e há tantas aqui tão perto? 

Outra hipótese, mais próxima ainda da lógica de Sommers: porque é que as empresas, cujo interesse é terem lucro, não se mudam todas para países onde as crianças trabalham e ganham dois dólares por dia? Vale um vídeo, não lhe parece? 

Por favor, imagine um vídeo com cinco minutos, produzido por uma equipa de bons designers, no qual cada uma das ideias seguintes surge escrita num slide ou é dita em voz off: só em África há 72 milhões de crianças que trabalham; em dezenas de países o trabalho infantil é legal e as empresas podem contratar crianças à vontade e não precisam de fazer nada às escondidas; as crianças recebem menos do que os adultos e quando morrem são substituídas por outras crianças; não é sequer preciso pagar segurança social; as crianças são trabalhadores flexíveis — trabalham na agricultura, na indústria e nos serviços — e muitas fazem trabalhos perigosos, sobretudo relacionados com máquinas e químicos; é mesmo prático e as empresas podem escolher à vontade. O que poupavam as empresas! Tantos e tantos euros. E há imensas crianças no mundo. Devem ser burras as empresas. Podiam ir todas para África, para a América Latina ou para a Ásia e poupar milhões, mas teimam em continuar nos EUA e na Europa. Só na Índia há dez milhões de crianças dos cinco aos 14 anos que trabalham. É um mundo de oportunidades. Se preferirem, as empresas podem ficar por aqui. Porque não vão todas as empresas portuguesas para a Bulgária ou para a Moldova? São dois exemplos, mas se procurar, verá que até na Europa a escolha é grande. 

Levemos a lógica de Sommers ao extremo (caro leitor, por favor continue a imaginar um vídeo com bom design): se os salários são a maior despesa das empresas, se as crianças ganham menos do que os adultos e se há 152 milhões de crianças que trabalham, porque é que as empresas não se mudam todas para os países onde o trabalho infantil é comum? Além do mais, 19 milhões delas têm entre 5 e 11 anos, são ainda mais baratas! 

Só há duas explicações possíveis para as empresas não irem para a África, Ásia, América Latina e Europa de Leste, onde poderiam poupar dinheiro contratando crianças: os empresários são tolos ou o trabalho infantil não existe, é um mito. 

Caro leitor: se foi picado pelo bicho Hoff Sommers, experimente aplicar o modelo. O mais provável é concluir que as empresas — felizmente — têm os pés na terra e não são geridas como se estivessem num filme de ficção científica. 

Sommers foi professora de filosofia em duas universidades americanas. Conhece os “juízes indeterminados” de Emmanuel Kant — é quando se nega uma possibilidade sem afirmar uma possibilidade real. Que fique claro: a pergunta do seu vídeo é absurda, irreal e errada do ponto de vista ético, legal e — lamento dizer — até retórico. 

Série “Coffee break” sobre desigualdade salarial: 
  • As mulheres histéricas
  • É difícil explicar que a Terra é redonda
  • O vídeo da professora Hoff Sommers é falso
  • A desigualdade salarial é um mito? 6 argumentos
  • O trabalho e o mito da bravura dos homens
  • Nunca viu desigualdade salarial? A TAP dispensou cinco grávidas

      Bárbara Reis
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1.1.21

Antes que o dia acabe

 


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Memórias imperdíveis

 


Um dos rituais imperdíveis de cada primeiro dia do ano era ouvir o discurso que o presidente da República dirigia ao país, se bem me lembro por volta da hora do almoço. Nunca desiludia.
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O novo (a)normal

 


Concerto de Ano Novo em Viena – teatro vazio, palmas a distância por telemóvel.


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Entramos em 2021 sem um dos bons

 




Carlos do Carmo (1939-2021)
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31.12.20

Bom Ano

 

Pensar a longo prazo.
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Auckland 2021

 



Já lá vão muitas horas desde que os neozelandeses festejaram a chegada do novo ano com bons motivos para o fazerem – sem máscara, porque já não precisam.
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Será que Marcelo precisa destes apoiantes?

 


Bom sinal! Haja alguma esperança de que Marcelo precise mesmo de muitos apoios… 

Ler notícia AQUI.
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31.12.1968 / 01.01.1969 – Uma vigília contra a Guerra Colonial

 

(Cabeçalho da convocatória para a Vigília)


Em 31 de Dezembro de 1968, cerca de cento e cinquenta católicos entraram na igreja de S. Domingos, em Lisboa, e nela permaneceram toda a noite, naquela que terá sido a primeira afirmação colectiva de católicos contra a Guerra Colonial, numa actividade formalmente «disciplinada». Com efeito, o papa Paulo VI decretara, em 8 de Dezembro, que o primeiro dia de cada ano civil passasse a ser comemorado pela Igreja como Dia Mundial pela Paz e, alguns dias depois, os bispos portugueses tinham seguido o apelo do papa em nota pastoral colectiva. 

Assim sendo, nada melhor do que tirar partido de uma oportunidade única: depois da missa presidida pelo cardeal Cerejeira, quatro delegados do numeroso grupo de participantes comunicaram-lhe que ficariam na igreja, explicando-lhe, resumidamente, o que pretendiam com a vigília: 

«1º – Tomar consciência de que a comunidade cristã portuguesa não pode celebrar um “dia da paz” desconhecendo, camuflando ou silenciando a guerra em que estamos envolvidos nos territórios de África. 
2º – Exprimir a nossa angústia e preocupação de cristãos frente a um tabu que se criou na sociedade portuguesa, que inibe as pessoas de se pronunciarem livremente sobre a guerra nos territórios de África.
3º – Assumir publicamente, como cristãos, um compromisso de procura efectiva da Paz frente à guerra de África.» 

Entregaram-lhe também um longo comunicado que tinha sido distribuído aos participantes, no qual, entre muitos outros aspectos, era sublinhado o facto de a nota pastoral dos bispos portugueses, acima referida, tomar expressamente partido pelas posições do governo que estavam na origem da própria guerra, ao falar de «povos ultramarinos que integram a Nação Portuguesa». 

Apesar de algumas objecções, o cardeal não se opôs a que permanecessem na igreja, ressalvando «a necessidade de uma atitude de aceitação da pluralidade de posições». Pluralidade não houve nenhuma: até às 5:30, foram discutidos todos os temas previstos e conhecidos vários testemunhos, orais ou escritos, sobre situações de guerra na Guiné, Angola e Moçambique. 

Hoje tudo isto parece trivial, mas estava então bem longe de o ser. Aliás, seguiu-se uma guerra de comunicados entre Cerejeira e os participantes na vigília, que seria fastidioso analisar aqui. Mas vale a pena referir que, com data de 8 de Janeiro, uma nota do Patriarcado denunciou «o carácter tendencioso da reunião», terminando com um parágrafo suficientemente esclarecedor para dispensar comentários: 

«Manifestações como esta que acabam por causar grave prejuízo à causa da Igreja e da verdadeira Paz, pelo clima de confusão, indisciplina e revolta que alimentam, são condenáveis; e é de lamentar que apareçam comprometidos com elas alguns membros do clero que, por vocação e missão deveriam ser, não os contestadores da palavra dos seus Bispos, mas os seus leais transmissores». 

A PIDE esteve presente (há disso notícia em processo na Torre do Tombo), mas não houve qualquer intervenção policial. Alguns jornais (Capital e Diário Popular) noticiaram o evento, mas sem se referirem ao tema da Guerra Colonial – terão provavelmente tentado sem que a censura deixasse passar… A imprensa estrangeira, nomeadamente algumas revistas e jornais franceses, deram grande relevo ao acontecimento. E foi forte a repercussão nos meios católicos. 

Para quem esteve presente em S. Domingos, como foi o meu caso, essa noite ficará para sempre ligada à Cantata da Paz, hoje tão conhecida, mas que poucos identificam com a sua origem. Com versos propositadamente escritos para essa noite por Sophia de Mello Breyner, e com música de Francisco Fernandes, foi então estreada por Francisco Fanhais. (Quantas vezes a terá cantado depois disso, nem ele certamente o saberá…) 



P.S. – Quatro anos mais tarde realizou-se uma outra vigília pela paz na Capela do Rato, com consequências bem mais gravosas porque envolveu uma greve de fome, prisões e despedimentos da função pública.


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(Também publicado em esquerda.net.)
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30.12.20

Marcelo Rebelo de Sousa, criador de passados (2)

 


Durante a pré-campanha para as presidenciais de 2016, contei uma pequena história em que Marcelo Rebelo de Sousa estve envolvido alguns anos antes e na qual também participei. Se a retomo hoje é porque me retorço toda quando leio sondagens que lhe dão previsões de percentagens de votação estratosféricas em 24 de Janeiro: confirmam que ainda não se percebeu que se trata de alguém cujo primeiríssimo objectivo é sempre ficar bem na fotografia, seja esta presente, futura ou mesmo passada, custe o que custar. E o problema é que não sabemos o que isso nos pode vir a custar-nos num futuro próximo. 

No episódio que resumo, pretendeu criar um passado com laivos de antifascismo, que pode reduzir-se a duas das frases que declarou a uma jornalista: «Penso que nasci para a PIDE aos 16 anos», «Fulano de tal [eu], que tem ideias perigosas, (…) estava a distribuir propaganda subversiva no dia x às tantas horas». Não se saiu lá muito bem, já que a memória de todos os que o conheceram na juventude ainda estava bem viva, mas continuou o seu caminho… 

O texto em causa encontra-se AQUI.
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Argentina: já está!

 


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As mulheres do ano


 

«Há eventos, na história mais recuada e nos tempos recentes, que percebemos bem terem sido causados, ou piorados, pela má qualidade dos políticos e dos governantes. Exemplifico. A Revolução Francesa não está desligada da mediocridade de Luís XVI. Qualquer um esperaria de governantes como Trump e Bolsonaro que potenciassem uma carnificina, em calhando uma crise pandémica como a da covid. Porque psicologicamente e politicamente são produtos que não têm o bem comum da generalidade da população como princípio norteador. 

O “Brexit” foi outro caso claro de políticos desastrosos sucedendo-se como dízima infinita. O irresponsável Cameron, com a brincadeira do referendo. May, mostrando força que não tinha. Boris Johnson, impreparado e espalhafatoso. Corbyn, sempre ambíguo e politicamente radical. Desagradava tanto aos britânicos que estes, até os que detestam o cisma com a União Europeia, preferiram votar nos conservadores do “Brexit”. 

Porém, neste ano de pandemia, tivemos a sorte de algumas lideranças providenciais. Daquelas que agiram para minorar ou extinguir a crise. Que velaram pelo bem comum em vez de pelo narcisismo estrepitoso próprio dos líderes proto-autoritários. Dentro delas, curiosamente, as melhores foram mulheres. Para mim, as personalidades políticas de 2020 foram quatro e estão todas no feminino. 

Ursula von der Leyen é a mais emblemática. Porventura a maior responsável europeia pela vacina para a covid. Não tendo a União Europeia uma política de saúde comum, para além dos mínimos de regulamentação, a Comissão Europeia tomou para si o financiamento da pesquisa das empresas privadas, arriscou (porque poderia financiar e os resultados serem sofríveis ou insuficientes), coordenou etapas entre o regulador comunitário e as farmacêuticas, encomendou doses para toda a UE, e, por fim, está a distribui-las por todos os países simultaneamente. 

Penso que em Portugal todos temos noção de que, não fora toda a estratégia, planeamento e logística da Comissão Europeia, não receberíamos vacinas contra a covid ao mesmo tempo que a Alemanha. Nem teríamos stocks atempados para recuperarmos normalidade de vida no verão. Lembremos há pouco tempo o desaire com as vacinas da gripe, esse da gestão do muito português Ministério da Saúde, que colocou pessoas que normalmente se vacinam sem dificuldades não conseguindo vacinas este ano. 

A presidente da Comissão não deixou os Estados membros entregues a si próprios numa área que não é da competência da UE. Depois da calamitosa resposta inicial da UE à Itália – ficou sozinha a tratar do surto explosivo de covid, com ajuda casuística dos países vizinhos em alguns internamentos –, onde até houve ralhetes e ameaças do BCE por causa das contas públicas italianas à conta da covid, Ursula von der Leyen percebeu que a resposta teria de ser europeia. Porque o coronavírus tem a particularidade irritante de não se incomodar com fronteiras. 

Não foi só na vacinação que Ursula von der Leyen entregou resultados. A bazuca europeia para a recuperação económica pós-covid tem a sua impressão digital. Conseguir convencer os mais renitentes à emissão de dívida europeia para a bazuca foi épico. O discurso do Estado da União por Von der Leyen este ano no Parlamento Europeu – memorável. Falando em inglês e francês, Ursula não tem a vivacidade que lhe é visível nas partes em que discursa em alemão, é mais pausada e contida, mas as oscilações de forma não a impediram de ser ambiciosa para a UE, tanto na economia como nos direitos humanos, passando até pela cultura. 

Felizmente temos uma Ursula von der Leyen à frente da CE neste ano alucinado. Até o dossier “Brexit” a expediente Ursula conseguiu encerrar. E é curioso – e comovente – que o ano da consumação do “Brexit” seja também o ano em que a colaboração europeia fez tanto sentido e foi tão imprescindível. 

Outra líder incontornável: Angela Merkel. Sempre reincidente nestes rankings de boas características. A sua firmeza a decretar confinamentos, a escolha de bons cientistas para a aconselharem e a ausência de hesitação a aplicar as recomendações foram de índole a dar segurança ao mais incréus. Os seus discursos políticos onde explicava, de modo calmo e contundente, o que sucederia se a taxa de transmissão da doença aumentasse, quantos mortos se esperariam diariamente se o Natal alemão fosse mais relaxado, e outros pormenores técnicos tornados acessíveis e evidentes por Merkel, foram de antologia. Deveriam ser usados em licenciaturas e mestrados como paradigmas de boa comunicação política. 

Uma terceira é Jacinda Ardern, da Nova Zelândia. Teve como política suprimir o contágio de covid. O país fechou, para dentro e para fora (ajudou ser um arquipélago), e temporariamente teve os custos económicos da paragem. Como resultado, no total tiveram pouco mais de dois mil casos de covid e, segundo o site Worldometers, 25 mortos (para cinco milhões de habitantes). Já reabriram as fronteiras com a Austrália e regressaram à vida (quase) normal mesmo sem vacinas que lhes trouxessem a almejada imunidade de grupo. 

E a quarta: Tsai Ing-wen. A Presidente de Taiwan, líder do DPP, o partido progressista e independentista da ilha. Teve melhores resultados que Ardern: menos de mil casos em Taiwan, e sete mortes. Tanto mais assinalável pela alta densidade populacional: a ilha é menos de metade de Portugal e tem mais do dobro da população. A estratégia de Tsai Ing-wen foi implementada mal se souberam dos casos em Wuhan nos primeiros dias do ano. Logo em janeiro, estava a OMS ainda a olhar para o umbigo e para a propaganda chinesa, fechou o país ao exterior (só entravam residentes e nacionais, com quarentena), convidou os turistas chineses (há lá muitos) e japoneses a regressarem a casa sem demoras, encerrou as escolas e universidades por umas tantas semanas, as máscaras tornaram-se obrigatórias e eram distribuídas à população. 

Taiwan nunca teve confinamento geral, mas a pronta ação inicial e a limitação de movimentos contiveram o contágio de covid nos primórdios da doença. Podemos comparar com os países europeus, Portugal por exemplo, incentivando a vinda de turistas todo o verão, a ver se tornavam inevitável uma segunda vaga. Taiwan está na meia dúzia (mal contada) de países que vai crescer economicamente em 2020. 

2020 foi um ano terrível. Porém, é reconfortante que nesta crise gigante as lideranças políticas femininas tenham sido as mais admiráveis.» 

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29.12.20

Presidenciais: Entrevistas na RTP durante a pré-campanha

 


Terão sido muitas as queixas apresentadas ao Provedor do Telespectador da RTP, Jorge Wemans, sobre o tema em questão e reproduzo aqui a resposta recebida. (Hoje, 29.12.2020, o entrevistado será o candidato Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa.) 

«Encarregue de entrevistar os candidatos a Presidente da República, o jornalista João Adelino Faria escolheu como método para dar a conhecer o pensamento de cada um deles interrogá-los sobre factos concretos e situações bem tipificadas. Insistindo para obter respostas concretas e taxativas. O método é conhecido e tem vantagens sobre entrevistas baseadas em questões genéricas e abstratas. Sobretudo tratando-se de entrevistas curtas (30 min.). 

Vários telespetadores manifestaram ao provedor o seu desagrado quanto às frequentes interrupções com que o jornalista cortou o raciocínio dos candidatos entrevistados, não os deixando expressar com tranquilidade o seu pensamento, confrontando-os com interpretações distorcidas do que disseram e impedindo-os de fundamentarem os seus pontos de vista. 

Alguns telespetadores usaram a correspondência com o provedor para caluniar, difamar e emitir insinuações a respeito de João Adelino Faria. Ainda que tais comportamentos se estejam a tornar habituais, o provedor repudia frontalmente tais atitudes a que obviamente não responderá. 

Revistas as entrevistas, o provedor conclui que a prestação de João Adelino Faria pecou por demasiada insistência nas perguntas para as quais pretendia obter respostas, excesso de interrupções do discurso dos entrevistados e, por vezes, extrapolação enviesada do que por eles tinha sido referido. Em algumas entrevistas o tempo de fala do entrevistador foi igual ao tempo concedido ao entrevistado. Desta forma, os telespetadores pouco ganharam em termos do conhecimento do pensamento e da provável ação dos candidatos caso sejam eleitos Presidente da República. 

Deste parecer dou conhecimento ao jornalista e à direção de informação. m/ cumprimentos, 

Jorge Wemans
Provedor do telespectador»
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Mais médicos no SNS? Leva-os o vento

 



«Entre as 1385 vagas disponíveis para reforçar a saúde pública, medicina geral e as áreas hospitalares, apenas 908 foram transformadas em contratos efetivos. Médicos queixam-se da falta de condições.» 

Era absolutamente óbvio que isto ia acontecer, porque não se mexeu em carreiras, salários e porque não se regulamentou a Lei de Bases da Saúde aprovada na Assembleia da República. E foi por isso que o governo, mais ciente do que nós de que seriam estes os resultados, cedeu a pôr no OE2021 números astronómicos de médicos a serem contratados em troca de uma abstenção na votação final do OE para este passar - se é que me faço entender.
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O dia seguinte

 


«O princípio do fim ou o fim do princípio. Foi assim, a cada um sua leitura, olhado o início da vacinação contra a Covid 19 em Portugal e no resto da Europa. Garantida está, pelo menos, uma réstia de esperança para o ano novo que se aproxima e se deseja melhor, solar, aberto. Mas nada está garantido, muito pelo contrário. 

Quando acabará o longo pesadelo? Vemos uma luz ao fundo do túnel, ao mesmo tempo dá-se quase por garantida uma terceira vaga da pandemia, e bastantes vozes dizem recusar a vacina, hipotecando a possibilidade de alcançarmos a sonhada imunidade de grupo. Vamos acreditar que no domingo, com o início da vacinação, assistimos ao início de algo novo. Uma coisa é certa: não retomaremos o momento interrompido em março passado, ninguém tenha ilusões. Mas é chegada a hora de levantar os escombros, afastar esta crise que muitos classificaram, sem qualquer exagero, como uma guerra silenciosa. Desconhecemos ainda o que iremos encontrar amanhã, todavia teremos de estar preparados para o pior: para uma crise social sem precedentes. Até agora essa crise foi amortecida por apoios sociais garantidos pelos diferentes estados, por moratórias de dívidas que acabarão por ter de ser pagas. E serão aqueles que pouco ou nada têm, uma vez mais, a sofrer. 

Serão "os pobres, aqueles que odiamos porque recebem subsídios e não trabalham, tirando dinheiro dos nossos bolsos, aqueles que gastam esse dinheiro na droga e no álcool, que roubam e nos atazanam a vida, e têm o privilégio de nunca terem sido amados", escreve o padre José júlio Rocha, no Diário Insular, dos Açores. Um texto que é um verdadeiro murro no estômago a lembrar-nos que é a esses, "os que não têm lugar", os que nunca foram amados, que o dia seguinte se apresenta verdadeiramente negro.» 

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28.12.20

A fotografia do ano



 

(Daqui)
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Covid e Parosmia?

 



Faltava esta... Se estivermos a comer um bife e nos cheirar a sardinhas pode ser mau sinal.
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Recordações de 2020

 


Sim, é isto o que guardo das minhas viagens em 2020 – ou seja, zero… E não creio que venha a ser diferente em 2021.
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Não, os “vistos gold” não acabaram... sequer em Lisboa e no Porto

 


«Várias notícias têm vindo a público dizendo que Governo aprova o fim dos “vistos gold". É preciso não nos deixarmos ir por certos títulos. A precipitação pode levar-nos ao engano. 

Está anunciado desde 2019, através de uma autorização legislativa aprovada no Orçamento do Estado para 2020, que este regime seja alterado nas áreas de maior pressão imobiliária como Lisboa e Porto, prevendo que fosse interrompida a possibilidade de sua aplicação no imobiliário, uma vez que cerca de 90% do investimento no âmbito deste programa é aplicado na compra de imóveis. O Governo deixou passar 2020 e, a poucos dias do seu fim, anuncia novo decreto que prevê que as Autorizações de Residência para Investimento, os chamados “vistos gold”, continuem a investir em imobiliário, nas áreas metropolitanas de Lisboa, Porto e litoral até ao final do 2022. A partir de 1 de Julho de 2021 o valor do imobiliário adquirido nestas áreas terá de ser mais elevado (gerando ainda maior pressão nos preços) para as pessoas poderem, através dessa compra, adquirirem também uma autorização de residência. Teremos então mais dois longos anos de “vistos gold” através da aquisição de imobiliário, nas áreas de grande pressão, onde falta habitação a preços acessíveis, assim como teremos a continuação dos mesmos no resto do país. 

Na verdade, os sucessivos anúncios do Governo têm promovido uma corrida aos “vistos gold” e, consequentemente, ao imobiliário nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, fomentando o processo especulativo. Agora sabemos que essa corrida prolongar-se-á até 2022, com preços a subir. Para não falar do impacto que isto terá também no interior do país e ilhas, aí sem data para terminar. 

Vale a pena contar aqui uma pequena história: um dia, entrevistando um agente imobiliário, ele disse-me que não vendia casas, vendia vistos, e que, por isso, uma casa que poderia valer 200 mil era vendida a 500 mil porque era isso que interessava ao comprador. Para bom entendedor, meia palavra basta. 

Os “vistos gold” devem acabar. Colocam inúmeros problemas, já referidos por diversas organizações e que estão suficientemente comprovados: 

  • Podem ser usados para lavagem de dinheiro e formas de evasão fiscal, aumentam riscos de corrupção, falta de transparência e potenciam condutas duvidosas.
  • Promovem o tratamento desigual e discriminatório, que dá ao estrangeiro que pode comprar direitos pagando o visto (e pouco depois a nacionalidade) um tratamento mais favorável que ao trabalhador imigrante que, anos a fio neste país, não consegue muitas vezes obter a sua regularização. É injusto e imoral transformar, uma vez mais, direitos em mercadoria.
  • O Parlamento Europeu veio declarar-se contra os “vistos gold", defendendo que a cidadania não deve estar à venda, reafirmando os aspetos potenciadores de branqueamento de capitais e atração de criminosos que já eram referidos pelas organizações da sociedade civil.
  • Os “vistos gold” têm sido fundamentais para inflacionar preços na habitação, desconectando-os da realidade de quem vive e trabalha em Portugal. Aprovados pela mão de Paulo Portas em 2012, foram das primeiras medidas estatais que apoiaram o disparar dos preços da habitação. Conjuntamente a outras medidas, vieram promover um mercado imobiliário virado para os altos rendimentos e transformar a habitação em produto de investimento em vez da sua função social.
  • Os “vistos gold” não são investimento útil, são antes formas de guardar (e esconder) dinheiro no tijolo, não criam sequer emprego e têm fraco contributo fiscal, contribuem para a especulação imobiliária, cujos ganhos acabam depois por voltar a sair do país.
  • Os “vistos gold” são responsáveis, direta e indiretamente, por milhares de expulsões e despejos. Tornaram uma parte da população mais pobre e precária, vieram contribuir para o aumento da desigualdade social. E, pelo que parece, assim vão continuar. Os interesses do imobiliário acabaram por prevalecer.» 

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27.12.20

27.12.1943 – Joan Manuel Serrat

 


Joan Manuel Serrat faz hoje 77 anos e nasceu no bairro Poble Sec de Barcelona, numa família de operários. 

Começou por cantar em catalão, passou depois para castelhano no fim da década de 60, o que provocou fortes acusações de traição por parte dos seus conterrâneos. Mas em 1968, selecionado para representar a Espanha no Festival Eurovisão da Canção, disse que só o faria se cantasse em catalão, proposta que não foi aceite e que esteve na origem da proibição, pelo governo, que actuasse na televisão e que as suas canções fossem transmitidas na rádio. 

Os anos forma passando e, no Natal de 2014, estoirou de novo a polémica por ter recorrido de novo ao catalão, na TVE, poucos minutos depois do discurso do rei. 

Apesar da idade, soma e segue: em Novembro de 2015 terminou uma tournée em que deu mais de 100 concertos na América Latina, Estados Unidos e Europa. E continuou… 

Nos últimos anos viu-se envolvido em várias polémicas por se posicionar contra a indepedência da Catalunha. 

Algumas clássicas: 








Recentemente, dedicou esta interpretação de «Aquellas pequeñas cosas» aos doentes com Covid e aos profissionais que deles cuidam.

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Tino de Rans: uma boa entrevista

 



(Vergonhosamente excluído dos debates com os outros candidatos às presidenciais por RTP, SIC e TVI, estará no Porto Canal pelo menos com Marcelo Rebelo de Sousa e Marisa Matias.)
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Obrigado

 


«Os seres humanos são animais de hábitos, esses sinaleiros que nos satisfazem a nostalgia de segurança e organizam o Mundo. 

Construir e viver um quotidiano alicerçado em hábitos é uma tentativa de controlar variáveis que receamos ver bailar sem coreografia visada pela (nossa) censura. Mas tal esforço de estruturação não diz só respeito aos comportamentos mais comezinhos, estendemo-lo ao fluir da vida. Inventámos relógios e calendários, pedimos à Natureza que vestisse espartilhos e se o recusa lamentamos que viole a ordem - artificial... - das coisas. Ao longo dos anos fiz essa experiência com o Senhor Augusto em Cantelães, ele olha o horizonte e profetiza o dia seguinte ao arrepio do boletim meteorológico no ecrã do meu telemóvel, se protesto recebo um matreiro "disso não percebo nada". E acerta ele, apoiado na sabedoria de gerações. 

Vem aí espartilho clássico - Ano Novo. E um clamor se faz ouvir, ruge apesar das máscaras, não esquece as perdas e danos mas exige um sentimento de alívio, abraços não culpados, parques percorridos bras dessus bras dessous, a pobreza ao menos livre de mais um receio. Depois de uma tempestade assim não nos chega uma bonança tímida, precisamos de uma bebedeira de liberdade, "a nós a Vida Nova!". 

Não acontece por milagre. Releio o poema de Ferreira Gullar sobre o Ano Novo: "Meia noite. Fim/de um ano, início/de outro. Olho o céu:/nenhum indício./Olho o céu:/o abismo vence o/olhar. O mesmo/espantoso silêncio/da Via-Láctea feito/um ectoplasma/sobre a minha cabeça:/nada ali indica/ que um ano novo começa./E não começa/nem no céu nem no chão/do planeta:/começa no coração./Começa como a esperança/de vida melhor/que entre os astros/não se escuta/nem se vê/nem pode haver:/que isso é coisa de homem/esse bicho/ estelar/que sonha/(e luta). 

A um de Janeiro seremos os mesmos, o Mundo também. Sonhos preguiçosos nada resolverão, é preciso libertar a luta de parênteses e com ela inundar ruas e mentes. Lembrando, agradecidos, os que asseguram o metabolismo básico de uma sociedade que amiúde os destrata. Formigas incansáveis que viajam no porão, alimentam as caldeiras, limpam o casco e o tombadilho, asseguram que as cozinhas não naufragam. (Enquanto as cigarras se miram, autocomplacentes, em espelhos e soundbites nos salões da primeira classe). 

Agradeço-lhes. Por exemplo, ao segurança da urbanização, viu-me entrar noite adentro, anónimo por trás de gorro e máscara, e não satisfeito por me ver rodar a chave do prédio exigiu que mostrasse o rosto. "É o meu trabalho", disse, com um sorriso tímido, e desapareceu no escuro. Eu subi. Tranquilo, por alguém velar. E tantos alguéns, dos mais diversos modos, o fazem por aí!» 

Obrigado.

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Crueldade natalícia

 

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