29.7.16

Comissão fofa



«Comissão Europeia decidiu, na passada quarta-feira, não impor multas a Portugal pelo incumprimento das metas do défice público de 2015. Por esta é que ninguém esperava. No dia da morte de Salazar, as sanções caíram da cadeira.

Depois de ter visto Marques Mendes garantir na SIC, de fonte segura, que haveria sanções entre X e Y milhões, nunca pensei que a CE tivesse coragem de o desmentir. Segundo o ditado, e por exclusão de partes, isto faz de Marques Mendes um péssimo dançarino.

É um momento esquizofrénico para a antiga coligação que nos governou. Cristas tinha dito que se o Governo do Costa fosse competente não havia sanções. Agora, arranjar uma metáfora para isto vai ser tramado. É preso por ter cão e preso por não ter... Maria Luís afirmou que, com ela como ministra das Finanças, não haveria sanções, o que pode ser um problema se a Arrow Global começar a pensar que Centeno faz bem o lugar.

Para alguns comentadores, a CE parece ter tido um momento de lucidez. Perante o Brexit, os ataques terroristas, o sistema bancário europeu e Durão no Goldman, já não havia agenda para mais chatices. É muito complicado manter a atenção dos ministros do Ecofin sobre multas a Portugal quando estão a consultar o iPhone, de dois em dois minutos, para ir acompanhando a queda das acções do Deutsche Bank.

Todos sentimos necessidade de atribuir esta vitória a alguém. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa ainda lá tem três medalhas que estão guardadas, não vá haver novidades no mundial de chinquilho. Precisamos de um Éder desta proeza. Tenho a teoria de que o problema era o pin de Portugal na lapela, a CE não apreciava aquilo. Era um desafio. Era Passos Coelho a enfrentá-los pela calada. Já há quem fale em Carlos Moedas, mas é pouco credível dizer que Moedas fez voz grossa na CE.

O que me parece perigoso é o discurso do ter sido "o contexto político europeu, marcado pelas crises do terrorismo, que contou para esta decisão". Resumindo, dizem que os ataques terroristas contribuíram para que não houvesse sanções contra Portugal. Se a isso acrescentarmos o crescimento do turismo, no nosso país, com parte atribuída aos atentados, chegamos à conclusão de que devemos muito ao Daesh. Andamos a lucrar com isto. Não pode ser. Qualquer dia começam a desconfiar de nós.

Seja como for, é uma vitória. Tem havido algumas e isso parece incomodar uns quantos comentadores. Há uma semana, no Expresso, um jornalista escrevia - guardem os foguetes - sobre os juros negativos da dívida. Há uns dias, Camilo Lourenço, neste jornal, sobre a execução orçamental, dizia: "Não deitem foguetes." Anteontem, no Observador, alertavam que era "cedo para foguetes" no que diz respeito às sanções. Estou convencido de que há patriotas que andam a guardar os foguetes para os lançarem se nos acontecer uma grande desgraça.»

João Quadros

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