29.8.09

Always be a good boy

Cogitações (9)

«Se nós somos “os chineses do Ocidente”, nem um pouco nos assemelhamos aos japoneses. É porque não conhecemos o vazio nem por ele nos sentimos atraídos.

Há talvez uma barreira que contribui para isso, a fascinação-repulsa que sentimos pela ausência. A ausência não é o vazio, contraria-o mesmo, em certo sentido. A ausência diz-se de uma presença, enquanto o vazio não se reporta a um cheio. O vazio é primeiro, está aquém da ausência de tudo. Quando toda a presença desaparece e deixa de haver lugar a preencher por uma coisa, então surge o vazio primordial, de onde sairão as forças para, precisamente, criar, agir, pensar. Do vazio nascem os pensamentos únicos, nunca anteriormente pensados, como dele nasce a obra (eventualmente, de arte) absolutamente original. Para que ocorram, é preciso saber produzir o vazio.»

José Gil, O Medo de Existir, p. 103.

Entretanto, na Índia












Volta a falar-se de Sampat Pal, a activíssima líder de Atarra, uma pequena cidade situada numa região muito pobre do Nordeste da Índia.

Foi em 2005 que ela criou o seu «bando rosa» (gulabi gang), assim chamado porque as mulheres que o compõem vestem saris daquela cor. Empunham também paus de bambu para o que der e vier - e já foram úties.

De uma casta muito baixa e mal sabendo ler e escrever, Sampat Pal lidera agora cerca de 100.000 mulheres que já conseguiram evitar casamentos infantis, muitas sovas de maridos e vários actos de corrupção. Sequestram camiões com comida destinada aos mais pobres quando sabem que a mesma vai ser lançada no mercado.

«Misto de cacique local e Robin dos Bosques feminina», casada à força quando tinha apenas doze anos, mãe de cinco filhos, Sampat Pal é temida e respeitada por todos no seu país e tornou-se mais conhecida no Ocidente desde que publicou a sua biografia, em 2008.

Assim continua a luta das mulheres por esse mundo – com saris rosa, paus e tudo o mais que ainda for necessário.

(Fonte, entre outras)

Outros tempos, outras campanhas


















(Clicar na imagem para ler melhor)

Roubado aqui

28.8.09

Ultimatum

Absolutamente revoltante e lamentável

Leio no Expresso online que, no Youtube, os vídeos de uma «Portuguese Grandmother», açoriana e que vive no Canadá, têm dezenas de milhares de visitas. São feitos por um neto de 19 anos e o sucesso deve-se, aparentemente, à «espontaneidade» da senhora que não tem «a mais pequena noção acerca do sítio vão parar as imagens». A notoriedade é tão grande que já terá mais de mil fãs no Facebook.

No fim da notícia, podem ser vistos vários exemplos dos referidos vídeos. Não copio nenhum para não os ver nunca mais. Nem sei se me repugna mais a boçalidade do neto, se a «desgraçada» portuguesa, se a total ausência de espírito crítico com que a jornalista do Expresso dá a notícia.

Triste mundo.

Tempo de autocrítica
















«É impossível não ver no programa eleitoral do PSD ontem apresentado, e no anúncio pela dra. Ferreira Leite de políticas de firme combate a medidas da dra. Ferreira Leite, a mão maoista (ou o que resta dela) de Pacheco Pereira, a da autocrítica.

Assim, se a chegar ao Governo, a dra. Ferreira Leite extinguirá o pagamento especial por conta que a dra. Ferreira Leite criou em 2001; a primeira-ministra dra. Ferreira Leite alterará o regime do IVA, que a ministra das Finanças dra. Ferreira Leite, em 2002, aumentou de 17 para 19% ; promoverá a motivação e valorização dos funcionários públicos cujos salários a dra. Ferreira Leite congelou em 2003; consolidará efectiva, e não apenas aparentemente, o défice que a dra. Ferreira Leite maquilhou com receitas extraordinárias em 2002, 2003 e 2004; e levará a paz às escolas, onde o desagrado dos alunos com a ministra da Educação dra. Ferreira Leite chegou, em 1994, ao ponto de lhe exibirem os traseiros. No dia anterior, o delfim Paulo Rangel já tinha preparado os portugueses para o que aí vinha: "A política é autónoma da ética e a ética é autónoma da política".

Manuel António Pina, hoje no JN (realces meus)

«I have a dream» - 28 de Agosto de 1963












Uma América certamente diferente, quarenta e seis anos depois de «March on Washington for Jobs and Freedom».

Discurso de Martin Luther King, na íntegra:

27.8.09

Atlantis

The continent of Atlantis was an island
which lay before the great flood
in the area we now call the Atlantic Ocean.
So great an area of land, that from her western shores
those beautiful sailors journeyed
to the South and the North Americas with ease,
in their ships with painted sails.

To the East Africa was a neighbour, across a short strait of sea miles.
The great Egyptian age is but a remnant of The Atlantian culture.
The antediluvian kings colonised the world
All the Gods who play in the mythological dramas
In all legends from all lands were from fair Atlantis.
Knowing her fate, Atlantis sent out ships to all corners of the Earth.
On board were the Twelve:
The poet, the physician, the farmer, the scientist,
The magician and the other so-called Gods of our legends.
Though Gods they were -
And as the elders of our time choose to remain blind
Let us rejoice and let us sing and dance and ring in the new
Hail Atlantis!
Way down below the ocean where I wanna be she may be.


Então não se arranja nem uma referência ao Magalhães?

E viva o photoshop
























A primeira fotografia corresponde a uma campanha da Microsoft, «adaptada», na segunda, ao mercado polaco, onde aparentemente o negro ainda não vende. (Não branqueram a mão direita, talvez – quem sabe – porque uma mão preta pode sempre dar jeito.)

Seguiram-se protestos e pedidos de desculpa, no Twitter falou-se de erro:

«Marketing site photo mistake - sincere apologies - we're in the process of taking down the image.»

Já está a imagem «universal» no site polaco.
Marketing a quanto obrigas. No mundo do espectáculo, the show must go on.

(Fonte)

26.8.09

Comme une perle rare




















Cogitações (8)

«A realidade alimenta-se da perpétua vontade afirmada pelos defensores da regra do jogo liberal e capitalista de diluir o conflito, de o aniquilar logo à partida, ou mesmo de o tornar impensável evitando-o em toda a medida do possível. A negação da luta, de classes ou generalizada, é sempre o credo reivindicado por aqueles que a tornam possível e que a alimentam. Mascarada, sufocada, escondida, dissimulada, negada, transforma-se em avenida para a circulação dos interesses daqueles que lutam contra a luta.»

Michael Onfray, Politique du rebelle, pp. 271-272.

Um país, três sistemas












«Mao Tse-tung tried to stamp the custom out as a relic of feudalism, but the return of capitalism to China has also meant a major comeback for the concubine.»

The Independent

25.8.09

Agora com celtas



O'Stravaganza, Vivaldi in Ireland - La Ciacconna Rossa
(Hhughes de Courson)

Pois é...

Pouca alpista para tantas gaiolas













Em Cuba, rumores prevêem o fim do racionamento no início de 2010. Desaparecerá então um dos ícones da ilha: as longas fila de espera à porta dos seus famosos armazéns, das lojas sem montras onde os turistas não entram.

Excelente notícia para quem nasceu e sempre viveu com um sistema de senhas e uma contabilidade doméstica complicada? Não é assim tão simples: é evidente que se os salários continuarem adaptados ao preço dos bens agora racionados (e subvencionados), serão claramente insuficientes se os mesmos forem lançados sem mais no mercado.

«De ahí que la noticia que en realidad esperamos no es la del fin del racionamiento, sino la del cese de la minusvalía económica que nos obliga a él, de la expiración de una relación paternalista que nos mantiene como pichones dependientes y… hambrientos.»

Não são os verde-eufémios mas podiam ser

24.8.09

Cogitações (7)

«Recordo (…) uma interessante distinção assinalada por A.J.Saraiva, há muitos anos, num artigo de jornal sobre a tradução portuguesa do francês “engagement”. Propunha ele uma dupla tradução, correspondente ao duplo sentido da palavra original: por um lado, alistamento, por outro, empenhamento. Alistamento corresponderia ao “engagement” numa tropa, numa organização, num partido. Pressupõe uma adesão a regras pré-estabelecidas, uma atitude dominantemente passiva, “irresponsável". Ao contrário, o empenhamento é uma automobilização de natureza emotivo-intelectual, uma atitude activa em que assumimos perante nós e perante os outros uma total responsabilidade, o risco de não termos quem nos “cubra” em juízos, afirmações, decisões, actos em que nos jogamos por inteiro.»

João Martins Pereira, No Reino dos Falsos Avestruzes, p.105-106

Cavaco a esvaziar o jeep












O presidente da República não promulgou a alteração à lei das uniões de facto, aprovada pelo Parlamento com os votos contra do PSD e do CDS.

Vale a pena ler a Mensagem que Cavaco dirigiu ao presidente da Assembleia da República. Para além do anúncio da não promulgação, o texto é bem revelador de uma visão da vida e das relações em sociedade, que corresponde a «uma opção de fundo», como se explica - em nome da «liberdade», pois evidentemente.

«Simplesmente, a definição global do regime jurídico das uniões de facto impõe, por parte do legislador, uma opção entre dois modelos claramente diferenciados: um, assenta numa tendencial aproximação do regime das uniões de facto ao regime jurídico do casamento; outro, distingue de forma nítida, seja quanto aos pressupostos, seja quanto ao respectivo conteúdo, o regime do casamento do regime da união de facto, configurando a união de facto como uma opção de liberdade a que correspondem efeitos jurídicos menos densos e mais flexíveis do que os do casamento, sem prejuízo da extensão pontual de direitos e deveres imposta pelo princípio constitucional da igualdade.»

Seria de esperar outra coisa? Claro que não.

23.8.09

Razões de uma escolha (2)

Estive fora uns dias e, até hoje, só tinha visto um vídeo sobre Carolina Patrocínio, resultante de montagens. Tinham-me dito que as mesmas eram forçadas e recorriam a frases tiradas do contexto. Por uma pesquisa no Google, um post do SIMplex levou-me a este outro vídeo - relativamente longo e muito recente.



Não me interessa se ela está feliz com a barriga que tem ou se não gosta dos pés que Deus lhe deu (será talvez por isso que prefere falar com o seu «anjinho da guarda»), mas isto é mau demais!

Como muito bem pergunta Sofia Loureiro dos Santos:
«Será que o PS pensa que os jovens se revêem na Carolina Patrocínio? Que a têm como referência de vida? Quais são as ideias políticas de Carolina Patrocínio? Que tem ela a dizer aos jovens sobre as escolhas que estão em jogo nas eleições legislativas? Quais os pensamentos de Carolina Patrocínio sobre o acto eleitoral, sobre a educação, sobre os media? Que tem Carolina Patrocínio a partilhar, em termos políticos, com os jovens deste país?»

Já agora: irão ser usadas em outdoors as fotos que se vêem espalhadas pelas paredes do quarto?

Razões de uma escolha (1)

O nome do programa que ELA tem na SIC, claro.

Se o estilo pega por cá...