14.9.13

O Sul também existe




Joan Manuel Serrat e Mario Benedetti (poema).

El Sur también existe

Con su ritual de acero
sus grandes chimeneas
sus sabios clandestinos
su canto de sirena
sus cielos de neón
sus ventas navideñas
su culto de Dios Padre
y de las charreteras
con sus llaves del reino
el Norte es el que ordena

pero aquí abajo, abajo
el hambre disponible
recurre al fruto amargo
de lo que otros deciden
mientras el tiempo pasa
y pasan los desfiles
y se hacen otras cosas
que el Norte no prohíbe.
Con su esperanza dura
el Sur también existe.

Con sus predicadores
sus gases que envenenan
su escuela de Chicago
sus dueños de la tierra
con sus trapos de lujo
y su pobre osamenta
sus defensas gastadas
sus gastos de defensa.
Con su gesta invasora
el Norte es el que ordena.

Pero aquí abajo, abajo
cada uno en su escondite
hay hombres y mujeres
que saben a qué asirse
aprovechando el sol
y también los eclipses
apartando lo inútil
y usando lo que sirve.
Con su fe veterana
el Sur también existe.

Con su corno francés
y su academia sueca
su salsa americana
y sus llaves inglesas
con todos sus misiles
y sus enciclopedias
su guerra de galaxias
y su saña opulenta
con todos sus laureles
el Norte es el que ordena.

Pero aquí abajo, abajo
cerca de las raíces
es donde la memoria
ningún recuerdo omite
y hay quienes se desmueren
y hay quienes se desviven
y así entre todos logran
lo que era un imposible
que todo el mundo sepa
que el Sur,
que el Sur también existe
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«Reviajando»



Nesta data, há dois anos, estava eu em plena Rota da Seda, mais concretamente em Bukhara, no Uzbequistão.
Com mais de 2.500 anos, no meio de areias, esta que é uma das sete cidades santas do Islão e que já foi o seu centro intelectual, tem tanto para ver num conjunto impressionante de mesquitas e madrassas, classificado como Património Mundial pela UNESCO, que custa partir e deixá-la para trás com a certeza de só se ter visto uma parcela ínfima da sua riqueza.

«Revisitei-a» hoje... em fotografias. Deixo aqui uma pequeníssima parte.


Madrassa Mir-I-Arab, a maior madrassa da Ásia Central, que recebia estudantes não só deste país mas de todos os vizinhos, e até da China, e onde se aprendiam todos os segredos do Corão e não só. Vicissitudes do século XX transformaram-na em escola de quadros do KGB, mas regressou agora à sua missão de origem e alberga 250 estudantes do Islão.



O Minarete Kalon, construído em 1127, é sem dúvida o mais significativo símbolo de Bukhara, com 9 metros de diâmetro, 46 metros de altura e 106 degraus que merecem o esforço da subida pela vista panorâmica da cidade. 


Mais:








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Dois em um: voto e desconto


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Não acreditem nas sondagens, não...



Foram ontem conhecidos os resultados de uma sondagem sobre Legislativas, relativa ao mês de Setembro, feita pela Eurosondagem para o Expresso e para a SIC. Deixo só gráfico principal (que já fala por si), os detalhes podem ser encontrados a partir daqui.

Nem comento. Na prática, mais ou menos tudo como dantes. E só me vem à memória o título de um livro de Unamuno.
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13.9.13

IVA: depois de casa roubada...



Parece que, eventualmente..., talvez..., o IVA na restauração possa vir a baixar para 13%.

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Eça, agora na «Visão»



Na Visão de ontem, Ricardo Araújo Pereira desafia o Expresso e publica um texto delirante onde continua e termina «não só Os Maias, mas também A Relíquia, O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio».

Na íntegra AQUI.
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Efeito colateral da «Quadratura do Círculo»



«Se António Costa não avança depressa, Pacheco Pereira ainda tira o lugar a Seguro como líder do PS.»
António Costa Santos no Facebook

Com vantagem, acrescento eu.
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From Cambridge, with profit



Em entrevista dada ontem à SIC, Nuno Crato tirou da manga a novidade da noite: passará a existir um exame de Inglês no fim do 9º ano e, surprise, o enunciado do mesmo será elaborado em Cambridge.

Deixando de lado considerações mais ou menos patrioteiras («mas então não há, em Portugal, quem seja capaz de elaborar tais provas?»), retenho que não vamos gastar um cêntimo com a iniciativa já que será um banco, duas empresas de software e uma editora que a financiarão. Melhor ainda: é provável que sobrem euros, talvez muitos, depois de se pagar a Cambridge o que for devido, e que estejamos portanto perante uma acção lucrativa para o Ministério!

Note-se que a notícia de ontem pode ser apenas a ponta de um enorme iceberg. Porque não encomendar os exames de Matemática a uma prestigiadíssima universidade americana e os de Português a uma Real Academia brasileira ou mesmo a um instituto angolano? Haverá certamente em Portugal quem queira financiar tudo isso (alô Fundação Francisco Manuel dos Santos) e o que Nuno Crato amealharia seria bem interessante para pagar os tais cheques-ensino ou quaisquer outras fantasias.

O céu parece ser o limite. 
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12.9.13

Funcionários públicos: dantes é que eram bons



«Assim se viu ressuscitar esse velho tipo de funcionário que conhece todas as minúcias do seu trabalho, só pensa no desempenho da sua função, se entusiasma com a boa ordem e aperfeiçoamento dos serviços, é progressivo, é zeloso, é exacto, não tem horas de serviço porque são todas, se é necessário, e sobretudo tem o espírito de justiça e o amor do povo. (...)
Perante credores ou devedores do Estado, esse funcionário não é altaneiro, nem arrogante, nem imensamente superior; é mestre e guia, antes de ser juiz e severo executor da lei. Vive no seu lugar, porque vive para o seu lugar; é respeitado porque se respeita; sente-se digno porque se sabe útil, e mesmo no baixo da escala, nos mesteres mais humildes, ele pode tocar a perfeição, segundo o pensamento de Junqueiro: pode ser-se sublime a varrer as ruas.»

António Oliveira Salazar, Discursos e Notas Políticas, III 1938-1943, Coimbra Editora, 1959, pp. 284-285.

Era tão mais fácil se tudo fosse ainda assim, não era? 
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Melhor seria difícil



... em termos de tesouros das autárquicas.
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Quem sabe faz a hora



Geraldo Vandré faz hoje 78 anos.

Fosse apenas conhecido por «Caminhando» («Pra não dizer que não falei das flores»), de 1968, e seria o suficiente para ser festejado. Canção censurada no Brasil por se ter tornado um hino de resistência à ditadura, muito foi cantada por cá, com a mesma função, bem antes do 25 de Abril. E mantém toda a actualidade, por muitas outras e variadas razões:

Quem sabe faz a hora,
Não espera acontecer.

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Relvas aquém e além mar



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O estado da União Europeia?



Parece que Durão Barroso fez ontem o discurso anual sobre o estado da União Europeia. E digo «parece» porque o ouvi, mais ou menos distraidamente, num telejornal, sem atribuir qualquer importância ou solenidade ao acto.

Vejo agora que não sou caso único: em artigo em De Staandard, reproduzido por Press Europe, sublinha-se precisamente a pouca importância que os europeus lhe atribuem, em nada comparável ao que representa o discurso do Estado da Nação, feito pelos presidentes dos Estados Unidos. E, no entanto, «a influência de Bruxelas sobre os vinte e oito membros é maior do que a de Washington sobre os cinquenta Estados dos EUA», recorda o articulista do jornal belga, já que «milhares de aspectos são regulamentados pela Europa, da definição do chocolate até como reparar os olhos de um ursinho de pelúcia». «A Europa instala-se nas profundezas das grandes decisões políticas e nas pequenas de decisões diárias, mas conseguimos a proeza de lhe prestar muito pouca atenção. A Europa permanece no ângulo morto.»

O que disse Durão Barroso? Sei que afirmou que a Europa está melhor e que referiu Portugal como um bom exemplo – isso ouvi no telejornal. Também percorri, em diagonal, algumas páginas de jornais online, sem reter nada de especial. Mas o discurso fica aqui:



Deve ter sido importante.
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11.9.13

Antes que o dia acabe




(Obrigada Samartaime)
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E o Nobel do jornalismo vai para a Lusa



... e para todos as dezenas de órgãos de comunicação social, que fizeram copy/paste da notícia sem parar para pensar:

Menos 800.000? Houve um tsunami que nos dizimou sem darmos por isso??? O Nuno Crato mandou-os raptar durante as férias?

No entanto, mais tarde, uma outra nota da Lusa refere um número total superior ao que tinha indicado antes para este ano lectivo (1.347 mil alunos), mas afirma que são só menos 2.724 do que em 2012-2013!

Tentar conciliar os dados das duas notícias é uma tarefa não só ciclópica como absolutamente inglória. Sairá ainda hoje uma terceira? É bem possível. 
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Douradinhos?



Fernando Sobral, hoje no Negócios:

«Os portugueses estão, neste momento, debaixo de um chaparro à espera que a tempestade amaine e que os raios não os atinjam. Esperam que Governo e leal oposição tomem da sua própria cicuta. Estão fartos de que lhes prometam o oásis e lhes sirvam o deserto. (...)

O país político continua a jogar à roleta russa à beira do abismo. O Governo faz jus à sua insolvência intelectual e política. Até hoje continua sem conseguir explicar o que é a "reforma do Estado", para além de cortes cegos na função pública, sem que se perceba uma ideia central estratégica. (...)

A insolvência moral junta-se ao défice de ideias nestes tempos de espera. Este período eleitoral, à espera que da Alemanha venha bom vento, é patético. Portugal é um país congelado. Com o Governo e o PS a lutarem pelo papel de capitão Iglo.»
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Pisarei de novo as ruas



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Moneda, 11/9/1973 – as últimas palavras



Na íntegra, o texto do último discurso de Salvador Allende, que nem sempre é fácil seguir quando se ouve no vídeo:

«Seguramente ésta será la última oportunidad en que pueda dirigirme a ustedes. La Fuerza Aérea ha bombardeado las torres de Radio Postales y Radio Corporación.

Mis palabras no tienen amargura sino decepción. Que sean ellas un castigo moral para quienes han traicionado su juramento: soldados de Chile, comandantes en jefe titulares, el almirante Merino, que se ha autodesignado comandante de la Armada, más el señor Mendoza, general rastrero que sólo ayer manifestara su fidelidad y lealtad al gobierno, y que también se ha autodenominado director general de Carabineros.

Ante estos hechos sólo me cabe decir a los trabajadores: ¡Yo no voy a renunciar!

Colocado en un tránsito histórico, pagaré con mi vida la lealtad del pueblo. Y les digo que tengo la certeza de que la semilla que hemos entregado a la conciencia digna de miles y miles de chilenos, no podrá ser segada definitivamente.

Tienen la fuerza, podrán avasallarnos, pero no se detienen los procesos sociales ni con el crimen ni con la fuerza. La historia es nuestra y la hacen los pueblos.

Trabajadores de mi patria: Quiero agradecerles la lealtad que siempre tuvieron, la confianza que depositaron en un hombre que sólo fue intérprete de grandes anhelos de justicia, que empeñó su palabra en que respetaría la Constitución y la ley, y así lo hizo.

En este momento definitivo, el último en que yo pueda dirigirme a ustedes, quiero que aprovechen la lección: el capital foráneo, el imperialismo, unidos a la reacción, crearon el clima para que las Fuerzas Armadas rompieran su tradición, la que les enseñara el general Schneider y reafirmara el comandante Araya, víctimas del mismo sector social que hoy estará esperando con mano ajena reconquistar el poder para seguir defendiendo sus granjerías y sus privilegios.

Me dirijo a ustedes, sobre todo a la modesta mujer de nuestra tierra, a la campesina que creyó en nosotros, a la madre que supo de nuestra preocupación por los niños. Me dirijo a los profesionales de la patria, a los profesionales patriotas que siguieron trabajando contra la sedición auspiciada por los colegios profesionales, colegios clasistas que defendieron también las ventajas de una sociedad capitalista.

Me dirijo a la juventud, a aquellos que cantaron y entregaron su alegría y su espíritu de lucha. Me dirijo al hombre de Chile, al obrero que trabajó más, al campesino, al intelectual, a aquellos que serán perseguidos, porque en nuestro país el fascismo ya estuvo hace muchas horas presente en los atentados terroristas, volando los puentes, cortando las vías férreas, destruyendo los oleoductos y los gasoductos, frente al silencio de quienes tenían la obligación de proceder.

Estaban comprometidos. La historia los juzgará.

Seguramente Radio Magallanes será acallada y el metal tranquilo de mi voz ya no llegará a ustedes. No importa. La seguirán oyendo. Siempre estaré junto a ustedes. Por lo menos mi recuerdo será el de un hombre digno que fue leal con la patria.

El pueblo debe defenderse, pero no sacrificarse. El pueblo no debe dejarse arrasar ni acribillar, pero tampoco puede humillarse.

Trabajadores de mi patria, tengo fe en Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo en el que la traición pretende imponerse. Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir una sociedad mejor.

¡Viva Chile! ¡Viva el pueblo! ¡Vivan los trabajadores!

Estas son mis últimas palabras y tengo la certeza de que mi sacrificio no será en vano. Tengo la certeza de que, por lo menos, será una lección moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición.»


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10.9.13

Já não dá


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Chile, em vésperas do 40º aniversário do 11/9



Um documento histórico: Carta de José Toribio Merino aos generais Gustavo Leigh e Augusto Pinochet, na qual é indicada a data e a hora para o golpe de Estado de 11 de Setembro (escrita no dia 9).

9/Sept/1973
Bajo mi palabra de honor, el día 'D' será el 11 de setiembre y la hora 'H', la hora 6. Si ustedes no pueden cumplir esta fase con el total de las fuerzas que mandan en Santiago, explíquenlo al reverso.
El Almirante Huidobro" -vea usted, señor Presidente, ¡qué apellido!- "está autorizado para tratar y discutir cualquier tema con ustedes. Les saluda con esperanza y comprensión,
Merino.

(Encontrada aqui.)
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Tesourinhos das Autárquicas - Nomes azarentos


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O Estado pode despedir – mas bem



«O quadro de mobilidade especial é uma aberração: a mobilidade é tão especial que não move ninguém dentro da administração pública, mas para fora dela. Não é preciso Tribunal Constitucional para ver isso, basta um Tribunal de Trabalho: colocar alguém, sem justificação, num quadro de mobilidade, cortando-lhe metade do salário durante um ano no fim do qual é despedido, não é um acto de gestão, é terrorismo. É como as histórias velhacas de chefes que fecham empregados em caves sem janelas até eles aceitarem ir para a rua. (...)

Está tudo errado nisto. Tudo. As leis do Estado são tão estúpidas que se fazem outras leis ainda mais estúpidas para as contornar. Estupidez não corrige estupidez. O Direito não se escreve por linhas tortas. Se o Estado quer despedir, o Estado deve despedir. Mas bem. (...) As empresas não podem chantagear empregados, mesmo que eles sejam uns estafermos. Ou há justa causa (e ela foi muito flexibilizada na lei do trabalho), ou há despedimento colectivo (proibido no Estado) ou há negociações amigáveis. (...)

Só há um caminho correcto: propor rescisões amigáveis sem chantagem e pagando indemnizações a sério. Se há dinheiro para os swaps, também tem de haver para rescisões. E a troika tem de aceitar esta despesa no défice, da mesma maneira que programas de despedimentos nas empresas são aceites pelo fisco como investimentos, amortizáveis em vários anos.» 

Pedro Santos Guerreiro
(Jornal de Negócios, sem link.)
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9.9.13

Nem o pai morre nem a gente almoça


(Clicar na imagem para vê-la maior.)

Que me seja desculpado o plebeísmo do título do post, mas é o comentário mais profundo que me ocorre ao ver os resultados de uma sondagem da Aximage, que o Correio da Manhã hoje divulga, tenha ela o valor que tiver.

Os gráficos falam por si. Quem continua à frente do pelotão, de modo estável, é a Abstenção e, apesar de todas as crises governamentais, o PSD aguenta-se e o CDS até sobe. O Bloco não ata nem desata, a CDU consolida-se como terceira força e, last but not the least, o PS recua para valores anteriores a Maio. E se este partido ainda mantém um avanço de 7,3% em relação ao PSD, o seu líder é preterido como primeiro-ministro a favor de Passos Coelho.

Ou seja, nada de novo a Ocidente: um panorama «inútil» para qualquer hipótese futura de governação. Há algo de verdadeiramente encalhado neste país, a nível dos responsáveis partidários ou da opinião dos seus eleitores. Ou, mais do que provavelmente, a ambos os níveis. 
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Assim nasceu o MFA



Em 9 de Setembro de 1973, numa reunião clandestina com 136 participantes, que teve lugar no Monte Sobral em Alcáçovas (Viana do Alentejo), nasceu o «Movimento dos Capitães», mais tarde renomeado «Movimento dos Oficiais das Forças Armadas» e, finalmente, «Movimento das Forças Armadas».

Em mensagem enviada hoje aos sócios da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço assinala a data, ao mesmo tempo que recorda um texto que escreveu um ano mais tarde, em 9 de Setembro de 1974, e que foi publicado no nº1 do «Boletim do MFA»: «A Picadela no Elefante Adormecido» Nele se encontram descritos vários passos que precederam o 25 de Abril, desconhecidos por muitos, esquecidos por outros.


A PICADELA NO ELEFANTE ADORMECIDO

Em que data começou o Movimento das Forças Armadas? Parece-nos desnecessário falar, numa altura destas, das condições existentes, em Portugal, por meados do ano de 1973 e que possibilitaram o eclodir do MFA. Já se falou tanto do assunto que o que interessa, por agora, é evitar o regresso a tal situação!...

Pois, como íamos dizendo, em que data começou o. Movimento das Forças Armadas?

Várias respostas têm surgido para esta pergunta, dadas inclusivamente por homens dos mais responsáveis no próprio MFA: desde a reacção de um grupo de oficiais ao Congresso dos Combatentes, inicialmente organizado com boas intenções, mas rapidamente aproveitado pelo governo fascista para mais uma farsa, até à reunião efectuada na zona de Évora por um grupo de capitães e subalternos do Quadro Permanente, passando pela ida de uma comissão de majores ao director do Serviço de Pessoal (com apresentação do respectivo memorando) ou pelo envio de um abaixo assinado, aos então Presidentes Tomás e Caetano, pelos capitães em serviço na Guiné, cada um procura explicar o facto, segundo os seus pontos de vista. Todos têm a sua justificação, mas, como não podia deixar de ser, uma data é apontada, na generalidade, como o símbolo do início do MFA. Mais propriamente, como o marco de início do Movimento das Forças Armadas. É essa data o dia 9 de Setembro de 1973. E porquê essa e não qualquer das outras? É isso que em seguida tentaremos justificar.

Após a saída do decreto-lei n.º 353/73, várias reacções ao mesmo tempo se verificaram: ida de uma comissão do EPOSA, que se desenrolava em Pedrouços, ao director do Serviço de Pessoal; várias reuniões particulares de oficiais do Q.P. entrega de exposições -reclamações sobre o assunto, dirigidas ao Ministro do Exército, etc., etc.

Tiveram estas reacções como resultado o aparecimento de um novo decreto-lei (n.º 409/73), que, não resolvendo o assunto e, antes pelo contrário, exaltou ainda mais os ânimos em relação aos governantes fascistas. Apareceu, após isso, a exposição enviada de Bissau e assinada por 51 capitães do Q.P.

Mas eis que alguns jovens capitães, conscientes do valor da arma que o governo fascista lhes punha nas mãos, resolveram de imediato aproveitar a mesma e não desperdiçar, portanto, mais essa ocasião (haviam de ser, posteriormente, acusados por outros - felizmente poucos - de não terem ido para Évora a pensar somente nos decretos!...).

Resolveram reunir-se e, para o efeito, convidar os capitães e subalternos conhecidos que pudessem oferecer um mínimo de confiança no que respeitava a possível interesse e segurança.

Conseguiram a cedência de um monte alentejano, na zona de Évora, pertencente a um familiar de um dos capitães e aí vão eles para a reunião. Apesar de todas as deficiências, de uma organização improvisada e clandestina, acabaram por reunir-se 136 capitães e subalternos (do Exército e pára-quedistas) e assim nasceu o chamado MOVIMENTO DOS CAPITÃES.

Foi a primeira manifestação, aberta e colectiva, na Metrópole, que então se deu. Nela surgiu a primeira Comissão Coordenadora, com origem na Comissão Organizadora da Reunião e, embora tivesse havido toda uma série de acontecimentos, que antecederam a referida reunião, bem podemos considerá-la como o verdadeiro início do Movimento dos Capitães, o qual, posteriormente, se transformaria em MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS.

Foi, não há dúvida, e segundo a opinião de um dos jovens capitães que a organizaram, a Picadela no Elefante Adormecido, e daí, a sua importância em todo o processo que teve a sua eclosão no 25 de Abril.

Daí, a escolha da data de 9 de Setembro para o início da publicação deste boletim informativo, para o qual pedimos a colaboração de todos os militares, e esperamos possa a vir a constituir mais um elo de ligação e união entre todos os que se comprometeram a levar até ao fim o integral cumprimento do Programa do Movimento das Forças Armadas.
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Ou a lógica é uma batata


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Debater «interpretações»



Ana Sá Lopes, hoje no «i», certeira como quase sempre: o governo já nem debate a Constituição, mas a interpretação que os juízes fazem da mesma. Até que um referendo dela nos liberte?

«Depois de ter tomado um banho de água fria (por não ter pago a água) com a declaração de inconstitucionalidade da lei dos despedimentos da função pública, o governo desatou a querer debater - não a Constituição, segundo o próprio Passos jurou, o que é estranho para quem chegou a apresentar um anteprojecto de revisão - mas a interpretação dos juízes. O ministro Poiares Maduro afirmou ontem, mais uma vez, que é importante agora, mais do que questionar o texto constitucional, "actualizar a interpretação da Constituição, adequá-la aos tempos modernos, às circunstâncias concretas em que o país vive".

Portugal tem um precedente deste tipo de debate: a relação dos tribunais com o aborto até à sua despenalização. A lei em vigor punia com pena de prisão as mulheres que interrompiam a gravidez mas, na generalidade, os juízes "actualizavam" a "interpretação" da lei inscrita no código penal, "adequavam-na aos tempos modernos" e às "circunstâncias concretas" da vida daquelas mulheres e do sentimento do país em geral. Em resumo: marimbavam-se na lei e praticamente não havia condenações pelo crime de aborto. (...)

O que o governo quer agora é que os juízes da rua do Século lidem com a Constituição como os juízes dos tribunais comuns com o aborto: "Os despedimentos sumários no Estado são proibidos/mas podem-se fazer/só que são proibidos/ e o que acontece a quem os faz?/nada/mas são proibidos". A seguir virá o referendo para nos libertar de uma Constituição que é letra morta.» 
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8.9.13

Será que (ainda) somos peixes?



Numa conversa desta manhã, sem nada a ver com o assunto que estava em discussão, declarei ser «laurentina» por ter nascido na velha Lourenço Marques, a belíssima cidade que deixei muito antes de ela se transformar em Maputo. Foi então que alguém me deu como prenda (obrigada, Inês Menezes) um texto de João Pina Cabral: O Retorno da Laurentina. A Simbolização das Relações Étnicas no Moçambique Colonial e Pós-Colonial.

Bela leitura para um fim de tarde de fim de Verão, da qual deixo apenas um delicioso e significativo excerto de uma obra escrita nos anos 20 do século passado, que retrata, segundo resumo de Pina Cabral, «uma reconstrução simbólica da escravatura e da opressão», «uma formulação da exploração colonial segundo o que poderia ser designado uma metáfora gastronómica».

«Pikinini [...] contou-me um dia o que é que as pessoas do Bilene pensam dos Brancos. Foi pouco depois da deportação de Gungunhana:

– O Gungunhana está morto. Os Portugueses comeram-no!
– Como é isso?
– Claro! Os Portugueses comem carne humana. Toda a gente sabe isso. Não têm pernas; são peixes (tinhlampfi). Têm uma cauda em vez de pernas. Vivem na água.
– Então como é que eles conseguem lutar convosco e bater-vos, se são peixes e não têm pernas?
– Ó! Os que vêm lutar contra nós são os homens jovens; esses têm pernas. Levam-nos e põem-nos num vapor que vai para muito, muito longe. Esse vapor chega a uma grande rocha que está rodeada por água de todos os lados. Isto é o seu país. Somos retirados e levados para uma ilha, enquanto os soldados vão e disparam para anunciar aos grandes homens-peixe Brancos que chegámos. Escolhem um de nós e fazem um pequeno corte no seu dedo mindinho para ver se está suficientemente gordo; se não estiver, põem-no dentro de uma grande caixa cheia de amendoins que ele tem que comer para ficar mais gordo. Quando já está suficientemente gordo, põem-no dentro de um pote grande e comprido do tamanho de um homem, que está incandescente. Sabemos estes detalhes porque um homem, Ngomongomo, nos deu a explicação completa. Ele tinha sido apanhado, mas na estrada os seus deuses ajudaram-no; foi coberto por uma erupção de borbulhas que era tão revoltante que foi deixado na ilha, e depois trazido de volta. Ele viu tudo. A princípio recusámo-nos a acreditar. Agora sabemos que é a verdade!

Aparentemente Pikinini falava comigo em toda a seriedade e estas idéias absurdas eram aceites como factos pela maioria dos seus conterrâneos no Bilene. Não é surpreendente que, enquanto um número considerável de Europeus acredita que os Negros são todos canibais, estes selvagens, por seu turno, acreditam exatamente a mesma coisa de nós!

Antigamente, parece que os Thonga acreditavam que todos os Brancos, não só os Portugueses, moravam na água. Dizia-se deles que tinham olhos à frente e atrás e que viam para todos os lados, de tal forma que era impossível escapar-lhes. Tinham o costume de raptar Negros e levá-los para longe.»

(Henri A. Junod, The life of a South African tribe, 1º ed., 2 vols, Nova York, University Books, 1962 [1927], vol II, pp. 353-354.)
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É isto



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Há algo de podre nesta República de Portugal



A inacreditável frase de Passos Coelho («Já alguém se lembrou de perguntar aos mais de 900 mil desempregados no País de que lhes valeu a Constituição até hoje?») tem uma semana e já foi arquivada sem consequências. Virou-se a página e as discussões acaloradas passaram a concentrar-se em piropos, dinossauros e golos de Ronaldo. Há algo um tanto podre nesta República de Portugal e a culpa é nossa: mansos nos querem, mansos nos têm.

Em texto publicado hoje no DN, Pedro Marque Lopes indigna-se e bem.

«Há palavras que não podem ser esquecidas. Palavras que não podem ser levadas pelo vento. Palavras que devemos guardar bem frescas na memória. Palavras que, por muito que o calendário avance, devem ser recordadas.
Há também atitudes que dizem tudo acerca do estado de um povo num determinado momento. Por exemplo, as reacções de uma comunidade quando são postos em causa valores fundamentais num Estado de direito, de que modo os seus representantes lidam com ataques ao regular funcionamento das instituições. Sobretudo quando são feitos por um primeiro-ministro. (...)
Num Estado de direito que estivesse a funcionar normalmente o Presidente da República chamaria o primeiro-ministro para lhe explicar que é a Constituição que lhe dá a legitimidade democrática para governar, que todos os seus actos enquanto primeiro-ministro e do Estado, que circunstancialmente dirige, têm de ser conformes à Lei Fundamental.
Numa democracia minimamente madura o clamor público seria tal que o primeiro-ministro teria duas saídas possíveis: ou vir pedir desculpa pelo que tinha dito alegando loucura momentânea ou qualquer outro motivo não aparente, ou, não o fazendo, ser imediatamente demitido por não entender os princípios mais básicos de um Estado de direito. (...)
Um ataque como o que o primeiro-ministro fez aos mais básicos princípios democráticos e ao Estado de direito devia ter posto o País em estado de choque. Mas o facto é que não pôs. Assusta-me mais uma comunidade que não reage, que ignora violentos ataques aos seus valores mais sagrados que um primeiro-ministro que se comporta como um populista demagogo ou que não percebe o papel da Constituição numa democracia. Estamos muito doentes.» 
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