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8.8.20
Aconcheguem-se, aconcheguem-se…
Um senhor apessoado do CDS passou para o «Chega», Rui Rio admitiu a hipótese de se «chegar» um pouco à frente e aquele senhor que manda na Madeira quer mesmo «aconchegar-se» e pensa que ainda está em 1979. Entretanto, Marcelo já deve ter decidido quem convida para uma Vichyssoise 2.0.
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Democracia e futuro normal
«Continuamos, justificadamente, a ter medo da covid-19, mas há por aí outros vírus perigosos que sorrateiramente se vão instalando.
A associalização e o confinamento militante em que vamos sendo acantonados tornam-nos tolerantes perante violações de direitos individuais e coletivos, e produzem uma sociedade apática.
A má gestão e a não resolução de grandes problemas socioeconómicos, como aqueles com que nos deparamos, geram perigosos subprodutos. No plano político, projetos ultraconservadores e fascistas. No plano social, um crescente de microconflitos, de falsas disputas e clivagens: nas relações entre gerações, potenciando disfunções e ruturas; no trabalho, aproveitando condições diferenciadas dos trabalhadores ou colocando o setor privado contra o público, para incapacitar a ação coletiva e intensificar a exploração; nas relações entre maiorias e minorias e entre culturas, para gerar intolerâncias e ódios.
A esmagadora maioria das pessoas sente necessidade de segurança e estabilidade, de condições de sociabilidade, de uma economia a funcionar. Contudo, a expressão "retorno à normalidade" pode ser uma mera ilusão ou ter interpretações subversivas. O futuro nunca foi nem será retorno ao passado. Porém, podem surgir recuos e dolorosos retrocessos civilizacionais, camuflados de alternativa ou de modernidade no início do seu percurso.
O futuro constrói-se a partir das condições concretas em que nos encontramos. Pessoas, empresas e instituições não têm possibilidade de projetar o dia de regresso às condições existentes nas vésperas da pandemia que, em muitos casos, pura e simplesmente, não existirão mais. É preciso conter os duros impactos sociais e económicos da pandemia, mas é um erro grave deixar para depois as políticas estratégicas de recuperação da economia. Aqueles impactos vão prolongar-se mais do que era expectável. Por outro lado, a retoma das atividades das empresas e dos serviços tem de ser progressiva (mesmo com resultados pobres ou negativos) para que exista criação de valor, se possam realizar reconversões de atividades, reestruturações de empresas e capacitação dos trabalhadores. Essa retoma é necessária para se criarem novos projetos e para posicionar melhor a nossa economia nas cadeias de valor em processos de mudança.
Se ficarmos pelo atentismo no "retorno à normalidade" podemos ter a certeza de que, rapidamente, chegaremos a uma situação em que os défices da nossa matriz de desenvolvimento e as fragilidades do Estado se agravarão, acompanhados pelo aumento exponencial do desemprego, pelo aprofundamento das injustiças, das desigualdades e da pobreza. Um cenário pesado para a esmagadora maioria dos portugueses pode ser um maná para estratégias de enriquecimento assentes em baixos salários, na apropriação de fundos coletivos e na amputação de direitos laborais, sociais e democráticos.
Neste tempo de exaltação da frugalidade e da moderação, lembremos quão frugais são os trabalhadores e o povo, e que a moderação nem sempre é uma virtude. Por vezes é tão-só a forma ardilosa de não incomodar as maiorias dominantes. Uma certa moderação e pretenso cavalheirismo, muito invocados por certas elites, deram cobertura a gestões danosas, a compadrios e corrupção, que nos custam hoje dezenas de milhares de milhões de euros.»
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7.8.20
Assim vai a globalização
«Fábricas têxteis de grandes retalhistas, como Primark, H&M e grupo Inditex, estão a despedir trabalhadores nas suas fábricas asiáticas. A justificação dada relaciona-se com os efeitos da pandemia de covid-19, mas um novo relatório da Business and Human Rights Resourse Centre (BHRRC, Centro de Recursos Empresariais e de Direitos Humanos, em português) indica como causa o sindicalismo dos empregados, avança o The Guardian, citando o documento.»
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Liberdade sob ameaça
«"Foi transportado num autocarro, escoltado por um carro policial com os rotativos ligados, para o hotel, ali chegado foi encaminhado para a zona do check-in, tendo-lhe sido atribuído o quarto, altura em que foi informado que não podia sair do quarto, onde teria de permanecer durante os próximos 14 dias. Foi informado que as refeições seriam fornecidas pelo hotel em três momentos definidos do dia, havendo duas alturas em que podia solicitar refeições/snacks adicionais. Acatou o que lhe foi indicado, verificando que havia um agente da PSP à porta de entrada do hotel".
Que crime cometeu este homem? Nenhum. E foi vítima de procedimentos próprios de um estado totalitário. A descrição, atrás citada, plasmada no acórdão do Tribunal Constitucional que declarou inconstitucional a quarentena obrigatória à chegada aos Açores, decretada pelo Governo regional, devia fazer-nos arrepiar e motivar ampla reflexão. Ela prova como o medo ganha terreno, tolhe-nos, aceitamos que nos privem da mais básica liberdade sem protesto. A reboque do vírus institucionaliza-se o controlo e a repressão. É bom lembrar que da parte do Governo de Lisboa não se ouviu uma palavra em relação à decisão do executivo liderado pelo socialista Vasco Cordeiro.
Em nome do vírus, e do medo de ser contagiado e de contagiar, estamos a soçobrar a uma tirania. Um tirania a transformar cada um de nós no polícia do outro, a deixar que o Mundo se feche, a viver virado para o interior de si próprio, da sua casa, da sua família mais restrita. Em suma, a aceitar docilmente que nos vigiem, que acompanhem os nossos passos, como se isso nos pudesse salvar.
Ao contrário do apregoado por muitos, não sairemos melhores desta crise de saúde pública. Pelo contrário. Se nada fizermos, acordaremos num Mundo perigoso e totalitário. Já aconteceu outras vezes.»
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6.8.20
Hiroshima, 8:15 am – Foi há 75 anos
É um ritual: republico este post todos os anos. Ter ido a Hiroshima marcou-me para sempre.
Se eu apenas pudesse guardar duas fotografias, dos milhares que fui tirando por esse mundo fora, escolheria estas. De má qualidade, sem dúvida, mas que me recordam dois objectos expostos no Museu de Hiroshima, que nunca mais esquecerei. Numa, um relógio que parou à hora exacta em que a bomba explodiu. A outra fala por si.
Se eu apenas pudesse guardar duas fotografias, dos milhares que fui tirando por esse mundo fora, escolheria estas. De má qualidade, sem dúvida, mas que me recordam dois objectos expostos no Museu de Hiroshima, que nunca mais esquecerei. Numa, um relógio que parou à hora exacta em que a bomba explodiu. A outra fala por si.
Foi há 75 anos.
Parque Memorial da Paz de Hiroshima - algumas imagens:
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5.8.20
Templos, Mesquitas e outros que tais (14)
Trata-se de um conjunto de templos taoistas, o maior da China. Quase todo construído durante a Dinastia Ming, a partir de 1420, foi considerado Património da Humanidade pela UNESCO em 1998. Ocupa uma área muito extensa (quase 3 milhões de metros quadrados), sendo a maior parte coberta de vegetação.
O Templo do Céu inclui a Sala de Oração pelas Boas Colheitas, o Altar Circular e a Abóbada Imperial Celestial.
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Silly Season, Silly Season !!!
No Sol, há um texto delirante sobre Juan Carlos (não ponho link, quem quiser que o procure).
Para além de se afirmar que o Emérito está nos Emirados Árabes Unidos (Emérito e Emirados até têm ar de parentesco) para depois de fixar em Roma, diz-se que Juan Carlos até gostaria de vir para Cascais, mas uma cabala que mete Podemos e Bloco de Esquerda não o permite por razões de segurança: o Bloco tem agentes em todos os gabinetes ministeriais portugueses, estes passam informações ao Podemos, Sánchez não resiste a um pedido de Iglésias e António Costa a outro de Sánchez. Entendido? Vivemos na “Peninsula Roja” – leio eu neste 5 de Agosto do ano da graça de 2020.
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Juan Carlos e o retrato da monarquia
«Os chineses têm uma teoria a que chamam de ciclos dinásticos. Simplificadamente, reza assim: o imperador que estabelece a dinastia é capaz e virtuoso e melhora a vida dos súbditos. Geralmente é um imperador guerreiro (esmaga militarmente a dinastia cessante), sucedido por um filho erudito, mais preocupado com as artes e a burocracia governativa, igualmente virtuoso e, nos termos confucianos, um homem nobre (de carácter). Porém, com o passar das gerações, os imperadores vão amolecendo, ganhando gosto pela boa vida do palácio e das concubinas, secundarizando o governo do império. Até que se tornam tão viciados que as catástrofes começam a acontecer. As obras de irrigação degradam-se por falta de manutenção, resultando em cheias ou secas, ambas destruindo colheitas e gerando fome. Terramotos também marcam presença, sinalizando que a dinastia perdeu o Mandato do Céu. Os súbditos podem sentir-se legitimados em substituí-la por outra dinastia.
Mas há dinastias mais pragmáticas. Chegam ao estado de decadência moral mais rapidamente. No caso espanhol, num só reinado. O rei Juan Carlos passou de garante da transição espanhola do franquismo para a democracia, e uma das figuras que fez abortar o golpe fascista de 23 de fevereiro, para um agente investigado por corrupção. Estabelecendo a fortuna familiar (até aí inexistente), suspeita-se, através de tráficos de influências pelos quais foi magnificamente pago. De personalidade incontestada e venerada em Espanha – muitos diziam-se não monárquicos mas juancarlistas –, ganhou reputação de vulgar vendilhão e corrupto. Esta semana exilou-se para não perigar a monarquia espanhola deixando-se avistar por Espanha.
Em boa verdade, nada do que Juan Carlos fez foi novidade nos círculos reais. Podemos dizer que seguiu uma tradição bem estabelecida das famílias reais de se enriquecerem, e aos seus, fazendo uso do poder político que detinham. O azar de Juan Carlos foi viver numa era em que o método de amealhar dos seus antecessores é malvisto.
Em todo o caso, a família real espanhola é um ótimo exemplo de como a suposta probidade moral da monarquia – que a justifica, em oposição à necessidade de compromissos políticos e, tantas vezes, éticos de quem precisa de ganhar eleições – é ilusória. A filha mais nova de Juan Carlos escapou a acusações e julgamentos (provavelmente por benevolência e respeito pela sua posição), no entanto o marido cumpre pena de prisão.
Não espanta. Olha-se para a História e uma das realidades mais salientes é a quantidade de patifórios, cobardes, incapazes (não raro em estádios de idiotia clínica) que as monarquias produziram. As questões do vil metal, de resto, são sempre determinantes para estas almas supostamente desligadas da materialidade e somente preocupadas com conceitos etéreos como o dever e a dignidade do país. Vejamos um episódio que envolveu Portugal. Eduardo VIII, em fuga dos nazis que ocuparam Paris e temporariamente em Cascais, enquanto pesava deixar-se raptar pelos alemães (com quem simpatizava e que lhe guardaram com enlevo a casa parisiense) para servir de marionete aos inimigos dos britânicos durante a Segunda Guerra Mundial ou chantagear a sua família para o receberem de volta em Inglaterra, decidiu manter-se afastado do seu país pela razão mais prosaica: um enviado de Churchill a Lisboa informou-o da quantidade de impostos que teria de pagar se regressasse.
O Rei Alberto II da Bélgica possuía tal retidão moral que se recusou aceitar a paternidade e a sustentar uma sua filha de uma ligação não conjugal. Foi obrigado ao reconhecimento por um teste de ADN, qual playboy sem escrúpulos. O príncipe André do Reino Unido participou no esquema de exploração sexual de adolescentes de Jeffrey Epstein. No lado oposto, é difícil apontar um caso de génio ou talento excecional nas casas reais. Nos exemplos mais virtuosos, que também existem, são personagens sensaboronas sensíveis ao sentido de dever.
Esta falta de têmpera é resultado da endogamia das casas reais que torna o sangue fraco, mas também da sensação de casta intocável, de distância incontestada dos mortais comuns que é promovida nas famílias reais. Na carta que Juan Carlos escreveu ao filho, atual rei, informando-o de que iria residir fora de Espanha, refere investigações sobre a sua vida privada. Fazendo lembrar as desculpas dos corruptos mais escancarados, que igualmente se escudam nos dinheiros da sua vida privada para se esquivarem de dar explicações da forma como abusam da sua posição.
Juan Carlos e a família real espanhola – incluindo Filipe VI, conhecido por ser bem-parecido mas particularmente pouco brilhante – tornaram-se num exemplo da falibilidade da monarquia. Num país onde rei ou rainha poderiam trazer um efetivo benefício – sendo o tal símbolo unificador e de perenidade e estabilidade que se lhe aponta como razão de existência, o substituto de espírito nacional num país com várias línguas e regiões que em tempos passados se viam como inimigas e separadas –, Juan Carlos e a sua família falharam e expuseram a sua inutilidade.
O poder simbólico da monarquia já não é suficiente para manter em união aparentemente amistosa zonas que se querem separar. (A Catalunha acena-nos.) Questões como a integração económica das diferentes regiões ou a pertença à União Europeia e ao euro provavelmente pesam mais que partilharem o mesmo chefe de Estado hereditário. Vê-se o mesmo efeito na Escócia, com o “Brexit” incendiando os ímpetos independentistas, malgrado a rainha Isabel II.
Há tentativas das monarquias se modernizarem e humanizarem. Os casamentos românticos dos herdeiros dos tronos europeus com plebeias (e, no caso sueco, plebeu) atraentes, substituindo casamentos de conveniência por vidas familiares mais recompensadoras. Uma (pouco) maior parcimónia no uso do dinheiro dos impostos. Porém, permanece o paradoxo: se são uma família normal, não merecem privilégio hereditário; se são diferentes, então têm de ser incansavelmente perfeitos – e ninguém é.
Por muito que alguns membros das famílias reais se constituam interessantes espécimes da natureza humana, são falíveis, entediantes, egoístas, com defeitos de carácter – tal como os demais. Ora para termos chefes de Estado corruptos e imorais não é necessária a manutenção de riquezas e honrarias hereditárias. Com eleições e numa república, o consulado destas personagens é sempre temporário. É uma vantagem.»
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4.8.20
Templos, Mesquitas e outros que tais (13)
Templos de Bagan, Birmânia, 2009.
Foi de balão que vi as ruínas de Bagan – uma experiência inesquecível! Os templos, pagodes e mosteiros ocupam 41 km2 e foram construídos entre o século XI e o XIII, quando Bagan era a capital do império birmanês. Julga-se que chegaram a ser 5.000, em 2014 foram oficialmente quantificados em 3.312. Em 2016, um outro atingiu 185 templos. A região é sujeita a sismos e o maior dos últimos tempos, em 1975, provocou estragos de muito grandes dimensões. Em Bagan, restaurar é uma actividade contínua…
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Estranho mundo
No dia em que se assinalam 442 anos da batalha de Alcácer-Quibir, é o ex-rei de Espanha que anda desaparecido em parte incerta.
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Obsessão patológica
«Nos últimos 21 anos, o Bloco de Esquerda desenvolveu aquilo a que Ricardo Salgado chamou uma "obsessão patológica" pelos negócios dos "donos de Portugal". Nestes anos, questionámos o poder de banqueiros, denunciámos o rentismo nas empresas privatizadas e fizemos as contas à porta giratória que unia (e une) PS e PSD aos interesses económicos. É essa intransigência na defesa do que é público que hoje dirigimos ao Novo Banco.
Todas as semanas, o tema regressa pelas piores razões. E, sim, "nós avisámos" sobre um desastre que só não anteviu quem não quis, e apresentámos proposta: nacionalizar o banco teria custos, mas garantia o controlo público ao serviço da economia.
No dia 27 de janeiro de 2017, propusemos a "manutenção da propriedade do Novo Banco na esfera pública", que foi rejeitada por PS/PSD/CDS. No dia 13 de abril, propusemos a condenação do Governo pela decisão de venda sem consulta ao Parlamento, rejeitada por PS/PSD. Nesse dia, deu entrada um projeto para a "Nacionalização do capital social do Novo Banco, SA", também rejeitada por PS/PSD/CDS. No dia 5 de maio, marcámos um debate para denunciar as condições de venda, a que se seguiram dezenas de artigos, propostas de orçamento, audições ao Banco de Portugal, ao Fundo de Resolução e à Administração do Novo Banco, pedidos de documentação e outros tantos debates e requerimentos.
A cada novo pedido de injeção de capital, o Novo Banco deu-nos razão. Com a determinação de uma auditoria à gestão privada do Novo Banco, o Governo (empurrado pelo Parlamento) escolheu o caminho mais longo. Mas foi um passo importante para dotar o Estado dos instrumentos que lhe permitam fazer frente ao fundo Lone Star. É por isso que defendemos que fosse impedida uma nova injeção sem conhecer os resultados dessa auditoria. Ao fazer a transferência de 850 milhões contra a palavra do primeiro-ministro, o Governo foi fraco perante os interesses do fundo financeiro internacional. E voltou a sê-lo ao aceitar o atraso da Deloitte, contratada por três milhões de euros para auditar o Novo Banco. O mesmo Governo que não quis esperar para pagar ao Lone Star aceitou o atraso imposto pela consultora financeira.
Seja o que for que a auditoria da Deloitte esconde, o país não tem que aceitar a espera. A consultora e o Governo devem informar o Parlamento de todas as conclusões preliminares, e o Governo, para dar-se ao respeito, deve cancelar o contrato. Depois, o Estado tem uma de duas opções para terminar uma auditoria que defenda o interesse público: ou a IGF ou Mário Centeno mostra o que vale no Banco de Portugal.
PS. Solidarizo-me com os milhares de pessoas que se juntaram para pedir justiça por Bruno Candé. O seu homicídio não será menorizado pelas distrações criadas por André Ventura para disfarçar as suas ligações às offshores e aos vistos gold da corrupção e o financiamento obscuro do seu partido. No Bloco, levamos o combate à corrupção tão a sério como o combate ao racismo.»
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3.8.20
Templos, Mesquitas e outros que tais (12)
Mosteiro Ortodoxo Azwa Mariam, Bahir Dar, Lago Tana, Etiópia, 2013.
Visitei uma das muitas igrejas ortodoxas, normalmente circulares, das 37 ilhas do Lago Tana, na maioria habitadas. Azwa Maria, do século XIV, com tecto de colmo, é revestida do chão até ao tecto por belíssimas pinturas que, para além do efeito decorativo, tinham como função permitir a explicação de cenas bíblicas às populações analfabetas. Absolutamente fascinante!
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Pobre Zeca!
Esta estátua de Zeca Afonso, ontem inaugurada em Belmonte, fez-me pensar numa célebre do Ronaldo no Funchal. Pior é difícil! Não temos escultores competentes em Portugal?
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É bom que nos preparemos
«Se há coisa que aprendemos à força com esta pandemia compressora foi não fazer planos de rigorosamente nada: a verdade à segunda-feira pode ser de uma enorme imprecisão à sexta.
Na forma como o vírus muda, nos alvos preferenciais do contágio, na evolução da nossa saúde e na dos nossos, no sentido das medidas restritivas e, sobretudo, nas projeções económicas. Neste particular, estamos a confundir com naturalidade os pessimistas com os catastrofistas e os otimistas com os ignaros. Só podia ser assim, porque em algum momento desta narrativa vertiginosa ambos estiveram certos e errados.
Viveremos, provavelmente até ao final do mês, numa espécie de bolha artificial. Com setembro, começaremos a conhecer a verdadeira dimensão da hecatombe. O brutal encolhimento do PIB no segundo trimestre do ano (que reflete o período do Grande Confinamento) foi quatro vezes pior do que o pior da troika. Recuámos vários anos em escassos meses. Acresce que a retoma está a ser mais tímida do que o esperado, o turismo exaspera (o Algarve viveu mesmo o pior julho de sempre), as exportações estão congeladas e, no princípio, no meio e no fim, ainda temos de lidar com a progressiva erosão da força modificadora do Estado. Não por acaso, ouvimos o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, reconhecer que, findos os apoios públicos mais significativos na manutenção artificial do tecido económico, vão aumentar as insolvências e os desempregados.
O Estado foi a salvação de uma fatia considerável do país, mas o oxigénio está a acabar. E vem aí o inverno. E com ele a gripe sazonal e a ameaça cada vez mais certa de uma segunda vaga da pandemia. Ora, para acorrer a tudo será preciso um investimento adicional no Serviço Nacional de Saúde. Mais despesa.
A aparente sensação de normalização que nos foi dada pelo desconfinamento não deve entorpecer o nosso sentido de compromisso. A batalha é de todos os dias, reflete-se nas pequenas ações, gestos e cuidados. Temos de estar preparados para o que aí vem mesmo que não saibamos o que nos espera. Porque se formos forçados a parar tudo outra vez, não tenho a certeza de que o queiramos, ou possamos, fazer. Se chegarmos a esse extremo, teremos certamente outro entendimento sobre o valor da doença e da cura.»
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2.8.20
Templos, Mesquitas e outros que tais (12)
Templo do Buda de Jade, Xangai, China, 2004.
Este templo budista foi construído em 1882 e tem duas estátuas de Buda em jade, trazidas da Birmânia. Esta, de Buda reclinado, representa a sua morte. Não era permitido tirar fotografias dentro do templo, tirei esta à má fila… Na imagem que está no comentário, não deixar de ver quem por lá passou e ficou recordado numa parede: Mário Soares e Maria Barroso.
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Para memória futura
The Guardian traz hoje esta fotografia de desembarque de passageiros do aeroporto de Hong Kong e tudo leva a crer que não se trata de ETs, mas sim de humanos terrenos.
Os loucos anos 20 são estes – os nossos.
(parece que a foto foi tirada em Março, e não agora, mas tanto faz para o caso.)
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Desgraças e cheques em banco
«Nunca perderei a esperança de que é possível e vale a pena lutar por um Mundo melhor na certeza de se poderem, sempre, encontrar dimensões novas para a realização do ser humano. Contudo, evidenciam-se hoje demasiadas negações coletivas geradoras de medos.
O assassinato a sangue-frio do ator Bruno Candé e os escabrosos comentários justificativos desse ato hediondo mostram-nos racismo inculcado na sociedade portuguesa. Ora, o racismo e outras manifestações de intolerância e violência estão a armadilhar a vivência democrática das sociedades e o alarme tem de disparar quando, poucos dias depois, Rui Rio admite que se o Chega mudar de discurso (lavar a cara) até pode entrar no diálogo para um projeto de Oposição ou governação do país.
A desgraça maior é observarmos, simultaneamente: i) o poder desmedido e opaco com que os potentados tecnológicos Amazon, Apple, Facebook e Google se apresentaram ao Senado Americano; ii) a especulação financeira desencadeada pela "corrida às vacinas" contra a covid-19; iii) a invocação do combate à pandemia para se coartarem liberdades; iv) a forma indecorosa como certos países europeus se tornam frugais e credibilizam as casas de receção do roubo que são os offshore; v) a mais que suspeita gestão fraudulenta do Novo Banco, que infelizmente não é uma situação excecional - nem interna nem externa - mas sim o espelho do que se passa com o poder do setor financeiro e o uso subversivo de tecnologias; vi) a brutal queda do PIB (Produto Interno Bruto) e tantas empresas em coma. Cheira forte a um "novo" normal duro e perigoso, carregado de desemprego, de exploração e desigualdades, de pobreza, de profundos problemas sociais.
É difícil acreditar na legalidade das transações do Novo Banco quando a principal figura do fundo abutre que comprou as 13 mil casas, terrenos e outros bens imobiliários envolvidos no negócio veio da Lone Star. E o que é a legalidade? Como há muitos anos digo, o roubo "legal" é, nas sociedades atuais, incomensuravelmente maior que o roubo na plena acessão da palavra. Entretanto, quando se constata que negócios deste tipo são "legais", o problema em vez de se atenuar, agrava-se.
Fazem falta regulação e fiscalização sérias, mas os sistemas montados são autênticas fraudes. Como é possível, depois de tantos negócios ruinosos, compadrio e corrupção a marcarem o caminho da Banca, ter acontecido a privatização deste banco e ter sido assinado um contrato que permite ao comprador assaltá-lo por dentro e remeter a fatura das perdas para os bolsos dos portugueses? O que é isto? Talvez uma mistura de cegueira política, imprudência, impunidade e estupidez geradas pela "moderação" que marca o comportamento dos autointitulados cidadãos honrados que gerem os diversos poderes instalados.
A 3 de fevereiro de 2017 a Assembleia da República rejeitou, com votos contra do CDS, do PSD e do PS, projetos de resolução do BE e do PCP que se opunham à venda do banco à Lone Star e propunham a sua nacionalização. Muitos dos agora surpreendidos e indignados estão apenas a colher o que semearam. E o presidente da República, ou o primeiro-ministro não podem falar do assunto como se dispusessem apenas da informação do comum dos cidadãos. Não lhes podemos admitir hipocrisia política ou desresponsabilização.»
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