19.5.07

19/5/1974 - 1º comício da «Esquerda Revolucionária»



Pouco mais de três semanas depois do 25 de Abril, realizou-se na Voz do Operário, em Lisboa, o primeiro comício da «Esquerda Revolucionária». Terão estado presentes cerca de 3 000 pessoas.





A «Esquerda Revolucionária» era uma plataforma que incluía:
· CBS (Comissões de Base Socialistas),
· LCI (Liga Comunista Internacionalista),
· PRP/BR (Partido Revolucionário do Proletariado / Brigadas Revolucionárias),
· URML (Unidade Revolucionária Marxista-Leninista).

A LUAR também esteve presente no comício e aderiu então à plataforma.

Usaram da palavra:
· Miguel Oliveira e Silva (CBS),
· Ernesto Mandel (LCI),
· Isabel do Carmo (PRP/BR),
· Joaquim Luciano (URML),
· Luís Guerra (LUAR).

As diferentes intervenções revelaram unanimidade de opiniões em três pontos considerados fundamentais:
· «Independência imediata para as colónias»;
· «Revolução Socialista como única via de libertar o proletariado português»;
· «Repulsa pela política oportunista de traição à classe operária dos representantes do PCP no Governo Provisório».

Fonte: Jornal Revolução, Porta-Voz do PRP/BR, nº 1, 1 de Junho de 1974.

17.5.07

Canções na memória (II)

Morte e Vida Severina
(Música de Chico Buarque da Holanda, letra de João Cabral de Melo Neto, 1965)


Em 1966, a peça foi representada em Portugal (Lisboa, Porto e julgo que também Coimbra).
Em Lisboa, sei que foi no Cinema Império(*) - e recordo também a sala apinhada de gente, as longas ovações e uma emoção generalizada.

Aqui fica o tema principal e um magnífico trecho interpretado por Elsa Ramalho e José Dumont.



Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida

É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio

Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida

É uma cova grande p’ra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo

É uma cova grande p’ra teu defunto parco
Porém mais que no mundo, te sentirás largo

É uma cova grande p’ra tua carne pouca
Mas a terra dada não se abre a boca

É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio

É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo


Filme de Zelito Viana (1977)


(*) Ver Comentário que pus com uma correcção.

Lisboa - circo ou cerco?

(Roque Gameiro)

Hoje, Lisboa é mais circo.
Mas teve dois cercos: um em 1147, quando D. Afonso Henriques a conquistou aos mouros, outro em 1384, ordenado por D. João, rei de Castela. Quando a peste dizimou as suas tropas, foi obrigado a bater em retirada, não sem antes amaldiçoar a cidade:

«Ó Lisboa! Lisboa! Tanta mercê me faça Deus que ainda te veja lavrada de ferros de arados.» (*)

Poderá algum Deus fazer o obséquio de nos livrar desta maldição?


(*) Fonte, Ferreira Fernandes e João Ferreira, Frases que fizeram a História de Portugal, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2006, p. 56.

15.5.07

16 de Maio de 1974 - 1º Governo Provisório

No dia 16 de Maio, tomou posse o 1º Governo Provisório.
Recordemos algumas caras, os nomes dos ministros e, para quem estiver interessado, o Programa do Governo.




















- Primeiro-Ministro: Adelino da Palma Carlos
- Ministros sem Pasta:Álvaro Cunhal, Francisco Pereira de Moura, Francisco Sá Carneiro
- Ministro da Defesa Nacional: Mário Firmino Miguel
- Ministro da Coordenação Interterritorial : António de Almeida Santos
- Ministro da Administração Interna: Joaquim Jorge Magalhães Mota
- Ministro da Justiça: Francisco Salgado Zenha
- Ministro da Coordenação Económica: Vasco Vieira da Almeida
- Ministro dos Negócios Estrangeiros: Mário Soares
- Ministro do Equipamento Social e Ambiente : Manuel Rocha
- Ministro da Educação e Cultura: Eduardo Correia
- Ministro do Trabalho: Avelino António Pacheco Gonçalves
- Ministro dos Assuntos Sociais: Mário Murteira
- Ministro da Comunicação Social: Raul Rego


Iria durar dois meses: na sequência do pedido de demissão de Palma Carlos, é formado o 2º Governo Provisório, presidido por Vasco Gonçanves, que toma posse em 18 de Julho.

Pode ler
aqui
o programa do 1º Governo Provisório.

Lisboa, pobre Lisboa...

(Carlos Botelho)


Tão maltratada, tão empobrecida – agora tão disputada.
Hoje lembrei-me do José Cardoso Pires que amou tanto esta cidade.

«Logo a abrir, apareces-me pousada sobre o Tejo como uma cidade de navegar. Não me admiro: sempre que me sinto em alturas de abranger o mundo, no pico dum miradouro ou sentado numa nuvem, vejo-te em cidade-nave, barca com ruas e jardins por dentro, e até a brisa que corre me sabe a sal. Há ondas de mar aberto desenhadas nas tuas calçadas; há âncoras, há sereias. O convés, em praça larga com uma rosa-dos-ventos bordada no empedrado, tem a comandá-lo duas colunas saídas das águas que fazem guarda de honra à partida para os oceanos. Ladeiam a proa ou figuram como tal, é a ideia que dão; um pouco atrás, está um rei-menino montado num cavalo verde a olhar, por entre elas, para o outro lado da Terra e a seus pés vêem-se nomes de navegadores e datas de descobrimentos anotados a basalto no terreiro batido pelo sol. Em frente é o rio que corre para os meridianos do paraíso. O tal Tejo de que falam os cronistas enlouquecidos, povoando-o de tritões a cavalo de golfinhos» (*).

(*) José Cardoso Pires, Lisboa – Livro de Bordo, D. Quixote, Lisboa, 1997, p.7

13.5.07

O funcionário público segundo Salazar

À procura de outra coisa, tropecei num discurso de Salazar, proferido em 5 de Setembro de 1940, quando abandonou a pasta de Ministro das Finanças. Quando se fala tanto de funcinários públicos, leia-se o que deles pensava quem que foi escolhido como o maior de todos os portugueses.



«Assim se viu ressuscitar esse velho tipo de funcionário que conhece todas as minúcias do seu trabalho, só pensa no desempenho da sua função, se entusiasma com a boa ordem e aperfeiçoamento dos serviços, é progressivo, é zeloso, é exacto, não tem horas de serviço porque são todas, se é necessário, e sobretudo tem o espírito de justiça e o amor do povo. (...)

Perante credores ou devedores do Estado, esse funcionário não é altaneiro, nem arrogante, nem imensamente superior; é mestre e guia, antes de ser juiz e severo executor da lei. Vive no seu lugar, porque vive para o seu lugar; é respeitado porque se respeita; sente-se digno porque se sabe útil, e mesmo no baixo da escala, nos mesteres mais humildes, ele pode tocar a perfeição, segundo o pensamento de Junqueiro: pode ser-se sublime a varrer as ruas»(*)
.


(*) Oliveira Salazar, Discursos e Notas Políticas, III 1938-1943, Coimbra Editora, 1959, pp. 284-285.