O
cardeal Newman (1801-1890) teve um papel importante em Inglaterra pela sua acção e evolução no plano religioso. Começou por ser ordenado padre na igreja anglicana, envolveu-se depois no chamado Movimento de Oxford que defendia a aproximação ente aquela igreja e Roma, acabou por se converter ao catolicismo e morreu cardeal. Está mesmo em curso um processo de beatificação que deverá acontecer dentro de alguns meses.
John Henry Newman está enterrado algures num pequeno cemitério e Roma pretende agora que os seus restos mortais (que já não devem ser muitos...) sejam levados para um local mais digno, onde o «futuro santo» possa ser visitado por peregrinos.
Pacífico? Pois parece que não.
Segundo o
Público (espanhol) de hoje, movimentos gay acusam o Vaticano de homofobia (e mesmo de «roubo de cadáver e profanação») por ter decidido separar os restos mortais de Newman dos do companheiro de sempre, para encobrir a sua homossexualidade antes de o declarar beato. Invocam que Newman escreveu, como «última e imperativa vontade», que queria ser enterrado com o padre Ambrose St. John.
Tudo isto é absolutamente macabro.
Se entendo que os crentes se preocupem com o destino das almas
post mortem, nunca percebi por que razão quem quer que seja possa perder um minuto de vida para definir o destino das suas ossadas. Mas adiante, sei que sou um tanto insensível a localizações e coabitações de cadáveres.
Agora que os movimentos gay, que têm tanto com que se entreter na roda dos vivos, se empenhem tão ferozmente na defesa dos restos dos seus «antepassados», isso parece-me verdadeiramente
kitsch.
Quanto ao papa e ao Vaticano, se o cardeal e o amigo já estiveram juntos mais de cem anos, que sejam agora separados em nome da decência e para não despertarem curiosidades em futuros peregrinos – «olhos que não vêem, coração que não sente», pois com certeza.