4.8.12

Está a acabar…



Deixo esta noite dois países que associo porque os visitei numa mesma viagem e porque têm fronteiras (e muita história) em comum, mas que são − e estão – profundamente diferentes. A uni-los, também, o facto de lidarem, actualmente, com barris de vários tipos de pólvora. 

Ambos esperam vir a entrar na União Europeia (se ainda chegarem a tempo, digo eu…), a Geórgia está bem «encostada» aos dólares de Obama, a Arménia aos amigos russos e às remessas da sua rica diáspora. Mas falta-lhes muito do que precisariam para se reerguerem do colapso económico que se seguiu ao desmoronar da URSS. 

Do ponto de vista monumental, a primeira está longe do nível de interesse da segunda e Tbilisi não é Yerevan. Mas a capital georgiana está a tal ponto transformada em estaleiro de (boa) recuperação de belos edifícios e avenidas que, dentro de poucos anos, estará excelente. O turismo ainda é relativamente incipiente em ambos os países, mas será uma aposta ganha se algumas infraestruturas (sobretudo estradas) forem melhoradas. Em breve, aterrarão por aqui paletes de ocidentais e de chineses… 

Tudo isto, obviamente, se os conflitos dos arménios com turcos e azeris não piorarem e se não se agudizarem ainda mais as relações entre georgianos e russos. E se… e se… e se. 

Este ano há eleições legislativas na Geórgia e pode ser que a potente maioria do Partido Nacionalista no Parlamento seja abalada. E, sobretudo, há presidenciais em 2013 e dizem-me que a oposição tem um candidato forte (e muitíssimo rico…), pró-russo, cuja eventual vitória pode vir a mudar o rumo de muitas realidades, nomeadamente tudo o que se relaciona com a Abecásia e a Ossétia do Sul. 

Uma coisa é certa: seguirei com redobrado interesse o que for acontecendo nestes países, agora que eles têm, para mim, imagens, cheiros, sons e pessoas. Este é sempre, aliás, um subproduto das viagens que vou fazendo.

Imagens de Tbilisi:




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2.8.12

Cúpulas e mais cúpulas (13)



Mosteiro de Haghartsin, Dilijan (Arménia, hoje 2/8/2012)

(Para ver toda a série, clique na Label: «CÚPULAS».)
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Manuel Loff: Uma história em fascículos... (I)




Apesar de estar muito longe de Portugal, cheguei a este texto do Público de hoje, 2/8/2012, e parece-me importante disponibilizá-lo aqui.

O Expresso está a oferecer gratuitamente aos seus leitores uma História de Portugal dividida em nove fascículos, apresentando-a como “um dos livros mais vendidos de sempre” entre os que se dedicaram à nossa história. O Expresso acha (eu não) que este é “hoje reconhecido como um dos melhores livros sobre a História de Portugal”, e terá querido disponibilizá-lo a dezenas de milhares de leitores para quem é apetecível uma síntese em 900 páginas da “história de um grande país”. 

O livro é coordenado por Rui Ramos (RR), um historiador especializado na Monarquia Constitucional e na I República portuguesas mas que se encarregou nesta obra de cobrir também o período entre 1926 e a atualidade. As épocas medieval e moderna estiveram a cargo de dois historiadores (Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Monteiro) cujo trabalho não comentarei. Dedicarei esta e a próxima crónicas especificamente ao trabalho de RR, que concebeu e coordenou a obra e disse há dois anos que ela pretendia ser meramente “uma porta de entrada na História”, e “aguçar o apetite do leitor”, descrito como “exigente” (Prólogo, p. II), e “fazer com que as pessoas queiram ir ler mais” (PÚBLICO, 31.5.2010). Esperemos que sim. 

RR não é um historiador qualquer; a sua visibilidade pública é ajudada, como em pouquíssimos casos, pelo seu acesso às tertúlias televisivas e à imprensa, onde se tem destacado como uma das penas mais sólidas da direita intelectual portuguesa, que reivindica “o prazer da provocação intelectual e reconhece um aguçado espírito de contradição, sobretudo quando o alvo é a esquerda” (Ler, janeiro 2010). Para percebermos o que RR entende por “provocação”, e em resposta a quem acha — como eu — que o seu trabalho é puro revisionismo historiográfico política e ideologicamente motivado, ele entende que “toda a História é revisionista” e nela “é necessário afirmar originalidade” (PÚBLICO, 31.5.2010). 

Centremo-nos hoje na narrativa que RR faz do papel de Salazar na história. Para ele, o Estado Novo era “um regime assente (…) no monopólio da atividade legal por uma organização cívica de apoio ao Governo”, e esta é a forma como ele classificará sempre o partido único da ditadura, com “a chefia pessoal do Estado” entregue a “um professor catedrático introvertido”, um homem “de outra espécie”, com “nada de uma personagem ditatorial” como a dos líderes da Europa fascista do tempo (pp. 627 e 638-39). Neste campo, a primeira das suas preocupações é a mais comum entre os historiadores da área de RR: desenhar um Salazar sensato e algo neurasténico, que não gostaria de uniformes (apesar da origem militar do regime e do seu caráter inevitavelmente policial e repressivo) e que nada teria a ver com Hitler, Mussolini ou Franco. O “pobre homem de Santa Comba”, como o ditador se definiu a si próprio, teria “para Portugal objetivos simples” pois propunha-se “fazer viver Portugal habitualmente” e “queria instituir uma “ditadura da inteligência” para “fazer baixar a febre política” no país e “reencontrar o equilíbrio” (p. 639). 

A segunda originalidade de RR decorre daqui e descola totalmente da realidade: oferecer-nos um Salazar liberal, por oposição aos republicanos de 1910 (um dos ódios de estimação de RR), que, praticamente totalitários, teriam estado empenhados em fazerem da sua “revolução” uma “transformação cultural violenta” feita por um “Estado sectário” (pp. 585-86)! Salazar, pelo contrário, queria “assentar o Estado, não na “abstração” de indivíduos desligados da sociedade e arrastados por ideias de transformação radical, mas no que chamou o “sentimento profundo da realidade objetiva da nação portuguesa””. Para RR, “a “missão” do líder” era a de “reconciliar os portugueses com essa “realidade”, e ao mesmo tempo ajudá-los a adotar modos de vida sustentáveis”. Em resumo, “o seu modelo implícito era o que no século XIX se atribuíra aos “ingleses”, prático, “pouco sentimental”: “Eu faço uma política e uma administração bastante à inglesa”” (pp. 639-40) — isto é, um Salazar primeiro-ministro da rainha Vitória... Se acompanharmos as suas crónicas no Expresso, a lição da História para a análise da crise atual parece evidente. Hoje, “a austeridade é, no fundo, a vida depois de desfeitas as últimas ilusões do passado” – exatamente como Salazar, que “tinha ambições, mas não ilusões” (RR, in Sábado, 14.1.2010), se havia empenhado em “reconciliar os portugueses com a realidade” e em “ajudá-los a adotar modos de vida sustentáveis”! E o que é que, na opinião, de RR foi insustentável no nosso passado recente? “Uma classe média de funcionários (…), uma economia de trabalhadores e empresários protegidos, e a estatização de grande parte dos serviços (educação, saúde) e da segurança social” (Expresso, 28.7.2012). 

RR leva à prática o que ele próprio estabeleceu como o fim “desta História de Portugal [o de] despertar a atenção para a importância da História como meio de dar profundidade à reflexão e ao debate público sobre o país.” Para ele, “a História (…) é uma maneira de pensar” (Prólogo, p. IV). Tem toda a razão. E a sua está bem à vista. 
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1.8.12

Novo blogue



É o Ministério da Contrapropaganda e dará que falar.
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Uma bela cidade num país complicado



Capital da Arménia desde 1918, Yerevan tem actualmente cerca de um milhão e cem mil habitantes, em Dezembro de 1920 viu-se transformada em capital de uma das quinze repúblicas que incorporaram a União Soviética (até à independência do país em Setembro de 1991). Dentro desta, foi a primeira cidade para a qual foi desenvolvido um plano urbanístico geral, pelo arquitecto Alexander Tamanyan.

O resultado ainda hoje é bem visível no centro de Yerevan. Sem entrar em detalhes, realce-se a magnífica Praça da República, de onde as principais ruas irradiam, e que é lindíssima quando o Sol incide nos repuxos e nas fachadas de um tipo de pedra muito característica desta terra e talvez ainda mais quando os mesmos estão esplendorosamente iluminados.

Ruas cheias de lojas, esplanadas animadas e outras vivências típicas de qualquer capital poderiam fazer crer que tudo vai mais ou menos bem, mas parece não ser o caso. Ouvi hoje o que pode ser um bom resumo do que eu própria fui observando (mais do que superficialmente, como é óbvio) numa semana:

«Nos tempos da URSS tudo era muito mais fácil, [mas] agora temos a liberdade.» No contexto em que foi dito também podia ter sido: «Agora temos a liberdade, [mas] nos tempos da URSS tudo era muito mais fácil.» Tema que daria pano para mangas de uma muito longa discussão…



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Afinal…



Mail recebido hoje:  
«Obtain a university degree based on what you already know. BA /BSc/MA/MSc/MBA/PhD. No classes or tests required.» 

31.7.12

Da beleza



Estive hoje no Mosteiro de Gerard, do século XIII, com uma arquitectura única no género, riquíssima tanto exterior como interiormente. Muitas das igrejas que compõem o complexo foram cavadas na rocha, são por vezes extremamente elaboradas e com frescos escondidos na escuridão, que só se tornam visíveis com o flash das máquinas que os fotografam.

Ficam as imagens que dificilmente sugerirão a realidade (as duas últimas são de frescos que referi).






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O «arménio» Charles Aznavour – para além do cantor



Charles Aznavour − ou, mais exactamente, Shahnour Vaghinagh Aznavourian (Շահնուր Վաղինակ Ազնավուրյան) − nasceu em Paris e é francês, mas de origem arménia e, neste país em que estou, terá sempre a nacionalidade dos seus pais emigrantes.

É um ícone nacional, não só pelo seu êxito como cantor, mas também e talvez sobretudo, pela sua acção após o terramoto de 1988. Percorreu o país pouco depois, criou uma Fundação específica para o efeito, que reuniu mais de 150 milhões de dólares, tem estátuas (vi uma em Gyumri, a cidade mais arrasada em 1988) e o governo doou-lhe uma casa que avistei hoje em Yerevan (imagem no topo deste post), onde funciona a referida Fundação. Os arménios não esquecem.




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30.7.12

Um povo sofrido



Estive desde ontem em Gyumri, segunda cidade da Arménia, onde a temperatura chega a atingir 45ºnegativos, e que foi a região mais atingida pelo terrível terramoto de 1988, que matou, só naquela cidade, cerca de 25.000 pessoas. A data é um ponto de referência permanente, quer na descrição dos edifícios entretanto restaurados, como nos que ainda não o foram. Algumas fotos de e um vídeo ajudam imaginar o local, mas não vou entrar em explicações detalhadas.

Prefiro registar um outro ponto de referência (entre vários possíveis…), também sempre presente − o Genocídio dos arménios −, a partir de um caso concreto. Como se sabe, a Arménia tem uma vastíssima diáspora, pelo mundo inteiro, aumentada ao longo dos séculos por muitas e variadas vicissitudes. A guia, muito jovem, que me acompanha desde ontem, é iraniana / arménia e os avós escaparam por um fio ao Genocídio: fugiram com a família, andaram pela Rússia e acabaram por se instalar no Irão. Por lá se multiplicaram e os descendentes por lá se mantêm, sonhando com a possibilidade de regressarem à terra dos antepassados, que querem ajudar a reconstruir. Não é fácil para todos, mas foi o que esta neta já fez: guia e intérprete de espanhol em Teerão, foi deixando de ter trabalho por diminuição, por razões óbvias, de visitantes àquelas paragens e aproveitou o movimento inverso de desenvolvimento do turismo na Arménia. Uma irmã já se lhe juntou e espera que mais possam «regressar» − a uma espécie de terra prometida.

Apesar de tudo isto, e das péssimas relações que tem com quase todos os vizinhos, a Arménia parece muito melhor, ou muito «menos mal», como se preferir, do que a Geórgia. Sem qualquer espécie de dúvida. Estou já na capital, Yerevan, feericamente iluminada e, à primeira vista, extremamente agradável.

(Foto no topo: monumento comemorativo do 50º aniversário do Genocídio, em Echmiazin.)

Gyumri: igreja de S. Hrispime, Catedral e Museu Nacional:






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Vardzia


Estive ontem neste espantoso rochedo de Vardzia, Geórgia, onde existe um mosteiro medieval, com frescos bem conservados, incluindo um famoso da rainha Tâmara. 


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29.7.12

A longa jornada continua



Ainda voltarei à Geórgia, mas passei hoje para a Arménia onde ficarei alguns dias.

Um regresso ao mundo das fronteiras terrestres, desta vez bem especial: duas horas em fila de espera, de malas na mão, sob uma simpática trovoada e alguma chuva. Razão da demora? Digitalização lenta de cada passaporte e, sobretudo, preenchimento de formulários, pelos empregados da fronteira, com os nossos ((longos) nomes escritos em caracteres arménios!

Antes disso, vi tanto locais e monumentos que é materialmente impossível enumerá-los. Escolho Mtskheta, uma das mais antigas cidades da Geórgia, com uma localização lindíssima e que foi declarada pela UNESCO. Ficam algumas fotos e um vídeo.

(Com muita curiosidade de perceber se a Arménia está em tão más condições como a Geórgia, onde o desemprego já atingiu 40%.)