1.9.18

Ele aí está.


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Dica (804)




«The plight of Barcelona shows the damage Airbnb can do, exacerbating urban inequality and freezing out young locals.»
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O admirável mundo novo e a sua companheira a censura



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«O incremento da censura na Internet, em particular nas redes sociais, é uma tendência perigosa, que vai a par com legislação destinada a “proteger-nos” do racismo, do ódio nacionalista, da violência verbal, que desde a Constituição, aos surtos de indignação com apelos censórios, é tudo destinado a criar um mundo fofinho e higiénico que não existe na realidade.

Há muita coisa que se pode fazer para combater o problema combinado das fake news – teorias conspirativas – boatos perigosos – boatos atentatórios da personalidade – linguagem de ódio – uso da Internet para fins de manipulação profissionalizada por serviços de informação e agências de comunicação, etc., e tudo é melhor do que a censura que começa a generalizar-se e depois a normalizar-se. Censura essa que merece o aplauso da multidão do “politicamente correcto”, que preza pouco a liberdade. A liberdade que existe para os outros poderem dizer as coisas que mais me repugnam.

Em primeiro lugar, é preciso separar as coisas: separar os crimes das opiniões, por afrontosas que sejam; as acções bélicas de “propaganda negra” ou outras usadas pelos servições de informação, que são também crimes, do uso de linguagem violenta e odiosa; a incitação ao crime, que é também um crime, das obscenidades racistas e outras. Ou seja, simplificando, tratar os crimes como crimes e deixar o resto para a liberdade de expressão, insisto, mesmo que a consideremos repugnante.

No plano do crime, a legislação precisa de evoluir e adaptar-se a esta nova realidade, mas a regra é sempre a mesma: o que é crime cá fora é crime lá dentro. Deve-se facilitar a identificação dos autores mesmo anónimos em casos de investigação de crimes, e perceber que os crimes de abuso de liberdade de expressão, calúnia, ataques insultuosos, devem ter legislação expedita e exemplar. As fornecedoras de serviços de redes sociais devem assumir a responsabilidade por não permitir a manipulação de identidades, e devem ser capazes de identificar com clareza junto das autoridades quem esteja a cometer crimes em linha.

O uso de anonimato deve manter-se na base do princípio de que alguém está a denunciar (whistleblowing) algo que pode ser um crime, ou uma malfeitoria ou uma prática inaceitável e deve ser protegido de retaliações, mas não é justificado para a cobardia da opinião. Já o uso de pseudónimos é legítimo e deve ser protegido, desde que, quando haja crimes, seja possível aceder ao nome verdadeiro. Eu sei que tudo isto é complicado e há meios eficazes de dar a volta ao anonimato, mas quem o sabe fazer é um número pequeno dos habitantes que pululam as redes sociais e que, na maioria dos casos, são muito rudimentares na protecção da sua identidade. E deviam perceber que há consequências para as brincadeiras que colocam em linha.

Do mesmo modo, é perigoso instituir, como cada vez mais acontece, formas de policiamento da linguagem. Usar, como se diz nos EUA, a n-word, nigger, chamar “macacos” aos jogadores negros, acompanhado os insultos, por gestos simiescos, chamar “monhé” ao primeiro-ministro, chamar “paneleiros” aos homossexuais e “fufas” às lésbicas, e por aí adiante, por muitas fúrias verbais que suscite, cabe no meu entendimento da liberdade de expressão. Nada tenho contra as tempestades de resposta – quem não se sente não é filho de boa gente – mas sou completamente contra a censura do Estado, do Facebook, do Google e do Twitter, que pretende criar um muro sanitário para as ofensas e, ao fazê-lo, entram num processo censório que sabemos como começa, mas não sabemos como acaba.

Já outra coisa é escrever que o “senhor A roubou o dinheiro da cooperativa B” quando se trata de uma falsidade. Ou quando, de forma organizada, as empresas de comunicação que fazem campanhas negras a favor de empresas ou pessoas denegrindo os seus adversários ou competidores. Infelizmente, isto é cada vez mais comum e “invisível” usando comentários dirigidos, manipulando os sites que avaliam restaurantes ou hotéis, ou disseminando falsa informação. Isto tem que ser tratado como fraude. A essas pessoas, eu levava-as a tribunal, e às empresas a mesma coisa e, em ambos os casos, pedia indemnizações vultuosas, que é o que mais os afecta.

O problema do que hoje se está a passar nas “redes sociais” e nas páginas de comentários não moderadas é o completo falhanço de várias instituições do Estado e da sociedade, a começar pela absoluta desadequação da educação e das escolas, ao mundo real em que desde crianças, aqueles que se pretende “educar” vivem. Depois, a sociedade, a comunicação social, deviam obrigar-se, primeiro a si próprias, e ao público em geral a dar prioridade à verificação dos factos. Se o Info-wars, ou Trump, ou a Fox News, ou um site racista português, ou um comentador do Facebook do PÚBLICO, disserem que Obama não é americano e é muçulmano, dupliquem o site com uma nota dizendo que é uma falsidade. A verificação sistemática, continuada e séria é a melhor maneira de combater as fake news. Dá trabalho, é difícil e o sucesso não está garantido, mas é melhor do que a censura.

Pode-se dizer que os mecanismos que garantem o sucesso da circulação de falsidades têm vantagem sobre a verdade porque o lubrificante que as faz circular tem a ver com outras coisas, com a polarização e radicalização política, com o ressentimento social, com o incremento nas redes sociais do tribalismo, com as iliteracias, a ignorância agressiva das redes e a propensão para as conspirações. É verdade, mas a censura não é resposta. A última coisa que quero é que o Estado ou as grandes empresas tecnológicas, que fazem o mal e a caramunha, me “protejam” do ruído do mundo e me tratem como uma criancinha. O que eu quero é que os adultos vão à luta, denunciem as falsidades, que os jornalistas façam investigações sobre as fileiras racistas, homofóbicas, violentas, que denunciem os seus mentores, que a escola não se ponha com deslumbramentos tecnológicos e ensine a “ler” a Internet e a televisão, que a “conversação” na sociedade e nos media não tenha um átomo de complacência com este admirável mundo novo. Mas tudo menos a censura.»
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31.8.18

Foram diferentes os Maios



Amanhã andarei por Leiria, no Fórum Socialista 2018 do Bloco de Esquerda, onde partilharei uma sessão com Mário Tomé sobre «O Maio de 68 e as consequências em Portugal». O que direi encontra-se resumido neste texto escrito para o efeito. 

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O 50º aniversário dos acontecimentos de Maio de 1968 em França foi amplamente assinalado em Portugal, num notável número de seminários, debates, documentários, entrevistas e textos. Informação disponível não falta, portanto, e não retomarei relatos mais do que conhecidos de factos, relações entre o que teve início no meio estudantil e se estendeu depois ao operariado, nem as eternas discussões sobre sucessos e razões para fracassos.

Se regresso hoje ao tema, faço-o exclusivamente porque este texto servirá de base a uma intervenção minha numa das sessões do Forum Socialismo deste ano, organizado pelo Bloco de Esquerda.

Que o 68 francês «chegou» a Portugal não parece oferecer dúvidas, embora nem todas as leituras coincidam. De um modo geral, no entanto, parecem congregar-se na opinião de que foi no ano seguinte que as influências mais se fizeram sentir, nomeadamente no meio estudantil com as lutas académicas em Coimbra e em Lisboa. Oiça-se, por exemplo, uma boa síntese feita por Fernando Rosas em As lutas de 68, por Fernando Rosas e Mamadou Ba (a partir do minuto 48).

Prefiro chamar a atenção para um «outro mundo», pouco ou nunca abordado e no qual então me movia: o de uma esquerda que não estava à época enquadrada em partidos ou movimentos marxistas-leninistas, PC e outros, e para a qual 1968 teve uma influência decisiva que não esperou por 69 e que veio para ficar com consistência.

Mais concretamente, estou a falar, não só mas sobretudo, do universo dos chamados «católicos progressistas», então no início de um processo de ruptura com a Igreja, moribundas que estavam as esperanças depositadas no Concílio Vaticano II e num qualquer posicionamento dos bispos portugueses contra o fascismo. Note-se que a esta mancha da esquerda se juntava, em muitas acções, um grupo razoável de activistas não católicos, sobretudo herdeiros da crise académica de 1962 e não enquadrados em estruturas partidárias ou movimentos afins.

Este conjunto de pessoas, maior do que se pensa embora de difícil quantificação, já se encontrava há alguns anos activo em várias plataformas interligadas, umas mais culturais como a revista O Tempo e o Modo, outras de intervenção social e política, como as cooperativas Pragma e Confronto, ou clandestinas como O Direito à Informação que divulgava informações verdadeiras sobre a guerra colonial.

Agia-se como se podia contra essa guerra e protestava-se contra a do Vietname, era-se a favor de todos os Luhter King do universo, com uma maior abertura a latinidades (sul-americanas ou francesas) do que a bater de asas em Moscovo, Pequim ou Tirana. Seguia-se a Primavera de Praga com entusiasmo, mas sem grandes surpresas com a invasão soviética do mês de Agosto e sem o traumatismo que outros experimentaram por causa da mesma. Cuba e os seus heróis, sim, estavam bem presentes no horizonte de todas as utopias.

100% francófona, foi uma população que viveu os acontecimentos de Paris com um entusiasmo certamente um tanto pueril mas garantidamente genuíno, não só no plano cultural, mas também na intensificação das relações com organizações francesas já anteriormente apoiantes da luta antifascista portuguesa.

Também a nível dos comportamentos se acelerou uma já iminente libertação. Os tabus ligados à família e à sexualidade vinham a ser especialmente reprimidos desde há algum tempo, sendo um exemplo típico a apreensão pela PIDE, em Março de 1968, de um número especial da revista O Tempo e o Modo sobre «Casamento». Os acontecimentos parisienses de Maio encontraram terreno fértil neste plano, para que saltassem tampas de repressões várias. E se estas não eram apanágio dos meios católicos, tomavam nestes maiores proporções pelo peso da educação, pelas poucas ou nenhumas aberturas da Igreja nesta área, pela inexistência de divórcio para quem se tivesse casado pela Igreja. Vacilaram casamentos, caíram alguns, multiplicaram-se «uniões de facto» mais do que condenadas pelas autoridades religiosas, foram-se casando os primeiros padres. (Nunca esquecerei o relato que um amigo me fez há poucos anos: desterrado na Guerra Colonial quando tudo isto aconteceu, e embora fosse seguindo de longe os acontecimentos e mantendo os contactos, encontrou no regresso o seu mundo de sempre «de pernas para o ar», incluindo o próprio casamento que acabou por colapsar.)

Também se iam agravando os conflitos com os bispos portugueses, nomeadamente com o cardeal Cerejeira, que não perspectivavam qualquer distância em relação ao fascismo em geral e à guerra colonial em particular e que geriam com mãos de ferro os conflitos crescentes, não só com leigos mas também com uma camada de padres e seminaristas jovens e progressistas, que, a pouco e pouco, foram deixando a Igreja. Quando, em Julho de 68, Paulo VI publicou a encíclica Humanae Vitae sobre sobre a regulação da natalidade, onde eram condenados todos os métodos anticoncepcionais, pílula incluída, esperar que a mesma fosse acatada, mesmo por alguns católicos com responsabilidades especiais nas estruturas da Igreja, era pedir que se voltasse a acreditar no Pai Natal. A Humanae Vitae funcionou como a gota de água que faltava a muitos para a desilusão definitiva e mesmo para o corte com qualquer prática religiosa. (O padre Anselmo Borges publicou, muito recentemente, um interessante texto sobre o tema.)

Em resumo, a claustrofobia em que se vivia em Portugal, sem as liberdades mínimas e com sete anos de guerra colonial, escancarou as portas para que a contestação de todos os poderes se instalasse, a nível da oposição ao regime – e à Igreja – e no plano dos costumes. Luta pela liberdade e luta por todas as liberdades passaram a fazer parte de uma mesma batalha. Claro que tudo acontecia apenas a nível de elites em (poucos) centros urbanos. Mas eram elites francófonas e francófilas, para quem Paris já era, e passou a ser ainda mais, o que de mais parecido havia com o paraíso na terra... Por outras palavras, estou a dizer que foi provavelmente a faceta contestatária e libertária do Maio de 68, que mais influenciou esta esquerda não muito «ideológica», longe de grandes ortodoxias e ansiosa por passar à prática, e que marcou a sua maneira de agir em todo o período marcelista. Não foi certamente por acaso que um número significativo de ex-padres, seminaristas, católicos e ex-católicos aderiu a organizações como a LUAR e o PRP/BR, e só excepcionalmente ao PCP ou às então novíssimas organizações maoistas, nos últimos anos da década de 60 e nos primeiros da que teve início em 1970.

Com o 25 de Abril e o PREC foram vários os caminhos seguidos, mas arrisco dizer que o ano de 68 e os que se lhe seguiram deixaram uma marca que continua a reflectir-se, para muitos, num certo modo de estar na vida e na política.
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No dia em que Sérgio Godinho faz 73



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Quase 2/3 dos jovens admitem prescindir de ter emprego fixo



Cátia Mateus no Expresso diário de 30.08.2018:

«Foi a “Forbes” quem lançou o alerta já no ano passado: em 2020 os millennials - a geração de profissionais nascida entre a década de 80 do século passado e a viragem do milénio - vão representar 40% da força de trabalho mundial. Em 2025 serão 75%. E mais do que os números, foi a análise realizada pela publicação de gestão que fez soar o alerta entre os gestores: “Quer se goste ou não, os millennials serão ativos críticos para a sustentabilidade dos negócios. Se eles não quiserem trabalhar para as vossas empresas, o vosso negócio morre”. O que a consultora Deloitte agora demonstra é que este afastamento das gerações mais jovens - não só da geração millennial, mas também da sua sucessora geração Z (nascidos entre 1995 e 2012) - já está a acontecer.

O mais recente Millennial Survey, o estudo anual da consultora que analisa a prestação desta geração no mercado de trabalho, agora divulgado, revela que globalmente os millennials e a geração Z estão menos leais às empresas, confiam menos nos seus líderes e na ética das organizações. O resultado desta descrença traduz-se em números: 62% dos profissionais encara a hipótese de trabalhar em regime de freelancer como uma alternativa ao emprego a tempo inteiro, apesar da instabilidade associada a modelos de trabalho flexíveis.

Esta nova realidade marca uma inversão face ao foco na estabilidade que caracterizou gerações anteriores. Os novos profissionais não só não querem “criar raízes” nas empresas, como se orientam por outros valores que não os da estabilidade. Segundo o relatório da Deloitte (sustentado em entrevistas a mais de 10 mil millennials e 1850 jovens da geração Z em 36 países), 43% dos profissionais nascidos na até à viragem do milénio ponderam abandonar o seu emprego atual nos próximos dois anos e para 72% é proibitivo permanecer cinco ou mais anos na mesma organização. Na geração Z não há referências a um horizonte temporal de cinco anos. Mas sabe-se que 61% dos nascidos a partir de 1995, que já estão no mercado de trabalho, querem mudar de emprega até 2020.

O que afasta esta geração?

Todos os estudos apontam na mesma direção: não é o dinheiro que move estes profissionais, ou melhor, não é apenas o dinheiro. Destas gerações de profissionais sabe-se que são mais ambiciosas do que as anteriores e que têm maior consciência do seu valor profissional. Mas sabe-se também que para eles, tão ou mais importante do que trabalhar para garantir um salário, é trabalhar de forma ética, com líderes inspiradores e em empresas que gerem impactos sociais positivos. E é aqui que as organizações estão a perder pontos na retenção dos millennials e Z's que preferem assumir os riscos de trabalhar de forma independente.

Mais uma vez, os números da Deloitte demonstram-no. 52% dos jovens profissionais ouvidos no estudo não reconhecem um comportamento ético nas empresas e 56% também não identificam qualquer interesse em criar impacto positivo na sociedade por parte dos líderes. Resultados que segundo Sério do Monte Lee, partner (sócio) da Deloitte, “devem servir de alerta para os líderes empresariais” porque, refere, as novas gerações “sentem que os líderes estão muito focados nas agendas das suas empresas e pouco preocupados com o seu contributo para a sociedade”.

Uma orientação que está a ditar o seu afastamento das empresas e não é de agora. Em 2014, num artigo publicado na Harvard Business Review, Julia Fetherston e Vilas Dahr demonstravam que “a maioria dos millennials acredita que as empresas, e não os governos, terão o maior impacto na resolução dos principais problemas sociais” e defendiam que uma das grandes ambições desta geração é ser parte ativa nesse processo. Uma visão também corroborada pelo partner da Deloitte que acrescenta que “para conquistar a confiança e lealdade destas gerações, as empresas devem encontrar formas de impactar positivamente as comunidades locais e forcar-se em questões como a diversidade, inclusão e flexibilidade”.

Organizações com um propósito e líderes com forte vocação social são parte do caminho para reter uma geração que em breve dominará o mercado de trabalho mundial. A outra parte, conclui o estudo, passa por “conduzir uma atividade que seja capaz de gerar um impacto positivo na sociedade e no ambiente, ser um acelerador de ideias, produtos e serviços inovadores, ter um plano de carreiras que desenvolva e melhore, na prática, a vida dos seus profissionais e construir um ambiente de trabalho inclusivo”.»
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O truque dos 50% de IRS



«Por estes dias o Governo português transformou-se em David Copperfield e tentou fascinar-nos com um truque de ilusionismo: os portugueses qualificados que tivessem emigrado durante os tempos austeros de Passos Coelho, iam ser motivados a regressar.

Qual é o doce? Pagar só metade do IRS. Não se imagina que, nesse mesmo dia, milhares de emigrantes se tenha dirigido a correr para as embaixadas portuguesas no mundo para regressarem a Portugal perante tão generosa oferta. É um logro. É a outra face da moeda da política de incentivo à emigração de quadros qualificados fomentada pela troika e por Passos Coelho, quando achavam que Portugal deveria ser um país onde, por via da mão de obra barata, íamos concorrer com os fornecedores do Sudoeste Asiático. Dessa desastrosa ideia ficaram os salários baixos, mas não surgiu o investimento. E Portugal tornou-se ainda mais pobre, económica, científica, social e culturalmente devido a essa política que se tornou um dogma. Agora a mão que diz querer emendar o passado percorre os mesmos caminhos: como é possível incentivar o regresso com truques mágicos como este? Quem tem um salário decente na Europa, com perspectivas de futuro, irá trocar isso por um país onde é impossível viver nos centros urbanos devido ao preço da habitação, com tempo de transporte insuportável de casa para o trabalho, sem qualidade de vida, com baixos salários, e sem investimento visível no talento ou na criação de condições para a investigação, ou outras? Uma quimera. Vamos continuar a gastar alegremente dinheiro público e privado para criar quadros que irão embora?

Nada de novo por aqui. A emigração sempre foi a nossa indústria mais produtiva. Basta pensarmos nos dados de início da década de 1970: só para França seguiram, em 1970, 255 mil portugueses e 218 mil em 1971. Era a época da política de portas abertas do Estado Novo, depois de, até 1965, emigrar ilegalmente ser um crime. A emigração passou a ser vista como um factor de progresso e desenvolvimento. E não o investimento em áreas determinadas. A situação vinha do passado: em 1916, Bento Carqueja calculava que, nos anteriores 40 anos, 900 mil portugueses tinham abandonado o país. O Brasil era, na maior parte, o destino. Razão? Alexandre Herculano já o dizia há muito: "a insuficiência dos salários entre nós", escrevia nos "Opúsculos". Mais: "a miséria de um ou de outro indivíduo pode derivar da culpa própria: a que expulsa uma parte notável da população de um país, onde esta, considerada colectivamente, está longe de superabundar, é sempre resultante de um defeito ou de uma perturbação nos órgãos da sociedade". Poucos anos depois Oliveira Martins escrevia: "a emigração portuguesa é o barómetro da vida nacional, marcando nas suas oscilações a pressão do bem-estar metropolitano". Mais: o "mau negócio" da emigração era "uma fatalidade desde que nós não sabemos governar, nem soubemos resolver o problema fundamental da nossa economia demográfica". Nada mudou. E a culpa não é de quem emigra.»

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30.8.18

Educação: e se não gozassem connosco?




Até fui ver a data da notícia. É de ontem, diz respeito a Portugal e este homem é mesmo parecido com o ministro da Educação! Ainda não saíram as listas de colocação de professores, continua a saga com os vouchers dos livros para as crianças, há alunos que ainda nem sabem em que escola serão colocados, etc., etc.

P.S. - Entretanto saíram esta tarde as listas de colocação de 20.000 professores. No dia 3 de Setembro, têm de se apresentar nas escolas onde foram colocados, por vezes a dezenas ou centenas de quilómetros de casa. Têm 6ª feira e o fim de semana para reorganizarem a vida e a da família, com tudo o que isso implica.


«Mais tout va bien, Madame la Marquise.»


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Dica (803)




«Young people can see the president’s tweets as jokes, but they still often share his negative feelings about the press. (…)
Teenagers, in particular, appear to be increasingly questioning the credibility and value of traditional media organizations. In interviews with “The Atlantic”, teens expressed great skepticism about the accuracy of the mainstream media, reiterated Trump’s biased characterization of many news sources, and said the president’s outrageous tweets have become so much a part of everyday life that they’ve morphed into catchphrases.»
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Altos cargos e pequenos homens



«O famoso discurso proferido pelo presidente Lincoln na inauguração do cemitério nacional de Gettysburg, a 19 de novembro de 1863, quatro meses depois da grande batalha travada nesse local, e 18 meses antes do final da sangrenta Guerra Civil norte-americana, é a marca de água de um grande homem. São 272 palavras proferidas em menos de dois minutos, por um líder político que refundou os EUA, reinventou a instituição do presidente federal e reacendeu, temperado com o custo do seu sacrifício supremo, o farol mítico da atração universal dos EUA.

O recente discurso de Mário Centeno, na condição de presidente do Eurogrupo, durou um minuto e dez segundos, ligeiramente menos do que a alocução de Lincoln, mas o seu significado não poderia ser mais oposto. Pelas suas palavras e pelos seus atos, Lincoln elevou-se muito acima do importante cargo de presidente dos EUA, que também pode ser apoucado como ocorre agora com Donald Trump a uma escala que julgaríamos impossível.

Os grandes líderes são sempre maiores do que os cargos que ocupam, mas no caso de Mário Centeno, o economista português que criticava as limitações estruturais da zona euro e que exibia os erros e os sacrifícios inúteis das medidas de austeridade, eclipsou-se completamente. O que se viu e escutou foi um Jeroen Dijsselbloem ou um Wolfgang Schäuble a falar usando o rosto do ministro português como máscara.

Contudo, uma mensagem diferente não teria sido uma missão impossível. Centeno poderia ter atenuado o estilo simplificador do publicitário que exalta a qualidade do produto, neste caso a alegada recuperação económica e política da Grécia, subestimando a imensa dor e os danos irreversíveis causados por uma década maldita. Mas o que é verdadeiramente imperdoável, e constitui uma irreversível confissão de irrelevância por parte de Centeno, é a pequena frase em que o presidente do Eurogrupo atribui as causas das desgraças helénicas exclusivamente às suas "más políticas do passado" (bad policies of the past).

Para deixar o campo aberto para outras leituras, Centeno poderia ter referido sobre a ação da troika algo como "erros de um processo de aprendizagem", ou até mencionado "responsabilidades partilhadas".

Todavia, ao ilibar totalmente as instituições europeias (Conselho Europeu, Comissão Europeia, Banco Central Europeu, Eurogrupo, Parlamento Europeu), bem como os grandes países, Alemanha e França, de qualquer ónus no mais repugnante processo de humilhação e empobrecimento de um povo na Europa desde 1945, Centeno fez recuar o relógio da União Europeia até 2008.

Como se não tivéssemos aprendido nada e tudo tivesse sido esquecido, como se o sofrimento passado tivesse sido inútil perante as imensas tarefas que a nau europeia terá de assumir se não quiser naufragar nas tormentas que se aproximam.

A tragédia grega foi a primeira demonstração inequívoca do erro matricial da zona euro, um erro contra o qual o chanceler Kohl advertiu no Bundestag, em novembro de 1991: uma união monetária não sobreviverá se não for suportada por uma união política. Quando George Papandreou, num gesto de lisura kantiana, revelou a realidade das contas públicas gregas no final de 2009, em vez de receber aplauso e solidariedade foi submetido ao fogo cerrado do longo holocausto da austeridade e do esbulho helénicos.

Centeno mostrou que pode subir ainda mais alto. Merece a confiança desta elite europeia que odeia a verdade e exulta com o preconceito.»

29.8.18

Irresistível


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O papa no seu labirinto




«Es curioso que la jerarquía conservadora solo haya pedido la renuncia de dos Papas de la era moderna. Lo hicieron los cardenales de la curia con Juan XXIII cuando anunció el Concilio Vaticano II. Quisieron deponerle por loco. Él acabó ganándoles la batalla. Hoy se intenta deponer a Francisco, justamente el más parecido al anciano Roncalli, considerado entonces más como un párroco que como Papa. Le faltaba la pompa hierática de su antecesor, el papa Pacelli.

Necesitará hacerlo con hechos. Ya no le bastarán las condenas verbales. Necesita entender para ello que la fuerza conservadora de la vieja curia puede ser más poderosa que su voluntad de remover los cimientos de la Iglesia. Tiene para ello que empezar a quebrar las piernas a esas estructuras con reformas concretas, empezando por la abolición del celibato obligatorio, la apertura a la mujer al poder de la Iglesia, así como a los laicos. Y hasta de deshacerse del viejo esquema rancio de la curia.»
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A China pula e avança




A China também é isto. Em Pequim ou Xangai? Não: perto de Tientsin, no Nordeste do país.

« Compreendida numa área de 120.000 m², com 312.000 m² de construção, o centro contempla um museu, uma biblioteca, um centro de artes performativas, um centro de atividades recreativas e um “corredor cultural”, entre outros.
O Centro de Artes Performativas, ocupando uma área de 24.829 m² inclui a impressionante quantidade de 1200 salas de ópera e 400 teatros experimentais “para responder às necessidades de performances culturais levadas a cabo na Nova Área de Binhai de Tianjin”.»
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O mundo ideal



«Karl Marx não tinha muita paciência para os socialistas utópicos que o rodeavam. Muitas vezes enxotava-os, porque as suas crenças o arrepiavam. Um desses utópicos acreditava que, num mundo ideal, o mar se transformaria em limonada. Marx, muito provavelmente, preferiria que ele se transformasse na casta Riesling, a sua preferida em matéria de vinhos. Mas, divergências ideológicas à parte (preferir limonada ou vinho pode ser o motivo para um divergência insanável num qualquer Comité Central), porque uma opção pode ser mais pura do que a outra, há muito que se discute como é possível criar na Terra o mundo ideal. Os políticos tentam-no, com os impostos de quem tem de os pagar em nome da democracia, dos serviços básicos do Estado e das reformas. E aí entramos noutro mundo de ruptura: o sonhador crê que a consciência e a ideologia determinam a política, quando o que na realidade decide a política são as necessidades, os mercados e o dinheiro que se tem. Pelo menos nos nossos dias. Os homens vivem com os pés na terra e não viajam apenas no mundo dos sonhos.

Mas isso não quer dizer que quem acredita num mundo ideal, ou próximo dele, deva ser atropelado pelo puro pragmatismo. Veja-se o que sucedeu há um par de dias. Luís Meira, presidente do INEM, veio dizer que era preciso arrancar a ferros ao Estado cada cêntimo. Até para comprar ambulâncias. Bem-disposta, Rosa Matos, secretária de Estado da Saúde, respondeu candidamente que faltarão sempre meios, porque não vivemos num mundo ideal. Pois não. Mas uma coisa é não vivermos nesse Olimpo e outra é sobrevivermos na miséria dita franciscana. Neste país tem de se pedinchar ambulâncias, comboios novos, alas pediátricas para hospitais e outras coisas que se julgavam básicas. E que não faziam parte desse inacessível mundo ideal. Até porque, até prova em contrário, julgávamos estar na Europa e não no Terceiro Mundo. Muitas vezes não faltam meios, ao contrário do que prega Rosa Matos. Pelos vistos, como se prova na outorga de donativos para Pedrógão, eles são é mal distribuídos.»

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28.8.18

Eu quero pagar o IRS por inteiro



«Eu quero pagar o IRS por inteiro, desde já porque não sou nem mais nem menos do que os outros, os meus iguais, conterrâneos, portugueses tão portugueses como eu e sem culpa nenhuma das políticas responsáveis pelo êxodo de centenas de milhares de pessoas ao longo dos últimos dez anos.

Por uma questão de justiça, e justiça social, ou não fosse o objectivo primordial dos impostos o melhorar de um país no seu todo, e perdoem-me a ingenuidade.

E quantas vezes será preciso repetir que o cerne foi sempre a falta de trabalho, de condições de trabalho, segurança no trabalho, a ausência de uma carreira e de um futuro digno desse nome?

Nunca, senhor primeiro-ministro, foi minha preocupação pagar menos IRS. Quem me dera à data, desempregado, desesperado, esfomeado, poder pagar IRS! Era sinal de que tinha trabalho, um meio de subsistência, não mais sendo necessário sair do país e de tudo o que amo, a praia, o mar, a família, os amigos, uma vida em troca de vida nenhuma.

Senhor primeiro-ministro, graças a um erro da senhora da secretaria na contagem do tempo de serviço, um colega meu não vai ascender ao segundo escalão e outro vai passar um ano sem concorrer para uma escola, tendo o segundo já entrado em contacto comigo para saber como se vai lá para fora. Em ambos os casos o sindicato já se meteu ao barulho, mas não se pode provar nada e o mal já está feito.

Poderá o senhor primeiro-ministro garantir igualmente a competência de quem connosco trabalhará uma vez de volta? Não me parece, e entre a certeza do desemprego e as dores de cabeça à nossa espera, o generoso desconto no IRS não é senão areia para os olhos, como se Portugal fosse um paraíso à beira-mar plantado, e é, mas só para alguns. E enquanto assim for, senhor primeiro-ministro, muito obrigado mas não, prefiro continuar a pagar os meus impostos lá fora, incluindo o IRS. E por inteiro.»

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Grécia – Crianças refugiadas tentam suicidar-se




Na Grécia, esse país que alguém felicitou recentemente por ter tido uma «saída limpa» da crise e que fica sozinha com refugiados nos braços.

«As Nações Unidas e o ministério da Saúde da Grécia já foram informados. Mas o representante do governo grego em Moria, George Matthaiou, atira responsabilidades para a União Europeia. "Nós não conseguimos lidar com isto. A situação na Grécia é conhecida. Quero ajudar, mas não posso fazer nada porque a União Europeia fechou as fronteiras".»
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«Good Bye, Lenin!», de novo, na ex-RDA




Muito interessante:

«La recreación de escenarios típicos de la RDA se emplea en Dresde para ayudar a residentes con demência. (…)
El muro cayó de un día para otro, y con él, un mundo de certezas incuestionables saltaron por los aires. Millones de ciudadanos tuvieron que adaptarse a marchas forzadas a un nuevo sistema de valores. La virtud, la disciplina, la lealtad… fue como si todo lo aprendido adquiriese de repente otro significado. La autoestima colectiva se resintió y en el plano individual, cada uno hizo su transición como pudo, con los mimbres psicológicos disponibles. Por eso, no es difícil comprender que los mayores experimenten una cierta sensación de confort cuando se reconocen en su antigua cotidianidad.»
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A nossa psicopátria



«Num dos seus mais consistentes discos, "Psicopátria", os GNR tinham um tema visionário, "Pós-modernos". Definiam os tempos vindouros, aqueles onde hoje vivemos. São tempos pouco sólidos, de valores que foram centrifugados. Cantava Rui Reininho: "Os pós modernos agarram na angústia/E fazem dela uma outra indústria". António Costa, antes de fazer a rentrée do PS em Caminha, foi dançar a Vilar de Mouros ao som desses mesmos GNR. Vivemos no mundo da política pós-moderna e por isso a imagem substitui, na generalidade das vezes, o conteúdo. Não há comboios para a maioria da população que tem de os utilizar no seu dia-a-dia? Azar. Eles existem, quando são necessários. António Costa não está só na sua dança: vivemos de monólogos de políticos, sem ideias e sem soluções, reféns de críticas ocas. Assunção Cristas critica o Governo porque "há pouco investimento público" nos comboios? Devemos rir ou apenas buscar o passado? A pós-modernidade é a mascote perfeita da política indígena. É por isso que António Costa pode surfar todas as ondas negativas e seguir, certeiro, rumo a uma nova vitória eleitoral. Rui Rio esqueceu-se da prancha em casa e Assunção Cristas tem uma prancha demasiado vistosa para conquistar o eleitorado centrista. Por isso Costa vai aprovar o OE de 2019, nesta ópera bufa, em que o BE foi encostado à parede com o "caso Robles" e agora tem de ir para Paris para criticar Mário Centeno por este ter comprado um fato no pronto-a-vestir de Bruxelas e achar que agora fica um verdadeiro homem do mundo. E o PCP refugia-se na sua guerrilha habitual, para ganhar algo e para não perder tudo.

António Costa gere com habilidade a nossa psicopátria. Consegue iludir-nos, dizendo que a austeridade já acabou. Quando todos sabemos que a pobreza continua: olhe-se para a CP, para o SNS, para o nível salarial da maioria dos portugueses. Portugal é o exemplo mais perfeito desta política pós-moderna dos nossos dias: onde todos rejeitam responsabilizar-se pelas suas próprias decisões. Por isso, António Costa pode dançar.»

Fernando Sobral
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27.8.18

Cada vez menos coisas me impedem de cair em mim…


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A revolta dos rohingya




A tristeza e a revolta que isto tudo me dá! Num dos mais belos países em que já estive, ainda por cima, e quando tanto era esperado da «Senhora», como carinhosamente chamavam a Aung San Suu Kyi. 
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Respostas imaginárias, manobras eleitorais para parolos


Neste caso, à ideia peregirna, à qual voltarei, de reduzir IRS e outras tonterias a emigrantes que regressem à pátria.

De uma amiga, com dois filhos emigrados:

«Não lhe perguntei nada mas, virtualmente, o meu filho manda dizer que agradece, mas não vai regressar a Portugal para beneficiar do desconto no IRS. Para ganhar o que ganha lá fora, teria provavelmente de se inscrever nalguma jota ou ser primo de um político bem colocado, o que realmente não é o caso. Além disso, sente-se realizado, "faz bem ao mundo", e adora conhecer novos povos e culturas.
Já a minha filha não manda dizer nada porque vive no estrangeiro há 15 anos e, nem faz tensões de regressar, nem está dentro das condições.»
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O Serviço Nacional de Lucro



«No país mais rico do mundo, há dezenas de milhões de pessoas que não têm acesso a cuidados de saúde. Essas pessoas têm a liberdade de escolher qual o hospital que não vão conseguir pagar. No mesmo país, famílias remediadas arruínam-se em batalhas ganhas ou perdidas contra a doença de um familiar. Essas famílias têm a liberdade de escolher entre a casa ou a saúde de um dos seus.

É esta a realidade por detrás da liberdade de escolha. Os Estados Unidos da América, o país em que as ideias da direita sobre a saúde foram mais longe é o país que gasta mais em saúde. Quando comparados com outras nações ricas, os EUA gastam mais 25% per capita em paridades de poder de compra do que a Suíça e quase o dobro da Alemanha. E esta diferença tem aumentado desde os anos 80. Um sistema que gerou a maior e mais lucrativa indústria de saúde do mundo.

Qual o resultado deste investimento massivo? Um estudo recente da Organização Mundial de Saúde dá a resposta: com base num painel de indicadores de saúde, os Estados Unidos eram classificados como o 37º sistema de saúde do mundo, a seguir à Costa Rica. Portugal era o 12º. Não admira que a indústria da saúde norte-americana gaste uma fortuna em lobbying, “investigação” paga a peso de ouro ou no suborno mais ou menos descarado.

Cada um, cada família, faz as escolhas individuais que o seu rendimento permite, escolhas frequentemente trágicas. Escolhas necessárias porque uma outra escolha colectiva continua por fazer: a escolha de uma comunidade por serviço nacional de saúde que proteja a todos, orientado por prioridades de saúde pública e não pelo lucro.

Foi essa a escolha que fizeram muitos países europeus no pós-guerra. Foi essa a nossa escolha, ou melhor, a escolha da esmagadora maioria e de toda a esquerda portuguesa. Nunca foi a escolha da direita e não passa um governo, um mandato, uma liderança, em que não sejamos recordados desse facto.

O PSD apresentou a sua proposta de reformulação do SNS. Na prática, trata-se de uma extinção. A proposta é simples: o Estado deve pagar a provisão de serviços privados de saúde. Um negócio feito à medida da nossa elite económica. O privado gasta, assegura a sua margem, o Estado paga. Risco privado? Nenhum. Controlo público? Também nenhum. Os privados concentram-se nos serviços rentáveis, o Estado fica com os outros. Não é muito diferente do que o CDS anda a propor para a ferrovia. Só que aqui o negócio é a vida das pessoas.

Resta saber qual será a resposta da maioria. O grupo de trabalho do governo começou da pior maneira com a nomeação de Maria de Belém, consultora do Grupo Privado Luz Saúde. Continuou com o apelo do Ministro da Saúde ao PSD: “O país ganharia muito com um acordo que fosse alargado”.

Talvez o maior activo político da história do Partido Socialista seja a criação do SNS. Em 1979, o PS não teve problemas em avançar com essa proposta, mesmo sem direita, alargando o consenso à esquerda e, sobretudo, à esmagadora maioria das pessoas que continuam a ver o SNS como uma das mais belas e importantes construções da nossa democracia. Conseguiremos fazê-lo outra vez?»

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26.8.18

Cristina Ferreira?



Quando o comentador ao serviço da Nação, Marques Mendes de seu nome, dá os parabéns à SIC pela aquisição de Cristina Ferreira, considerando-a a notícia da semana pelo seu enorme impacto, e felicita a própria pelo apreço que lhe merece a sua enorme subida a pulso, percebes que é preferível não escreveres mais nada hoje.
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Papa: pedidos de perdão piedosos




O papa pede perdão, há já quem queira mesmo a sua demissão acusando-o de ter conhecimento dos factos há cinco anos, etc., etc. E depois? Outro papa virá, e mais outro e mais outro.

Eu sei que se está a falar de pedofilia, mas será que não se entende que as crianças são as vítimas mais fáceis enquanto existir o absurdo celibatário obrigatório para os padres?

Para quando um «levantamento» mundial contra estas aberrações? As crianças abusadas não são propriedade da Igreja!
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Isto é importante




«When the reading brain skims texts, we don’t have time to grasp complexity, to understand another’s feelings or to perceive beauty. We need a new literacy for the digital age.(...)

We need to cultivate a new kind of brain: a “bi-literate” reading brain capable of the deepest forms of thought in either digital or traditional mediums. A great deal hangs on it: the ability of citizens in a vibrant democracy to try on other perspectives and discern truth; the capacity of our children and grandchildren to appreciate and create beauty; and the ability in ourselves to go beyond our present glut of information to reach the knowledge and wisdom necessary to sustain a good society.
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Toda a gente mente



«A verdade é que toda a gente mente. Nos inquéritos, em entrevistas e nas restantes formas de expressar opinião sobre os mais diversos assuntos. Mentimos aos amigos, aos namorados, aos médicos, aos sondageiros e a nós próprios. Mas se, até recentemente, mentíamos correndo poucos riscos de sermos apanhados, agora, com a utilização que damos aos motores de buscas, somos facilmente apanhados pela verdade. E esta é, em muitos aspetos, bem diferente do que imaginamos ou desejamos. É esta a asserção de partida do estimulante livro do analista de dados Seth Stephens-Davidowitz, “Everybody Lies”. A chave do livro está, aliás, no subtítulo: “O que a internet nos pode dizer sobre quem na realidade somos”.

Se, até recentemente, o conhecimento sobre os nossos comportamentos sociais, políticos ou a nossa psique assentava em estudos qualitativos com pequenas amostras e métodos indiciários ou análises quantitativas, mas cuja validade dependia sempre da forma como quem era inquirido respondia, com a big data vivemos uma verdadeira revolução coperniciana. O Google, por exemplo, foi criado para facilitar o acesso à informação, mas transformou-se num repositório infindável de conhecimento sobre quem de facto somos. Isto porque revelamos nas nossas buscas aspetos que não contamos de forma franca a mais ninguém.

Explorando as buscas no Google, mas, também, em motores de busca de pornografia, assim como o que é revelado nos perfis nas redes sociais, a título de exemplo, Stephens-Davidowitz confirma preconceitos e desafia mitos arreigados sobre posicionamentos políticos (os estudos de opinião davam a vitória a Hillary, mas bastaria ter atentado nas buscas com pressupostos racistas para antecipar a vitória de Trump nas circunscrições decisivas); sobre preferências clubísticas (um preditor de quem apoiamos em adulto é a equipa que venceu no ano em que completámos oito anos); ou sobre sexualidade (os fãs de Judy Garland no Facebook têm forte inclinação por sites gay e as mulheres são particularmente propensas a vídeos com sexo violento).

O propósito de Stephens-Davidowitz é suportar com evidência apelativa e contraintuitiva que a big data abre uma porta radicalmente nova para o conhecimento de quem somos, revelando uma sociedade diferente da propalada nos media e por académicos. Mas se este admirável mundo novo do conhecimento deve ser encarado com ceticismo (a forma como os algoritmos, ao restringirem as nossas escolhas e margens de liberdade, são, de facto, armas de destruição em massa), acaba, também, por demonstrar que as grandes hipóteses aventadas pelos mais marcantes pensadores sociais, sobre as determinantes materiais dos nossos comportamentos (Marx), o poder, a sexualidade e a infância (Foucault e Freud) ou a ação social (Weber e Durkheim) revelam-se bastante robustas, mesmo perante novas e insondáveis revelações.»

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