17.9.16
O Titanic de Bratislava
«Com pompa e fanfarrra 27 líderes da União Europeia reuniram para debater de modo informal o futuro da União.
Tendo reconhecido previamente que a situação era grave poderia esperar-se (se não fosse aquilo que se sabe de tantos anos) que este fosse o início de um momento refundador.
Nada mais errado. A Declaração de Bratislava, resultante da reunião é dura em matéria securitária e sobre os refugiados, mas quanto ao resto, como cantava Dalida, paroles, paroles...
É particularmente estranho verificar que numa cimeira informal, o tempo de trabalho fosse tão pouco. Quando muito e se todos os presentes falassem (o que não é seguro) poderiam fazê-lo por um período de 5 a 7 minutos.
O resultado é claro: não houve qualquer debate, mas um mero visto a um documento no pior estilo da parelha Hollande Merkel.
E, assim, os líderes tiveram tempo para visitar uma galeria de arte e fazer um cruzeiro no Danúbio.
Este foi seguramente um cruzeiro TITANIC mas, pelos vistos, só o perceberam o déspota húngaro, que tentou afundar ainda mais o barco, e Matteo Renzi que marcou logo distâncias e marcou-as sozinho. Que pena.»
Eduardo Paz Ferreira no Facebook
. A maldição de Dédalo ou uma ideia de Europa que chega ao fim
«A União Europeia está, novamente, em turbilhão. Há um grupo de países que, de pleno direito, quer ter os mesmos direitos que todos os Estados-membros, isto é, quer o direito aos fundos comunitários, o direito à livre circulação dos seus cidadãos, dos seus produtos e dos seus serviços. Quer o direito a votar e a vetar decisões conjuntas. Quer o direito a ser parte de uma União Europeia de vantagens. Este grupo de países tem muito em comum entre si: partilha uma história, um mesmo espaço geográfico, os seus países partilham fronteiras e, nos últimos tempos, partilham ideias. Algumas destas partilhas são desafios para a Europa dos deveres, para a Europa dos valores. Para uma Europa sustentável. Para uma Europa coesa. Para uma Europa de futuro.
Há uma ideia que emerge que, pelo menos a mim, me assusta: a de que há direitos sem deveres e que há “velhos” valores europeus que já não fazem sentido na “nova” Europa. Que há “velhos Estados-membro” que são responsáveis pelas crises atuais e que “novos Estados-membro” são os ideólogos das soluções. O grupo de que vos falo chama-se Grupo de Visegrado e é composto pelos governos/governantes da Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia (não confundir com os povos destes países). A este grupo de 4 juntam-se, por afinidades eletivas, governantes de outros países (a Ucrânia, por exemplo) e têm um potencial de agregar em torno de si ainda outros países das mesmas geografias políticas e sociais.
O grupo de Visegrado prepara-se para defender na próxima Cimeira de Bratislava uma posição conjunta que podemos apelidar de um nacionalismo partilhado. Um nacionalismo protecionista partilhado. Um nacionalismo de oposição às migrações, aos refugiados e, no fundo, à diversidade que nos caracteriza enquanto UE a 28. Impedir a chegada, trânsito ou permanência de migrantes étnica ou religiosamente distintos das suas populações é um ponto de união entre este grupo de 4. Desafiados pela história de uma Europa sem Fronteiras, os membros do grupo de Visegrado escolheram um caminho de porta fechada. Chamados a construir, em conjunto, uma Europa de valores, rejeitam ser solidários face aos outros Estados-membro e cerram fileiras protecionistas quanto à liberdade de circulação de seres humanos. Não aceitam acolher refugiados. Opõem-se à recolocação dos requerentes de asilo que já estão na União Europeia. São contra o caminho seguido até aqui. Tudo está errado nas políticas europeias de migrações. Nos seus discursos referem-se a Átila, o huno, como o antepassado da horda de refugiados e migrantes que agora querem invadir a Europa. Não têm pejo de associar refugiados e terrorismo, migração e medo. Não querem mais. Querem menos. Menos estrangeiros, menos muçulmanos, menos integração, menos diversidade.
Podíamos pensar que estão no seu direito mas, na verdade, não estão. A sua posição conjunta é um desafio aos deveres conjuntos dos 28 Estados-membro mas é, sobretudo, um desafio inaceitável à nossa história comum, ao humanismo europeu, aos nossos deveres conjuntos enquanto cidadãos de um espaço humanista.
As migrações são, claramente, um colossal desafio para a Europa atual. Não são um desafio pelo número. Não são um desafio pelo seu impacto económico ou social. São um desafio porque estão a gerar um discurso de ódio protecionista, de ódio nacionalista e de oposição à diversidade. Em Bratislava (e nas cimeiras que se seguirão) ou fechamos a porta aos migrantes e refugiados (como pretende o grupo de Visegrado) ou somos capazes de encontrar um consenso entre os medos e as necessidades de seres humanos iguaizinhos a nós. Se aceitarmos o medo, o protecionismo nacionalista, o discurso populista e fácil de quem tem uma solução, então, estamos condenados a perder este desafio. A um desafio colossal só a coragem da generosidade será capaz de fazer frente. Não há outra opção que não seja deixar a porta aberta às migrações, aos refugiados, à diversidade. Recordo que, se fecharmos os muros à nossa volta, ficamos presos do lado de dentro.»
Pedro Góis
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16.9.16
Dica (391)
«Em entrevista à Lusa durante a visita a Portugal, o coordenador do governo grego para os refugiados e ministro adjunto da Defesa criticou os países que erguem muros em vez de acolherem refugiados.»
. Quem não tem cão caça com gato
Parece ser o caso de Passos Coelho: como já nem aparece na lista das 30 Caras do Poder, escolhidas pela TVI, faz pela vida, apresenta lixo do pior.
Operação Marquês de Sade
«Finalmente o super-juiz deu-se a conhecer ao mundo. Numa entrevista ao estilo concorrente da Casa dos Segredos (mal guardados), Carlos Alexandre, o juiz do caso mais famoso do país, não fugiu ao repertório habitual dos concorrentes da casa mais famosa do país, nos seus vídeos de apresentação, e que consiste em fazer de uma virtude o seu maior defeito. Um clássico é: "o meu principal defeito é ser demasiado honesto". Acho que a principal diferença entre os concorrentes da Casa dos Segredos e Carlos Alexandre - é só um palpite - é que os primeiros querem ficar na casa e o segundo está cheio de vontade de se pirar do caso.
A entrevista ao super juiz fez-me regressar ao meu velho livro de leitura da terceira classe, com duas procissões pelo meio. Fico à espera da entrevista de Carlos Alexandre adaptada para os nossos dias pelo Leonel Vieira.
Perceber que o super juiz é aquele senhor que leva as escutas para casa, e diz que tem muito poder, e que sabe muito mas não se assustem que ele não o usa para maldades, e logo a seguir usa esse poder para mandar bocas "que tem de trabalhar porque não tem dinheiro ou contas bancárias em nome de amigos", sobre um caso de que tem de ser parte neutra, é bastante assustador. É como descobrir que o Batman é taxista.
Eu não acredito nas amizades financeiramente generosas de Sócrates, mas também desconfio de um homem que diz não ter amigos e dá uma entrevista ao estilo Casa dos Segredos à SIC. Tem de ter pelo menos um amigo.
Pelo que fui ouvindo, acho que o simples, casto e espartano Carlos Alexandre, segundo a voz off - "filho simples de um carteiro e de uma tecelã"-, não resistia a um interrogatório do super-juiz Carlos Alexandre.
Super -juiz Carlos Alexandre: "Ora, o senhor Carlos diz que come pouco, é um salta refeições?"
Carlos: "Pois. Eu ganho mal e como espartanamente."
Super -juiz: "Que altura tem?"
Carlos: "1,69 m"
Super-juiz: "Tenho aqui uma entrevista sua onde diz que pesa 80 quilos."
Carlos: "Estou anafado..."
Super -juiz: "Portanto , quer-me explicar como é que come espartanamente mas tem 1,69m e pesa 80 quilos?! De onde é que vieram esses quilos?! São seus?! Não me diga que é porque o seu dia-a-dia é ouvir escutas e emprenha pelos ouvidos?!"
Carlos: "Juro que como como um pisco dos pequenos."
Super-juiz: "Passa fome?"
Carlos: "Às vezes. Fico com aqueles ruídos do estômago..."
Super-juiz: "Uma espécie de som de marulhar..."
Carlos: "Isso!"
Super-juiz: "Diz o senhor Carlos aqui numa entrevista que se sente escutado."
Carlos: "Sim. Quando falo ao telefone ouve-se um marulhar..."
Super-juiz: "Se calhar o senhor Carlos devia comer qualquer coisa antes de falar ao telefone, em vez de fazer acusações..."»
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15.9.16
Há um ano, o debate Catarina Martins / António Costa
Nessa noite, Costa não respondeu.
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Dica (390)
El secuestro de las urnas. (Elisa de La Nuez)
«Aunque resulte paradójico a medida que vamos repitiendo elecciones nuestro voto cada vez vale menos y con él nuestra democracia representativa. Quizás dentro de dos o tres convocatorias más nuestro voto valga incluso menos que la contestación que se le da al entrevistador de la encuesta de turno.»
. 15/16.09.1973 – Quando mataram Victor Jara
Victor Jara foi assassinado em 15 (ou 16) de Setembro de 1973, poucos dias depois do golpe em que morreu Salvador Allende.
No dia 11, estava nas instalações da Universidade, que foram cercadas por militares, sendo depois transportado para um Estádio transformado em campo de concentração, onde foi torturado e assassinado.
Poucas horas antes de morrer, escreveu o seu último poema – «Somos cinco mil» – que chegou até nós graças aos seus companheiros de cativeiro.
Somos cinco mil
Somos cinco mil aquí.
En esta pequeña parte de la ciudad.
Somos cinco mil.
¿Cuántos somos en total
en las ciudades y en todo el país?
Somos aquí diez mil manos
que siembran y hacen andar las fábricas.
¡Cuánta humanidad
con hambre, frío, pánico, dolor,
presión moral, terror y locura!
Seis de los nuestros se perdieron
en el espacio de las estrellas.
Un muerto, un golpeado como jamás creí
se podría golpear a un ser humano.
Los otros cuatro quisieron quitar
se todos los temores,uno saltando al vacío,
otro golpeándose la cabeza contra el muro,
pero todos con la mirada fija de la muerte.
¡Qué espanto causa el rostro del fascismo!
Llevan a cabo sus planes con precisión artera sin importarles nada.
La sangre para ellos son medallas.
La matanza es acto de heroísmo.
¿Es éste el mundo que creaste, Dios mío?
¿Para esto tus siete días de asombro y trabajo?
En estas cuatro murallas sólo existe un número que no progresa.
Que lentamente querrá la muerte.
Pero de pronto me golpea la consciencia
y veo esta marea sin latido
y veo el pulso de las máquinas
y los militares mostrando su rostro de matrona lleno de dulzura.
¿Y Méjico, Cuba, y el mundo?
¡Qué griten esta ignominia!
Somos diez mil manos que no producen.
¿Cuántos somos en toda la patria?
La sangre del Compañero Presidente
golpea más fuerte que bombas y metrallas.
Así golpeará nuestro puño nuevamente.
Canto, que mal me salescuando tengo que cantar espanto.
Espanto como el que vivo, como el que muero, espanto.
De verme entre tantos y tantos momentos del infinito
en que el silencio y el grito son las metas de este canto.
Lo que nunca vi, lo que he sentido
y lo que siento hará brotar el momento...
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O nosso homem em Belém
Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:
«O livro de Fernando Lima, ex-assessor de Cavaco Silva, tem uma qualidade da qual poucas obras se podem gabar: o final, apesar de não ser surpreendente, é extremamente satisfatório. No fim, Cavaco abandona a presidência e vai para casa. Há muito tempo que não lia uma hstória com um final tão feliz.»
Na íntegra AQUI.
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Desarranjos políticos
Serge Halimi, em Le Monde Diplomatique (ed. portuguesa), Setembro de 2016:
«Os Estados Unidos celebram em Setembro o Dia do Trabalho. Este ano, o dia terá sido marcado por algo invulgar. Muitos operários e empregados – brancos e masculinos, em particular – terão corrido para os encontros do candidato republicano. Donald Trump cultiva estes apoios fustigando os tratados de comércio livre que precipitaram a desindustrialização dos antigos bastiões industriais do país (…). E que trouxeram, com ela, a desclassificação, a amargura e o desespero do mundo operário. A «lei e ordem» que Trump promete restabelecer são também as da América da década de 1960, na qual, quando se era branco, não era necessário ter conseguido um diploma universitário para garantir um bom salário, dois automóveis por família – e até alguns dias de férias.
Que um multimilionário nova-iorquino com um programa fiscal ainda mais regressivo do que o de Ronald Reagan, e com práticas (fabrico dos seus produtos no Bangladeche e na China, emprego de pessoas sem-papéis nos seus hotéis de luxo) que contradizem a maior parte do que proclama, possa transformar-se em porta-voz do ressentimento operário mais se pareceria com uma aposta se o sindicalismo não tivesse sido enfraquecido. E se, desde há cerca de quarenta anos, os partidos progressistas ocidentais não tivessem constantemente substituído os seus militantes e quadros oriundos do mundo do trabalho por profissionais da política e das relações públicas, por altos funcionários e jornalistas protegidos numa bolha de privilégios.
A esquerda e os sindicatos efectuavam outrora um trabalho diário de educação popular, de constituição de redes territoriais, de «enquadramento» intelectual das populações operárias. (…) Este trabalho deixou de se fazer, ou faz-se menos bem. E vê-se quem é que beneficia com isso. As mobilizações sociais, faltando-lhes retransmissores políticos, enterram-se num dilúvio de polémicas identitárias mal marcam passo. E os assassinatos da Organização do Estado Islâmico precipitam este descarrilamento, a tal ponto que este grupo se tornou o principal agente eleitoral da extrema-direita no Ocidente. (…)
Em breve vão tocar os sinos para nos pedir que defendamos a democracia. Pois ela estaria mais bem segura se populações inteiras não a vissem como um ornamento ao serviço dos privilegiados que as desprezam.»
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14.9.16
«Diga-me, senhor presidente, não sente vergonha?»
Hoje, no Parlamento Europeu:
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Dica (389)
«Nada se resolve tirando a passadeira vermelha a Barroso». (Marisa Matias)
«Para Marisa Matias nada disto se resolve “tirando a passadeira vermelha” até porque a Goldman Sachs sempre teve essa passadeira e continuará a tê-la para a concretização dos seus interesses junto da União Europeia.»
. MPLA: um livro no banco dos réus
Agora que a questão angolana já saiu da nossa agenda mediática, vale a pena ler um texto de Carlos Pacheco, historiador luso-angolano, no Público de hoje: Um livro no banco dos réus: triste espectáculo do MPLA. (Note-se que não conheço nem o autor, nem o livro, mas não é isso que está aqui em questão.)
Alguns excertos:
«Hoje em dia o MPLA como antigo movimento de rebelião que se alçou em armas contra a “intrusão intolerável” do colonizador para defender os direitos pátrios dos angolanos pouco se distingue do inimigo colonialista que combateu. Com iguais tiques de arrogância e poder ergueu uma fronteira cerrada à sua volta e obstina-se em ser o único porta-voz da linguagem do independentismo e em se atribuir a si a prerrogativa de posse de todo o conhecimento da história da luta armada de libertação nacional. Pela ameaça e pela repressão fixou a preeminência dos seus direitos ao arrepio dos direitos dos outros. Um espectáculo lamentável que Albert Camus definiria como espectáculo da “sem-razão” ou do absurdo. (…)
Exemplo paradigmático é o livro por mim publicado recentemente, Agostinho Neto, o Perfil de um Ditador. A História do MPLA em Carne Viva. (…)
No meu caso concreto, imputou-se-me o “delito” de incorrer em crenças alheias à pátria angolana e de ser um saudosista do colonialismo. Mas não bastasse este alarde agressivo de chauvinismo e autoritarismo, ainda se tentou amortalhar a obra com a etiqueta abjecta de “insulto ao povo angolano”, como se o MPLA fosse o detentor da arca mágica da vida ou tivesse a representatividade exclusiva de falar em nome da totalidade de milhões de homens e mulheres que compõem a realidade histórica e social de Angola. (…)
Em resumo, o Partido-MPLA coloca-se acima das leis, do país e dos cidadãos e imiscui-se em esferas de actividade que não lhe dizem respeito. Os políticos devem ocupar-se da política e deixar aos historiadores, literatos e a outros profissionais de humanidades o exercício do seu mister. (…)
Ora o discurso da mais alta instância do MPLA é também um regimento de palavras, só que de palavras burlescas e sobranceiras, próprias de quem detém a vara do mando há muito tempo e abusa dela em demonstrações políticas de desprezo e descortesia. Fui condenado em praça pública de modo injusto e tirânico sem que os meus juízes tivessem, ao menos, o cuidado de ler o meu livro com escrúpulo e espírito hermenêutico segundo a história. Ao invés, numa exibição de proselitismo exacerbado, tiraram conclusões apressadas a partir de fragmentos saídos na comunicação social. Esqueceram-se esses “juízes” partidários que as leis fundamentais da República são civis e o Bureau Político ou qualquer outro órgão superior de direcção, incluindo o mais alto representante do aparelho de Estado, se subordinam a tais instrumentos jurídicos. O Partido não impera sobre as leis, tal como imperavam os reis nos sistemas monárquicos absolutos. De acordo com o princípio constitucional da dignidade, as leis prescrevem que todo o cidadão é credor do respeito incondicional à sua dignidade e que este princípio é concretizado no direito à identidade, mas acima de tudo no direito ao bom nome. Ao usar de termos iníquos, o Bureau Político arbitrariamente calcou todos os pressupostos e consequências que dão substância a esta matéria jurídica.»
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13.9.16
Aos vindouros, se os houver...
Vós, que trabalhais só duas horas
a ver trabalhar a cibernética,
que não deixais o átomo a desoras
na gandaia, pois tendes uma ética;
que do amor sabeis o ponto e a vírgula
e vos engalfinhais livres de medo,
sem peçários, calendários, Pílula,
jaculatórias fora, tarde ou cedo;
computai, computai a nossa falha
sem perfurar demais vossa memória,
que nós fomos pràqui uma gentalha
a fazer passamanes com a história;
que nós fomos (fatal necessidade!)
quadrúmanos da vossa humanidade.
Alexandre O'Neill, Poemas com Endereço
Manso é o tio deles
«Não resisto a deixar uma nota de espanto ao ver tanta nostalgia do suposto radicalismo do Bloco. Se bem me lembro, ainda ontem era a causa da sua inutilidade política - um partido de protesto sem capacidade para influenciar a governação - ou, na tese de Passos, a causa da instabilidade política do país.(...)
Não estamos mansos, só não nos distraímos do que viemos cá fazer.»
. A borboleta de Cristas
«Foi Edward Lorenz, matemático e meteorologista do MIT, que usou metaforicamente o exemplo de que um furacão poderia ser influenciado pelo bater de asas de uma longínqua borboleta.
Nasceu assim o "efeito borboleta" na teoria do caos: o princípio de que pequenas causas podem ter grandes efeitos. O anúncio da candidatura de Assunção Cristas à presidência da Câmara Municipal de Lisboa é um bater de asas de borboleta à nossa dimensão. No CDS não haverá nenhum desmoronamento ou inundação: Cristas testa a sua liderança e o valor relativo do partido em futuras contas de uma qualquer coligação; e aproveita a mais sólida oposição à presidência actual da CML como catapulta. O furacão causado por esta borboleta sentiu-se sobretudo na sede no PSD. Passos Coelho, como sempre, usou a sua típica ironia desastrada na resposta, mas isso não disfarça a batata quente que agora saltita nas mãos dos dirigentes sociais-democratas. Sem coligação será difícil desalojar Fernando Medina e Manuel Salgado (nunca se percebe quem é o verdadeiro presidente da CML).
Agora, com Cristas a marcar o seu território, o PSD precisa, para se afirmar como o grande partido da oposição, de ter uma candidatura muito forte. Suspira-se por Santana Lopes, mas atravessará este o Rubicão? Até agora, em Lisboa, o PSD tem sido afónico, quando comparado com o CDS. Este tem colocado o executivo de Medina na defensiva, impondo questões incómodas e mostrando estar informado e preparado para discutir parte dos assuntos que interessam aos lisboetas que estão a ser escorraçados da capital. Sem um candidato galvanizador e conhecedor do terreno, o PSD parecerá um Calimero. Se tem sido um pintainho infeliz na oposição a Medina será apenas uma galinha tonta entre este e Cristas. Não é um problema menor: em Lisboa e no Porto a liderança do PSD testa-se a si própria. E não pode continuar à espera que chegue um salvador qualquer daqui a uns tempos para ganhar Lisboa. Cristas impôs o calendário. Saberá Passos evitar o furacão?»
Fernando Sobral
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12.9.16
Dica (387)
Análise ou vontade. (José Pacheco Pereira)
«Uma das coisas que mais me diverte é ver alguns comentários a destilarem tristeza e nostalgia com o PCP e o BE dizendo qualquer coisa como "olhem como eles eram e vejam como eles são". Bizarras saudades, não dos partidos poderosos e reivindicativos, mas dos tempos em que eles estavam fora do poder e esbracejavam impotentes na oposição. Ah!, como a gente os percebe!»
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12.09.1924 – Amílcar Cabral
Nasceu na Guiné (Bafatá), em 12 de Setembro de 1924, fez o liceu em Cabo Verde, veio mais tarde para Lisboa onde se licenciou em Agronomia. Em 1956 foi um dos fundadores do PAIGC, partido que liderou e que, em Janeiro de 1963 declarou guerra contra o colonialismo de Portugal. Dez anos mais tarde, em 20 de Janeiro de 1973, assassinaram-no em Conacri.
Foi precisamente em Conacri (1969) que esta entrevista teve lugar:
Vale a pena percorrer um riquíssimo arquivo, recuperado e tratado pela Fundação Mário Soares, a pedido das autoridades guineenses e caboverdeanas e com o especial empenho de Aristides Pereira, Iva Cabral e Pedro Pires. Encontra-se na «Casa Comum», site criado por aquela Fundação, e pode ser consultado a partir daqui.
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Prémios também servem para isto
«O actor Nuno Lopes dedicou o prémio conquistado no Festival de Veneza aos habitantes dos bairros da Bela Vista e Jamaica, que “tiveram de lutar contra o grande dragão da austeridade que foi imposto ao nosso país pela Europa cobradora de dívidas”.»
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Feminino e liberdade
«Choca-me a acusação de islamofobia àqueles que criticam e combatem as ideias e práticas islâmicas sobre as mulheres e os costumes. O Alcorão não é aqui relevante para o caso. É certo que no seu versículo 34 do Capítulo IV (entre outros) as mulheres são claramente diminuídas relativamente aos homens (embora mesmo aí os intérpretes divirjam). Mas seria fastidioso enumerar as passagens bíblicas em que isso também ocorre e penso ser escusado lembrar que, em Portugal, as mulheres só passaram a ter direito a voto em 1968. (…) O problema das religiões com as mulheres não é, portanto, um exclusivo dos islamismos, nem sequer dos monoteísmos.
Mas sim, quer o sunismo, quer o xiismo dominantes atuais, tal como o catolicismo pré-Vaticano II, são claramente misóginos e homofóbicos. Entretanto, o cristianismo misógino, tendo sido vencido pelo iluminismo oitocentista e pelo liberalismo e constitucionalismo democrático e laico daí decorrentes, está hoje, graças ao combate dos liberais e à derrota Católica, claramente atenuada e em dissolução. Esse ainda não é o caso de uma parte muito importante do islamismo. Mas espera-se que isso venha a ocorrer no futuro. Sim, a misoginia e a homofobia islâmicas, com origem no ethos social e cultural islâmico, é um mal que deve ser derrotado. (…)
A ideia segundo a qual a eliminação do feminino e das mulheres (porque é isso o que representa a eliminação do rosto e do corpo femininos na esfera pública) decorre da inspiração ou devoção religiosa, islâmica ou outra, não resiste à crítica racional. E aqueles que fazem a apologia do respeito ou indiferença pela desrazão e pela indignidade talvez devessem, também, voltar às catacumbas da Inquisição. Na verdade, ninguém sabe onde isto pode ir dar. Por isso mesmo é que o combate a favor da liberdade e da igualdade continuam a ser fundamentais. (…)
O racismo e o fascismo são desprezíveis e perigosos mas a liberdade de expressão do si mesmo nunca será verdadeira liberdade se só permitir a expressão de ideias dignas (descontando o debate sobre o que isso seja). O mesmo vale, bem entendido, para as ideias misóginas e homofóbicas, que não podendo, nem devendo, ser proibidas, devem ser combatidas cultural e politicamente.
Sim, a misoginia islâmica expressa pelos diferentes véus islâmicos deve ser combatida porque corresponde à expressão pública, e ao proselitismo cultural, de práticas e ideias indignas e contrárias aos direitos humanos fundamentais. Mas não pode nem deve ser proibida, descontando, bem entendido, necessidades securitárias e a salvaguarda pedagógica das crianças e jovens perante ideias e práticas contrárias à dignidade humana.»
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11.9.16
Para quê este tipo de discurso, dr. António Costa?
Mas a verdade é que há 3 anos consecutivos que o número de entradas na Universidade, nesta 1ª fase, cresce! E, este ano, só se registaram mais 890 do que em 2015.
Tiradas deste tipo são tão inúteis e tão cansativas…
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Santiago, há 43 anos
11 de Setembro de 1973 foi uma data trágica para o Chile, o dia em que o regime democrático foi derrubado por uma acção conjunta dos militares e outras organizações chilenas, com o apoio do governo dos Estados Unidos e da CIA.
Salvador Allende afirmou, bem antes desse dia, que estava a cumprir um mandato dado pelo povo em 1970 e que só sairia do palácio depois de o cumprir. Ou que o faria «com os pés para diante, num pijama de madeira». Assim aconteceu.
Depois, foi o que é conhecido: 30.000 chilenos foram assassinados durante o regime de Pinochet.
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NY, 15 anos depois
O One World Trade Center, com 102 andares, aberto ao público em Maio de 2015. Perto do 9/11 Memorial, nele se encontra o One World Observatory, com 360º de vista sobre NY. Com o requinte das novas tecnologias, é possível localizar e focar, num tablet, cada edifício ou espaço importante de Manhattan e ver, em detalhe, a sua estrutura, história e funcionalidade.
. Hoje soube-me a pouco
«Nas televisões e seus dramas quotidianos, incêndios, desavenças, crimes e outros desastres naturais e artificiais, nunca faltam os depoimentos dos chamados populares. Gente que o acaso fez estar à hora errada no local errado, e assim, indefesa, é apanhada pelos diretos e perguntas triviais do jornalista de serviço.
O resultado é invariavelmente dececionante. Não tanto porque raramente se acrescenta alguma informação útil, mas sobretudo porque a prestação individual destes figurantes é quase sempre desanimadora. A maioria tem dificuldade em articular um discurso coerente, dar uma opinião fundamentada, enfim, tanta vez, simplesmente dizer alguma coisa que passe das interjeições.
Quarenta anos passados do 25 de Abril é frustrante perceber que uma parte considerável da nossa população pouco evoluiu no campo da cultura, da educação, do civismo. Os maiores de 60 anos andaram na escola do fascismo e viveram a miséria da ditadura, mas a maioria dos citados interlocutores das televisões já frequentaram a escola da democracia. A diferença existe, mas não é tão acentuada como se esperaria. O que falhou?
A escola democrática não foi capaz de alterar comportamentos e saberes. O meio ambiente e a miséria acabaram por sobrepor-se favorecendo a ignorância e a rotina. Com destaque para a débil situação económica de muitos portugueses que teima em não melhorar. (…)
O problema não é objetivamente dos pobres. Mas das elites. A estratégia do empobrecimento não é uma ideia original de Passos Coelho, ainda que a tenha aplicado com vigor. Está presente no pensamento dos não-pobres, sobretudo da classe média e ricos. Um país com 30% de pobres dá muito jeito aos ricos e fornece muita limpeza à classe média. (…)
Continuamos na mesma. Pelo menos à esquerda há consciência do problema e vontade de o minimizar. O acordo entre o PS e a sua esquerda só trata praticamente desse aspeto, isto é, reposição do rendimento, aumento das pensões mínimas e do salário mínimo. É muito para a situação económica de Portugal. É imenso quando pensamos que se trata de uma visão diametralmente oposta daquela que vigora em Bruxelas. Mas é pouco, muito pouco, para a necessidade das pessoas e sobretudo para a necessidade do próprio país que, deste modo, desperdiça um quarto da sua população.»
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