17.3.12
«Mademoiselle»? C’est fini!
Só existem agora «Madames», em França, nos documentos oficiais. Um passo para a igualdade com os «messieurs», certamente – nada contra, antes pelo contrário. Mas as mulheres casadas continuarão a dizer «mon mari» e eles… «ma femme» (como nós por cá, aliás…), o que faz toda a diferença.
Há perfumes com nomes que passarão a pré-históricos e Mademoiselle Simone de Beauvoir tinha sido «madame» se tivesse vivido no século XXI, o que não deixa de soar um pouco estranhamente.
Mas as «demoiselles» continuarão.
E a «demoiselle» de Colete Renard não sairá da História.
. Turismo de saúde…
Depois do golfe e dos reformados ingleses, «vamos pôr Portugal no mapa de turismo de saúde, e depois cada um vai à luta por si».
(Isabel Vaz, presidente executiva da Espírito Santo Saúde)
Eu fico com um enfarte, toma lá um cancro.
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16.3.12
Onde isto já vai...
(Recordado por Artur Neves no Facebook)
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As Auditorias Cidadãs à Dívida não se fazem apenas nos países mais «aflitos»
Quem não está especialmente próximo de iniciativas de auditoria cidadã à dívida tem tendência a julgar que estas nascem e se desenvolvem, exclusivamente, em países intervencionados pelo FMI e outras instâncias. Pensa-se imediatamente na Argentina, no Equador e, mais recentemente, na Grécia, Irlanda e Portugal.
Mas, desde a crise de 2007-2008, é toda a Europa que está ameaçada pelo discurso que culpabiliza as populações de viverem acima das possibilidades, mal para cujo remédio só restaria a receita da austeridade geral, dos sacrifícios, da deterioração do nível de vida. Tudo em nome da sagrada obrigação de pagar toda a dívida aos credores.
É por isso que devem ser atentamente seguidas experiências como a da França, cujo Colectivo para uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública, criado no Verão de 2011, está neste momento particularmente activo.
Em Janeiro de 2012, numa assembleia convocada pela ATTAC e por Mediapart, em Paris, mais de 1.100 pessoas (numa sala prevista para 700…) discutiram o tema «A sua dívida, a nossa democracia». E vale aliás a pena olhar para a Agenda do que aí vem…
Lançada a nível nacional, a iniciativa expandiu-se rapidamente por todo o território francês, tendo sido criados espontaneamente comités locais – 110, até início de Março. Formam-se subgrupos de trabalho para criar informação a nível global ou iniciar auditorias às dívidas contraídas pelas colectividades locais, hospitais e outros organismos e preparam-se acções de rua. Toma-se consciência da necessidade de reapropriação democrática do poder de decisão confiscado pelos credores e pelos mercados financeiros, para que, de uma vez por todas, se quebre o tabu ligado à discussão sobre o reembolso incondicional da dívida pública.
(A partir daqui.)
A ler: Auditoria Francesa contra o Pacto Orçamental
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15.3.12
O prefaciador implacável
Já vai sendo quase uma rotina mas, à quinta, «sirvo» Ricardo Araújo Pereira. Para abrir o apetite:
«Normalmente, o tema do livro é introduzido no prefácio, mas a matéria mais importante está, digamos, no fácio. Em Cavaco, tal não sucede. (…) Anseio por conhecer os factos gravíssimos que estão a ocorrer em Portugal neste momento lendo o prefácio do próximo livro de Cavaco, daqui a um ano.»
Na íntegra AQUI.
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O fim do «bom comportamento» (1962)
Isabel do Carmo, membro da Comissão da Pró-Associação da Faculdade de Medicina de Lisboa, fala da passagem de reivindicações puramente académicas para um plao mais político e, sobretudo, da importância que a Crise Académica teve para a emancipação das estudantes que cortaram com um longo passado de «bom comportamento».
Em A Crise Académica de 62, Fundação Mário Soares, 2007 (dvd)
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Livros
«Si un libro se puede leer impunemente, no vale la pena tomarse el trabajo. Cuando los libros están de veras vivos, respiran; y uno se los pone al oído y les siente la respiración y sus palabras son contagiosas, peligrosamente, cariñosamente contagiosas…»
Eduardo Galeano
(Daqui)
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O extremismo dos moderados
Foi o primeiro texto que li esta manhã e ganhei o dia. Ao mesmo tempo que senti uma «raiva» imediata por não ser capaz de exprimir, como o Zé Neves, o que assino por baixo da primeira à última linha.
«Devemos desconfiar das pessoas moderadas. São as menos atentas ao seu próprio extremismo», lê-se logo em epígrafe e eu concordo, para além do aparente soundbyte.
Três apontamentos que não dispensam a leitura do texto na íntegra:
1. As certezas, sem espaço para dúvidas, com que tantos apelam à razoabilidade, à conciliação do inconciliável, à cedência em nome de bens superiores, acabam quase sempre por resultar apenas em desistência pura e simples. No fundo, chega-se sempre à defesa do mal menor, esse conceito verdadeiramente assassino de perspectivas e de novos horizontes! («se aconteceu a alguém acordar com a certeza de que outro mundo era possível, deitar-se-á provavelmente conformado com o menor dos males.»).
2. A defesa desesperada da necessidade de unir as esquerdas para derrotar a direita apela à moderação dos imoderados e desagua por vezes, contraditoriamente, na ideia de criar um novo partido que, esse sim, conseguiria o milagre desejado.
3.Por fim a eterna discussão sobre violência ou não violência e aqui limito-me a copy/ paste do que escreveu ZN: «Veja-se o que acontece no debate em torno da questão da violência, que frequentemente serve para que se classifique uma parte da esquerda como moderada e uma outra como não-moderada. Do que neste debate se trata não é tanto de uma oposição entre moderados não-violentos e imoderados violentos. Se perguntarem a um moderado não-violento – um daqueles que rapidamente se apresta a condenar as pedras atiradas por manifestantes atenienses contra a polícia grega porque encontra aí o gesto que inicia o caminho da sociedade rumo ao totalitarismo – se é contra a existência de forças policiais, ele muito provavelmente dirá que não. Ou seja, o nosso moderado não-violento não é contra a violência, mas sim a favor do monopólio estatal da violência, no qual surpreendentemente não vislumbra indício de qualquer perigo totalitário.»
Matéria para muita e variada reflexão e debate – se debate sobre estas questões fosse realmente desejado, o que não me parece ser o caso.
. 14.3.12
Assim como assim…
Hora de almoço, hoje, Cantina da Cidade Universitária em Lisboa. Um empregado da dita cantina, nem novo nem velho, certamente já adulto durante a última década, faz uma pergunta e dá a resposta:
«Aquele senhor foi… foi… Já sei: governador de Macau.»
Estava a olhar para Jorge Sampaio!
Se tivesse entrado naquele momento Cavaco Silva, confundi-lo-ia com quem? Talvez com Hugo Chávez ou com Hamad Al Thani, emir do Qatar, por exemplo.
Andamos nós preocupados com minudências, tais como prefácios de
presidentes e coisas assim…
Ainda a propósito da seca
… e das recriminações do bispo de Beja, vale a pena ler o texto de João Paulo Guerra no Económico.
«E que pode então fazer um homem se lhe secam as terras e o gado se alimenta de palha com IVA a 23 por cento? Rezar ao bom Deus ou pedir uns maravedis ao diabo? Ou vá lá que seja a Bruxelas? Quem lhe acode, com mais ou menos juros ou mais ou menos graça? Sugere o bispo de Beja que se reze a Deus, nem que seja o da Constituição europeia, à Virgem Maria ou a São Pedro a implorar a graça da chuva. O mal de tudo isto é que o bispo nunca terá lido Sartre.»
E que os homens sem fé tenham esperança: pelo menos aqui por Lisboa, já há algumas nuvens no céu. (E muitas em todos os horizontes!)
. 13.3.12
Uma belíssima «casa» de férias
O cartão com as fotografias da minha recente viagem esteve internado numa clínica. Não sei como «corrompi» o respectivo directório, mas já me recuperaram o conteúdo e tenho estado a percorrer centenas de imagens absolutamente extraordinárias.
Podia diversificar mas prefiro restringir-me ao Palácio Real Bang Pa-In, na província de Ayutthaya, de que não cheguei a falar por absoluta falta de tempo. Começou a ser construído no século XVII, mas a maior parte dos edifícios data do período que vai de 1872 a 1889.
Hoje, é raramente utilizado pela família real tailandesa e nele têm lugar apenas alguns banquetes e outras cerimónias oficiais.
Belíssimo, com espero que dê para ver (ou, pelo menos, para se ficar com uma pálida ideia)!
Acredite porque vem no Diário da República
Como perguntava a Joana Manuel no Facebook, será que os desempregados vão poder candidatar-se ao emprego de acompanhantes de desempregados que vão a entrevistas de emprego?
. Os dois lados da barricada (1962)
(Clicar em cada uma das imagens e aumentar para ler.)
Quando publiquei ontem um texto de Artur Pinto, que citava parte do primeiro Comunicado dos estudantes sobre o início da crise académica de 62, fui procurar a versão «oficial» dos acontecimentos.
Dois documentos bem datados, só que apenas um (aqui publicado no Diário de Lisboa do dia 25) chegou às bancas dos jornais e aos noticiários da rádio e da televisão.
Assim vivíamos, assim se resistia, contra muros de silêncio. Com muito mais força e convicção do que os mais novos possam hoje imaginar.
. 1755 / 2012
Um belo texto de Viriato Soromenho Marques, hoje no DN. «Tenebroso», é certo, mas as imagens e as comparações fortes ajudam-nos a tomar consciência mais clara das realidades.
A terceira vaga
As catástrofes causadas pelos homens imitam, quase sempre, as de origem natural. O que transformou a tragédia de Lisboa, em 1 de novembro de 1755, num símbolo universal da fragilidade da condição humana reside no facto de todas as grandes crises serem complexas. Em 1755, Lisboa foi vítima de três vagas de calamidade. Primeiro o sismo, que destruiu os edifícios. Depois, o tsunami, que afogou milhares de lisboetas atordoados. Por fim, um incêndio bíblico que dizimou o que faltava. Todas essas vagas tiveram breves intervalos. E neles, muitos julgaram que o pior já havia passado. O mesmo ocorre hoje, a outra escala, com a crise económica global, em particular no seu epicentro europeu. Em 2008, na primeira vaga sísmica, os Estados salvaram o sistema financeiro de colapso sistémico com um aumento colossal de dívida pública, e políticas keynesianas contracíclicas. Depois, no final de 2009, os Estados, em aliança com o segmento bancário do sistema financeiro, para se salvarem do fardo das dívidas, começaram a cobrar à sociedade através de um tsunami de austeridade e aumento da carga fiscal. Agora, começámos a entrar na terceira vaga. Que se propaga na perda da coesão social, na afirmação de excepções, onde deveria reinar a universalidade. No primado de interesses particulares sobre o bem comum. Falências em cascata. Falta de confiança gerando secura de crédito. Aumento descontrolado dos indicadores de angústia social, no desemprego, na saúde, na entropia do próprio sistema imunitário do Estado, com o mal- -estar crescente nas forças de segurança. É a fase do incêndio, como em 1755. Na Grécia, já vai avançado. Em Portugal os sinais são claros. Mas, no coração da Europa, tardam em soar as sirenes de alarme.
(Os realces são meus)
. 12.3.12
100 dias que abalaram o regime – No Cinquentenário da Crise Académica de 1962
Texto de Artur Pinto, enviado para publicação neste blogue. O autor foi activista na Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, em 1961/1962, e é um dos principais animadores das comemorações que terão lugar no próximo dia 24.
«COMUNICADO
Lisboa, 26 de Março de 1962
Colega:
Efectuou-se anteontem o maior atentado de sempre contra a autonomia da Universidade e a dignidade dos professores e alunos. Por ordem do Governo foi encerrada a Cantina Universitária, passando-se por cima do Sr. Reitor, das Associações e da Comissão Administrativa da dita Cantina.
Camiões da polícia, transportando centenas de polícias de choque, armados de pistolas-metralhadoras, tomaram a Cidade Universitária. Tudo isto, para que lá se não realizassem os Colóquios e o jantar de confraternização do Dia do Estudante.»
Este comunicado, assinado pelas Associações de Estudantes, relatava os factos que deram origem à Crise Académica de 62, que se prolongaria por quase quatro meses: foi a maior e mais longa luta estudantil durante e contra a ditadura. De permeio, assistiu-se a uma greve às aulas nas universidades de Lisboa, Coimbra e Porto, a muitas cargas policiais algumas com invasão de instalações universitárias, ao pedido de demissão do reitor da Universidade Clássica de Lisboa, Prof. Marcelo Caetano e à prisão, na noite de 10 para 11 de Maio, dos cerca de 1.500 estudantes que se encontravam na cantina universitária em solidariedade com os seus 81 colegas que faziam a Greve de Fome. Tudo isto só foi possível porque as estruturas estudantis tiveram uma prática democrática de decisão que permitia a participação directa dos estudantes, unindo-os em torno de reivindicações e propostas justas.
Naturalmente que o poder reagiu de forma violenta. Para além da repressão policial directa, expulsou dezenas de estudantes das universidades, chamando outros, intempestivamente, para o serviço militar, muitos dos quais foram enviados para a Companhia Disciplinar de Penamacor. E, no entanto, nunca o governo conseguiu abafar a voz dos estudantes ou destruir as suas associações. De realçar que estas conseguiram criar estruturas de tal modo eficientes que as suas reuniões nunca foram detectadas pela PIDE, algumas foram feitas no telhado do Hospital de Santa Maria, nem a sua máquina de impressão e distribuição de comunicados foi alguma vez localizada. E dias houve em que se imprimiram e distribuiram quatro comunicados.
Estes e outros acontecimentos da Crise Estudantil de 1962, de que agora se comemoram os cinquenta anos, abalaram fortemente o regime de Salazar, destabilizaram a estrutura da sociedade portuguesa, despertaram muitas consciências para a realidade social e política do país e deixaram uma marca indelével em todos os estudantes e professores das tres universidades. As Associações de Estudantes viriam a revelar-se un extraordinário manancial da nova «inteligenzia».
. Incréus empedernidos
Apesar de Assunção Cristas ser uma pessoa de fé e com esperança que chova, o Bispo de Beja não está satisfeito, lamenta «a inexistência de orações pelo fim da seca e sublinha que os agricultores têm mais esperança nos subsídios da União Europeia do que em Deus».
«Noutros tempos já se teriam levantado súplicas ao céu a implorar a graça da chuva» (…), agora «algumas pessoas ainda falam da ajuda de São Pedro, mas parece que com pouca convicção», os crentes «não se fazem ouvir e a maioria da população não acredita na providência divina, mas somente na previdência de Bruxelas».
Respiremos fundo porque um país onde se lêem pérolas destas ainda não está definitivamente perdido. E uma coisa é absolutamente certa: a esperança da ministra e a fé do bispo serão recompensadas. Um dia choverá!
(Parece que é já na quinta-feira.)
P.S. - Manuel António Pina, na sua crónica de hoje: «Está seguro o bispo que, algures no processo de evaporação/transpiração-condensação-precipitação do ciclo da água, há um momento em que S. Pedro intervém despachando favoravelmente os requerimentos dos crentes para que chova. Ora se os crentes preferem dirigir-se ao comissário da Agricultura e Desenvolvimento Rural, é natural que o santo, desautorizado, reaja mal: "Ai é? Então Dacián Ciolos que faça chover..."»
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O elo mais fraco
Para Sarkozy vale tudo na tentativa, aparentemente desesperada, de continuar no Eliseu. Esperemos que, dentro de alguns meses, a sinistra dupla Merkel-Sarkozy se desfaça mas nunca se sabe: no momento de meter o voto numa urna para eleger um presidente, a memória parece toldar-se (nós que o digamos…).
Agora, veio o piscar de olhos ao eurocentrismo egoísta dos eleitores, com ameaças à emigração e mesmo à abertura Schengen.
«Se eu constatasse que, nos próximos doze meses, não havia qualquer progresso sério nesta direcção, a França suspenderia a sua participação nos acordos de Schengen até que as negociações resultassem.»
Que não venham agora sossegar egoistamente portugueses e similares, dizendo que isto é para «os outros»: espaço Schengen, entendemos bem. E que não fosse. Esta ideia da França ou da Europa entrincheiradas contra aqueles de cujo trabalho sempre tiraram proveito, e sem os quais estão irremediavelmente destinadas a definhar, seria ridícula se não fosse trágica. Para além de estar inevitavelmente destinada a um estrondoso fracasso.
O mundo mudou (e de que maneira) e a Europa continua a comportar-se como se não fosse, actualmente, o elo mais fraco.
Excertos do discurso de Sarkozy:
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11.3.12
No mundo do faz de conta
Dois dos países por onde andei nas últimas semanas são verdadeiros paraísos para a contrafacção: a Malásia e a Tailândia.
Em lojas ou mercados de rua com quilómetros de extensão onde se alinham bancadas e barracas, é possível encontrar toda a espécie de produtos «de marca» a preços inimaginavelmente baixos. Tudo se negoceia, evidentemente, chegando-se por vezes a pagar 10 ou 20% do que é inicialmente pedido… Os clientes mais especializados sabem ajuizar da perfeição do que compram, não só pelo aspecto geral mas também pelos detalhes: uma determinada mala Prada deve ter certas gravações em todas as argolinhas e não apenas numa, etc., etc.
Tive a minha primeira grande experiência neste domínio na China, já há alguns anos. Nunca esquecerei os vendedores ambulantes que abordavam os turistas propondo-lhes «Moubelã Lolex» e do tempo que levei a perceber que se tratava de canetas Montblanc e de relógios Rolex!
Confesso a minha simpatia por este mundo. Sempre tive uma especial embirração por griffes, sempre me pareceu absurdo que sejam pagas quantias exorbitantes porque sim, por puro exibicionismo de um feitio, de um crocodilo ou de uma fivela. Dá-me um certo gozo que a realidade seja subvertida e que nós, ocidentais, procuremos imitações dos nossos produtos no outro lado do mundo, sobretudo em países que, entretanto, começam a ter dinheiro para pagar os originais. Há um lado irracional, de nonsense, que me diverte nesta espécie de jogo de espelhos…
Nada disto é hoje permitido na nossa Europa controlada e liofilizada, mas tenho algumas saudades do tempo em que os vendedores ambulantes fintavam a polícia na Praça de Alvalade, em Lisboa, e gritavam bem alto: «Podem comprar, nada tem defeito, é tudo roubado!». E se calhar era...
. E por vezes
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.
David Mourão Ferreira
(dito pelo próprio)
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E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.
David Mourão Ferreira
(dito pelo próprio)
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Os 11 de Março
Com toda a justiça, os jornais (e os murais do Facebook…) recordam hoje o primeiro aniversário de Fukushima e o oitavo do atentado na estação de Atocha.
Mas ainda não vi nenhuma referência ao «nosso» 11 de Março. Talvez porque, para grande parte da esquerda, é politicamente correcto tentar varrer a data para baixo do tapete, como se fosse possível ou desejável que a nossa democracia tivesse saltado do 25 de Abril de 74 para o 25 de Novembro de 75 apagando o PREC da história.
Quem tem idade para recordar lembrar-se-á dos ambientes absolutamente alucinantes em que tudo acontecia, sobretudo a partir de 14 de Março quando foi criado o Conselho da Revolução e se deu a nacionalização da Banca e dos Seguros. Mas talvez tenha esquecido algumas reacções, bem significativas e provavelmente úteis quando revisitadas a trinta e sete anos de distância, nesta fase do nosso «campeonato»:
«As nacionalizações são saudadas à esquerda e não são contrariadas à direita. O PPD apoio-as, aliás, embora previna que “substituir um capitalismo liberal por um capitalismo de Estado não resolve as contradições com que se debate hoje a sociedade portuguesa”.
Mário Soares mostra-se mais expansivo. Eufórico mesmo, considerando aquele “um dia histórico, em que o capitalismo se afundou”. Dirá, a propósito o líder socialista, num comício: “A nacionalização da banca, que por sua vez detém (…) a maior parte das acções das empresas portuguesas e, ao mesmo tempo, a fuga e prisão dos chefes das nove grandes famílias que dominavam Portugal, indicam de uma maneira muito clara que se está a caminho de se criar uma sociedade nova em Portugal”.» (*)
«Eles» ainda andam por aí. E, com eles, este país às cambalhotas…
(*) Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, Os dias loucos do PREC, p. 28.
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