
Por pura e indesculpável preguiça, há meses que adio ser cívica, pedagógica, sentimentalmente (e muitos outros «mente») incorrecta sobre um drama com dezenas de tristes folhetins. Até ler o que o
Pedro Correia hoje escreveu sobre este «festival de barbaridades».
Todos conhecemos a história: Esmeralda tem sete anos, a sua saga dura desde os três meses, pelo meio houve toda uma trama que começou e continuou com ilegalidades por parte dos chamados «pais afectivos», milhares de almas piedosas associaram-se, e associam-se, em protestos que roçam por vezes o simples grotesco. Os jornalistas agradecem.
Dir-se-ia que os que tanto se agitam em nome da felicidade da Esmeralda não querem entender que as crianças não são parvas e que acabam sempre por vir a saber – e a preferir – a verdade. Verdade neste caso sempre adiada em nome de mentiras passadas que se transformaram em factos consumados e respeitáveis e que, essas sim, provocaram já certamente graves traumatismos. Chantagens que vão até ao ponto de se falar agora em risco de suicídio.
Admito que esta minha posição é fortemente condicionada pelo facto de ter vivido de muito perto uma situação semelhante, se não exactamente quanto à forma claramente quanto ao fundo. História que teve um final feliz quando a criança, pouco mais velha do que a Esmeralda, conheceu finalmente o pai biológico e com ele estabeleceu, imediatamente e para o resto da vida, a mais excelente das relações.
Não acontecerá sempre? Talvez, mas há pelo menos que tentar e tudo fazer para que aconteça neste caso.