23.7.16
Serge Reggiani morreu num 23 de Julho
Serge Reggiani foi certamente um dos grandes cantores franceses que marcaram algumas gerações, mesmo em Portugal, antes de a língua francesa ir desaparecendo lentamente da vida dos mais novos. Pela interpretação, pelo encanto pessoal, pelo compromisso político, certamente pelos poetas que ajudou a conhecer, ao divulgá-los nas letras de muitas canções. Morreu em 23 de Julho de 2004.
Nasceu em Itália e ainda criança instalou-se com os pais em França para escapar ao fascismo. Começou como ajudante de barbeiro, inscreveu-se no Conservatório, com 19 anos, estreou-se no teatro onde contracenou com Jean Marais, entrou em alguns filmes. Mas passou rapidamente à clandestinidade na Resistência francesa. Regressou ao cinema depois do fim da guerra, mas foi como cantor que se consagrou, a partir de 1964. Entre muitos outros, cantou Boris Vian, Rimbaud, Prévert e Appolinaire.
Nasceu em Itália e ainda criança instalou-se com os pais em França para escapar ao fascismo. Começou como ajudante de barbeiro, inscreveu-se no Conservatório, com 19 anos, estreou-se no teatro onde contracenou com Jean Marais, entrou em alguns filmes. Mas passou rapidamente à clandestinidade na Resistência francesa. Regressou ao cinema depois do fim da guerra, mas foi como cantor que se consagrou, a partir de 1964. Entre muitos outros, cantou Boris Vian, Rimbaud, Prévert e Appolinaire.
Algumas das canções a não esquecer:
E esta, acima de todas as outras:
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A Europa vista pelo Presidente da República – (1) O lado de fora
José Pacheco Pereira no Público de 23.07.2016:
«O Presidente da República fez esta semana uma ambígua intervenção sobre o modo como a Europa está, e uma má intervenção sobre os instrumentos políticos ao dispor dos cidadãos para alterar o que ele próprio admite estar mal, estar mesmo muito mal. (…)
A intervenção do Presidente é uma intervenção assente no voluntarismo político, do género “a Europa será o que quisermos”, mas na verdade no elenco das coisas que podemos “querer”, só podemos querer exactamente do mesmo que explica porque é que a Europa está como está. É este o aspecto central da ambiguidade da sua intervenção.
Marcelo não esconde os problemas, enumera-os muitas vezes de forma correcta, mas evita discutir as suas causas, em particular quando essas causas estão presentes, direi mais, omnipresentes, naquilo que a Europa hoje é. Não é um problema nem de pessoas, nem de lideranças, mas de políticas e essas políticas estão a destruir a União e a torna-la numa coisa perigosa, instável e perversa. E como se passa em todas as políticas assentes no poder, elas desejam garantir não ser postas em causa e o discurso de Marcelo aceita as baías desse poder. Pode-se dizer que o faz por realismo ou por ter medo do mal maior ou por não ver alternativa? Talvez, mas este tipo de atitudes “realistas” acaba sempre mal. Basta olhar em volta para ver como já está a acabar mal: nunca a Europa esteve tão longe dos cidadãos, os refugiados lembram-na das suas irresponsabilidades, os sistemas políticos desagregam-se, a democracia está a ser sugada por um centro de poder, e o “Brexit”, com a sua “surpresa”, mostra o ascenso, à direita e à esquerda, de forças que contestam esta Europa, nuns casos bem, noutros com o uso do populismo e da xenofobia. Os voluntaristas como Marcelo, não podem queixar-se do que está a acontecer, porque são consequência de políticas que apoiaram e apoiam, e que estão a destruir o projecto europeu. O seu “realismo” actual mantem o statu quo.
Não tenho dúvidas que precisamos de uma Europa que seja, como foi no passado, “uma realidade de paz, progresso e equilíbrio mundial e interno”, mas hoje não se pode dizer que o seja e quando se acrescenta que ela é “insubstituível” está-se a falar de uma atitude atentista que só ajuda a manter tudo o que está mal. (…)
Têm estes desastres europeus uma razão? Têm - o abandono da política fundadora de homens como Jean Monnet que conheciam bem demais a Europa para saber que as questões de política externa deviam resultar de uma longo processo de integração sem pressa. (…) Numa aceleração irresponsável, em parte por iniciativa francesa, o monstro de pés de barro resolveu experimentar os pés de barro para competir, à de Gaulle e Chirac, com os americanos. Daí resultou uma nova burocracia europeia, o Serviço Externo, uma das coisas que a Europa faz bem e depressa, uma indústria de armamentos à procura de mercados, que usa indevidamente o nome de “defesa” europeia e… os sucessivos desastres.
Voltaremos ao discurso presidencial, agora para a parte de dentro.»
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22.7.16
Dica (340)
Enquanto houver juízes em Ancara… (João Paulo Raposo)
«A bem dos juízes suspensos e detidos. A bem da justiça turca. E a bem da (pouca) democracia que ainda resista, o desejo, na linha do que disse o moleiro a Frederico II da Prússia, é que continue a haver juízes em Ancara…»
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Durão gelatina
«A notícia de que Durão Barroso ia trabalhar para o Goldman Sachs apanhou-me de surpresa.
Sempre pensei que Durão já trabalhava para o Goldman há muitos anos. Não fiquei chocado. Tenho mais receio dos que vêm do Goldman para cá do que os que vão de cá para lá. Para mim, o Goldman Sachs não é currículo, é cadastro.
Durão Barroso no Goldman Sachs é o expoente máximo do "só se estraga uma casa". Durão no Goldman é como se o José Rodrigues dos Santos casasse com a Margarida Rebelo Pinto, o Schäuble fugisse com a Maria Luís e o Carrilho fosse viver com o Paco Bandeira.
Durão ajudou a encenar a cimeira das Lajes e as armas químicas invisíveis que justificaram a guerra do Iraque. O Goldman maquilhou as contas da Grécia para justificar a entrada no Euro. São também o homem e a instituição que muito fizeram para conduzir a Zona Euro para uma crise sem precedentes. Têm tudo para dar certo. Foram feitos um para o outro. Imagino que a lista de casamento esteja num "offshore".
Barroso é daquelas pessoas que pode ir para todo o lado porque tem muitos convites e ainda mais pouca-vergonha. Estava indeciso entre o convite do Goldman e o cargo de "chairman" do Daesh, mas os outros radicais pagavam menos. Se Barroso fosse o Mister Scrooge - e tivesse um momento de catarse - e recebesse a visita dos fantasmas do Natal passado, presente e futuro, só ficava chateado e chocado por estar mais gordo. Não mudava nada. Porque há mais coração num avarento do que num ávido por glória e poder que tem a moral de quem nada lhe custou a ganhar.
Durão Barroso diz que aceitou o cargo no Goldman Sachs porque "tem direito a ter vida profissional". É muito parecida com a desculpa que deu quando deixou de ser PM a meio do mandato. Foi graças a dez anos de vida profissional de Durão na CE que muita gente deixou de ter vida profissional por essa Europa fora. Diz o senhor José Barroso que "se é preso por ter cão e por não ter", quando o que está em causa é quem é o dono dele.
Não vou negar que acalento uma secreta esperança que Durão vá fazer ao Goldman Sachs o que fez à UE. Durão é uma espécie de gato preto que passa à frente da esperança de que as coisas vão melhorar. Uma sexta-feira 13 do "isto tem tudo para correr bem". Em quatro anos no Goldman, pode ser que aquilo se transforme numa pequena caixa de aforro. A inabilidade de Durão, no interior do lado mau, pode dar origem a um mundo melhor. Se Barroso fosse para os Médicos sem Fronteiras, ou para a Amnistia Internacional ou, pior ainda, para o Sporting, aí sim, reconheço que ficava assustado.»
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Desta praga não nos livramos
A praceta onde moro tem noites calmíssimas desde que os jovens saíram de casas dos pais e quando não há festejos benfiquistas. Mas ontem (ou mais exactamente hoje), pela 1e tal da manhã, havia um grande burburinho, com um grupo de umas 15 pessoas com os telemóveis apontados à relva. Espero que não haja um pokeshop na erva até agora reservada a xixi de cães não virtuais.
. Ainda não vimos nada
«O fascismo islâmico alimenta-se da violência aleatória e banal. Não tem propriamente um programa político para lá da submissão, voluntária ou imposta, a preceitos religiosos irracionais, como o são todos. Visa a criação de uma nova idade das trevas, antiliberdade, anticonhecimento, anti aquilo a que chamamos civilização e não necessariamente só a ocidental. (…)
As declarações dos políticos europeus a cada vez que há um atentado são patéticas. Falam dos ataques cobardes, os quais na verdade são atos de coragem ainda que estúpidos e criminosos; apelam à serenidade e manutenção do "nosso" estilo de vida, quando na realidade já se vive na insegurança e medo de sair à rua; e que irão combater por todas as formas esta ameaça, o que objetivamente não fazem quando, sob a capa da religião, se permite uma sistemática e bem montada máquina de recrutamento de jovens muçulmanos e, não menos importante, se promovem regimes, empresas e negociatas que apoiam e financiam o ISIS e outros grupos similares.
O desfecho deste jogo será contudo bastante acelerado quando suceder o inevitável. As armas convencionais, as singelas facas, darão um dia lugar a algo mais substancial e mortífero. O grande risco, reconhecido por todos, está na utilização por um destes suicidas de um engenho nuclear, biológico ou químico, ou seja, as chamadas armas de destruição maciça. Eliminando de uma só vez uma considerável parte da população de uma grande cidade. (…)
Em suma, incapazes de resolver o problema indo à raiz, acabando de vez com as cumplicidades de alguns bem conhecidos aliados, travando a ganância dos negócios de armas e do petróleo que alimentam o fascismo islâmico em toda a sua extensão, os dirigentes europeus colocam em sério risco os seus povos ao mesmo tempo que militarizam as soluções. Mais, arriscam o desfecho, pois a guerra sabe-se como começa, mas não se sabe como acaba. A possibilidade de uma escalada é evidente.
A Europa já está a sofrer muito com este conflito insano. A radicalização da política, manifesta no aumento da extrema-direita, da xenofobia, discriminação e racismo, mas também nas posições dos chamados moderados, está a tornar o nosso quotidiano insuportável. Não foi para isto que ao longo dos séculos tanta gente lutou para criar um mundo mais livre e melhor. Para todos.»
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21.7.16
Durão Barroso: uma Petição
Um grupo de funcionários de instituições europeias lançou uma petição aberta a todos os cidadãos europeus, até fim de Setembro, «for strong exemplary measures to be taken against José Manuel Barroso, whose behaviour dishonours the European civil service and the European Union as a whole».
Texto e possibilidade assinar AQUI.
. Bélgica
Hoje é dia de festa nacional do «plat pays» de Brel, que já viveu tempos bem mais alegres.
. Humphrey e a banca
«Num dos diálogos típicos de "Sim, sr. Ministro", Jim Hacker perguntava: "Humphrey, consideras, como parte da tua função, que deves ajudar os ministros a fazer de tolos"? E Humphrey respondia, com um sorriso nos lábios: "Bem, nunca encontrei um que precisasse de qualquer ajuda." Nos dias que correm a tolice tornou-se global. E, segundo parece, deixou de ser um motivo de vergonha. Há quem pareça orgulhoso do seu défice de lucidez. Olhemos para um caso simples. Com uma ligeireza arrepiante, o FMI faz de ministro tolo: consegue colocar na mesma balança o buraco do sistema financeiro italiano (que ascenderá a cerca de 360 mil milhões de euros) e o do português (talvez 20 mil milhões). Como se estivesse num concurso de cocktails mistura sabores diferentes e julga que o resultado final é igual. Podemos dar o desconto: muito provavelmente os técnicos do FMI não conhecem Portugal ou Itália (ou só os identificam no Google Maps). Não têm a noção do que seria a influência na Europa (ou no mundo) se o sistema italiano colapsasse ou se, em alternativa, isso sucedesse com o português.
É comparar Hulk com Peter Pan. Como se nunca tivesse passado por aqui, como integrante da ínclita troika, o FMI só agora reparou no problema da banca portuguesa. Deixou-nos, com todo o seu conhecimento e rigor, um belo Cavalo de Troika.»
Fernando Sobral
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20.7.16
Turquia: o verdadeiro golpe de Estado
Filipe Marques, Representante da Associação Sindical dos Juízes Portugueses na MEDEL
Manuela Paupério, Vice-presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses
José Albuquerque, Representante do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público na MEDEL
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Há 47 anos, a Lua
Pisar a Lua sempre funcionou no imaginário dos homens como um símbolo de que tudo se tornaria de certo modo possível a partir do momento em que isso acontecesse.
Exactamente há 47 anos, três astronautas americanos concretizaram esse velho sonho e milhões de pessoas viram Neil Armstrong sair do módulo lunar e andar na Lua. Logo a seguir, com uma pequena máquina fotográfica, mostrou ao mundo o que ia vendo e disse uma frase que viria a ficar célebre: «É um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a humanidade».
Não esperávamos ver, na mesma América e quase 50 anos depois, um louco com expectativas, esperemos que não concretizadas, de vir a ser seu presidente. A Lua não nos roubará, esperemos que não venha a ter poder para estragar mais a Terra.
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Durão Barroso: a Comissão Europeia tem de agir
«A designação de José Manuel Barroso como funcionário pago do Goldman Sachs é uma escolha extremamente provocatória. Realça, de uma forma notoriamente cínica, as relações incestuosas do poder político com os bancos e com os enormes interesses financeiros.
Barroso ocupou durante dois anos o cargo de primeiro-ministro de Portugal e por dez anos foi presidente da Comissão Europeia, implementando políticas neoliberais que afectaram negativamente todo o establishment europeu. Ele foi apanhado a dormir pela crise que em 2008 varreu a Europa, e conduzindo por fim à adopção de políticas de austeridade. Barroso insistiu até ao fim na homeotapia do neoliberalismo, mesmo quando os Estados Unidos, sob a batuta da Administração Obama, conseguiram recuperar optando por um keynesianismo moderado.
O recrutamento de José Manuel Barroso pela Goldman Sachs não é surpreendente, mas é enfurecedor. Porque defronta uma grande incompatibilidade política e moral que deveria vincular por anos todos os líderes políticos que deixam de estar em funções: é inconcebível para eles passarem a fazer parte das listas de pessoal em empresas que alegadamente tiveram de controlar e escrutinar em nome do interesse público. (…)
A Comissão Europeia deve agir. O silêncio, neste caso, não é de ouro, é sim cúmplice. Ameaça claramente a credibilidade das instituições e mesmo da própria democracia, tornando ainda mais pesados os esforços consistentes para mudar a Europa e colocar as suas políticas de volta ao caminho da justiça social.»
Dimitrios Papadimoulis
Vice-presidente do Parlamento Europeu e deputado eleito pelo Syriza
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19.7.16
A teoria do terror
«Woody Allen, num dos seus melhores momentos, olhou para a II Guerra Mundial através das memórias de um barbeiro dos líderes nazis. Estes dividiam-se sobre a bombástica notícia de que Churchill estava a pensar deixar crescer as patilhas.
Speer e Goering divergiam sobre se Hitler devia deixar crescer as patilhas primeiro, ou não. O almirante Donitz tinha uma ideia atómica: cortar o fornecimento de toalhas quentes a Inglaterra. O absurdo tomava conta da guerra. Nada de especial: poucos dias antes do horror de Nice descobriu-se que o Presidente François Hollande pagava, com dinheiro público, a um barbeiro, 9.895 euros por mês para manter o seu cabelo e patilhas atraentes e a barba perfeitamente escanhoada.
O absurdo é a nossa realidade. Tudo isso diz muito do mundo em que vivemos e que caminha por uma cama de pregos sem que a maioria de nós sejamos faquires. Nice, como muitos outros atentados que são apenas um rodapé nas notícias porque são em Bagdade, Áden ou Lagos, faz-nos enfrentar com mais atenção os dois lados da civilização actual: o mundo real e o paralelo. Ambos se cruzam nos telejornais, mas estão longe, tal como os burocratas de Bruxelas não sabem o que se passa nas ruas de Lisboa ou Atenas.
Chegou o lado negro da globalização: o terrorismo global. É diferente daquele dos anarquistas de inícios do século XX ou mesmo do terror estatal que o estalinismo, o nazismo, o maoismo ou as ditaduras latino-americanas implementaram. Nesses tempos, mesmo com "danos colaterais", havia alvos definidos, especialmente os que pensavam de forma diferente ou tinham poder. Hoje não. O terrorismo do Daesh é diferente. Deixaram de importar as ideias. A única coisa crucial é destruir qualquer identidade comum, seja ser sírio ou francês, seja ser cristão ou xiita, seja viver em Alepo ou Nice. Não é o pensamento individual que se quer fazer desaparecer. É a lógica de comunidade e de formas de vida básicas como estar numa esplanada ou viajar de comboio. É um terror mais sórdido. Que nada tem que ver com Woody Allen.»
Fernando Sobral
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Aferição para…?
Duas dúvidas (que nada têm a ver com fim dos exames):
1 – Não sei quantos alunos fizeram provas de aferição de 2º, 5º e 8º anos mas foram certamente muitíssimos milhares. Quem / quantas pessoas (ou robots?) fizeram a análise qualitativa anunciada, que vai dar origem a «8000 possibilidades diferentes de relatórios individuais», num tão curto espaço de tempo (bem menos de três meses)? Quanto custou?
2 – Genericamente: alguém acredita em grandes vantagens desta pesadíssima e centralizadora iniciativa para a melhoria do ensino ou para o progresso individual dos alunos?
. É mesmo a isto que chamamos democracia?
«Um golpe de estado militar na Turquia. Um golpe falhado e esmagado, graças à oposição popular e a um iPhone com FaceTime. Mas, durante umas horas, a expectativa em todo o mundo, com prudentes declarações dos poderes políticos mundiais, que exprimem a sua “preocupação” e a absoluta necessidade de manter a “estabilidade” política na Turquia e que se abstêm de declarações de apoio a qualquer dos lados. (…) Durante umas horas, a ténue esperança de que este golpe de estado (cujos autores anunciam que querem “restaurar a ordem constitucional, os direitos humanos, as liberdades e o primado da lei”) possa restabelecer a abalada democracia e o estado de direito laico, de forma semelhante ao que aconteceu no 25 de Abril em Portugal.
Mas estas dúvidas duram apenas umas horas, porque o regime depressa abafa a rebelião, captura os revoltosos e passa à ofensiva, prendendo 6.000 militares e 1500 civis, suspendendo ou detendo 2750 juízes e procuradores. O golpe foi “uma oferenda de Deus” diz o próprio presidente Recep Tayyip Erdogan, que aponta as alterações que quer pôr em prática na sua “nova Turquia”: mais poderes presidenciais e menos poderes para as elites laicas, incluindo o sistema judicial. (…)
Mas será isto uma democracia? Este país que expulsa os jornalistas estrangeiros independentes e lança na cadeia os turcos que se atrevem a escrever sobre a corrupção do governo? Que pede anos de cadeia por “insulto ao presidente” para os que criticam a sua política? Que reprime pela força protestos e prende peticionários? Que quer restaurar a pena de morte para condenar os autores deste golpe? Este país que é o número 151 (entre 180) do ranking da liberdade de imprensa? (…)
As perguntas não têm sentido apenas para os países muçulmanos ou para os povos de tez morena.
Vivemos numa democracia quando toda a nossa vida pública é condicionada por tratados europeus que não aprovámos em eleições e cujo teor e consequências não discutimos? Vivemos sob o primado da lei quando pertencemos a uma organização onde as regras (e as sanções) não são iguais para todos? (…)
A democracia é a capacidade de eleger parlamentos, governos e presidentes e a capacidade de os demitir e substituir, mas é algo ainda mais importante: a capacidade de escolher as políticas, de escolher não aqueles a quem vamos obedecer, mas a forma como vamos viver. Não apenas os governantes, mas a vida pública. É por isso que elegemos partidos na base de programas eleitorais. Uma democracia que elege ditadores não é uma democracia. As formalidades são essenciais à democracia mas precisamos de respeitar todas as formalidades: os direitos humanos, o primado da lei, as regras institucionais, os compromissos assumidos, a transparência.
Quando chamamos “democracia” a algo como o regime que vigora na Turquia, na Rússia, na Venezuela ou em Angola - ou na UE - estamos a aviltar o conceito de democracia e a justificar todos os ataques que os inimigos da democracia lhe queiram lançar.»
José Vítor Malheiros
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18.7.16
Dica (337)
«A military dictatorship is one of the worst forms of government known. But an elected dictatorship is not much less bad and the danger is now clear that Turkey is lurching towards such a state.»
. Nelson Mandela, 98
Mandela faria hoje 98 anos. Morreu com 95 e é bom que não seja esquecido.
Há cinco anos, para o seu 93º aniversário, gravou esta mensagem:
Legado de uma vida:
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Marques Mendes é uma espécie de «Correio da Manhã» engravatado
«"A divulgação de cartas entre entidades europeias e a CGD não contribui de forma positiva para a resolução de questões que são determinantes para o futuro da CGD", um lamento quanto à informação avançada por Luís Marques Mendes.»
. A política Pokémon Go!
«Todos queremos descobrir monstros. Virtuais, como no caso do Pokémon Go. Ou reais, como os que surgem nos ecrãs de televisão sem pedir licença. Não é por acaso.
Os monstros digitais do Pokémon Go fizeram com que os jogadores saíssem do conforto das suas cadeiras e chocassem com o mundo real. Os caçadores descobrem agora que o mundo virtual não é o princípio e o fim da nossa vida. Poderia ser uma experiência para quem vive liofilizado num mundo irreal, desde os técnicos do FMI aos burocratas de Bruxelas, de José Sócrates a Passos Coelho, de Schäuble a Boris Johnson ou Jeroen Dijsselbloem. Quem são eles: Pokémons reais ou virtuais? Não se sabe. Porque hoje, na política e na economia, já é difícil distinguir a realidade da ficção. O real deixou-se devorar pela ilusão. Estamos a assistir, quase sem darmos conta, de uma classe política a procurar monstros ilusórios para justificar as suas próprias ilusões. Os Pokémons servem na perfeição para se iludir os próprios problemas.
Wolfgang Schäuble é o Pokémon ideal para António Costa. Serve para acalmar o BE e o PCP na titânica tarefa de tornar a contabilidade orçamental comestível em Bruxelas e no Parlamento português. Portugal pode gesticular que os Pokémons estão em todos os andares de Bruxelas e Frankfurt e que invadiram Berlim, mas o certo é que se as contas finais não satisfizerem esses monstrinhos que vestem de cinzento, os portugueses deixarão de ter dinheiro para descarregar jogos para os smartphones.»
Fernando Sobral
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17.7.16
Nice: tributo
Londres, 15.07.2016, na abertura dos célebres BBC Proms, no Royal Albert Hall.
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A ode à tristeza europeia
«Haja ou não "sanções zero", o sonho europeu adormeceu em Portugal. Podemos ter ganho o campeonato da Europa, mas os ministros do Ecofin, liderados pela figura do ministro Schäuble, um Bismarck de série Z, trataram de refrear a euforia portuguesa.
Conseguem admitir, relutantemente, que os portugueses vençam no futebol, mas não estão dispostos a cercar a possibilidade de oxigenarmos o nosso futuro. (…) Nem a comoção do Brexit, nem o cataclismo que pode fazer implodir a banca italiana, nem a falta de qualquer política comum sobre a emigração que vem de África, afastam a noção de "punição" que um desvio de 0,2% do OE merece aos olhos de Bruxelas. É preciso dar um exemplo!, pensam os burocratas que vão abrindo um fosso cada vez maior entre os cidadãos, arredados de decisões que influem na sua vida, e os burocratas da UE que, à primeira oportunidade, buscam um emprego mais vetusto, quiçá no Goldman Sachs. (…)
A ideia de unidade europeia colapsou. Afinal a longínqua ideia de um só Estado desapareceu e sobrevivem, aos soluços, a Zona Euro (escudada no Tratado Orçamental e nos interesses da Alemanha) e o espaço Schengen. É pouco. (…) Era um sonho tremendo para evitar a guerra na Europa e para unir política e economicamente culturas e povos tão diferentes. A Europa, depois, não se deu bem com a globalização e a revolução tecnológica. Perdeu o estatuto de farol moral da democracia. E está a ver desmoronar-se o Estado social.
No fundo, a UE liquidou o contrato social que era o seu eixo. Em vez de apoiar os que saíram mal da crise (dos países aos excluídos e desempregados), pune-os com políticas económicas que os enterram ainda mais. 300 mil milhões de euros depois, o que é da Grécia? Os que perderam com a globalização, e com a austeridade de Bruxelas, rebelam-se cada vez mais. Não admira o Brexit. Ou a deriva radical em muitos países. As sanções não são um incentivo, ao contrário do que diz Schäuble. São mais um prego no caixão da UE. Já não há "Ode à Alegria". Só há uma ode à tristeza.»
Fernando Sobral
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Turquia: matéria para reflexão
«Foi comovente – e patético – o apoio de grande parte da comunidade mediática a Erdogan durante as vicissitudes da tentativa de golpe e ao uso dos seus apoiantes como escudos humanos e carne para canhão nas ruas, praças e pontes das principais cidades da Turquia.
Entre a componente militar e a mafia governamental de Erdogan estavam em luta dois conceitos de regime autoritário: um secular, outro fundamentalista islâmico. A democracia e os interesses populares não tinham nada a ver com aquela guerra entre elites interesseiras e pouco ou nada preocupadas com as pessoas.»
Na íntegra AQUI.
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Guerra Civil Espanhola, 80 anos
Na noite de 17 para 18 de Julho de 1936, teve início a terrível Guerra Civil Espanhola que iria durar quase três anos.
**** Um site precioso.
**** Um conjunto de textos em El País.
**** Dois vídeos:
**** Duas canções emblemáticas:
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