16.8.25

Aretha Franklin

 


Aretha (Louise) Franklin nasceu em Memphis, em 25 de Março de 1942 e morreu hásete anos. Já houve quem a considerasse a maior cantora de todos os tempos, é certamente uma das muito grandes.

O seu último álbum (o trigésimo) – "Aretha Franklin Sings the Great Diva Classics" – foi publicado em Outubro de 2014.



PS: Se atirarem a toalha ao chão, preparem-se para as «abstenções violentas» de Seguro (a favor da direita, claro)

 


Mexam-se!

Julio Cortázar

 


A tempestade perfeita

 


«Em Portugal, só 30% dos jovens com menos de 30 anos conseguem viver sozinhos, sendo uma das taxas de emancipação mais baixas da Europa. A principal razão pela qual tantos jovens permanecem em casa dos pais muito depois de completarem os seus anos de formação é o elevado custo tanto da compra como do arrendamento de uma habitação e, claro, os baixos salários. Embora a crise imobiliária seja um problema generalizado, em Portugal atinge os jovens de forma particularmente dura porque nem um nível educacional mais elevado, nem um emprego estável garantem a possibilidade de lançar um projeto de vida independente. É a chamada tempestade perfeita: a insegurança no emprego leva à falta de recursos e incapacidade de acesso à habitação que, mais tarde, se torna um fosso entre gerações intransponível, desencadeando uma verdadeira crise social. Todos sabemos que um jovem com um salário de mil euros por mês (e já estou a ser generoso) não pode pagar uma renda ou pedir crédito à habitação para viver sozinho. Para comprar casa é necessário poupar para dar a entrada e quando se pede crédito, o ideal é que as despesas com a habitação não excedam 30% do rendimento. Ou seja, esta é uma situação absolutamente irrealista para um jovem em 2025. Se os seus pais e avós, não sem esforço e sacrifício, conseguiram ter uma casa própria, os jovens hoje têm dificuldade até em pagar uma renda. As consequências desta realidade, por exemplo, ao nível das taxas de natalidade, são evidentes. Estamos a condenar uma geração a não ter outras aspirações para além de herdar a casa de família, o que perpetua um modelo de desigualdade social a longo prazo. Enquanto isso, não vejo que os partidos estejam verdadeiramente preocupados com este flagelo.»


Já diz Relvas e pensam muitos mais

 


«“É fundamental que PSD, Chega e IL construam uma solução em conjunto e demonstrem sentido de responsabilidade política”, diz agora ao Expresso. “E, sim, deixem o PS de fora”. (…)

Com esse entendimento, que “permitiria encontrar uma solução para o TC”, o antigo ministro Adjunto acredita que pode ser desbloquea¬do um outro passo, para uma revisão constitucional. Pode não ser tão vasta como alguns pretendem, mas uma revisão cirúrgica que aproveite a maio¬ria à direita para retirar os princípios ideológicos do preâmbulo da Lei Fundamental. E defende que assim seriam criadas as “condições para, depois das eleições presidenciais, com um novo Presidente, menos agitador do que o atual, se ponderar uma revisão constitucional”, atira, com uma farpa a Marcelo.»


15.8.25

René Magritte

 


58 anos sem ele.

15.08.1947 – Independência da Índia



 

Eduardo Galeano, Los hijos de los días:

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Marcelo: PSD está a “cheguizar-se” por pragmatismo



 

«Aos olhos de Marcelo, sabe o Expresso, o longo jejum de poder e as frágeis minorias governativas deste ano e meio fizeram avultar no PSD uma certa “insensibilidade”.»


Sempre neste dia

 



Cristalizar o desequilíbrio

 


«Quando, há uma semana, escrevi que era “provável que, depois do chumbo constitucional de algumas propostas, comece a ganhar fôlego uma revisão e uma radicalização da composição do Tribunal Constitucional” (TC), não esperava que fosse tão rápido. Foi no próprio dia, depois do anúncio do chumbo da lei de estrangeiros, que, numa pressa inusitada, fora aprovada sem sequer se ouvirem as instituições que a lei obrigava. Sempre houve no TC votos de vencido. Houve-os no chumbo da lei da eutanásia, por exemplo. E basta ler a declaração de voto da juíza conselheira Maria Benedita Urbano, carregada de considerações sobre a “política de fronteiras abertas” e as suas sensações sobre a nossa “situação catastrófica”, para perceber que a acusação de decisões guiadas por “convicções pes-soais” tem efeito boomerang. Mas ela, vinda do engajado vice-presidente do TC, foi aproveitada pela AD, com João Almeida, do defunto CDS, a expor uma visão original do nosso regime: “O Tribunal Constitucional e o Presidente da República não podem dar à esquerda a maioria que o povo lhe tirou.” A direita acha que, quando tem maioria, se suspendem os poderes do TC e o sistema deixa de ser semipresidencialista. Imagine-se esta posição quando a lei da eutanásia foi vetada pelo Presidente e repetidamente chumbada pelo TC, sem que faltassem votos vencidos contundentes. Não me recordo de se falar de mudanças na Constituição ou na composição do Tribunal.

As dúvidas de Marcelo e o chumbo do TC basearam-se, para além do direito dos imigrantes ao acesso à Justiça, na defesa do reagrupamento familiar, tratado como um direito fundamental (para além de um instrumento de integração). Nada mais óbvio para quem passa a vida a repetir que a família é o núcleo central da sociedade. A postura de Marcelo é, como foi sobre a eutanásia, coerente com o seu conhecido conservadorismo católico. Como em relação à imigração, aliás. Foi o PSD que mudou, não foi o Presidente da República.

Os ataques ao TC são um clássico sempre que a direita chega ao poder. Foi assim com Cavaco Silva e com Passos Coelho. Mas há uma diferença: agora, a direita tem a capacidade de resolver o “problema” sozinha, coisa que nem ela nem a esquerda alguma vez tiveram. Pode pôr fim ao equilíbrio do TC ao centro e rever sozinha a Constituição. Três mandatos de juízes conselheiros vão expirar (um é o vice-presidente). Claro que isso obrigaria a um acordo com o Chega, que quererá escolher pelo menos um dos juízes. Já as ameaças de revisão sem o PS vêm desde as últimas eleições e é provável que, se as dificuldades constitucionais se repetirem em aspetos importantes da lei laboral, o Governo revisite a sua indisponibilidade, até porque o entendimento preferencial com o Chega se tornou, entretanto, uma evidência. A revisão constitucional é legítima. Mas os democratas devem perguntar-se se desejam uma revisão liderada pela agenda de um partido de extrema-direita que tem conseguido, de forma persistente, segurar o leme do debate público — Ventura dá mais entrevistas televisivas do que todos os outros líderes juntos. O segundo partido parlamentar pode escolher juízes para o TC. Mas os democratas devem perguntar-se se querem um líder que disse “quero que a Constituição se lixe” a selecionar quem julga a constitucionalidade das nossas leis. A questão já vai para lá do cordão sanitário. Nas atuais circunstân¬cias, com um primeiro-ministro sem âncora moral ou doutrinária, estaríamos a entregar à extrema-direita a chave do regime.

Nos últimos anos foram ativados todos os medos e ódios. Como é historicamente comum, a ascensão dos fascismos serve para des¬truir barreiras, limites e direitos. Os imigrantes, os judeus, os ciganos, as minorias sexuais ou étnicas, os “subsidiodependentes”, os sem-abrigo ou os criminosos comuns são, sempre foram, meros pretextos para alimentar o clima de exceção em que os poderes económicos calçam as luvas de boxe. Neste caso, o verdadeiro programa são as contrarreformas laboral e da Segurança Social, que se lhe seguirá. Até lá, leiam os comentários que por aí se escreveram a propósito de 38 migrantes, várias crianças, chegados à costa algarvia num barco de madeira, para confirmarem os sintomas de uma sociedade doente. Queremos cristalizar o descontrolo moral que vivemos por estes dias mudando agora a lei que enquadra o regime e os direitos que temos? Queremos dar a um inimigo da democracia a chave da Constituição e do Tribunal que a defende? Há uma maioria constitucional com o Chega? Se sim, o “não é não” foi uma descarada mentira.»

Daniel Oliveira

14.8.25

Um país a arder, um PR e um PM

 


Tudo tem limites? Parece que não

 


Este pasquim cria tum título que nem sequer respeita o resumo que faz a seguir. Mas claro que aquilo que «vale» é mesmo o título.

14.08.1936 – Os massacres de Badajoz

 


Em 12 de Agosto de 1936, as tropas nacionalistas começaram o assalto a Badajoz, naquela que foi a luta mais dura desde o início da Guerra Civil. Quando a cidade se rendeu, todos os que tinham resistido foram levados para a praça de touros, ou para as imediações do cemitério, para serem executados ─ no dia 14 de Agosto de 1936. Não se conhece exactamente o número de mortos, que varia, segundo as fontes, entre 2.000 e quase 4.000.






O governo português foi cúmplice das tropas nacionalistas, tanto deixando que alguns dos seus elementos penetrassem no nosso território em perseguição aos republicanos, como colocando alguns destes na fronteira do Caia, de onde foram levados para Badajoz e executados.
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14.08.1385 – Dia da nossa Padeira

 


Conta a história ou a lenda, e para o caso pouco importa, que foi num 14 de Agosto que «uma mulher corpulenta, ossuda e feia, de nariz adunco, boca muito rasgada e cabelos crespos», com seis dedos em cada mão, Brites de Almeida de seu nome, pegou em armas e se juntou às tropas portuguesas que se fartaram de matar castelhanos. Veio a casa, despachou mais sete que encontrou escondidos no forno e fez-se de novo à estrada. 

A armadilha da eficiência tecnológica

 


«Vivemos num tempo em que a tecnologia promete tornar tudo mais fácil, rápido e eficiente. Temos aplicações para organizar o dia, ferramentas de inteligência artificial para escrever emails, e instrumentos de automação para responder a mensagens, planear projectos e organizar a nossa vida. A palavra mágica é “eficiência”. A produtividade nunca esteve tão ao nosso alcance; pelo menos, essa é a promessa. Mas há um problema silencioso a crescer por trás desta ideia de eficiência constante: quanto mais fazemos, mais se espera que façamos. É a chamada armadilha da eficiência tecnológica.
 
A lógica parece simples: se uma ferramenta nos permite fazer em meia hora aquilo que antes levava duas, então ficamos com mais tempo livre, certo? Errado. O que acontece, na prática, é que esse tempo "ganho" é rapidamente preenchido com mais tarefas, mais expectativas e mais pressão para continuar a produzir. Raramente é dedicado a actividades ligadas ao lazer ou repouso. Isto faz com que a tecnologia, em vez de nos libertar, nos empurre para uma espécie de “corrida infinita”. Esta corrida pode conduzir a frustração, a uma sensação de que nunca estamos a fazer o suficiente, mesmo quando estamos constantemente ocupados e, no pior dos cenários, a burnout. A pergunta que se impõe é simples: corremos para onde, mesmo?
 
O nosso cérebro, essa máquina complexa de lógica, emoções e memórias, não está preparado para esta produtividade contínua. À semelhança de outros estímulos, sempre que completamos uma tarefa — por mais pequena que seja — há libertação de dopamina, o neurotransmissor associado à motivação e prazer. Esta “recompensa instantânea” dá-nos uma sensação momentânea de realização e sucesso. No entanto, como qualquer outro circuito que é constantemente estimulado, torna-se viciante. Queremos repetir. Queremos mais.
O problema? O cérebro não distingue automaticamente entre uma tarefa relevante e uma irrelevante (este é um exercício activo de planificação) e, portanto, trata tudo como “check, check, check”. Riscar coisas da lista torna-se, assim, uma espécie de droga leve da vida moderna. Passamos o dia em busca de mini-vitórias: a responder a e-mails, a agendar reuniões e a tratar de “coisas rápidas”, enquanto deixamos para depois (ou para nunca) o que realmente exige foco, pensamento profundo e concentração.

Esta urgência do presente e hiperprodutividade, alimentada por apps e alertas constantes, tem um custo significativo nos nossos cérebros. Pode levar a uma diminuição da memória de trabalho e do controlo cognitivo (ou seja, a capacidade de organizar os pensamentos e controlar as emoções e comportamentos), uma maior dificuldade em filtrar informações irrelevantes e falta de atenção generalizada, o que pode conduzir a um aumento da fadiga mental e do stress. E estas consequências refletem-se não só a nível individual como institucional e social.

A tecnologia, concebida com o intuito de reduzir a carga cognitiva, está a criar novas formas de tensão mental, a fomentar práticas de disponibilidade constante e, paradoxalmente, a reduzir a capacidade de decisão e autonomia humanas. Está a gerar uma espécie de stress digital omnipresente que, gradualmente, esbate a linha, já ténue, entre produtividade e tempo de repouso.
Ou seja, esta promessa de que seremos mais produtivos graças à tecnologia é, na melhor das hipóteses, ingénua. Na pior, uma armadilha bem montada. Para quê responder a mais emails? Para quê termos reuniões mais curtas que nos deixam com tempo para mais reuniões? Não será que estamos a sacrificar tempo de qualidade, pensamento crítico, e até saúde mental, em nome de uma produtividade utópica que nunca se completa?

Em neurociência, já se sabe que a resolução de problemas complexos e a criatividade precisam de tempo de inactividade, ou seja, de ócio produtivo, de momentos em que o cérebro descansa e vagueia. É nesses intervalos de “preguiça” e “procrastinação” que muitas das melhores ideias surgem. Por isso, como é que mudamos esta tendência?

Talvez o segredo esteja em usar a tecnologia não para acelerar a vida, mas para abrandar onde for possível. Contrariar o velho ditado “Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”! E isso implica reaprender a parar, a priorizar e, se necessário, recalibrar a bússola interna de forma a enganar o algoritmo que guia esta aparente busca pela eficiência.»


13.8.25

Assim vai este triste país empobrecido

 


Daqui.

Marroquinos?

 


Volksvargas no Facebook.

13.08.1961 – O dia em que nasceu o Muro de Berlim







Começou a ser construído há 64 anos e durou 28. E o mundo nunca mais foi o mesmo.




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Imigração?

 


Agir com humanidade

 


«Perdemos o sentido de solidariedade e de compaixão pelos seres humanos. O caso dos imigrantes que desembarcaram na costa, em Vila do Bispo, é o exemplo mais recente. Não se trata de defender uma política de portas abertas ou escancaradas, como alguns gostam de chamar, mas sim de saber que pessoas não são carga e não podem ser tratadas como tal.

Devemos cuidar das nossas fronteiras e, mesmo que a opção seja fechá-las, temos de saber fazê-lo de forma inteligente. Sendo implacáveis com quem contrabandeia drogas ou pessoas, mas humanos com quem cai na armadilha de tentar conseguir uma vida melhor.

É difícil perceber como alguém pode ignorar o sofrimento que leva uma mãe a entrar num barco velho e sem condições e atravessar o mar alto em busca de um futuro melhor. Ninguém se sujeita a tais sacrifícios se não estiver num caminho sem saída. Ver uma mãe desembarcar por entre veraneantes numa praia do Algarve devia fazer-nos pensar mais em como tanta gente vive sem qualquer esperança e não em responsabilizar a pretensa inconsciência que coloca em risco a vida de um filho de apenas um ano.

Os portugueses votaram e deram maioria a um programa de Governo que defende um maior controlo da imigração. Essa é a essência da democracia que devemos respeitar, mesmo quem não concorda. Mas temos, todos, de exigir que tais políticas sejam implementadas de uma forma humana e capaz de respeitar os direitos das pessoas envolvidas.

Podemos trancar as portas da nossa casa, podemos ser antipáticos e não querermos qualquer relacionamento com os nossos vizinhos. Podemos fechar-nos dentro de casa, numa espécie de agorafobia coletiva, mas temos a obrigação de o fazer de forma legal, em primeiro lugar, e, sobretudo, de forma humana. E ter sempre a consciência que esse comportamento terá, inevitavelmente, uma resposta equivalente mais cedo ou mais tarde.»


12.8.25

Um belo par

 


Dois vasos com pegas, em forma de pássaro canoro. Porcelana casca de ovo, decorada sob o esmalte policromado com motivos pintados à mão. Fábrica Real de Cerâmica de Delft em Rozenburg. Cerca de 1914.
Projectados por Jurriaan Kok, pintados por Samuel Schellink.

Daqui.


Eduardo Galeano

 


12 de Agosto – Dia Mundial do Elefante

 




Estes são do Pinnawala Elephant Orphanage (Sri Lanka), fundado em 1975 para recolher sete pequenos elefantes órfãos. São agora muitos, de todas as idades, e os primeiros já são avós. Vi-os em 2011 e eram então 96.

Em 2021, nasceram dois gémeos neste orfanato, o que não acontecia no Sri Lanka há 80 anos!

(Em casa e no banho que vão tomar duas vezes por dia.)
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12.08.1963 – «Havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem»



Foi em 12 de Agosto de 1963, duas semanas depois de o Conselho de Segurança ter condenado a política colonial portuguesa, que Salazar fez um importante discurso – «Vamos a ver se nos entendemos» – , na RTP e na Emissora Nacional.

Mas seria esta frase, rebuscada bem no seu estilo, que ficaria na lista das citações históricas do ditador: «Havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem».



«Sem hesitações, sem queixumes, naturalmente como quem vive a vida, os homens marcham para climas inóspitos e terras distantes a cumprir o seu dever. Dever que lhes é ditado pelo coração e pelo fim da Fé e do Patriotismo que os ilumina. Diante desta missão, eu entendo mesmo que não se devem chorar os mortos. Melhor: havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem
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Constitucional, o teste de algodão da AD

 


«Gonçalo Almeida Ribeiro, o vice-presidente do Tribunal Constitucional (TC) que o PSD de Passos Coelho indicou, é um bom polemista e aprende-se muito lendo as suas crónicas e ensaios no Observador. A começar pela forma como impõe as suas convicções pessoais e a ideologia no exercício da sua actividade profissional. Precisamente aquilo que critica, de forma inusitada, nos oito (8) juízes que votaram em sentido contrário ao seu na verificação de constitucionalidade da Lei dos Estrangeiros. Não vale a pena perder muito tempo com o perfil deste juiz que veio alimentar a polémica da divisão ideológica no TC - na verdade, ela existe desde a primeira composição do Constitucional, quando substituiu o Conselho da Revolução -, mas convém lembrar que Almeida Ribeiro considerou - antes de lá chegar, como é óbvio - que o tribunal era “um governo de juízes” sem legitimidade democrática. Se as coisas tivessem corrido como ele “convictamente” entende que a sua carreira e a sua genialidade mereciam, Almeida Ribeiro nem teria de votar vencido a legislação para regular a imigração, porque estaria a trabalhar no Tribunal de Justiça da União Europeia. Não está porque um comité de gente experiente entendeu que a ele, apesar da excelência do seu currículo, lhe faltava experiênia.

A evidência de que a interpretação sobre a conformidade das leis à Constituição tem um viés nas convicções e experiência pessoal de cada um dos juízes é que fez com que Mário Soares - o Presidente que mais pedidos de verificação fez (30) - achasse que tinha mais hipóteses de sucesso se olhasse para o mapa de férias dos juízes. Mas isso nunca retirou independência à grande maioria deles e Soares perdeu em quase metade dos casos (13). Foi, aliás, essa independência que fez com que, no período da Troika, o TC decidisse umas vezes a favor e outras contra o governo. E o que não havia era respostas claras para as perguntas que foram colocadas aos juízes do Palácio Ratton.

Regresso a Almeida Ribeiro para recuperar uma pergunta que o próprio fez e que vai exactamente neste sentido: “Estando em causa questões onde o texto constitucional não oferece respostas claras, que sentido faz a opinião de uma maioria simples de juízes prevalecer sobre a de uma maioria de deputados eleitos?” Parece uma pergunta retórica, se entendermos que a legitimidade democrática vem unicamente do voto, mas é importante ouvir a opinião dos que consideram que a separação de poderes é mais importante para a Democracia que o voto. É por aqui, aliás, que florescem autocracias eleitorais um pouco por todo o mundo. A tentativa de controlar o tribunal que verifica o respeito pela Constituição é o primeiro passo dos autocratas. O segundo é mudar a própria Constituição, sempre garantido o direito de voto, mas não a separação de poderes.

Aqui chegados, devo dizer que aguardo com expectativa para saber como vai o PSD resolver a necessária substituição de três juízes do TC no final do Verão. Dois foram nomeados pelo próprio PSD (Almeida Ribeiro e Teles Pereira, que fizeram a declaração de vencidos) e uma nomeada pelo PS. Vai procurar manter o equilíbrio e negociar uma lista conjunta com o PS ou vai fazer um “all-in” jogando as cartas do Chega e da IL e fazer todas as mudanças no TC (estas são apenas as primeiras de várias nesta legislatura) à direita? Não quero acreditar que isto seja possível, mas o mundo está como está.

“Os Verdes” da AD

O partido que já foi de Adelino Amaro da Costa, Freitas do Amaral e Lucas Pires é uma boa caricatura do caminho que está a fazer a Direita. Com dois deputados, o CDS anda a toque de caixa do PSD e a reboque das ideias do Chega e dos ditos de Ventura. O actual CDS adora fazer de Chega, mas é só “Os Verdes” da AD. Sem rigorosamente peso nenhum no andamento das coisas, Nuno Melo e os seus escudeiros no Parlamento limitam-se a fazer aquilo que Putin diz que a Europa faz com Trump: abana a cauda. Ouvir João Almeida dizer que “o PR e o TC não podem dar à esquerda a maioria que o povo lhe tirou” é tão só ouvir o eco de André Ventura a dizer que “um espírito de esquerda apoderou-se das instituições e contraria aquilo em que os portugueses votaram no dia 18 de Maio”. Entre os dois tuítes passaram apenas 12 minutos e o primeiro foi, claro está, do chegano.

O teste de algodão da AD também passa por manter firme a convicção de que rever a Constituição não é uma prioridade do país.»


11.8.25

Israel matou cinco jornalistas de Al Jazeera

 


«ISRAEL MATOU CINCO JORNALISTAS em Gaza. No mesmo dia matou mais 52 palestinianos. Matar os jornalistas que ainda conseguem trabalhar na Faixa de Gaza é matar os olhos que ainda podem ver e contar o que está a acontecer. O grande inimigo de Israel, neste momento, já não é o Hamas, é a verdade! E a verdade pode ser ainda pior se Israel concretizar o que Benjamin Netanyahu anunciou: a tomada e controlo da cidade de Gaza. O ataque aos jornalistas, todos da Al Jazeera, foi um ataque directo a uma tenda de jornalistas à entrada de um Hospital. Israel assumiu o ataque e argumentou que um deles, Anas al-Sharif era um "terrorista". Na foto, dois dos jornalistas assassinados: Anas al-Sharif e Mohammed Qreiqeh.»

José Manuel Rosendo no Facebook.

Texto completo AQUI.

Os buracos no guarda-sol

 


«Um vendedor ambulante na praia apregoava guarda-sóis com a promessa de serem os mais robustos e protetores do mercado. Resistentes aos raios mais agressivos, garantiam sombra nos dias abrasadores e refúgio de frescura para toda a família, permanecendo firmes quando abanados pelas teimosas nortadas de agosto. Crédulos e esperançosos, fartos de ver os seus guarda-sóis a rolarem pelo areal e as respetivas lonas esventradas pelo vento ano após ano, não faltaram banhistas a querer adquirir a nova sensação de verão. Mas quando o sol começou a queimar com força, aperceberam-se de que o impenetrável tecido se revelava afinal esburacado, permitindo a passagem do calor e deixando as pessoas sem proteção, sobrando apenas o cabo do guarda-sol, firme na mão, mas inútil contra os escaldões.

Entre promessas de resguardo e a realidade que se infiltra pelos buracos, também o Governo parece estar a entregar às famílias um abrigo diferente do apregoado, oferecendo-lhes uma sombra furada por onde se infiltra a claridade da vida real. Nos discursos, a família tem sido apresentada como prioridade, mas as medidas recentemente anunciadas parecem esquecer que a família não é um conceito abstrato - é um conjunto de pessoas que precisam de condições concretas para viver com dignidade. E dignidade não se constrói com palavras, mas com políticas consistentes e firmes. Resistentes aos fenómenos extremos - os meteorológicos e os outros.»

Continuar a ler AQUI.

Só falta a amamentação

 


Montenegro e Ventura: não há casamento (ainda), mas já há uma “relação séria”

 


«Há tantas palavras para definir coligações políticas como para definir relações amorosas. Do “ficante” brasileiro (“amigo colorido” é o mais parecido por cá, acho) ao casamento, há muitas classificações disponíveis para uma e outra coisa.

Montenegro tinha recusado coligações de Governo ou acordos de apoio parlamentar com o Chega. Isto é a base do “não é não”. Todas as outras formas de relação parlamentar sempre estiveram em aberto.

Se o Chega já foi “ficante” do PSD em algumas matérias, como chegou a ser PS em outras na anterior legislatura, claramente o namoro está a evoluir para uma “relação séria”, como se escrevia nos anúncios de casamento nos jornais do passado (“Cavalheiro procura senhora”), quando ainda não havia aplicativos de encontros nem redes sociais como o Facebook que, como toda a gente sabe, tem várias valências.

José Luís Carneiro desafiou o Governo, depois do chumbo do Tribunal Constitucional, a discutir a lei dos Estrangeiros com o PS, isolando o Chega, mas tudo indica que não vai ter sorte nenhuma.

Não há quaisquer sinais que o Governo decida agora trocar de parceiro parlamentar numa legislação onde, hoje, a sua política está muito mais próxima do que o que defende o Chega do que o que defende o PS.

Em editorial do PÚBLICO, David Pontes aponta que o futuro da lei dos estrangeiros será um “momento clarificador para o resto da legislatura”. Tem toda a razão.

Mas, tanto por convicção como por táctica, duvido que Luís Montenegro altere a linha que imprimiu aos primeiros meses do novo Governo. Na realidade, Montenegro sempre pensou que podia precisar do Chega: foi quase preciso apontar-lhe uma pistola à cabeça para ele pronunciar o famoso “não é não” — Montenegro foi defensor do acordo dos Açores e gabou-se disso perante o seu adversário nas directas Jorge Moreira da Silva, que era contra.

Depois, há a táctica: não convém a Montenegro um Chega com os dois pés na oposição, embora, como o David Pontes aponta, isso não é garantia que, mesmo assim, o partido de Ventura não continue a crescer.

E, depois, há o espírito do tempo, que aquela palavra alemã zeitgeist tão bem traduz.

O zeitgeist está com Ventura — não foi em vão que o candidato do PS à Câmara de Loures, Ricardo Leão, inventou uma coisa chamada “Gabinete de Defesa da Identidade Local”, para acolher denúncias de habitações ilegais ou excesso de lotação em casas. Se se juntar isto às demolições do Bairro do Talude e à aprovação da proposta do Chega para que os envolvidos em desacatos, como os que houve na sequência da morte de Odair Moniz, percam o direito à habitação camarária se ali viverem, o Chega também está infiltrado no PS.

Marcelo foi contra a maioria parlamentar e enviou a lei dos Estrangeiros para o Tribunal Constitucional. O TC chumbou, mas basta ler algumas declarações de voto dos juízes que votaram contra para se perceber que o zeitgeist também está dentro do Tribunal Constitucional.

André Ventura queixou-se que “um espírito de esquerda se apoderou das instituições”. O mesmo diz o vice-presidente do Tribunal Constitucional Gonçalo Almeida Ribeiro e o juiz António Teles Pereira, que acusam o processo que levou ao chumbo de ter servido de “pretexto para os juízes transportarem para o plano constitucional as convicções que legitimamente têm enquanto cidadãos violando a igualdade democrática”.

Outra juíza, Maria Benedita Urbano, vai mais longe: o chumbo “tem como consequência a manutenção de uma política de fronteiras abertas” e a decisão “mostra-se alheada” do país que, para Benedita Urbano, vive numa “situação catastrófica” por causa dos imigrantes.

O pensamento do Chega é hoje o pensamento do PSD e o “espírito do Chega” também parece pairar no voto de vencido de alguns juízes. Vai ser com o PS, hoje remetido a terceira força política, que o PSD vai fazer a lista dos próximos juízes? Duvido muito — basta ver a quantidade de vezes que o PS se oferece para "pactos" e é rejeitado.

Com todas as dificuldades para redigir uma nova lei de estrangeiros — há autárquicas e a Assembleia fica a meio gás, há Orçamento e a Assembleia dedica-se quase em exclusivo ao Orçamento, o Governo pode bem esperar por uma nova composição do Tribunal Constitucional que lhe seja mais favorável para a aprovação da “sua” lei de estrangeiros.

Será, já se sabe, uma composição obviamente despida de “preconceitos ideológicos”, uma expressão que em politiquês significa “alguém que tem a mesma opinião que eu tenho” — neste caso, que o Governo e o Chega têm.»


10.8.25

Dois mil milhões de anos?

 


«Uma nova análise científica com base num catálogo que regista dados mundiais fósseis de ossos e conchas defende que a vida surgiu há quase 2 mil milhões de anos.»


A lógica dos factos

 


10.08.1912 - Jorge Amado

 


Faria hoje 113 e continuam, com toda a justiça, referências à sua vida, a muitos dos livros, às suas estadias em Portugal.

Outros lembrarão o essencial da sua obra, eu recordo o «acessório»: o que foi, entre nós, o retumbante sucesso de Gabriela, cravo e canela, a primeira de todas as telenovelas emitidas pela RTP, entre Maio e Novembro de 1977, com base na obra de JA com o mesmo nome. Companhia da hora do jantar, cinco dias por semana, em casa ou em cafés (eram muitas as famílias que ainda não tinham aparelhos próprios), era assunto generalizado de conversa, trouxe para a língua portuguesa termos e expressões brasileiras e transformou Sónia Braga num ídolo. 

A «Gabrielomania» fez parar literalmente o país: a Assembleia da República interrompeu os trabalhos pelo menos quanto foi emitido o último episódio (era vital saber se Gabriela ficava ou não com Nacib...).  

No dia seguinte à última emissão, o Diário de Lisboa discutiu o corte de trinta episódios, de que a telenovela terá sido objecto em Portugal.

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Um país de horas extraordinárias

 


«Nos últimos dez anos, a economia portuguesa tem criado mais e mais empregos. Hoje, a população empregada ultrapassa os 5,2 milhões e, apesar de o segundo trimestre beneficiar sempre da ajuda dos trabalhos de Verão, os números mostram que a força de trabalho voltou a engordar face ao ano passado quando os trabalhos de Verão também deram um empurrãozinho nesta estatística.

São boas notícias. E também surpreendentes quando lidas em conjunto com outras. No primeiro dia de Julho, o PÚBLICO noticiou que o Serviço Nacional de Saúde gastou 695 milhões de euros com tarefeiros — ou seja trabalhadores que não têm vínculo permanente ao Estado — e com horas extraordinárias em 2024.

Mais recentemente, o PÚBLICO adiantou que os efectivos do INEM tiveram de trabalhar horas extra equivalentes a 84 dias para que o serviço de emergência médica funcionasse. Tanto num caso como noutro, é conhecida a falta de recursos para prestar serviço público a uma população que cresceu e que, por ser mais velha e ter uma esperança de vida maior, precisa de mais cuidados médicos.

Mas este problema — de ser necessário trabalhar mais para que tudo funcione — não é um exclusivo da saúde. É fácil encontrar no Estado outros exemplos de carreiras em que o mesmo acontece. Também no início do mês de Julho contámos que a maior parte dos magistrados do Ministério Público dizem-se obrigados a trabalhar aos fins-de-semana e à noite para conseguir concluir trabalhos que têm em mãos. E no início do ano, revelámos a contabilidade das horas extraordinárias dos professores: no primeiro período tinham sido feitas quase 14 mil horas extraordinárias para colmatar a falta de professores.

No sector privado, o debate sobre as horas extraordinárias centra-se principalmente no preço a pagar por elas por parte das empresas. Mas é comum ouvir relatos de trabalhadores do sector privado, em diversos sectores, que têm de trabalhar com frequência horas além das regulamentares para que o seu trabalho esteja feito. E o serviço seja prestado ao cliente.

Parece cada vez mais certo que a evolução tecnológica, que chegou a ser vista como fonte de libertação do tempo dos trabalhadores para tarefas de lazer, não está a cumprir esta função. Também parece duvidoso que a organização do trabalho esteja a cumprir completamente o seu papel para permitir que cada um faça o seu trabalho dentro do seu horário. Por agora, a conclusão a que se chega é que há uma elevada probabilidade de Portugal funcionar à conta das horas extraordinárias.»


Vozes de Gaza