17.8.24

Árvores grandes, grandes árvores (3)

 


Castelo S Felipe del Golfo, Lago Izabal Guatemala, 2014.

Esta árvore lindíssima é um sapotizeiro (sapota zapotilla) e produz um fruto chamado sapoti ou sapota que pode ser comido ao natural ou em doces.

Os pré-colombianos da Guatemala extraiam da árvore uma resina chamada chicle, que mascavam pelo seu sabor agradável e que veio mais tarde a ser usada para fabricar… chiclete.

Já marchavam

 


Federico García Lorca

 


Federico García Lorca conta-se entre as primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola. Foi fuzilado, com apenas 38 anos, em Agosto de 1936, entre os dias 17 e 19, pelo seu alinhamento político com os Republicanos e por ser declaradamente homossexual.

Todos os anos nesta data, em Viznar, perto de Granada, ciganos cantam, dançam e dizem poesia em honra de Lorca e de cerca de 3.000 fuzilados pelos franquistas, cujas ossadas se encontram por perto. De madrugada, à luz de velas e das estrelas, sem nada programado, sem nenhuma convocação formal.







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Pai, filho e espírito olímpico

 


«Acontece muitas vezes e voltou a acontecer nos Jogos Olímpicos. No fim de uma competição desportiva, o vencedor aponta para o céu e agradece a Deus. Isto é verdadeira fé. O desportista não se limita a acreditar em Deus. Ele acredita que Deus todo-poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, nos intervalos de governar o universo, tem tempo e paciência para acompanhar, digamos, a Liga 3 — e, após análise cuidada do jogo, interferir no sentido de o Lusitânia de Lourosa-Anadia terminar com a vitória dos anfitriões por 3-2 (após 1-2 ao intervalo). Bem sei, bem sei: até os cabelos da nossa cabeça estão todos contados. Ainda assim, talvez seja cómico imaginar que Deus — que, às vezes, por distracção ou inabilidade, permite que um tsunami destrua cidades inteiras — não se esqueça de premiar João Vasco Lima Santos de Miranda com a autoria do golo decisivo com que o Lusitânia de Lourosa bateu o Anadia.

O fenómeno é ainda mais engraçado quando ocorre no mundo dos desportos de combate. Tenho visto muitos praticantes de artes marciais a agradecer ao Pai do céu o facto de lhes ter permitido espancar o seu adversário até ele ficar inanimado. No entanto, ao que me dizem, o adversário é filho do mesmo Pai. Ou seja, o lutador agradece que o Pai tenha um filho preferido — que, no caso, é ele. Vamos supor que as minhas filhas decidem lutar numa jaula. E eu, além de não as tentar impedir, em vez de ser um árbitro imparcial, ajudo uma delas a nocautear a outra. Em princípio, alguém chamará a Comissão de Proteção de Menores. É provável que investiguem que raio de educação tenho eu dado às miúdas. Talvez queiram saber a razão pela qual eu fiz questão de que uma delas sofresse uma concussão, para glória da outra. Também devem estar interessados em descobrir porque é que a minha filha predilecta não tem vergonha de me agradecer em público o facto de eu a preferir, nem de revelar que contribuí para a sua vitória. E eu, como creio que sabem, nem sequer sou omnipotente. Esse é outro problema. O atleta crente revela que deve a sua vitória ao facto de ter uma entidade todo-poderosa do seu lado. Ora, assim também eu ganho. É doping metafísico, a que o Conselho Nacional Antidopagem, ao que parece, continua a fechar os olhos. O desportista mais admirável, nesse caso, é o derrotado. Sobretudo quando, mesmo enfrentando Deus, consegue só perder por 3-2 aos 90’+1’, como o Anadia. Glória ao Anadia.»


16.8.24

Árvores grandes, grandes árvores (2)

 


Santa Marta, Colômbia, 2012.

Esta magnífica árvore é da Quinta de San Pedro Alejandrino, construída no século XVII e onde Simón Bolivar (o grande herói que contribuiu para a independência de uma série de países da América Latina como Colômbia, Venezuela, Equador, Peru e Bolívia) passou os últimos dias da sua vida e onde morreu em 17 de Dezembro de 1830: esperava um barco que o levaria a Espanha para ser submetido a tratamentos de males pulmonares, mas o dito barco não chegou a tempo.

Há mais árvores lindíssimas na quinta.

Isto

 


AL e condóminos

 


No meu prédio não há AL Mas eu apostaria uma boa maquia em que nunca haverá: os condóminos tratariam do assunto.

Notícia AQUI.

Trabalhadores altamente desprestigiados

 


«Portugal é um país encantador. Dentre as modalidades de vistos oferecidas aos imigrantes que buscam este pedaço de paraíso na Terra, está aquela que promete receber profissionais que desempenham as chamadas atividades altamente qualificadas. São titulares do grau de bacharel em determinadas áreas científicas, como a tecnologia da informação, ou tecnólogos com, pelo menos, cinco anos de experiência. Mas Portugal não tem cumprido a sua parte neste combinado.

Atraídos por esta promessa, milhares de profissionais com currículos notáveis vêm aplicando para o visto D3. Muitos deles são brasileiros que escolhem Portugal e formam uma mão de obra que pode ser decisiva para colocar o país em melhor condição económica. Porém, ao chegarem aqui, esses trabalhadores e suas famílias têm experimentado o dissabor de anos a espera de que Portugal emita seus títulos de residência.

Não se trata aqui de imigração ilegal, pelo contrário, estamos falando de pessoas que cumpriram todos os requisitos estabelecidos pelo mesmo governo que os atrai com a promessa de que serão tratados com o suposto prestígio da atividade profissional que desempenham, mas que acabam por beirar, sem documentos, a indigência. Chegam com contratos de trabalho e salários que se transformarão em consumo e impostos, mas esperam, cansam-se e vão embora para outros países da União.

O European Innovation Scoreboard (EIS) é uma ferramenta de avaliação comparativa desenvolvida pela Comissão Europeia para analisar o desempenho em inovação dos Estados-Membros. Dentre os indicadores que compõem o EIS, está aquele que mede o volume de habitantes com nível superior. Em 2022, Portugal acumulava notáveis 138.5 pontos, colocando-se, nesse critério isolado, ao lado de Innovation Leaders como a Suécia e a Finlândia. Em 2023, essa pontuação desceu para 113.9 pontos e, em 2024, para 97.

Em um momento em que o país experimenta uma grave crise populacional, não há nenhuma surpresa nos números acima. Para além do êxodo de jovens portugueses, que decidem viver em países europeus onde os salários são superiores, Portugal tem falhado em reter também as mentes brilhantes que recebe via imigração.

Logo, ainda que o país tenha conseguido um expressivo aumento na população de doutores, que cresceu cerca de 73% na última década, é imprescindível que volte suas atenções à fuga de cérebros em curso, e que pode ser aplacada com melhores esforços no tratamento dos imigrantes D3.

Aprendi, desde cedo, que, em boa harmonia, futebol, política e religião são assuntos a serem evitados. Mas é difícil aceitar que, a esta altura, futebolistas estrangeiros tenham via expressa na AIMA, a agência de imigração, enquanto outras indústrias e setores da economia padeçam no processo de imigração, ao ponto de desistirem de empreender por aqui.

Não que o futebol não mereça, pelo contrário. Como bom vascaíno, conheço bem as dores e as delícias do esporte. É que, em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Por isso, mais do que nunca, precisamos, com urgência, falar sobre imigração.»


Maintenant, «Faites vos jeux, Mr. Macron»

 


15.8.24

Árvores grandes, grandes árvores (1)

 


Howrah (perto de Calcutá), Índia, 2010.

«The great banyan tree», é uma árvore ficus benghalensis (figueira-de-bengala) que se encontra no Jardim Botânico Acharya Jagadish Chandra Bose Indian, em Howrah, nos arredores de Calcutá. É a maior árvore do mundo em termos de área ocupada (cerca de 14.500 metros quadrados) e estima-se que tenha pelo menos 250 anos.

René Magritte

 


57 anos sem ele.

Uma data, mil efemérides

 


É um mar de acontecimentos que teve lugar em 15 de Agosto, desde o (hipotético) primeiro contacto entre europeus e chineses quando sete barcos portugueses chegaram ao delta do Rio das Pérolas, à abertura do festival de Woodstock, passando pela independência da Índia, a fundação da ordem dos jesuítas, a inauguração do canal do Panamá e a separação das duas Coreias.

Quem quiser que festeje o que quiser, sem esquecer também que foi nesta data que morreu René Magritte e que assassinaram Macbeth, rei da Escócia. Quanto a nascimentos também não estamos nada mal, já que vieram a este mundo, em 15 de Agosto, o nosso queridíssimo Santo António, Napoleão e, num registo mais modesto, Sylvie Vartan e o inesquecível António Silva. E é ele que recordo porque numa comédia vivemos nós e esta vida são dois dias...

Mas temos feriado porque se festeja a assunção de Nossa Senhora que correria hoje o perigo de ser abalroada por um drone não identificado.

Sempre neste dia

 



Pactos e batatinhas

 


«Desde a pandemia, o “caos” de verão e de Natal nas urgências e nas maternidades foi central para a perceção do fim de ciclo político. Com a ajuda do ativismo do bastonário da Ordem dos Médicos, hoje deputado do PSD, as urgências fechadas eram o símbolo do estado do país e dos serviços públicos. Os problemas do SNS são estruturais e transversais ao resto da Europa. Com o aumento da esperança de vida e um desenvolvimento científico que cria novas expectativas, a pressão sobre o SNS é muito maior e a saúde custa, no público ou no privado, muito mais. Ou desistimos de garantir a todos o melhor do progresso em saúde ou desistimos do alívio geral de impostos, optando por distribuir melhor encargos fiscais crescentes. A isto junta-se o especial envelhecimento do país e as justas expectativas alimentadas pelo que já foi um dos melhores SNS da Europa. As coisas não estão bem, mas a sensação de caos é dada pelas urgências, e especificamente na obstetrícia. Temos falta de médicos, mas no ano passado bateram-se recordes de consultas, operações e atendimentos. Perante o aumento do investimento público e da despesa privada em saúde, é preciso racionalizar meios. Foi para isso que se criou a Direção Executiva do SNS.

O novo Governo dedicou os primeiros meses do seu mandato a um plano de comunicação, com a apresentação de pacotes e planos de emergência. Apesar de Montenegro ter garantido que o plano de 16 medidas urgentes se tratava de “um programa, como se diz no próprio título, que visa dar uma resposta imediata a vários problemas, dificuldades e constrangimentos” nos três meses seguintes, só uma está concluída. A direita quis convencer as pessoas de que as soluções eram simples e só não eram aplicadas por preconceito ideológico do PS, que até aumentou o recurso do SNS ao privado. É verdade que os seguros de saúde representam 40% do mercado, mas apenas 3% a 5% da despesa, o que, como explicou o economista Pedro Pita Barros, quer dizer que “muitas pessoas têm seguros, mas consomem cuidados que custam pouco”. Não será o privado a aliviar os problemas do público. A falta de médicos é geral e o máximo que se pode fazer, recorrendo ainda mais ao privado, é mobilizar para lá os médicos do público, agravando o problema.

Perante o embate da propaganda com a rea¬lidade, Ana Paula Martins, que só conseguiu criar métodos de seleção ainda mais complexos, atrasando a contratação de médicos para o SNS, começou a disparar para todo o lado. Contra o INEM, mentindo sobre a renovação dos contratos dos helicópteros. Contra “a cadeia de liderança” do SNS, que acusou de fraqueza. Contra a Direção Executiva do SNS, tentando a humilhação pública. Não foi pelos problemas acumulados no passado que, logo em meados de julho, os encerramentos e os constrangimentos nas urgências já eram, respetivamente, 40% e 300% superiores aos do verão passado. As coisas pioraram porque a ministra começou o mandato a destruir o que era o princípio de uma solução e a afastar quem estava a mostrar trabalho.

Apesar de a situação ter piorado, os denunciantes mudaram de lugar. As televisões foram dando conta das falhas, mas não criaram o clima emocional que levou à demissão de Temido e ao desgaste de Pizarro e Costa, mostrando que o jornalismo é hipersensível aos ciclos políticos. O Presidente, que antes navegava na maré de descontentamento, diz que a ministra precisa de tempo, ignorando o estrago que provocou no pouco tempo que teve. Quanto à Ordem dos Médicos, se antes era surda aos apelos do Governo, impondo um mínimo irrealista de médicos nas urgências (especialmente relevante em obstetrícia), de que os privados estavam dispensados, mostra-se agora disponível para rever o que era inegociável.

Chegados aqui, a novidade é um apelo para um “pacto para a saúde”. Na oposição, o PSD instrumentalizou a Ordem e espalhou um ambiente de histeria que impediu qualquer debate. Em campanha, prescreveu receitas milagrosas baseadas em convicções ideológicas. Nos PowerPoints prometeu respostas “imediatas”. No terreno rebentou com soluções que demoram tempo a implementar e afastou quem as aplicava. Esgotado o efeito de pacotes e planos, tenta passar para o próximo número de comunicação: o dos pactos. Só que a situação das urgências não se agravou por intransigência da oposição, mas pela arrogância conflituosa da ministra. Não se entra a partir tudo e, quando se percebe que se fez asneira e se prometeu o impossível, pedem-se pactos e batatinhas. O pacto já existe e chama-se Lei de Bases da Saúde. A reforma estrutural já avançou e chama-se Direção Executiva do SNS. Falta deixar que as reformas mostrem resultados. O que Montenegro quer é que a oposição o salve da ministra que escolheu.»


14.8.24

Esperança de vida na Europa

 


Ora bem...

 


14.08.1936 – Os massacres de Badajoz

 


Em 12 de Agosto de 1936, as tropas nacionalistas começaram o assalto a Badajoz, naquela que foi a luta mais dura desde o início da Guerra Civil. Quando a cidade se rendeu, todos os que tinham resistido foram levados para a praça de touros, ou para as imediações do cemitério, para serem executados ─ no dia 14 de Agosto de 1936. Não se conhece exactamente o número de mortos, que varia, segundo as fontes, entre 2.000 e quase 4.000.






O governo português foi cúmplice das tropas nacionalistas, tanto deixando que alguns dos seus elementos penetrassem no nosso território em perseguição aos republicanos, como colocando alguns destes na fronteira do Caia, de onde foram levados para Badajoz e executados.
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14.08.1385 – A nossa Padeira

 


Conta a história ou a lenda, e para o caso pouco importa, que foi num 14 de Agosto que «uma mulher corpulenta, ossuda e feia, de nariz adunco, boca muito rasgada e cabelos crespos», com seis dedos em cada mão, Brites de Almeida de seu nome, pegou em armas e se juntou às tropas portuguesas que se fartaram de matar castelhanos. Veio a casa, despachou mais sete que encontrou escondidos no forno e fez-se de novo à estrada. Não tinha vocação para «pactos de regime».
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Taxar os super-ricos

 


«E se fosse possível aumentar as receitas fiscais em mais 230 mil milhões de euros por ano com um imposto que recaísse apenas sobre 3% dos contribuintes a nível mundial? E se com essas verbas fosse possível aumentar as dotações para áreas tão fundamentais como a educação, a saúde, a proteção social e a crise climática? A ideia parece boa demais para ser verdade e, para já, não passa de um desiderato, mas começa a ganhar forte tração. Na última cimeira do exclusivo clube das maiores economias do Mundo (G20), o Brasil, que detém a presidência até novembro, propôs a criação de uma taxa de 2% sobre as maiores riquezas para financiar os projetos da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Embora não conste do texto final da declaração do Rio - porque não houve unanimidade -, foi a primeira vez que a medida foi discutida ao mais alto nível.

De acordo com o Observatório Fiscal da União Europeia, há menos de três mil bilionários em todo o Mundo. E o que têm em comum? O economista francês Gabriel Zucman, fundador e diretor do referido instituto e autor do relatório pedido por Lula da Silva para apresentar ao G20, responde: são maioritariamente homens e pagam menos impostos, em termos percentuais, do que os seus empregados e os trabalhadores da classe média em geral. O Relatório Global sobre Evasão Fiscal 2024 revela que os multimilionários têm taxas de imposto efetivas entre 0% e 0,5% da sua riqueza, “porque usam frequentemente empresas de fachada para evitar o imposto sobre o rendimento”.

Já houve países, como a Noruega e Espanha, que taxaram as grandes riquezas, o que levou a um êxodo dos multimilionários para países com regimes fiscais mais favoráveis. E esse é um argumento de peso a favor de quem deseja manter tudo como está. Para Zucman, não é preciso que haja um consenso global sobre a taxa de 2%. Basta que uma massa crítica de países acorde regras para impor uma tributação efetiva e equitativa dos ultrarricos, independentemente da sua residência fiscal. Sendo a equidade fiscal um dos pilares da democracia, é imperativo fazer esse caminho.»


13.8.24

Bichos há muitos (1-8)

 


FIM.

Os ultimatos de Marcelo

 


13.08.1961 – O dia em que nasceu o Muro de Berlim







Este começou a ser construído há 63 anos e durou 28. E o mundo nunca mais foi o mesmo.




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Os jovens não estão a envelhecer bem

 


«O estudo que divulgamos hoje da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) sobre idadismo no local de trabalho é um contra-senso em relação às discussões que costumamos ter sobre idade. O que é habitual nas sociedades ocidentais é que o termo idadismo esteja principalmente relacionado com o preconceito em relação a quem é mais velho e não em relação a quem é mais novo. Por essa razão, os resultados deste estudo acabam por ser surpreendentes.

Interrogados sobre se já sentiram algum tipo de discriminação moderada ou grave no emprego por causa da idade, 42,3% dos trabalhadores entre os 18 e os 35 anos relataram níveis moderados ou elevados de discriminação em função da idade, que só foram referidos por 28,6% dos trabalhadores de meia-idade e por 25,6% dos trabalhadores mais velhos.

Os “jovens são o futuro”, ouvimos regularmente, numa sociedade em que, genericamente, os padrões de beleza, de dinâmica, de ambição, de inovação, estão quase sempre associados à juventude, e seria de esperar que, de alguma forma, isso aparecesse reflectido também no mundo laboral.

Mas aquilo para que aponta o trabalho da FFMS é que há muitos jovens a viverem o presente com uma sensação de injustiça motivada por estereótipos, o que tem impacto na sua saúde mental e que pode prejudicar a sua actividade profissional.

O estudo deixa-nos perante mais interrogações que certezas, mas com uma ideia positiva e uma perspectiva negativa. As interrogações são especialmente sobre como estão a funcionar os nossos espaços de trabalho. Será que existe um bloqueio ao que é novo e que pode ser mais disruptivo? Temos estruturas demasiado hierarquizadas onde a experiência é sobrevalorizada em relação ao conhecimento? O mérito é suficientemente ponderado nas escolhas que são feitas ou as estruturas são avessas às mudanças?

A ideia positiva é que, apesar de tudo, o estudo revela que, em média, os trabalhadores portugueses relatam "níveis relativamente baixos" de discriminação etária. Um contraponto, se considerarmos que para os mais novos se perspectiva uma situação ainda mais agreste no futuro. Somos um país em que, até 2050, mais de um terço da população deverá ultrapassar os 65 anos, o que resultará em carreiras profissionais mais longas e, previsivelmente, maiores bloqueios para a progressão dos mais jovens.

Quando uma geração já sofre tanto em áreas cruciais da sua vida, como no acesso à habitação, este estudo é um sinal de alerta, que deve obrigar a reforçar o diálogo intergeracional, se queremos sociedades mais coesas, que beneficiem, sem preconceitos, do melhor de cada um.»


Google?

 


12.8.24

Bichos há muitos (8)

 


Orfanato de Elefantes de Pinnawala, num dos dois banhos diários. Sri Lanka, 2011.

Este orfanato foi fundado em 1975, com sete elefantes órfãos. Cresceu e multiplicou-se e os primeiros órfãos já são avós. Abriga a maior manada do mundo de elefantes cativos, de três gerações: em 2023 eram 71, dos quais 30 machos e 41 fêmeas.

Atrai ao Sri Lanka estudiosos do mundo inteiro e é objecto de muitos filmes e livros.

HOJE É O DIA MUNDIAL DO ELEFANTE.

12.08.1963 – «Havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem»



Foi em 12 de Agosto de 1963, duas semanas depois de o Conselho de Segurança ter condenado a política colonial portuguesa, que Salazar fez um importante discurso – «Vamos a ver se nos entendemos» – , na RTP e na Emissora Nacional.

Mas seria esta frase, rebuscada bem no seu estilo, que ficaria na lista das citações históricas do ditador: «Havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem».



«Sem hesitações, sem queixumes, naturalmente como quem vive a vida, os homens marcham para climas inóspitos e terras distantes a cumprir o seu dever. Dever que lhes é ditado pelo coração e pelo fim da Fé e do Patriotismo que os ilumina. Diante desta missão, eu entendo mesmo que não se devem chorar os mortos. Melhor: havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem

aqui e aqui mais duas partes do discurso.
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Eduardo Galeano

 


O valor de martelar a realidade para dar uma borla fiscal

 


«O artigo de Manuela Ferreira Leite no semanário Expresso de 2/8/2024, O valor de decidir, é muito mais que uma defesa da descida do IRC — é uma tentativa de justificar essa descida como algo não-ideológico, assente em boas práticas e no pensamento comum. De certa forma, o único caminho inevitável para gente moderada e sensata. Só que a justificação deste centrismo iluminado rapidamente choca de frente com a realidade.

Segundo Manuela Ferreira Leite, qualquer outra visão de política económica que não resulte na descida do IRC está toldada por motivos ideológicos. Daqui se depreende que Ferreira Leite e a ortodoxia que encarna estão intelectualmente isentas. É uma soberba tão grande quanto falsa. Talvez fosse útil revisitar o que disse um dos maiores economistas de todo o sempre: “Cidadãos práticos que se dizem isentos de qualquer influência intelectual e ideológica são, tipicamente, escravos de algum economista defunto.” E as justificações que Manuela Ferreira Leite escreve estão há muito enterradas.

A recusa da descida do IRC, de acordo com Manuela Ferreira Leite, “baseia-se em preconceitos e não na realidade, porque esta seria a redução de impostos que mais efeitos produziria na actividade económica, criando riqueza, que beneficiaria de forma sustentável os que mais precisam de protecção.” Escrever este encadeamento de palavras é fácil: encontrar sustentação para elas é francamente mais difícil. O que se reproduz nesta passagem é a típica fezada da economia da pinga (trickle-down economics): “Vamos descer os impostos aos mais ricos e, por algum milagre, os benefícios vão decair para toda a sociedade.” Caro leitor, qualquer semelhança com o neoliberalismo é mera coincidência — já vimos que a linha de Manuela Ferreira Leite é isenta de qualquer ideologia.

A descida do IRC irá beneficiar desproporcionalmente poucas empresas — e as que menos precisam. Cerca de 40% das empresas não pagam IRC, seja porque não apresentam lucros tributáveis, seja pela quantidade de isenções fiscais que têm à disposição. Mas olhemos para as que pagam: a taxa efectiva média situa-se em torno dos 20%, abaixo da taxa normal de 21%. Porquê? Sobretudo porque o tecido industrial português é assente em lucros baixos que ocorrem em empresas muito pequenas. Por isso, a diminuição do IRC não irá beneficiar significativamente estas empresas.

Então, quem beneficia? Sobretudo as grandes empresas, as mesmas que hoje apresentam lucros recorde e que terão aqui uma borla fiscal bastante apetecível. Seria de esperar que estas pagassem o grosso do IRC — e pagam —, mas será que pagam muito mais IRC do que as pequenas empresas? Segundo o Banco de Portugal, nem sempre: “A ideia de que as grandes empresas pagam mais IRC do que as pequenas nem sempre se confirma.” Isto ocorre sobretudo porque o poder económico que as grandes empresas têm abre portas a instrumentos de engenharia fiscal que não estão disponíveis às mais pequenas, permitindo que se reduza significativamente o montante tributável.

Mas que fique claro: ninguém à esquerda se opõe, à partida, à descida do IRC. Opomo-nos à fezada de que irá resultar, por si só, em salários mais altos, mais investimento na economia e maior produtividade. Se a descida do IRC vier num pacote que inclua aumentos salariais, aumento da democracia nas empresas, representantes dos trabalhadores nos conselhos de administração e reforço da sindicalização, a esquerda não se irá opor. Dessa forma existem garantias de que irá beneficiar toda a sociedade — e não os mesmos de sempre.

É uma quimera acreditar que uma descida de um qualquer imposto resultará, por si, em benefícios para a sociedade. Não é só porque a fiscalidade é um mau instrumento de política económica. É sobretudo porque a correlação entre crescimento económico e nível geral dos impostos é nenhuma. Não há nada de natural ou ideal nesta ou naquela taxa de imposto: depende tudo da ideologia dominante e da correlação de forças. Quer se creia que se é isento ou não.»


11.8.24

Bichos há muitos (7)

 


Centro de Protecção de Tartarugas. Kosgoda, Sri Lanka, 2011.

As tartarugas desovam na praia, os ovos são recolhidos e «chocados» debaixo de terra. Algumas semanas mais tarde as crias nascem, são guardadas três dias em tanques e depois lançadas ao mar.

Em tanques especiais, vivem algumas estropiadas, muitas delas recolhidas nos destroços do tsunami de 2004. A primeira à esquerda no tanque, sem uma pata, não será lançada ao mar.

Era Verão e bem «quente»

 


Capa da Time, 11.08.1975.

Dantes é que era bom

 


Extrema-direita: a importância de falar

 


«O primeiro condenado na onda de desacatos no Reino Unido viu ser-lhe aplicada uma pena de três anos de prisão. Derek Drummond já tinha 14 condenações anteriores e confessou ter participado no motim e ter atirado objetos a polícias. Centenas de detidos estão a chegar aos tribunais, depois de uma semana em que as ruas foram tomadas pela raiva, alimentada a notícias falsas e mensagens de ódio contra migrantes e refugiados.

A violência que nos tem chegado através das notícias e de relatos da comunidade portuguesa justifica reflexão. Desde logo, pela velocidade a que as informações falsas sobre o atacante de Southport circularam entre grupos de extrema-direita, mostrando como não há esclarecimentos ou factos capazes de travar uma mentira em que demasiadas pessoas gostam de acreditar.

Importa olhar, por outro lado, para a capacidade de mobilização da extrema-direita. Como um exército do mal, em poucos dias tomou progressivamente ruas e cidades, mostrando que o ódio não se limita a gritos de ordem, mas tem corpo, armas e sangue. Os riscos do nacionalismo, do extremismo e da intolerância não são teóricos ou imaginados: são reais e capazes de impor o caos com operações disseminadas em grupos estruturados e através das redes sociais.

Só por ingenuidade se pode acreditar que a ameaça da extrema-direita é um assunto exagerado pela comunicação social e que meia dúzia de sinais mais violentos não deve causar preocupação. Importa, pelo contrário, continuar a fazer perguntas incómodas. Que capacidade operacional têm os grupos extremistas? Que grau de organização apresentam, por exemplo em Portugal? Que vigilância têm as autoridades exercido sobre eles, quando assistimos a incidentes cada vez mais ostensivos em eventos e locais públicos? Este é um tema que nos deve convocar a todos, porque só unidos na defesa dos valores democráticos travaremos a violência, a xenofobia e a intolerância. Tal como nas ruas de Londres a união e os gritos antirracistas ocuparam as ruas, tomando-as antes que o ódio o fizesse.»