13.10.12

Praça de Espanha, hoje - e ainda dura



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Nem os caracóis escapam!

Iria certamente hoje à Praça de Espanha




... se por aqui andasse. Faria hoje 91 anos.
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Manifestação 13 de Outubro - Programa final

Estivadores de Portugal: A importância da nossa greve



No dia em que Passos Coelho afirmou, na Assembleia da República, estar disposto a recorrer a todos os mecanismos legais para enfrentar greves como a dos estivadores, estes publicaram este Esclarecimento. Talvez seja conveniente lê-lo...

Esclarecimento

Todos os dias os Portugueses são bombardeados com notícias sobre a greve nos portos cuja verdade fica perdida nos critérios editoriais da comunicação social.

Desde há largas semanas, os Estivadores estão em greve e durante este percurso têm desenvolvido variadas formas de luta. Actualmente, a “greve” dos Estivadores cinge-se aos sábados, domingos e feriados e dias úteis entre as 17 e as 08 do dia seguinte. Ou seja, cada estivador trabalha, afinal, o que trabalha cada português que ainda não está no desemprego: 8 horas por dia, 40 horas por semana.
Sabia que o ritmo de trabalho de um estivador chega a 16 e até 24 horas por dia? Sabia que nos portos se trabalha 24 horas por dia, 362 dias por ano?

Sabia que Portugal é dos poucos países da Europa onde os profissionais da estiva não têm direito a reforma antecipada por profissão de desgaste rápido?

Sabia que o trabalho na estiva é hoje extremamente especializado requerendo uma formação profissional exigente e sofisticada?

Sabia que devido aos equipamentos pesados envolvidos nas operações a nossa actividade, actualmente, não suporta amadorismos que conduzem, frequentemente, a acidentes mortais ou incapacitantes?

As empresas em vez de exigirem uma requisição civil dos Estivadores deveriam exigir o cumprimento da Lei aprovada em 1993 por um governo Cavaco Silva.

Porque, se os Estivadores “merecem” uma requisição civil, então porque não exigir que essa requisição se estenda a todos os Portugueses que ainda conseguem trabalhar um turno normal de trabalho e transformamos este País num campo de trabalhos forçados?

Com os Estivadores a trabalhar um turno normal de trabalho interessa responder a outra pergunta. Como é que havendo, neste momento, portos mais ou menos amigos a trabalhar, esta nossa “greve” provoca o bloqueio económico do País e entope as exportações redentoras? Pura e simplesmente porque as empresas do sector não querem admitir para os seus quadros as largas dezenas de jovens profissionais de que o mundo da estiva necessita. E o País jovem desempregado anseia.

Mas então é “só” por isto que os Estivadores estão em “greve” tão prolongada? Não. Ao longo dos anos as greves nos nossos portos têm-se sucedido por esta mesma razão. As empresas do sector apenas têm admitido novos Estivadores profissionais na sequência de greves de Estivadores.
Mas os Estivadores não se esquecem que já foram todos precários até 1979 e recusam voltar mais a esses tempos de escravatura, de indignidade e de miséria.

Acontece que as empresas monopolistas do sector portuário, estão a tentar aproveitar a passagem, esperamos que fugaz, de um governo com cartilha ultraliberal assumida, para lhes encomendar uma lei conveniente que acabe com a segurança no emprego, as nossas condições dignas e a organização sindical.

Para isso, este governo fez um acordo perverso com pseudo-organizações sindicais que representam, quando muito, 15% dos Estivadores nacionais — simulando um acordo nacional — e incendiando os portos onde trabalham os restantes 85% dos Estivadores. Com total menosprezo pelos prejuízos para a economia nacional que sabia ir provocar.

Em resumo, este governo assinou um acordo com os “amigos” de Leixões onde nas últimas duas décadas o sindicato aceitou, para os respectivos associados, uma diminuição salarial de cerca de um terço e o retalhamento do seu âmbito de actividade em clara violação da lei em vigor.

Assim, desde 1993, as empresas portuárias no porto de Lisboa admitiram cerca de 200 novos Estivadores efectivos enquanto, em Leixões, e no mesmo período, as empresas locais que pertencem aos mesmos grupos económicos das de Lisboa, admitiram o total de ZERO novos Estivadores efectivos.

Como se não bastasse a estes “sindicalistas” terem alienado o futuro dos seus sócios e respectivos filhos, bem como da restante juventude local, pretendiam agora, através deste acordo indigno, alienar as hipóteses de muitos jovens portugueses encontrarem no sector portuário uma alternativa para o desemprego, a precariedade, a miséria, a dependência e a emigração forçada.

Se aceitássemos o que nos querem impor, dois terços dos actuais Estivadores profissionais iriam engrossar as filas do desemprego. A que propósito, quando nos querem hoje a trabalhar 16 e mais horas por dia? É pela dignidade da nossa profissão que estamos em luta.

Os Estivadores de Lisboa, Setúbal, Figueira da Foz, Aveiro, Sines, Viana do Castelo, Caniçal — Estivadores do Portugal todo, porque não? — lutam por um futuro digno para os Portugueses. Por isso gritamos bem alto. E não nos calam!

Portugal, 12 de Outubro de 2012

(Daqui.)

12.10.12

Nobel da Paz? (3)



Alguns recortes:

«De início, pensei efetivamente que se tratava de um engano, ou de uma brincadeira, (...) Mesmo num sonho, não teria imaginado que alguém pudesse pensar seriamente nesta situação.»  

«It is tough to find fault with handing the Nobel Peace Prize to the European Union. But that is exactly the problem -- it shows a lack of imagination. It would have been more courageous to honor somebody who embodies what current EU leaders lack. Like Jacques Delors.»  

«Si l’Europe a réussi à rendre la guerre impossible entre ses membres, elle a échoué à s’imposer en tant que puissance qui compte sur la scène internationale.»

Nobel da Paz para a guerra da austeridade
«A União Europeia foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz pela Academia de Oslo na fase da sua história em que a política de austeridade, instituída como política única da instituição, criou mais de 25 milhões de desempregados, lança milhões de pessoas na miséria, reprime e suprime direitos humanos elementares.»  

«Unless the Nobel Prize committee members had a sudden attack of a cynicism, KTG would say that Barroso, Van Rompuy & Co deserve to win the prize for a single reason: Living peacefully in their bubbles while many European Citizens, especially those in the South, live in conditions that violate the EU human rights standards and conventions. In Greece and Portugal, in Spain and Ireland in the North, where social cohesion is breaking apart, the social welfare is collapsing, the needy cannot cover basic needs and the poor with less than 6,000 euro annual income get taxed.». 
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Faltava Policarpo para ajudar à missa



Comecei por ir à fonte oficial para não errar: segundo a Agência Ecclesia, «O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Policarpo, disse, hoje, em Fátima, que as manifestações e o povo a governar resultam na “corrosão da harmonia democrática” em Portugal» e que «não se resolve nada contestando, indo para grandes manifestações».

Entretanto, vejo que as declarações já estão online e dispenso-me de continuar as citações – para não me irritar e para evitar adjectivos pouco recomendáveis. Estão AQUI, é só ouvi-las.

E ainda há quem diga que o Concílio Vaticano II, cujo cinquentenário se comemorou ontem, não falhou! Não tivesse falhado e nunca esta criatura seria o principal responsável pela Igreja neste país – garantidamente. 
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Quem vai nestas cantigas?



A ler aqui.


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Nobel da Paz? (2)



 (N.B, - Na Noruega, cerca de 80% da população rejeita a entrada na UE. 

 Comentários encontrados por aí:

«É lógico, estes prémios são dados àqueles a quem restam quatro dias de vida. Descanse o sonho europeu em paz e longa vida à Europa dos escravos do Sul.» 

«Nobel inventou a dinamite que o tornou milionário. Isso diz tudo.»

«Se a paz é a desigualdade, bem-vindo seja o prémio.» 

«Porque não um Nobel póstumo a Franco por ter levado a cabo o seu "projecto integrador e de estabilidade da Espanha"?» 

«E o prémio Nobel do humor vai para a academia sueca.» (Miguel Cardina no Facebook) 

«Nobel lava mais branco.» (Sara Rocha no Facebook) 
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Nobel da Paz?



Ontem, estive umas horas longe de TVs e da net e, quando regressei a casa, percebi que tinha sido vítima de um «napalm fiscal»

Há pouco, li que o Nobel da Paz 2012 foi atribuído à União Europeia. Durante uns segundos, julguei tratar-se de um título do Inimigo Público ou da Imprensa Falsa, mas as fontes contradizem-me: o discurso feito em Oslo está disponível num site oficial, que não me parece ter sido objecto de ataques de hackers

Comentários? Já li entretanto umas dezenas, mas escolho este deixado por um leitor de El País: «Merece: está a destruir-se sem uma bomba, sem um tiro, sem um tanque, pacificamente, mas com efectividade máxima.»  

Para já, é tudo. Good morning and good luck, camaradas! 
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Nous sommes tous des portugais





José Gusmão, 1:30 de hoje, no Facebook: 

«Não me está a apetecer contar os muitos detalhes tristes desta noite, mas partilho convosco um belo momento: quando eu e o Ricardo Sá Ferreira estávamos à espera no autocarro para sair da prisão, um polícia entrou no autocarro e disse que "os portugueses ficam!". Toda a gente (nós os dois incluídos) pensou que isso queria dizer que continuávamos detidos (na realidade, saímos a pé). Mas nesse momento, quando o polícia perguntou "há portugueses aqui?", levantaram-se uns 20 braços de gente a dizer "je suis portugais, je suis portugais!". E alguém disse a frase inevitável: "Nous sommes tous des portugais". Nem tudo está podre no reino da Europa...» 
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11.10.12

IRS


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Miss Povo 2012



Mais um texto de Ricardo Araújo Pereira, na Visão de hoje. Impagável, como (quase) sempre.

«Quando o ministro das Finanças anunciou que o povo português era o melhor do mundo, vários cidadãos caíram nos braços uns dos outros a chorar. (...) Suecos, americanos, alemães, franceses e todos os outros povos do mundo ficaram a saber que têm de se esforçar um pouco mais. (...) 

Do ponto de vista económico, fazem todo o sentido os incentivos do Governo à emigração: qualquer país procura exportar o seu maior activo. Quando se diz que Portugal não é forte na produção de bens transaccionáveis, tal não é verdade. Produzimos povo muito bom (o melhor do mundo, aliás) e exportamo-lo cada vez mais.» 

Na íntegra AQUI.
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Roma, 11/10/1962 – Um Concílio



O Vaticano II teve início exactamente há 50 anos e durou cerca de três. Hoje, a imprensa mundial assinala o facto com relatos, testemunhos e apreciações.

Por vários motivos e em diversas instâncias, já escrevi sobre esta importantíssima fase da Igreja católica, que vivi intensamente, e participei num debate sobre o tema há cerca de um ano. Retomo muito resumidamente algo do que penso.

A grande esperança que o Concílio trouxe ao mundo católico foi que se estivesse a viver o início de uma nova era em que a primazia do «povo de Deus» vencesse a rigidez de uma estrutura hierárquica, rígida e esclerosada, onde tudo chegava do topo à base em perfeita harmonia, por uma correia de transmissão sem falhas nem desobediências. Ou, por outras palavras em que melhor nos entendemos, para a que a Igreja se tornasse uma instituição verdadeiramente «democrática».

Com a ajuda das características pessoais do «bom papa» João XXIII, e com as pressões de teólogos altamente qualificados, quase tudo foi posto em causa e, a páginas tantas, era de crer que não ficaria pedra sobre pedra: desde contestação de dogmas nunca vista, a modos de actuação com séculos de existência. Esses teólogos (entre os quais Ratzinger, o actual papa…) agruparam-se numa revista internacional de teologia – a Concilium – cuja versão portuguesa foi editada pela Moraes e que teve um papel decisivo, primeiro para a dita esperança e bem depressa para a grande desilusão de muitos que rapidamente bateram com a porta (entre os quais eu própria). 

Em 1966, João Bénard da Costa escreveu um texto que, durante muito tempo, foi uma referência do que acabo de dizer, reflectindo ainda a fase da esperança mas já com uma grande carga de dúvidas: «A Igreja e o fim dos constantinismos». Foi publicado em O Tempo e o Modo (nº 37, Abril de 1966), embora tenha sido preparado precisamente para uma das sessões ligadas à revista Concilium e está online para os mais curiosos. Nele é citado Hans Küng, precisamente a propósito dessa era pós-conciliar: «Será a realização de uma grande esperança ou será uma grande decepção. A realização duma pequena esperança – dada a gravidade da situação mundial e as necessidades da cristandade – seria uma decepção». E foi. 

Para mim, é desde então absolutamente claro o que em tempos resumi simplisticamente neste termos: «Com a distância que o tempo cria, parece hoje evidente que o Concílio não desiludiu por acaso ou por engano. O que se passou foi que a Igreja, ao mais alto nível, recuou, num sábio exercício de sobrevivência. A pesada pirâmide sobreviveu a um terramoto – abanou, mas não ruiu. A grande diferença em relação ao que se passou muito mais tarde numa outra pirâmide, a da União Soviética, foi que a Igreja resistiu quando percebeu que estava ameaçada. Durante o Concílio, também ela arriscou uma glasnost, uma abertura à sua maneira. Iniciou então um tímido aggiornamento, mas travou-o a tempo de não deixar que ele se transformasse em perestroika. Por isso se deu a debandada de muitos, com maiores ou menores angústias existenciais. A estrutura não cedeu – cederam eles.»

Ratzinger, o actual Bento XVI, foi um dos que mais rapidamente percebeu tudo isto e que tomou em mão, com outros, as rédeas do recuo. Talvez para evitar uma implosão. E assim chegou a papa. 
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A Europa revolta-se?



Através da ATTAC Andaluzia, cheguei a mais um importante texto de Vicenç Navarro : Rebelión en Europa contra el neoliberalismo

Dois excertos: 

«Como era de esperar, as classes desses países [onde estão presentes troikas] estão a revoltar-se contra políticas que, na sua grande maioria, estão a ser impostas ao público sem um mandato popular, já que não faziam parte do programa eleitoral dos partidos que estão no poder. Daí que a legitimidade de governos e instituições que regem a zona euro e a União Europeia sejam cada vez mais posta em causa. A atracção pela Europa, que era generalizada nos países do Sul (a maioria tinha sofrido ditaduras fascistas ou fascistóides durante muitos anos), está a desaparecer muito rapidamente. E até a conveniência do euro como moeda comum está a ser questionada. Várias sondagens, que têm aparecido nos principais meios de comunicação europeus, mostram que uma percentagem da população, que vai crescendo de ano para ano, considera que a entrada no euro é responsável pela perda de poder de compra. (...)

O que há a fazer é parar o endividamento, renegociando uma dívida que tem beneficiado a banca e os seus acionistas e ninguém mais. Não se pode avançar com um sistema financeiro que funciona para tão poucos, à custa do sacrifício de tantos. A banca privada perdeu a sua função social, que é fornecer crédito e, se não o faz, a sua existência não tem lógica. A dimensão do sector financeiro numa economia deve ser substancialmente reduzida, através de uma série de medidas que incluam uma carga tributária muito maior para a banca (sem afectar as poupanças dos cidadãos comuns), incidindo sobretudo nos grande depósitos e transações e nas atividades especulativas. » 

Na íntegra AQUI.
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10.10.12

Sensação de déjà vu



«Podem e devem fazer-se esses sacrifícios?
Eu reputo-os imprescindíveis; direi mais, eles têm de fazer-se: a nós só compete escolher a forma de fazê-los. (...)
Mas não tenhamos ilusões; as reduções de serviços e despesas importam restrições na vida privada, sofrimentos, portanto. Teremos de sofrer em vencimentos diminuídos, em aumentos de impostos, em carestia de vida. Sacrifícios, e grandes, temos nós já feito até hoje, e infelizmente perdidos para a nossa salvação; façamo-los agora com finalidade definida, integrados em plano de conjunto, e serão sacrifícios salutares.
É a ascensão dolorosa dum calvário. Repito: é a ascensão dolorosa dum calvário. No cimo podem morrer os homens, mas redimem-se as pátrias!»

António de Oliveira Salazar, 9 de Junho de 1928 
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A austeridade excessiva pode prejudicar terrivelmente a democracia



Só para francófonos (hélas!...): vale a pena ler o relato do diálogo que Jorge Sampaio manteve ontem, na internet, com leitores de Le Monde, sobre a democracia no mundo e em especial na Europa. 
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No Sábado, Praça de Espanha



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Três ex-presidentes da República e um outro



Num mesmo dia, o de ontem, os três ex-presidentes da República eleitos em democracia pronunciaram-se, directa ou indirectamente, em registos diferentes mas todos especialmente preocupados e críticos, sobre o estado actual do país e da sua democracia. Goste-se, ou nem por isso, de todos ou de nenhum deles, trata-se de um facto importante pelo seu significado. 

Ramalho Eanes deu uma entrevista à Rádio Renascença, Mário Soares publicou um extenso artigo no Diário de Notícias, Jorge Sampaio respondeu a perguntas de internautas, numa iniciativa de Le Monde.

Três citações que ilustram o tom e o estilo de cada um: 

Ramalho Eanes: «O Estado não pode gastar muito menos do que aquilo que gasta, em áreas consideradas fundamentais num estado social.» 

Mário Soares: «Quando os governantes manifestam medo do Povo - e fogem dele - algo vai muito mal. (...) É próprio de uma Ditadura.». 

Jorge Sampaio: «Devo dizer que a austeridade pela austeridade, a austeridade excessiva, pode prejudicar terrivelmente a democracia. Porquê? Porque a democracia precisa de esperança. E se não se vê a luz ao fundo do túnel, a esperança vai-se.»

Ontem, o pior presidente português eleito em democracia, o actual, não disse nada. É verdade que já tem feito algumas declarações dispersas sobre excessos de austeridade. Mas ainda ecoam nas nossas cabeças os ecos do discurso inócuo, incolor e inodoro que fez no dia 5 de Outubro. Podia ter sido feito por algum dos seus três predecessores? Não creio. 
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Portugal, 10/10/2012

9.10.12

Atenas: Willkommem Angela!

FMI dixit



«Não chegam as receitas "tradicionais" para o ajustamento nos países "periféricos". É necessário que os países com excedentes na zona euro importem mais dos outros membros. É preciso desvalorizar o euro, colocar no terreno um mecanismo de transferências interno e criar condições de financiamento menos onerosas para os países deficitários.»  

Daqui.

Merkel: o mesmo casaquinho


Hoje, em Atenas

Campeonato Europeu de Futebol, Junho 2012, (Alemanha 4 – Grécia 2).


(Confesso que até acho uma certa graça. Antes isto do que as griffes da Lagarde!)
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E quanto a alternativas



... é nas linhas que Nuno Ramos de Almeida escreve hoje no «i» que me revejo. Tudo o resto está nas entrelinhas. 

 «O actual programa do PSD, CDS e da direcção do PS é o mesmo e chama-se: Memorando da troika.

É simbólico que no meio da maior crise existente a única proposta do líder do chamado “maior partido da oposição” seja diminuir o número de deputados. Como se a garantia de uma economia justa passasse por ter um parlamento só com representantes do PS e do PSD. Esta iniciativa tem um objectivo claro: calar administrativamente as vozes que se opõem no parlamento a este caminho de catástrofe. (...)

Para muitas pessoas o que está a falhar não são só os governos do bloco central mas a própria democracia. As acusações aos políticos em geral, os argumentos populistas são a prova de que muitos não vêem a diferença de responsabilidades. Se percebem que os governos portugueses foram maus para a população e bons para os amigos, não conseguem acreditar que PCP e Bloco de Esquerda podem ser o veículo de uma alternativa política e de poder. E provavelmente têm razão. Este governo deve ser demitido, o povo tem de ser chamado a decidir o seu futuro, mas PCP e Bloco de Esquerda são demasiado pequenos para ambicionar ser governo.

É preciso construir uma alternativa que possa ir a votos para ganhar. Só uma força que junte independentes contra a troika, comunistas e bloquistas pode triunfar. Há um longo caminho a percorrer para conseguir este cenário e muito pouco tempo para o fazer. Se ele não existir, a democracia tal como a conhecemos não vai expressar o simples facto de a população portuguesa estar contra o Memorando da troika.»

(Os realces são meus.)

Na íntegra aqui

E acrescento: mesmo que o caminho seja mais longo do que o tempo desejável para o percorrer, é preferível ter calma e evitar correrias apressadas e inconsequentes por atalhos que mais não são do que becos sem saída. 
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8.10.12

Atenas, «com arrepios na espinha»



Ângela Merkel vai amanhã a Atenas, onde estará seis horas, e, apesar de medidas de segurança draconianas que vão envolver 7.000 polícias antimotim, snipers, helicópteros, baias de ferro e barricadas, foram proibidas todas as manifestações de protesto no centro de Atenas, entre as 9:00 e as 22:00.

Milhões de gregos, sobretudo os mais velhos, recordam, «com arrepios na espinha», os tempos da junta militar, entre 1967 e 1974, quando eram proibidos «reuniões e ajuntamentos de mais de três pessoas». 

Nem quando Bill Clinton visitou Atenas em 1999, em atmosfera hostil, se viu uma operação de segurança com estas dimensões.

Estará prevista alguma visita da «chancelerina» (linguagem inclusiva, se faz favor...) a Portugal? É só para ir fazendo algumas previsões...  

Fonte, entre outras.
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No Sábado, não haverá pés a medir


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Aquilino Ribeiro Machado



Morreu ontem. Não o conheci intimamente, mas encontrava-o por vezes em casa de um amigo comum, Edmundo Pedro, com quem ele partilhava o piso de um mesmo prédio. Já fisicamente frágil nos últimos anos, mas sempre firme nas ideias e muito directo na expressão das mesmas. Recentemente, o Facebook pôs-nos a dialogar com alguma frequência. 

No dia 25 de Setembro, publicou este último post
Nuvens de tormenta 
O povo desceu à rua no passado dia 15 para expressar o seu mal-estar, a sua desilusão e a sua profunda revolta contra a politica anticrise pertinazmente levada a efeito pelo governo, que conforme toda a gente já se apercebeu conduziu apenas a um agravamento da situação. A insistência em prosseguir com a mesma receita e a falta de maleabilidade do poder para ouvir aqueles que passivamente o não acatam, ou lhe não cantam loas, está a gerar um clima de profunda irritação e uma sensação de encurralamento que pode levar à percepção de que a violência será a única e inevitável saída. As manifestações hoje em Madrid obedeceram à mesma lógica e de ambos os lados da fronteira parece evidente a rejeição de todos os políticos em geral. Porém a rejeição de todo o poder constituído é um risco letal. A nostalgia de uma ordem e de uma chefia firmes diz-nos a história que leva ao totalitarismo e à submissão a uma ordem forte e regeneradora. Contra este risco há que restituir a esperança ao povo. Se não se mostrasse tão acomodatício, esse papel caberia agora ao Partido Socialista. Infelizmente ele teima em ensimesmar-se num cálido distanciamento. 

E escolho uma dos muitos comentários que me deixou, em posts publicados no meu mural: 
«A democracia cada vez se assemelha mais, entre nós, a uma velha mangueira carregada de água, que aqui está cheia de bossas e à frente magrinha pelo fluir menos afogado da corrente que a atravessa. Quer no sitio das bossas quer no dos estrangulamentos, ameaça, a todo o momento, rebentar.» 
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Cavaco não está só



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«Perguntas que não fiz ao ministro das Finanças»



Este texto que Nicolau Santos publicou no Expresso de 5/10/2012 (sem link) merece ser lido e divulgado. 

«Senhor ministro das Finanças, agora que nas suas conferências de imprensa cada vez é mais limitado o número de perguntas que os jornalistas lhe podem colocar, utilizo este espaço para tentar obter algumas respostas. 

1) V. Exa. considera que pessoas superiormente inteligentes e bem preparadas tecnicamente como o senhor podem tomar decisões completamente estúpidas e irracionais? 

2) Se a resposta for negativa, como será seguramente o caso, V. Exa. considera que é possível corrigir em três anos os desequilíbrios acumulados pela economia portuguesa em década e meia? 

3) Se a resposta for negativa, como o bom senso parece indicar, que país e que modelo económico espera V. Exa. deixar no final desta legislatura? Um país destruído na sua coesão social, com uma classe média totalmente depauperada, um desemprego esmagador, jovens sem esperança e velhos sem amparo? E o modelo económico assentará em baixíssimos salários e mão de obra qualificada, que trabalhará para uma côdea de pão (ou seja, para salários de €500)? 

4) Considera V. Exa. que o regresso da República Portuguesa aos mercados internacionais deve ser conseguido a qualquer custo e constituir o ómega e o alfa da politica económica, independentemente dos seus custos económicos e sociais? 

5) V. Exa. acredita que é possível sustentar o crescimento do país em 18 mil empresas exportadoras? E o que espera que aconteça as outras cerca de 300 mil que existem e trabalham para o mercado interno? 

6) V. Exa. anunciou que a economia começaria a recuperar no segundo semestre deste ano e que em 2013 já teríamos um crescimento de 0,3%. Agora diz-nos que a recuperação será no segundo semestre de 2013 e que em 2014 já teremos um crescimento de 1,2%. V. Exa. falhou? E porque é que deveremos acreditar agora nesta sua nova previsão? 

7) Quais considera V. Exa. que são os efeitos para a economia de uma quebra acumulada de investimento de 29,6% entre 2011 e 2013? 

8) Quais considera V. Exa. que são os efeitos económicos e sociais para uma economia de mais de 1 milhão de desempregados? 

9) V. Exa. anunciou um enorme aumento de impostos, com a redução dos escalões de oito para cinco. No ultimo escalão vão estar famílias com rendimentos acima de €80 mil contra os atuais €153.300. V. Exa. considera ricos os que ganham mais de 80 mil euros por ano? 

10) Em três anos, V. Exa. vai tirar às famílias portuguesas mais de €1O mil milhões por via fiscal. Teremos de trabalhar entre seis a oito meses por ano para o Estado antes de começarmos a ganhar para nós. V. Exa. sente-se confortável ideologicamente com isto? 

11) V. Exa. tem consciência de que ao aplicar uma sobretaxa de 4% sobre os rendimentos de 2013 logo a partir de janeiro (e não apenas no final do ano) causa dificuldades dramáticas a milhares de pessoas? Sabe que a carga fiscal aumenta em mais de 34% para a generalidade dos contribuintes? 

12) V. Exa. anuncia cortes substanciais para 2014 nas prestações sociais, educação e segurança. Vai continuar a cortar nas prestações sociais? E na segurança? Não pensa que o banditismo e a violência vão aumentar? 

13) V. Exa. já descobriu que a realidade não cabe numa folha de Excel? Muito obrigado pelo seu silencio.» 

(Via Helena Araújo no Facebook)
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7.10.12

Os mais pacientes?



«De facto, o discurso do 5 de Outubro de Cavaco Silva contribuiu para o sentimento de orfandade, utilizando toda a moderação deste mundo, dos portugueses em relação aos políticos. Existe, porém, uma razão para que o Presidente da República tenha feito o discurso que fez. Como toda a gente já reparou, a coligação governamental acabou e o Governo está ligado à máquina: Cavaco vai ter de arranjar uma solução de Governo e não é o momento para criar conflitos com quem quer que seja. (...) No discurso do 5 de Outubro, Cavaco não falou do País nem para o País porque está demasiado ocupado a pensar que tipo de solução governativa vai arranjar para Portugal. (...)

Claro que os objectivos do défice não serão alcançados. O desemprego vai brevemente chegar aos 20% e as poucas empresas que restam falirão. Mas a Vítor Gaspar isso não perturba desde que os mercados estejam satisfeitos. Gaspar e Passos parecem desconhecer que o assalto anunciado acelerará furiosamente o processo de desagregação social e lançará o País no mais absoluto caos. A miséria, o desespero, a desobediência civil farão parte do nosso quotidiano. 

Podemos não ser o melhor povo do mundo, mas somos certamente o mais paciente com a loucura e a incompetência.»

Pedro Marques Lopes

Regressos a Belém



Estou certa de que muitos dos que têm agora 20 ou 30 anos, e que andam pelas ruas em tantas manifestações, dentro de três décadas se recordarão dos locais, das pessoas, de detalhes sem importância, das cores e até dos cheiros, sem conseguirem lembrar-se do motivo exacto que os levou a protestar ali, naquele dia, amalgamando causas, lutas e datas. Pode parecer-lhes neste momento impossível que isto venha a acontecer, mas garanto que não é, mesmo que tenham uma memória prodigiosa.

Aqueles de nós que andam nisto há muitos anos, reviveram uma vez mais esta experiência, há poucos dias, quando regressaram a Belém para «saudarem» a reunião do Conselho de Estado. Todos se recordavam de uma outra grande manifestação, ali mesmo, em tempos de PREC, mas sem conseguirem caracterizá-la. E embora no meu calendário da memória ela estivesse mais ou menos bem datada, deu-me algum trabalho a acertar, mesmo recorrendo ao Google. (E lembro-me de tudo, até da terrível fome que só conseguimos matar às tantas da noite...)

Foi em 1975, cinco dias antes do 25 de Novembro, não acabou tão tarde como a deste ano mas também foi longa. Contra o quê? Contra o VI Governo Provisório de Pinheiro de Azevedo (que entrara em greve...), em resposta a um apelo das Comissões de Trabalhadores da Cintura Industrial de Lisboa, com o apoio da Intersindical, PCP e FUR, para exigir um governo «verdadeiramente revolucionário». (Em vão, como o futuro muito próximo viria a demonstrar...)

Mas houve uma grande e significativa diferença que João Tunes em boa hora recorda: «A manifestação de 1975 culminou com uma ida ao varandim do palácio que dá para a praça de todo o Conselho da Revolução e com um discurso do Presidente da República em pessoa (Costa Gomes, então General) resumindo para a multidão (para o povo) o que aquele Conselho tratara e concluíra, enquanto desta vez os conselheiros limitaram-se a sair de Belém em alta velocidade e ocultos em potentes viaturas, enquanto Sua Excelência o presidencial Cavaco devia estar a recolher-se aos aposentos privados para disputa de recato com a sua esposa, ao mesmo tempo que um funcionário de nível hierárquico deslavado lia, aos jornalistas, um comunicado protocolar. Nada disto surpreende, nem sequer a diferença sublinhada que chega a fazer duvidar, numa leitura apressada, que se trate do mesmo país em que se deram as duas manifestações.» 

O país é o mesmo, sim. Mas ainda bem que a presciência é apanágio dos deuses e dos magos ou teríamos desistido, há 37 anos, se nos tivesse sido permitido ver o filme dos acontecimentos de 2012. Mas não foi o caso e por isso continuámos – e continuamos.
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Isto não pára!


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O regresso do povo


O texto de Sandra Monteiro no último número de Le Monde Diplomatique (edição portuguesa). 

«Depois das manifestações de 15 e 29 de Setembro, que reuniram nas ruas do país entre quinhentas mil e um milhão de pessoas, a crise em Portugal entrou numa nova fase. O povo regressou, disse basta. Doravante é muito improvável que os governantes – os nacionais e os externos – possam continuar a excluí-lo da equação. O papel que ao povo estava reservado era o de simples objecto das políticas, devendo suportar, com resignação expiatória e salvífica, todos os sacrifícios. Mas, perante mais uma escalada nos cortes austeritários que continuam a amputar as vidas dos trabalhadores, dos desempregados e dos pensionistas, em Setembro atingiu-se um ponto de saturação. As mobilizações populares sinalizaram o estilhaçar da narrativa dominante associada à austeridade europeia: necessidade, inevitabilidade e eficácia. Foi preciso fazer alguma coisa de extraordinário, porque se deixou de acreditar que as medidas de austeridade fossem limitadas no tempo, ou que melhorassem as contas públicas, diminuíssem o desemprego, detivessem a espiral da dívida e colocassem o país numa rota de crescimento.

Nenhum desses objectivos era real, nunca foi. A austeridade não é um parêntesis findo o qual se vá regressar à realidade anterior (mesmo com todos os problemas que ela tinha, a começar pelas desigualdades). Os sacrifícios a que a esmagadora maioria da população está a ser sujeita não são úteis, pelo menos não para a própria população. Os beneficiários da austeridade são os detentores dos mais elevados rendimentos, os credores, os especuladores, os rentistas. Mais do que da crise do século, conviria falar do negócio do século. Um negócio que está a destruir as sociedades, as economias e a própria democracia.»

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