1.3.14

Antígua, a bela



A meio da viagem, dois dias de pausa em Antígua, a mais bela cidade guatemalteca que visitei. Mais exactamente, que comecei a visitar porque ainda há muito, mesmo muito, para ver.

Foi fundada em Março de 1543 e funcionou como capital colonial durante 233 anos, mas perdeu o estatuto depois de ter sido arrasada pelo terramato de 29 de Julho de 1773. Foi então decidido que a reconstrução devia ocorrer em local mais seguro e assim nasceu, a pouco mais de 40 quilómetros, a cidade da Guatemala, capital do país a partir de 1776.

Mas Antígua renasceu e foi sendo reconstruída e é hoje um centro importante de turismo e não só: dezenas de escolas de inglês atraem alunos de muitas nacionalidades e mantêm um clima permanente de cosmopolitismo.

A cidade é famosa pela resiliência que a tem feito renascer depois de resistir não só a terramotos mas tamém a erupções vulcânicas e a inundações – e à guerra civil, obviamente. Mantém-se viva e em permanente efervescência, mas bem maia apesar do cosmopolitismo. 





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28.2.14

A cor não é tudo



Mas se a Carris pintasse assim os autocarros, como se faz aqui em Antígua, isso é que era!


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United Colours of Chichicastenango



Umas boas horas de estrada entre Atitlán e Antígua, com paragem mais do que obrigatória em Chichicastenango. Isto se se tiver sido previdente para programar a viagem de modo a passar por lá a uma 5ª-feira ou um Domingo, dias de mercado, o que foi o meu caso.

A 15 km da capital do país e a 1965 metros de altitude, Chichicastenango é ponto de encontro de diferentes tradições culturais e religiosas e a igreja paroquial de S. Tomás, construída pela primeira vez no século XVI e mais tarde ampliada pelos dominicanos, está dividida em várias partes nas quais se realizam cultos a diferentes santos e espíritos. Aqui é assim…

Para além do mercado de rua, um outro, fechado e quase tão colorido como o primeiro, também merece visita obrigatória. Sai-se de Chichicastenango com os olhos e a alma cheios de cor!







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27.2.14

Navegar é preciso



Dia sem ruínas mas nem por isso sem maias. Estou agora em Panachel, à beira de um lago lindíssimo – o Lago Atitlán –, com 126 km2, rodeado por três vulcões impressionantes e doze povoados de maias Tzutuhil e Cakchiquel.

Naveguei esta manhã para chegar ao maior desses povoados, Santiago Atitlán, com cerca de 46.000 habitantes, onde praticamente toda a população se veste ainda com trajes típicos e se encontram pequenos mercados artesanais a cada esquina.

Santiago foi especialmente perseguido durante a guerra civil da Guatemala, terão desaparecido pelo menos 300 maias e um protesto espontâneo de 1990 foi recebido a tiro à saída da localidade. Por pressões internacionais, o governo acabou por desmilitarizar o povoado.

Tem uma igreja com uma decoração como nunca vi outra e de que ainda falarei um dia. Por hoje apenas algumas imagens e um vídeo para «percorrer» o lago. 




 

26.2.14

Para que não fique tudo na mesma



Subscrevi e divulgo o seguinte texto:

Pôr fim à violência da praxe

Nos últimos dez anos multiplicaram-se os casos de violência associada à praxe um pouco por todo o país. Alguns destes casos, pelos motivos mais trágicos, chegaram às páginas dos jornais.

Poucos são os estudantes que denunciam o abuso, quase sempre por medo. O silêncio tem sido cúmplice da violência. Mas a indiferença também.

Todos os anos, no início do ano lectivo, cruzamo-nos nas escolas ou na via pública com práticas que noutra situação nunca permitiríamos e encolhemos os ombros. Habituámo-nos a assistir ao momento de entrada do ensino superior como se um período de excepção se tratasse, onde todo o abuso é permitido.

Os casos recorrentes de estudantes vítimas de violência física e psicológica, nalguns casos de tal forma grave que resultaram em danos profundos permanentes e mesmo na morte, decorrem da própria lógica e cultura da praxe. Uma cultura que se alimenta de um sistema de obediência hierárquico e arbitrário, contrário aos valores mais básicos da democracia e cidadania.

É tempo de agir para que tudo não fique na mesma. À comoção de uma tragédia não pode suceder-se nova comoção sem que nada tenha sido feito.

Em 2008, na sequência de notícias de terríveis tragédias associadas à praxe, a Assembleia da República, com base na auscultação das instituições de ensino, elaborou um relatório para a prevenção da violência da praxe.

Esse relatório apontava a necessidade de informação aos estudantes sobre a praxe, a sua não obrigatoriedade, o enquadramento disciplinar e penal de muitas das suas práticas de humilhação e ofensa; propunha a criação de rede de apoio aos estudantes que queiram denunciar praxe violenta ou não consentida; recomendava aos órgãos directivos das escolas que não legitimassem as práticas da praxe, nomeadamente excluindo das cerimónias oficiais comissões de praxe e organismos similares, e assumissem a responsabilidade de promover a recepção aos novos estudantes, quebrando o monopólio da praxe no seu acolhimento.

No dia 28 de Fevereiro é debatido e votado o Projeto de Resolução n.º 929/XII/3º da autoria do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda que dá corpo a estas recomendações. O mesmo já tinha sido proposto em 2008 e chumbado. Nestes 6 anos acumularam-se novos casos de violência.

Não podemos perder mais tempo nem permitir que se acumulem mais vítimas. Apelamos por isso a todos os deputados da Assembleia da República, para que esta aprove agora as medidas de prevenção da violência da praxe. Pela nossa parte, não queremos que, de novo, fique tudo na mesma.

Subscritores:

Abílio Hernandez - professor universitário
Adriana Bebiano - professora universitária, FCUC
Afonso Moreira - estudante, dirigente estudantil na DAEFML e na Associação Nacional de Estudantes de Medicina
Alexandre Alves Costa - arquiteto
Alexandre Quintanilha – investigador e professor universitário
Ana Cristina Santos - investigadora
Ana Drago - socióloga
Ana Luísa Amaral - escritora e professora universitária
André Freire – professor universitário e investigador
André Pereira - estudante, vice-presidente do Conselho Pedagógico do ISCTE-IUL, vice-presidente da AEISCTE-IUL
António Avelãs – professor, dirigente sindical
António Firmino da Costa - professor universitário, sociólogo
António Monteiro Cardoso - investigador
António Sousa Ribeiro - professor universitário
Boaventura de Sousa Santos – sociólogo
Bruno Cabral – realizador
Catarina Isabel Martins – professora universitária
Corália Vicente - professora universitária, ICBAS
Daniel Oliveira - jornalista
Diana Andringa – jornalista
Diana Luís – estudante, movimento anti praxe
Elísio Estanque - professor universitário Fernanda Câncio, jornalista.
Fernando Rosas - professor universitário 
Inês Tavares - estudante, dirigente estudantil da AEISCTE-IUL e no Núcleo de Alunos de Sociologia do ISCTE-IUL, membro do conselho pedagógico do ISCTE-IUL 
Isabel Allegro – professora catedrática jubilada da UNL 
Joana Lopes, gestora, reformada 
Joana Manuel - atriz 
João Madeira – investigador do Instituto de História Contemporânea/FCSH/UNL 
João Mineiro - estudante, bolseiro de investigação, membro do Conselho Geral do ISCTE-IUL e da Direção da AEISCTE-IUL 
João Teixeira Lopes - professor universitário, sociólogo
João Veloso – professor universitário, Faculdade de Letras da Universidade do Porto 
Jorge Sequeiros - professor universitário e presidente da comissão de ética da UP 
José Augusto Ferreira da Silva - advogado, vereador da Câmara Municipal de Coimbra 
José Luís Peixoto – escritor 
José Manuel Lopes Cordeiro - professor universitário
José Manuel Pureza – professor universitário 
José Neves - Professor Auxiliar da FCSH/UNL 
José Soeiro - sociólogo 
JP Simões – músico 
Leonor Figueiredo – estudante 
Leonor Wellenkamp Carretas – estudante, dirigente estudantil na AEESTC 
Luís Januário - médico pediatra 
Luís Moita - professor universitário 
Luísa Costa Gomes – escritora 
Manuel Carvalho da Silva - investigador 
Manuel Loff - professor universitário, historiador 
Manuel Portela - professor universitário 
Manuel Sarmento - professor universitário 
Maria Alfreda Cruz - geógrafa, investigadora. 
Maria das Dores Guerreiro - professora universitária, socióloga 
Maria de Lurdes Rodrigues - professora universitária, socióloga 
Maria Irene Ramalho - professora universitária 
Maria João Simões - professora universitária 
Maria José Manso Casa Nova - professora universitária, socióloga 
Maria Rosa Martelo Pereira - professora universitária 
Mariana Gomes - estudante, dirigente estudantil na AEESTC e membro do Conselho Pedagógico e do Conselho da Acção Social do IPL 
Mário de Carvalho - escritor 
Miguel Cardina – investigador 
Mísia - fadista 
Nuno Camarneiro - escritor e professor universitário 
Paula Godinho - professora universitária 
Pedro Abrantes - professor universitário, sociólogo 
Pedro Bacelar Vasconcelos - professor universitário 
Pedro Pezarat Correia - militar aposentado 
Pedro Vieira – escritor e ilustrador 
Pierre Guibentif - professor universitário 
Raquel Freire - cineasta 
Richard Zimler – escritor 
Rosa Maria Martelo – escritora e professora universitária, Universidade do Porto - FLUP 
Rui Bebiano - professor universitário e diretor do Centro de Documentação 25 de abril da Universidade de Coimbra 
Rui Pena Pires – professor universitário, ISCTE - IUL 
Silvério Rocha e Cunha - professor universitário 
Teolinda Gersão – escritora e professora universitária 
Tiago Brandão Rodrigues – investigador 
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Maias, agora mais tardios



Tal cmo os maias se fora espalhando e descendo através do território da actual Guatemala depois do declínio do período clássico da sua civilização, também eu estou agora muito a Sul de TIkal, mais concretamente a Sudoeste, e as ruínas que hoje vi foram as de Ixmché – «ixim» de milho e «ché» de lugar.

A cidade foi fundada por Kikab, o Grande, em 1470 e era governada por quatro senhores, responsáveis por todas as questões administrativas, religiosas e bélicas. Mas não teve vida longa já que os espanhóis, chegados em 1524, se encarregaram de rapidamente a destruir e abandonar.

Quatro grandes praças e duas pequenas, muito arborizadas, cada uma com ruínas de dois ou mais templos e de áras residenciais, formam um conjunto muito agradável, mas não resistem à comparação com Tikal, Cópan ou mesmo Quiriguá. (Eu devia era ter começado por Ixmché…) Vale a pena ver o vídeo que dá uma boa visão de conjunto e explica detalhes.

Mais: mesmo sabendo-se que todas as comparações devem ser relativizadas, quem já viu Machu Picchu, no Perú, contemporâneo de Ixmché, não pode deixar de fazer uma grande vénia aos Incas e ao seu engenho.





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Uma cantata guatemalteca



Disse-me hoje um guatemalteco que vive num país de analfabetos com um Nobel da Literatura.

Que o nível de analfabetismo era ainda tão alto (25 a 30%) eu não sabia, mas conhecia o Nobel que referiu. Fiel a um hábito que já foi mais persistente, procuro sempre ler alguma literatura de um novo país a visitar. Foi o que fiz também desta vez e descobri Miguel Angel Asturias, escritor que se inscreveu na corrente latino-americana do «realismo fantástico», tal como Gabriel García Márquez, Julio Cortázar e Jorge Luis Borges. Ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1967.

Tem belos contos, mas longos. Fica por isso aqui um poema:


Cantata (1954)

¡Patria de las perfectas luces, tuya
la ingenua, agraria y melodiosa fiesta,
campos que cubren hoy brazos de cruces!

¡Patria de los perfectos lagos, altos
espejos que tu mano acerca al cielo
para que vea Dios tantos estragos!

¡Patria de los perfectos montes, cauda
de verdes curvas imantando auroras,
hoy por cárcel te dan tus horizontes!

¡Patria de los perfectos días, horas
de pájaros, de flores, de silencio
que ahora, ¡oh dolor!, son agonías!

¡Patria de los perfectos cielos, dueña
de tardes de oro y noches de luceros,
alba y poniente que hoy visten tus duelos!

¡Patria de los perfectos valles, tienden
de volcán a volcán verdes hamacas
que escuchan hoy llorar casas y calles!

¡Patria de los perfectos frutos, pulpa
de paraíso en cáscara de luces,
agridulces ahora por tus lutos!

¡Patria del armadillo y la luciérnaga
del pavoazul y el pájaro esmeralda,
por la que llora sin cesar el grillo!

¡Patria del monaguillo de los monos,
el atel colilargo, los venados,
los tapires, el pájaro amarillo

y los cenzontles reales, fuego en plumas
del colibrí ligero, juego en voces
de la protesta de tus animales!

Loros de verde que a tu oído gritan
no ser del oro verde que ambicionan
los que la libertad, Patria, te quitan.

Guacamayas que son tu plusvalía
por el plumaje de oro, cielo y sangre,
proclamándote va su gritería...

¡Patria de las perfectas aves, libre
vive el quetzal y encarcelado muere,
la vida es libertad, Patria, lo sabes!

¡Patria de los perfectos mares, tuyos
de tu profundidad y ricas costas,
más salóbregos hoy por tus pesares!

¡Patria de las perfectas mieses, antes
que tuyas, júbilo del pueblo, gente
con la que ahora en el pesar te creces!

¡Patria de los perfectos goces, hechos
de sonido, color, sabor, aroma,
que ahora para quién no son atroces!

¡Patria de las perfectas mieles, llanto
salado hoy, llanto en copa de amargura,
no la apartes de mí, no me consueles!

¡Patria de las perfectas siembras, calzan
con hambre de maíz sus pies desnudos,
los que huyen hoy, tus machos y tus hembras!
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25.2.14

Por sendas antigamente percorridas



O grande Parque Nacional de Tikal, com 16 km2, é mais um Património da Humanidade, neste caso não apenas Cultural mas também Natural pelo seu enquadramento numa verdadeira selva, muito rica em flora e fauna.

É, sem dúvida, o mais belo e mais imponente legado dos maias que vi até agora, com templos e grandes áreas residenciais, dos quais apenas 20% se encontra já recuperado, com tudo o resto ainda enterrado debaixo da floresta. A parte mais antiga foi construída por volta de 600 d.c. (por cima de edificações bem anteriores aos maias) e os dois templos principais por volta de 700. Nessa época, Tikal estendia a sua influência a uma área mais vasta, habitada por cerca de 100.00 pessoas.

Mas, tal como aconteceu com Cópan, Quiriguá e outras regiões, doenças, guerras e fome precipitaram o declínio deste período clássico da civilização maia e, por volta do ano 900, Tikal, terra de agricultores e estudiosos dos astros, perdeu o seu brilho e acabou por se enterrar, no sentido estrito da palavra. Mas foi grande, muito, muito antes de os nossos primeiros reis andarem por aí a construir uns castelitos…








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24.2.14

Para além de ruínas




... há belos animais no parque de Tikal. O resto fica paraa mais tarde.
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Longas navegações



Vinte e quatro horas de pausa quanto a pegadas dos maias, em favor da natureza e das suas bênção, nesta região Norte da Guatemala. Para sair de Livingston, longa navegação no Rio Dulce, hoje quase calmo como um lago e lindíssimo. Verde, verde e mais verde, pássaros e mais pássaros, barcos, casas e escolas onde as crianças chegam de caiaque.

Estou agora na Ilha das Flores, num dos maiores lagos da Guatemala, e amanhã «recuo» de novo muitos séculos para conhecer Tikal, um dos mais importantes centros da civilização maia.

Calor e muita humidade que não ajudam muito em algumas escaladas, mas que não chegam para ter qualquer espécie de saudade do frio de Lisboa – e muito menos do resto.


  



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23.2.14

Dos maias a afro-caribenhos



O dia foi muito longo e estou agora em Livingston, único local na Guatemala onde permanece a cultura afro-caribenha que aqui se implantou no fim do século XVII, com escravos trazidos para outras regiões da Améria Central e que acabaram por se instalar por estas paragens.

Embora não se esteja numa ilha, não há acesso por estrada (e, aparentemente, os habitantes preferem que assim seja), o que torna esta cidade garifuna, à beira do Mar das Caraíbas, especialmente sossegada. O preço a pagar é uma viagem de uma hora numa barcaça bastante rudimentar, por um rio que se chama Dulce, mas que, esta tarde, de «doce» nada tinha e se parecia com um mar de tormentas.



Antes disso, esta manhã foi mais uma incursão pela vida dos maias, mais concretamente em Quiriguá, também Património Cultural da Humanidade e que tem uma história curiosa. Situada nas margens de um rio, foi fundada pelos reis de Cópan em 426 d.c. pela sua situação privilegiada como via fluvial de comércio, e por eles dominada até 738. Fartos desse domínio, os habitantes de Quiriguá degolaram um dos últimos reis de Cópan (julgo que o 14º) e tornaram-se independentes, política e economicamente. Nome curioso o desse rei de Cópan: «Coelho 18» (Dezóito Coelhos???)
(Vale a pna ver o vídeo.)

Amanhã há mais…




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