3.6.17
Dica (559)
Paris Disagreement. Donald Trump's Triumph of Stupidity (SPIEGEL Staff)
«German Chancellor Angela Merkel and other G-7 leaders did all they could to convince Trump to remain part of the Paris Agreement. But he didn't listen. Instead, he evoked deep-seated nationalism and plunged the West into a conflict deeper than any since World War II.»
. Covfefe – o gerador de patetice
No seu texto no Público de hoje, José Pacheco Pereira defende que Trump é sobretudo um louco. Não estou tão certa disso, mas aqui ficam alguns excertos:
«O presidente Trump publicou uma nota no Twitter que começa a atacar a comunicação social e depois acaba abruptamente com uma palavra que ninguém sabe o que significa, ninguém sabe como se pronuncia e ninguém sabe, sequer, se é uma palavra: “Covfefe.”. (…)
Claro que eu me interrogo sobre quanto tempo Trump nos faz gastar para perceber o que é “covfefe”, que ele reafirma ser uma palavra com “significado” e o pobre do Sean Spicer teve de explicar que o “Presidente e o seu círculo mais próximo” sabiam muito bem o que era “covfefe”. Ele, apesar de ser o porta-voz do Presidente, não sabe o que é, visto que teve de fugir de cena com os gritos dos jornalistas a perguntar-lhe o que é que significava. Sim, tenho imensa sensação de tempo perdido — e de artigo perdido, visto que estou a escrever sobre isso — com este “covfefe”, que é uma espécie de gerador de patetice que nos faz também ser patetas. Mas, que raio, ou à Trump, QUE RAIO!!!, ele é Presidente dos EUA e o que diz e o que escreve tem sempre enorme importância, visto que o faz com os mesmos dedinhos com que pode digitar os códigos nucleares. E se ele estiver doido?
Há várias razões para achar que ele não está muito bem da cabeça, como, aliás, vários chefes de governo europeus e do G7 suspeitaram depois de estarem três dias metidos em salas com ele. (…)
Bom, podemos considerar que estamos perante um megalómano, mitómano, narcisista, ignorante, preguiçoso, bruto, mentiroso, amoral, desprovido de qualquer percepção de que o mundo exterior aos seus desejos existe e é de natureza distinta, ou seja, cuja relação com a realidade é quase nula, o que tem um nome bastante parecido com doido. Poder imaginar podemos. Basta ler os tweets para perceber que esta descrição é tão rigorosa como exacta e que, se pecar por alguma coisa, é por defeito, mas pode dizer-se que daí a doido vai alguma diferença. Talvez, mas esta diferença está a reduzir-se, até porque o homem se sente acossado. (…)
São alguns marxistas os que encontram em Trump mais racionalidade, o que não deixa de ser irónico. Eles acham que Trump tem um moinho e leva a água ao seu moinho, sejam quais forem as “distracções”. O moinho são os seus interesses e os dos seus amigos bilionários que trouxe para o Governo, e os defensores desta tese na esquerda marxista vêem todas as acções de Trump como paradigmáticas do carácter selvagem do capitalismo americano, de que ele seria o principal instrumento. Há dias, como o de hoje, em que os célebres “mercados” parecem validar estas teses, dando às mais absurdas medidas de Trump a racionalidade da Bolsa. E ele corre feliz para o Twitter a escrever aqueles fabulosos auto-elogios e a citar o seu eco, a Fox News: “Wall Street atinge recordes depois de Trump sair do Acordo de Paris.” Isto implica que há quem esteja a ganhar muito dinheiro com Trump, por muito conspiratórias que sejam as teorias que explicam as suas acções. E esses não são doidos.
O problema é que o barco onde Trump navega à vista é um lugar perigoso. É-o para nós, mas é também para ele e para os que com ele vão, como os republicanos começam a perceber. É verdade que Trump tem ajudado a impulsionar a agenda mais radical da direita (a deles e a nossa), mas há uma profunda inconsistência e um impulso autodestrutivo — o melhor exemplo é o Twitter de Trump — que mantém a democracia americana debaixo de uma tensão sem precedentes. E aí Trump está a perder, como se vê em todas as sondagens, mesmo as da Fox News. A perder substantivamente em matérias em que estava a ganhar, como a segurança social e o sistema de saúde dos americanos mais pobres, muitos dos quais foram seus eleitores. E, como a criação de emprego e as melhorias económicas estão longe de lhe poderem ser atribuídas — vinham já da Administração Obama —, os efeitos destrutivos acabam por se impor quer internamente, quer num mundo em que, com excepção dos seus ditadores preferidos e dos sauditas de espada desembainhada, Trump é uma espécie de pária, tão perigoso como ridículo.
Têm a certeza que ele não se veste de Napoleão, mete a mão na jaqueta e se olha ao espelho no meio dos torcidos e tremidos dourados de Mar-a-Lago? Ou de Putin? Ou de Erdogan? Ou até desse “rapaz” Kim Jong-un, com cujo “peso” de responsabilidades juvenis ele sentiu uma genuína empatia dizendo que ficaria “honrado” em encontrar-se com ele? Eu não tenho. E já agora “covfefe” para Trump!»
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2.6.17
Bem prega Frau Merkel
«Meanwhile, Germany insists that other countries follow its lead on climate change, shutting down nuclear power stations and switching to clean energy generation. But Germany is Europe’s biggest burner of dirty coal (seventh in the world), and it’s not on track to hit the Paris Agreement’s reduction targets for 2020. Its best-selling export is big, expensive, gas-guzzling luxury automobiles, including diesels. The Dieselgate scandal caught Volkswagen and other German car manufacturers cheating on emissions tests.»
. Dica (558)
Angelismo (Francisco Seixas da Costa)
«Ao atentar na onda de loas com que foram recebidas as últimas declarações de Ângela Merkel sobre a Europa, claramente sugerindo a Alemanha como impulsionador de um processo de autonomização em matéria de defesa e segurança, perguntei-me se não estaríamos a embarcar num novo "angelismo", desta vez com etimologia derivada de Ângela e já não de anjos. (…)
Para muitos (sejamos claros, também para si própria) continua a ser um fantasma histórico. Ver a Alemanha a rearmar-se não é uma ideia sossegante para muitos, embora talvez se trate de um preconceito sem sentido. Mas um novo "angelismo" não parece fácil de adotar numa Europa onde o passado está sempre à espreita.»
. Para muitos (sejamos claros, também para si própria) continua a ser um fantasma histórico. Ver a Alemanha a rearmar-se não é uma ideia sossegante para muitos, embora talvez se trate de um preconceito sem sentido. Mas um novo "angelismo" não parece fácil de adotar numa Europa onde o passado está sempre à espreita.»
Por um punhado de maçons
«No próximo sábado e domingo, cerca de dois mil maçons vão votar para escolher o grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL). Depois de uma campanha animada, com oferta de aventais, os maçons vão escolher entre Fernando Lima, que se recandidata, Adelino Maltez e Daniel Madeira de Castro. (…)
Sou só eu que estou um bocado farto e não percebo que raio é que é esta coisa da maçonaria? Por que raio existe este clube dentro da sociedade?! Jogam à bola? Não. Fazem pizzas e levam a casa? Não. Ajudam os pobres no Sudão do Sul? Fazem excursões giras? Népia. Se é por darem títulos pomposos aos sócios, para isso temos os escuteiros. Então que raio de coisa é esta que existe e persiste, mas que não serve para nada que se veja?! Porque, se serve para o que não se vê, é porque não é coisa boa. E não está cá a fazer nada.
A maçonaria é como a "Casa dos Segredos", tem grandes audiências mas não há ninguém que tenha visto e que saiba o que é. Valha-me o Arquitecto. Este país está entregue às lojas dos chineses e às lojas maçónicas. (…)
Se a maçonaria não servisse para nada, o Isaltino não andava por lá. Para fazerem aquela figura ridícula e terem de usar aqueles títulos parvos, a compensação só pode ser grande - é como nas despedidas de solteiro. Eu falo por mim, a despender algum tempo de forma estúpida preferia jogar badminton.
Ao menos os maçons podiam fazer umas marchas populares com a Casa Mercúrio, a Casa Mozart, a Casa Africana. Se quiserem fazer festas com farturas, rifas e aventais tudo bem, se for pelo poder é porque querem mama, nesse caso, sou a favor de implantes mamários à força em todos os maçons. Sendo que o presidente teria de ter o maior. - "Olha, vai ali o grão-mestre do GOL, que grande parzorro!"»
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Trump: nem tudo lhe está garantido
«As 68 Mayors representing 38 million Americans, we will adopt, honor, and uphold the commitments to the goals enshrined in the Paris Agreement. We will intensify efforts to meet each of our cities’ current climate goals, push for new action to meet the 1.5 degrees Celsius target, and work together to create a 21st century clean energy economy. (...)
The world cannot wait — and neither will we.»
, 1.6.17
Transportes «fora da caixa» (11)
Antes da boda, um passeio à praia num país que gosta dos seus elefantes. Beruwela, Sri Lanka (2011).
. Super Bock: publicidade da melhor
«Seja responsável. Se beber, não escreva tweets» – acrescenta-se na página da marca da cerveja no Facebook.
, O rei vai nu e há poucos a reconhecê-lo
«Outros parecem ter sentido o afago no orgulho europeísta e viram nas declarações de Merkel um grito do Ipiranga europeu, uma oportunidade para a reconstrução democrática da Europa, um novo impulso para o federalismo. Parece ter-lhes passado ao lado a parte em que Angela Merkel assumiu para si o papel de dona disto tudo.
A Europa de Merkel não traz oportunidades, arrasta perigos. Quando o mundo está numa escalada armamentista e os conflitos se agudizam, a Europa alemã cheira a exército europeu. A Europa alemã soa a austeridade, ao mesmo Tratado Orçamental e ao mesmo Pacto de Estabilidade, onde mais integração significa apenas mais controlo sobre os nossos orçamentos.»
«Felizmente, há políticos na Alemanha que reconhecem que não basta pensar na Europa como uma resposta reativa a um presidente americano semilúcido. O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, o social-democrata Sigmar Gabriel, respondeu a Merkel com uma interessante autor-reflexão crítica: "Se nós alemães continuamos a atuar junto dos estados da Europa do Sul como um professor arrogante de finanças públicas, estes estados não vão apoiar as nossas ideias."»
. A cidade inclusiva
«Clement Atlee, que foi primeiro-ministro britânico do pós-guerra, foi um dia interrogado por um repórter da BBC, dentro da maneira reverencial que era típica na época: "Primeiro-ministro, tem algo a dizer à nação?" Atlee virou-se para ele e respondeu: "Não." E continuou a andar. Há dias o país viu Fernando Medina ignorar as questões sobre se era candidato a presidente da Câmara de Lisboa. Criou um tabu tão opaco como a água de uma piscina: todos sabem que será. Medina fez uma carreira política em Lisboa como sombra: de António Costa primeiro, da estratégia urbana de Manuel Salgado, depois. Herdou o cargo de presidente como se fosse um dote. Nada contra. Medina é o Mr. Chance da capital do império: aplica aos grandes problemas as receitas que este usava para cuidar das suas plantas. E é esse o problema de Lisboa: não é um jardim, é uma cidade com muito míldio. No meio do seu discurso destes anos à frente do município, Medina colocou-se debaixo dos holofotes e entre foguetes disse: "Lisboa está melhor, está mais inclusiva." É possível discordar.
Uma cidade não é um postal ilustrado ou um parque de diversões. É um local onde os cidadãos têm de viver e de trabalhar. Para isso precisam de condições materiais e de qualidade de vida. Coisa que dificilmente se encontra na capital. Enquanto a classe política discute se o metro deve ter uma linha circular ou mais 20 estações, o comum cidadão amontoa-se como sardinha em lata numa linha verde a rebentar com apenas três carruagens e defronta-se com "problemas técnicos" a paralisar a circulação todos os dias. Sobre mobilidade urbana estamos conversados. As ciclovias são muito engraçadas, mas quando irrompem por cima de locais de atravessamento de peões (sem sinalização) ou paragens de autocarros são um atentado à segurança. E depois há o turismo: é excelente. Mas isso não deve implicar, como está a acontecer, que se esteja a atirar com os lisboetas para fora da sua cidade. Isto é: Lisboa nem está mais moderna nem mais inclusiva. Está o caos.»
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31.5.17
Transportes «fora da caixa» (10)
A lindíssima estação de metro Komsomolskaya. Moscovo, Rússia (2012).
O metro de Moscovo – «O Palácio do Povo» – é considerado o mais luxuoso do mundo, foi inaugurado em 15 de Maio de 1935 e merece que se dedique tempo para ver algumas das mais de 200 estações, que tem actualmente. Mais algumas fotografias e texto aqui.
, Dica (557)
Este país de heróis (Miguel Guedes)
«Antes que cheguem os encómios habituais para o heroísmo destacado dos bombeiros em tempo de verão, este é um país que já tem um "ratio" de quase um herói nacional por milhão de habitantes. Distribuído, é um rendimento "per capita" impressionante. A exaltação turística à volta do país tem tomado Portugal pelo clima e os adjectivos às altas temperaturas sucedem-se mas é nas pessoas que encontramos o reflexo ameno da nova e gloriosa personalidade portuguesa, com um saco cheio de heróis, anti-heróis e vilões. À nossa medida.»
, A turistofobia invade a Europa
O presidente da autarquia de Florença quer impedir os visitantes de se sentarem, durante a hora de almoço, nas escadarias de alguns monumentos e vai usar mangueiras para impedir que o façam. E não só. Ler AQUI.
Por cá, discute-se a questão do Alojamento Local, com opiniões para todas as cores e paladares. A procissão ainda vai no adro e os problemas são reais e difíceis.
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Sentados nas baionetas
«Se isto e aquilo, a França entra à bomba, avisou Macron diante de Putin. Estamos por nossa conta e cá nos arranjamos, explicou Merkel depois da reunião da Nato com Trump (…). As duas fanfarronadas foram muito bem recebidas, temos líderes, conclui aquela opinião que vive ansiosa por sinais de autoridade.
Talvez devêssemos parar para pensar um minuto sobre estes sinais.
Foi assim que Trump ganhou as eleições, não foi? Conclusão, isto funciona mesmo. As promessas podem variar (um muro contra os mexicanos, bombardear o Irão ou erradicar a Coreia do Norte), mas resultam sempre. (…)
Claro que já ouço as vozes avisadas: isso é nos Estados Unidos, país de cobóis, na Europa é diferente. Sim, é diferente. Mas diferente em quê? Já ninguém se lembra, Hollande também andou a fazer o tour de África pelos aquartelamentos franceses e pela história das suas batalhas coloniais. Que vale então a proclamação de Macron? Vale exactamente um trumpismo: ele tem eleições dentro de duas semanas. O que vale a de Merkel? Idem, as eleições são no outono.
A militarização da Europa, facilitada pelo Daesh e pelas carnificinas como a de Manchester, é portanto uma estratégia política e eleitoral. Segue os passos de Trump. Se ignorarmos a prosápia que apresenta a Europa como o centro da sageza e os EUA como o faroeste, verifica-se que o contraste estratégico é nenhum. A motivação é também a mesma: se não se resolvem os problemas da hegemonia social, se os regimes vão tremendo por terem perdido os alicerces, a militarização é a resposta mais simples e mais imediata. O militar é só a força do político sem força. A guerra é só a política sem meios. A militarização da Europa é por isso útil para Macron e Merkel e é necessária para a convergência possível onde só se criou a divergência perigosa. Vamos portanto ter mais deste trumpismo elegante e europeu, que ainda nos pedem que aplaudamos. Ver todos os dirigentes europeus a abanarem a cabeça prometendo gastar mais em armas, como se isso tivesse o mais pequeno efeito na protecção das populações contra atentados terroristas, é assustador: apresentam-nos a medida mais incompetente para não lutarem contra o problema, querem enganar-nos e lançar-nos na espiral de uma nova corrida aos armamentos como se a militarização das nossas sociedades fosse a resposta para o século XXI.
Ora, esta mistura de ignorância e atrevimento é fraca quando parece musculada. Dizia Napoleão, sabedor destas coisas, que as baionetas servem para tudo menos para nos sentarmos em cima delas. É uma lição de poder. Talvez os nossos exuberantes líderes europeus se devessem lembrar dessa lição.»
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30.5.17
Transportes «fora da caixa» (9)
Passeio de barco com lobo marinho a bordo. Cabo Cross, Costa dos Esqueletos, Namíbia (2007)
São tantos, tantos, que sobem para os barcos! O Cabo Cross é uma área protegida onde existe uma das maiores colónias de lobos-marinhos-do-cabo no mundo e é uma das 15 colónias existentes na Namíbia (que conta com mais de 6,5 milhões de exemplares).
, Dica (556)
Animar em Malta (Mariana Mortágua)
«Há quem olhe para estes esquemas de planeamento fiscal agressivo e veja formas legítimas de fazer negócios. Há ainda quem se prefira esconder na impotência face à chantagem da fuga de capitais. É um erro. A fronteira entre o legal e o ilegal, a fraude e o planeamento neste tipo de esquemas é, propositadamente, muito ténue. Mas, para além da legalidade, o que está em causa é a legitimidade de todo o sistema fiscal e, por inerência, do Estado. Como pode um Estado ter credibilidade quando os cidadãos sentem, legitimamente, que o esforço fiscal não recai sobre todos da mesma forma? E como pode um Estado manter uma situação financeira sustentável se a sua base tributária se vai erodindo com a fuga dos que mais podem? Este não é um pequeno problema e, sobretudo, não se resolve enquanto os tabus sobre a livre circulação de capitais, o segredo bancário e a liberalização financeira impedirem qualquer debate sério sobre a matéria.»
. 30.05.1968 – O fim do «Maio de 68»
Há 49 anos o general de Gaulle pôs fim a um mês verdadeiramente alucinante que a França viveu em 1968. Numa alocução difundida pela rádio, que ficou célebre, dissolveu a Assembleia Nacional e anunciou a realização de eleições antecipadas: contra o perigo do «comunismo totalitário», «La Réplubique n'abdiquera pas!»
Nessa mesma noite, uma gigantesca manifestação de apoio (500.000 pessoas?) invadiu os Campos Elíseos e marcou o desejo de «regresso à ordem», que os resultados das eleições, que tiveram lugar em 23 e 30 de Junho, confirmaram com uma vitória esmagadora da direita.
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Nuno Brederode
Ontem à noite, mais de 40 amigos de Nuno Brederode Santos reuniram-se com a Céu Guerra e com um dos filhos do Nuno para «comemorarem» o 30º dia em que nos deixou. Não numa missa, mas numa alegre jantarada, no restaurante onde muitos de nós se foram encontrando com ele ao longo de anos. Tenho a certeza de que teria gostava muito de nos ver.
(Esta fotografia foi divulgada por Francisco Seixas da Costa no Facebook)
. Quem matou Laura Palmer?
«No final da segunda série de "Twin Peaks", Laura Palmer prometera ao agente Dale Cooper que se voltariam a encontrar 25 anos depois. É o que acontece agora, com o regresso do mundo enigmático e confuso de "Twin Peaks".
Quase tão labiríntico como o da política de Donald Trump. Se Dale Cooper é agora um "serial killer" possuído pelo espírito de Bob (a criatura que controla os homens, a coisa que matou Laura Palmer), resta a dúvida: quem é o Bob de Donald Trump? Afinal, como diz uma personagem no primeiro episódio deste regresso de "Twin Peaks": "Este é um mundo de camionistas." O problema é que Trump não faz parte de uma ficção saída da cabeça de David Lynch e de Mark Frost. É uma realidade colocada na Casa Branca pelos americanos ressentidos com o mundo que os rodeia e de que têm medo. Há um ponto em comum: se em "Twin Peaks" qualquer narrativa linear é quase impossível de encontrar, no discurso de Trump sucede o mesmo. Perdemo-nos entre os seus tweets e os seus gestos grotescos. Bob deve saber o que está a fazer quando aceitou possuir Trump.
Em Trump não há sinais da teoria da evolução. Darwin teria dificuldades em explicar o que se vê. Tal como Emmanuel Macron ou Angela Merkel, defrontados com o homem que depois da dança com espadas na Arábia Saudita se julga Lawrence das Arábias. Ou do mundo. Macron percebeu o Hulk desproporcionado que há em Trump. Para ele, o aperto de mão foi "um momento da verdade". Já Merkel percebeu o óbvio: acabou uma era. No fim-de-semana disse: "A era em que poderíamos depender completamente de outros acabou de alguma maneira. Foi o que verifiquei nos últimos dias." Merkel não costuma gastar palavras em vão. Viu o filme de terror: a aliança transatlântica está a esfumar-se e a Europa vai ter de contar consigo própria, na política, na economia ou na defesa. Esta não é uma ficção de Lynch: a Europa ou se une ou torna-se irrelevante. No final não se vai perguntar: quem matou Laura Palmer? Já se sabe. Está, acompanhado pela família e por Bob, a fazer dislates na Casa Branca.»
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29.5.17
Dica (555)
A Trans-Atlantic Turning Point. What Was Merkel Thinking? (Annett Meiritz, Anna Reimann e Severin Weiland)
«An historical turning point or mere campaign bluster? Chancellor Angela Merkel's Sunday speech on relations with Donald Trump's America has raised eyebrows the world over. What did she mean?»
. França: Dura lex, sed lex…
«Le parti fondé par Emmanuel Macron s’est vu attribuer douze minutes pour la diffusion des clips de campagne contre deux heures pour le PS et une heure et quarante-quatre minutes pour LR. (…)
Les partis qui n’ont pas de groupe parlementaire – comme LRM mais aussi La France insoumise de Jean-Luc Mélenchon ou le Front national de Marine Le Pen – se voient attribuer une durée de douze minutes sur les deux tours, s’ils ont au moins 75 candidats.»
. Eleições que estão vivas em partidos que estão mortos
José Pacheco Pereira no Público de hoje:
«As eleições autárquicas são um momento fundamental da nossa democracia. Num certo sentido são as mais democráticas das eleições: milhares de portugueses nelas participam, a abertura a listas independentes contrasta com as limitações nas eleições legislativas, e percorrem toda a cadeia hierárquica da administração local, da freguesia ao município. São também a eleição com maior proximidade entre eleitos e eleitores, a elas concorrendo pessoas que são localmente conhecidas e reconhecidas (ou não), com forte personalização. Embora a partidarização seja muito forte, como em toda a vida pública portuguesa, a presença dos partidos é menor e muitas vezes diferente, visto que alguns autarcas têm muito mais independência das direcções partidárias do que os deputados, e não se coíbem de exprimir opiniões críticas, principalmente quando tem legitimidade eleitoral própria. (…)
Claro que nem tudo está bem nas eleições autárquicas, porque normalmente as belas tem sempre senãos. Existem fenómenos de caciquismo, e uma tendência para a promessa eleitoral insensata, que não dura mais do que o tempo da campanha. Infelizmente a tradição em candidaturas de vários partidos, com relevo para o PSD, CDS e PS, é o modelo das “vinte estações de metro” que o CDS quer fazer em Lisboa. Já nas candidaturas deste ano vi as mais fabulosas das promessas, incluindo um “precisamos de uma rotunda neste espaço”. No entanto, começa a haver uma crescente utilização nas campanhas eleitorais de listagens das promessas feitas na campanha anterior e do seu não cumprimento. É igualmente um passo em frente no escrutínio dos mandatos que talvez possa colocar alguma moderação. (…)
Mas o problema com as campanhas autárquicas, no exacto mimetismo com as nacionais nos dias de hoje, não é tanto o ridículo que muitas vezes era mais original do que o gozo que se lhe fazia, mas a insuportável cinzentismo dos dias de hoje. Ora esse cinzentismo é revelador, por um lado, da apropriação da política por agências de publicidade, marketing e comunicação, que pululam à volta dos partidos e que gostam imenso de campanhas eleitorais onde ganham bom dinheiro. Essas campanhas profissionalizadas caracterizam-se por incorporar a cultura do “não te mexas”, de falta de risco, de querer falar sempre de dentro de um enorme vazio. E essa é em grande parte a política dos partidos de governação, que como não tem nada a dizer refugiam-se nos estereótipos que são o molde da vida política dos dias de hoje. Não há nada para dizer, porque o que há para dizer não se pode dizer.
A amostra que já é possível ter das campanhas que já arrancaram em 2017, é disso um exemplo, sem originalidade, sem conteúdo, usando as mesmas palavras, os mesmos slogans, dum vazio impressionante. Os exemplos que refiro a seguir são todos de 2017, na sua maioria do PSD, CDS e PS, algumas do BE. O PCP tem mantido alguma prudência com um slogan único até agora: “trabalho, honestidade e competência”. (…) Temos as campanhas do “mais” e do “melhor” (…), depois há as campanhas da “mudança” (…), há as declarações de amor às terras. (…)
E isto é só o princípio, uma amostra de cerca de setenta campanhas concelhias já na rua. Duvido que para a frente vá ser muito melhor. O problema já não é das eleições autárquicas, é da esterilidade crescente da vida política nacional.»
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28.5.17
Vergonha que não é alheia – é nossa
«Casi 1.500 personas, rescatadas en 12 operaciones de salvamento en las aguas del Mediterráneo, han estado bloqueadas desde el jueves en el Mediterráneo a bordo del Prudence, el barco de búsqueda y rescate de Médicos Sin Fronteras (MSF). La embarcación, con capacidad para 600 personas, no podía regresar a Sicilia. ¿El motivo? Las fuertes medidas de seguridad adoptadas con motivo de la cumbre del G7, celebrada en la ciudad de Taormina (situada en la costa este de la isla) entre este viernes y este sábado.
La delegación italiana de Médicos Sin Fronteras llevaba días alertando de la "situación tan insostenible" que han vivido las 1.446 personas, entre ellas 140 mujeres y 45 niños, que viajaban a bordo del Prudence desde el pasado jueves. »
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Os prisioneiros esquecidos
«A 28 de Maio de 1961, há precisamente 56 anos, o jornal The Observer, do Reino Unido, publica um artigo do advogado Peter Benenson, com o título The forgotten prisioners. O artigo chama a atenção para as pessoas perseguidas e presas pelas suas opiniões políticas ou religiosas contrárias às dos seus governos. Benenson apela aos leitores para que escrevam aos líderes e instituições desses países para respeitarem e defenderem os direitos básicos dos seus cidadãos. A iniciativa, chamada de Apelo por Amnistia 1961 teria a duração de um ano e o sucesso da campanha dependeria da mobilização da opinião pública.»
E sempre ouvi dizer isto, de que não encontro rasto neste texto: «Amnesty International was founded in London in July 1961 by English labour lawyer Peter Benenson.[9] According to his own account, he was travelling in the London Underground on 19 November 1960 when he read that two Portuguese students from Coimbra had been sentenced to seven years of imprisonment in Portugal for allegedly "having drunk a toast to liberty".»
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28.05.1926 – A «Revolução Nacional»
Recordo a data quase todos os anos, não só para preservar a memória, mas porque deixou marcas que ainda hoje sofremos na pele – conscientemente ou nem por isso.
Em 1926, um dia terrível e decisivo na nossa História marcou o fim da 1ª República e esteve na origem do Estado Novo. Todos os anos havia comemorações, mas duas ficaram na memória.
Foi num outro 28 de Maio, mais concretamente em 1936, no 10º aniversário da «Revolução Nacional», que Salazar proferiu um discurso que viria a ficar tristemente célebre: «Não discutimos a pátria...»
Ainda num outro aniversário – no 40º, em 1966 – o chefe do governo, então com 77 anos, viajou pela primeira vez de avião até ao Porto (entre os outros passageiros, acompanhado pela governanta) para assistir às celebrações que tiveram lugar em Braga.
Não se ouve, neste vídeo, uma frase do discurso que deixou o país suspenso: «Eis um belo momento para pôr ponto nos trinta e oito anos que levo feitos de amargura no Governo». Mas Salazar continuou: «Só não me permito a mim próprio nem o gesto nem o propósito, porque, no estado de desvairo em que se encontra o mundo, tal acto seria tido como seguro sinal de alteração da política seguida em defesa da integridade da pátria».
E ficou – até que uma cadeira cumpriu a sua missão histórica.
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