Se gostei, como já escrevi, do que Manuel Alegre disse no Maputo sobre a língua portuguesa como factor que nos une às nossas antigas colónias, já o mesmo não se passa acerca de algumas manifestações a que assisti durante a recente visita de Sócrates a Moçambique. Estou a pensar, concretamente, no espectáculo de moçambicanos que, aparentemente com espontaneidade, cantavam o Heróis do Mar ao primeiro-ministro. Fiquei gelada. Não porque o facto em si seja especialmente importante, mas pareceu-me sintomático da complexidade das relações colonizado / colonizador.
Alguém conseguirá imaginar argelinos a entoarem a Marselhesa pelas ruas de Argel, numa qualquer visita de Sarkozy? Dir-me-ão talvez que a diferença abona a nosso favor. Não tenho a certeza: teremos deixado por lá a brandura dos nossos costumes e alguma sunserviência, o que não valorizo positivamente.
Mas é provável que a esquisita seja eu. Também fico transida quando oiço bater palmas em enterros.
P.S. - Eu, colona que nasci como portuguesa de segunda em Moçambique, não sei cantar o hino moçambicano. Mas aqui fica porque sempre o achei lindíssimo.