2.3.10

Vem aí um papa (1)


Ainda faltam mais de dois meses, mas já começou a levantar-se o véu sobre o muito que nos espera com a visita de Bento 16 a Portugal.

Fiquei hoje a saber que a conferência episcopal está a «negociar» com o governo tolerâncias de ponto ou feriados para as datas em que o papa por aqui andará: 11 e 12 de Maio para Lisboa, 12 e 13 para Leiria e 14 para o Porto. Nada está decidido mas espero para ver - com curiosidade.

Não me recordo de feriados decretados por visitas oficiais de reis ou de presidentes da república (talvez quando Isabel II veio a Portugal, em 1957?) e nem me passa pela cabeça que o governo possa encarar a viagem de um papa numa outra qualidade que não seja a de chefe do Estado do Vaticano.

Claro que nem Bento 16, nem os bispos, nem os católicos portugueses podem ser responsabilizados pelo facto de a senhora de Fátima não ter decidido aparecer num 5 de Outubro para festejar a República, então recentemente proclamada, ou num 1º de Maio com a previsão de que um dia viria a ser feriado em Portugal. Mas isso é um problema deles: da dita senhora e dos seus fiéis.

Assim sendo, e salvo melhor opinião, resta a quem quiser ir até ao Terreiro do Paço, à Cova da Iria, ou à Avenida dos Aliados, a hipótese de gastar uns dias de férias. E não é de desprezar a disponibilidade de 10,5% de desempregados que bem precisam de protecção celestial.


P.S. 1 – Realizo, neste momento, que devo chegar a Lisboa (vinda do Butão...) dois dias antes do início desta epopeia. Azar o meu porque, por pouco, escaparia ao espectáculo, mas felicidade porque não assistirei às duas últimas semanas de preparativos! Garrafa meia cheia, portanto.

P.S. 2 - «O problema é que o mesmo poderá dizer João Gabriel, porta-voz do Benfica, outro Estado dentro do Estado e religião com mais de 7 milhões de fiéis em Portugal e arredores, em vista da participação de "todos" (portistas e sportinguistas incluídos) nos festejos de cada vitória e nas lamúrias de cada derrota.» (Manuel António Pina)

7 comments:

Aristes disse...

"nem me passa pela cabeça que o governo possa encarar a viagem de um papa numa outra qualidade que não seja a de chefe do Estado do Vaticano"

Mas o Estado português não assinou uma Concordata com a Santa Sé, de que o Papa é o Chefe?

Parece-me por isso que o Papa pode vir cá na qualidade de Chefe da Santa Sé e/ou do Estado do Vaticano, não é?

Talvez não fosse má ideia o Governo explicar em qual, ou quais?

Joana Lopes disse...

A Concordata não tem nada a ver com isto, Aristes, regulamenta aspectos muito concretos que não incluem feriados por causa de visitas.

Jorge Conceição disse...

Relativamente às decisões da Senhora de Fátima de não aproveitar os feriados lusos para as suas aparições, mostrando distanciamento face ao poder aqui estabelecido, assinalo no entanto que ela mostrou algum facciosismo ao escolher o ano da Revolução Soviética para se dar a conhecer e logo aqui em Portugal!

Anónimo disse...

Mas que raio..... não estamos habituados ás pontes e outras coisas assim.....Qual o espanto de mais um feriado. Este país não quer recuperar de coisa nenhuma!

Anónimo disse...

Tenho pena que a Igreja esteja a negociar com este governo.
O Santo Padre não precisa de "tolerâncias de ponto" para ser ouvido por centenas de milhões de pessoa em todo o mundo e bem recebido por milhões de portugueses. Eu vou a Fátima e espero não ter de ver junto de Sua Santidade gente que estaria melhor noutros locais.
Que Sua Santidade venha como peregrino, para evitar que o governo e mais gente da mesma igualha se atrele. Como português, agradeço mais uma vez ao Vigário de Cristo que torne Portugal fonte da atenção dos media mundiais, sem ser pelas habituais más rezões.

Anónimo disse...

Conhecem aquela divina tese de M. Bakounine:" Deus não é um ser, não é uma ideia- é uma aspiração"? Que se pode conjugar com outra do mesmo agitador sublime: " É necessário certificar a Igreja já que foi a primeira entidade a descobrir, na História Moderna, que a riqueza e o Poder, a exploração económica e a opressão política das massas, constituem os dois ítens inseparáveis do reino da idealidade divina sobre a Terra. Em que a riqueza se posiciona consolidando e aumentando o poder, e o poder descobrindo e criando sempre novas fontes de riqueza e, em conjunto,muito melhor que o martírio e a fé dos apóstolos, melhor que a graça divina, tendendo a assegura o sucesso da propaganda cristã;(...)E que de forma generalizada a acção do mito de Deus e de todas as idealidades divinas implantadas acabaram por impôr, sempre e por todo o lado, o materialismo próspero do pequeno círculo em prejuízo do idealismo fanático e constantemente sequioso das massas ". In " Deus e o Estado ",OC. VII. Duzentas e tantas páginas de forte e arrazadora crítica histórica-filosófica e científica do sofisma de Deus e dos malefícios do Estado. Existe uma tradução de Júlio Henriques na Assírio & Alvim. A não perder, pois. Niet

São disse...

Ora bolas, regressamos a 9 de Maio. Ainda por cima 11 e 12 estou em Bruxelas em trabalho. É preciso ter azar ou não ter fé...
Bjs
São