27.9.25

Regressam as papoilas

 


Vaso de "Papoila laranja" de Rookwood Sterling, 1901.
Lenore Asbury (decoração).

Daqui.

André Ventura a exceder os limites?

 


Esta imagem foi obra de Inteligência Artificial, feita a partir deste vídeo. Já foi denunciada pelos Polígrafos deste mundo. Mas continua, continua…




27.09.1975 – Os últimos fuzilamentos do franquismo

 


Há 50 anos, foram fuzilados cinco antifascistas espanhóis: José Luis Sánchez Bravo, José Humberto Baena Alonso, Ramón García Sanz, Juan Paredes Manot e Ángel Otaegui. As pressões para que o acto não fosse consumado não resultaram, Franco não cedeu.

Portugal, em pleno PREC, não esperou pela execução e iniciou na véspera, 26 de Setembro, assaltos aos consulados de Espanha em Lisboa e no Porto, ataque a sedes de empresas espanholas e incêndio e destruição da embaixada de Espanha em Lisboa. 


(Vídeo e mais informação aqui)
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Classe média, classe média, quem a tem chama-lhe sua

 


Daqui.

Ao que nós chegámos

 


«Nestas eleições, como em geral em toda a actividade política, não há qualquer movimento ascendente em política que não seja o populismo dominado pela questão central do combate à imigração. A sua expressão política é o Chega, que domina toda a vida política, o discurso político, a agenda mediática, os debates, e as campanhas eleitorais em grande parte do país. Apesar de ser um partido bastante minoritário — teve menos de um quarto dos votos nas eleições legislativas de 2025, o que nem sempre é lembrado —, tudo o que “mexe” em Portugal acontece à volta do Chega.

Esta situação é uma enorme vitória política, que contrasta com a estagnação e a cedência aos temas do Chega por parte do PSD, com o bloqueio do crescimento da Iniciativa Liberal, com a crise profunda de identidade do PS que gera a paralisia do partido, e com a decadência acentuada do PCP e do Bloco — com a única excepção à esquerda de algum crescimento do Livre. É um panorama que, no seu conjunto, aponta para uma grave crise do sistema partidário pós-25 de Abril, crise que é estrutural e não conjuntural. Sendo assim, tudo está a mudar, sem ser no sentido de reforçar a democracia, nem a governação, nem o centro “moderado”, com um desequilíbrio no par direita-esquerda, claramente a favor da direita, criando um caos e uma errância cujos únicos efeitos previsíveis são a crise institucional e política da democracia. Este processo não é apenas português, é europeu e mundial.

Se não se partir daqui, desta análise fria e cruel, com elementos de catástrofe, não se parte da realidade, e essa é a primeira resposta aos que dizem que não basta análise, são precisas respostas. A primeira resposta é mesmo reconhecer que se está muito mal e que, tendo em conta a Lei de Murphy, vai ser tudo muito pior.

A segunda, é perceber como se chegou aqui, com um modelo de economia que favoreceu os de cima, cada vez mais ricos, deixou ficar a meio do elevador social todos os que estavam a sair da pobreza, fez descer uma parte da pequena e média burguesia e colocou numa redoma os mais pobres, deixando que dentro dessa redoma a inveja e o ressentimento social crescessem, com pobres a combaterem pobres. O combate por uma economia que incorpore um forte elemento de justiça social não é comunismo, é a doutrina social da Igreja.

Terceira, a evolução da economia capitalista associou-se a uma ecologia comunicacional que premeia a ignorância agressiva, a solidão, a desagregação de todas as relações que não passem pelas redes sociais, sem contacto humano, a não ser a competição por likes, e por frases assassinas, e insultos, e memes imbecis. Ao mesmo tempo, o deslumbramento tecnológico destruiu muito da função da escola, e diminuiu drasticamente o papel das mediações sociais, culturais, associativas, políticas e, no limite, familiares e religiosas.

A quarta resposta é o combate, sem transigência, pela democracia, combate esse que existe muito menos do que se possa pensar. Há mais moleza do que combate, e esse combate assume duas dimensões. Uma é contra as manifestações políticas do populismo, que conta nesse plano com um sistema de mentiras canalizado pelas redes sociais, nas quais se manipula o modo emotivo, que hoje é o mecanismo dominante do discurso nesses locais. Respondam, respondam a tudo, em todo o lado. Denunciem os grandes mentirosos, os violentos, os manipuladores, os falsificadores, a invasão das redes sociais por repetidores da extrema-direita que, como não têm emprego, e estão todo o dia disponíveis para fabricar vídeos, têm de ser pagos por alguém. Eles vivem de mostrar como qualquer berro à direita “arrasa”, “destrói”, “esmaga” os que a confrontam.

O exemplo de Isaltino mostra como é possível confrontar com sucesso esse mundo de mentira, violência, e aquilo a que se chama na ópera braggadocio. Outro é o exemplo do vitelo que combateu a fanfarronice toureira e nem sequer deu a Núncio, do CDS, o privilégio de lhe tocar o dorso. Isaltino e o vitelo viraram o feitiço contra o feiticeiro.

Outra resposta é mostrar a enorme contradição entre a brutalidade populista e os ensinamentos e a actuação das igrejas cristãs, que ainda são uma referência para milhões de portugueses. Denunciar a hipocrisia diante do altar, ou do padre, ou do pastor, e a falta de sentimentos cristãos face aos mais desprotegidos é eficaz, porque torna ridículo o bater no peito e o ajoelhar em pose.

Outra resposta é o combate intransigente pelos direitos humanos, cívicos, laborais dos imigrantes. Valorizando uma das coisas que este populismo de extrema-direita quer combater, o alvo de gente como Elon Musk: a empatia. E de novo a hipocrisia. Os militantes do Chega mandam vir comida pelos estafetas ou não? Não deviam, pois não? Porque isso é ajudar a imigração ilegal. Eles usam-nos nas estufas em condições de calor extremo? Não deviam, pois não? Deviam apenas contratar portugueses. E isso implica uma dura pressão sobre os governantes, cujas “autoridades” deviam multar a sério quem despreza as “condições de trabalho”, e quem viola a lei para ganhar dinheiro com os párias da imigração.

Há mais para os próximos artigos, o papel da nossa história, o patriotismo, e no fim e no princípio de tudo, a coragem. Estou mesmo a ver quem vai dizer, “mas isso é pouco, isso não é nada, isso não vai travar o Chega”. Não sei. O que sei é que não fazer nada não trava coisa nenhuma.»


26.9.25

26.09.1968 – A primeira noite sem Salazar



Nunca esquecerei aquela hora que marcou o fim do salazarismo. Não por ter tido qualquer esperança na «Primavera» marcelista, iniciada naquela noite de Outono de 1968, mas porque foi um marco. E ainda «oiço» o discurso histórico e sinistro de Américo Tomás quando anunciou a substituição de Salazar por Marcelo Caetano:



No dia seguinte tomou posse o novo governo e, do discurso de MC, ficaria a célebre uma frase: «Não me falta ânimo para enfrentar os ciclópicos trabalhos que antevejo.» (Texto do discurso aqui.)

Sabendo o que se seguiu entre 1968 e 1974, não é fácil perceber hoje que muitos, mesmo resistentes antifascistas, tenham criado grandes expectativas com a nomeação de Marcelo. Mas foi um facto: a «Primavera Marcelista» alimentou grandes sonhos quanto ao sucesso de uma «evolução na continuidade». Não durou muito, o desfecho é conhecido.

Começariam as «Conversas em Família»:


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Carlos Moedas preso no elevador

 



Imagine a nossa cidade

 


26.09.1945 – Gal Costa

 


Nasceu em Salvador e morreu em 2022, depois de se ter estreado em 1964, ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia, no espectáculo Nós, Por Exemplo... 

Quem não se lembra da sua «Modinha para Gabriela», de Dorival Caymmi?




E mais, muito mais:






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Que maravilha/chatice, isto da liberdade

 


«Sobre isto da liberdade de expressão parece haver três opiniões possíveis: há quem seja a favor, há quem seja contra, e há quem seja a favor ou contra consoante goste ou não goste do que os outros dizem. Convém manter presente que só o primeiro grupo é constituído por democratas. As pessoas que pertencem ao segundo grupo raramente o confessam em público — o que só lhes fica bem. Uma vez que são contra a liberdade de expressão, faz sentido que permaneçam caladas, a dar o exemplo.

O Presidente dos Estados Unidos da América, a terra dos livres, disse esta semana o seguinte: “Li algures que as televisões estavam 97% contra mim, repito, 97% negativas, e mesmo assim eu venci, e facilmente [as eleições]. Elas só me dão má publicidade, má imprensa. E, quer dizer, têm uma licença. Eu diria que talvez a licença lhes devesse ser retirada.” Donald Trump pertence ao terceiro grupo, juntamente com vários dos seus apoiantes — e, curiosamente, vários dos seus adversários. Que haja cidadãos para os quais a liberdade de expressão deve ser limitada quando ouvem coisas que consideram ofensivas é infeliz, mas talvez não seja muito grave. Já que o Presidente de um Estado democrático esteja convencido do mesmo é capaz de ser um pouco perturbador.

A questão de saber se o Presidente, incumbido de defender a lei que protege a liberdade de expressão, pode em vez disso apelar à limitação da liberdade de expressão, é de ordem legal — mas também há um problema de ordem lógica. Se, como Trump tem afirmado, é verdade que Charlie Kirk morreu pela liberdade de expressão, então as pessoas que usam a sua liberdade de expressão para se pronunciarem sobre a sua morte, incluindo as que dizem sobre o assunto coisas horríveis, estão a homenagear Charlie Kirk. Por outro lado, as que pretendem limitar a liberdade dos outros, mesmo — ou sobretudo — dos que dizem coisas horríveis, estão a ofendê-lo. Donald Trump devia estar indignado com Donald Trump.

As declarações de Trump não são propriamente surpreendentes. Ninguém pode dizer que está surpreendido, tanto quanto ao conteúdo como quanto ao estilo. O Presidente dos EUA cita as fontes em que costuma confiar para obter informação: “algures”. Depois revela que, por muito que os media conspirem esmagadoramente contra si, mesmo assim isso não tem qualquer efeito, visto que apesar da maquinação ele “vence facilmente”. No entanto, apesar de os conspiradores não lhe causarem qualquer dano, mesmo assim ele acha que não deviam poder criticá-lo. Tenho a ideia de que este tipo de pessoa que, por causa de mero desconforto, se desfaz em queixinhas e lamúrias, tinha um nome. “Snowflake”, parece que era.»


Maria João Avillez: alguma surpresa?




«Maria João Avillez lamenta a decisão do estado português, Ricardo Costa acredita que Portugal “ganha alguma decência.”»


25.9.25

Papoilas

 


Vaso “Papoilas” com sobreposição personalizada em prata de lei. Rookwood Pottery. Cincinnati, Ohio, 1902.
Lisbeth N. Lincoln (pintura).

Daqui.

Tudo o que precisas de saber sobre a flotilha para Gaza

 


«Qual é o sentido de fazer uma expedição humanitária por barco para Gaza? Quem organiza? O que aconteceu com as flotilhas anteriores?»

Tudo explicado AQUI.

Gouveia e Melo – Uma biografia

 



Os imigrantes ainda não comem os pavões de São Bento

 


«André Ventura, agora investido no cargo de líder do segundo partido, anunciou que, se fosse ele a mandar, nunca aceitaria mudar a lei de estrangeiros chumbada pelo Tribunal Constitucional. É ilegal? É. As leis chumbadas pelo Tribunal Constitucional têm que ser mudadas para ficar conformes à Constituição.

Olhemos para o lado positivo: André Ventura ainda não disse que os imigrantes andam a comer os pavões que costumam aparecer nas traseiras do Palácio de São Bento, aquela ala a partir da qual se pode chegar à residência oficial do primeiro-ministro. Ontem, Nigel Farage, o émulo de Ventura no Reino Unido, disse que os imigrantes andavam a comer e matar os cisnes dos parques de Londres. A “Royal Parks” desmentiu mas a verdade não interessa a Farage, a Ventura, nem ao líder máximo da direita populista mundial, Donald Trump, que também anunciou que imigrantes haitianos comiam cães e gatos.

Os pavões, para já, estão a salvo. Do primeiro debate quinzenal como líder da oposição ficaram as mensagens de que os imigrantes ilegais se inscrevem nos centros de saúde (uma impossibilidade) e que o Chega nunca “voltaria atrás” com a lei de estrangeiros. O slogan “nós nunca voltamos atrás” foi repetido quatro vezes.

Luís Montenegro lá tentou explicar a Ventura que “é preciso respeitar o funcionamento da democracia” e que o líder do Chega “tem que aprender a conviver” com ela. Mas, enquanto não comem os pavões, os imigrantes ocupam as creches e Ventura “não quer que filhos de estrangeiros passem à frente dos portugueses” e insistiu que, com ele, nem o Presidente da República nem o Tribunal Constitucional são para respeitar: “Nós iremos contra a vontade de quem quer que seja.”

A tirada quase paternalista de Montenegro de que “é preciso” que Ventura aprenda “as regras da Constituição” acaba por ser uma bola a bater numa parede e a voltar ao mesmo lugar.

Afinal, foi este o discurso de “implosão do regime”, contra a imigração, minorias étnicas, o “sistema político” que levou André Ventura a líder da oposição. Neste momento, Farage – o tal que disse nesta quarta-feira que os imigrantes comem os cisnes dos parques de Sua Majestade – lidera as sondagens no Reino Unido. André Ventura apareceu a liderar uma sondagem. Pode seguir-se a acusação de que os imigrantes comem os pavões. Não tem sido a inexistente relação com a verdade a travar a ascensão da direita populista.»


24.9.25

Segurança para a Flotilha

 


25 de Novembro – Isto não se inventa

 


Se não me engano, já são quatro a organizar «festejos»: a comissão oficial (presidida por M. Inácia Rezola), a do Governo, a do PS e, creio, uma da Associação 25 de Abril.

“Trabalho XXI”

 


Vale a pena ler AQUI o texto na íntegra.

Da Saúde, ainda

 


O despedimento por justa causa não toca a Ana Paula Martins

 


«Depois de meses a reviver o drama crónico das urgências de obstetrícia (não é possível transferi-las do SNS para o privado, solução de todos os problemas para este governo), a ministra da Saúde anunciou que as urgências de obstetrícia do Hospital Garcia de Orta passariam a estar abertas todo o ano, a partir de setembro, resolvendo assim os dramas de tantas grávidas da Margem Sul do Tejo. Um compromisso politicamente relevante quando se sabe que este é o tema que levou a popular ministra Marta Temido a demitir-se.

O anúncio veio, em julho, numa entrevista na SIC Notícias: estão a ver aqueles médicos que saem do SNS para o privado, porque até como tarefeiros são mais bem tratados? Ana Paula Martins tinha conseguido que uma equipa de sete obstetras e ginecologistas se desvinculasse de um hospital privado onde trabalhava para ir para o hospital de Almada.

Na semana passada, segundo fim de semana do mês de setembro, todas as urgências de obstetrícia da Margem Sul do Tejo estavam encerradas. De novo. Razão? Falta de tarefeiros. Os sete médicos contratados afinal não existiam. Esperámos que a ministra aparecesse a dar explicações. E apareceu. Disse que a culpa era das suas equipas, que a tinham enganado. Estaria a falar de Pedro Azevedo, o jovem médico sem experiência em gestão hospitalar mas cartão de militante do PSD de Almada que entrou na limpeza partidária levada a cabo por Ana Paula Martins nas administrações hospitalares com a função geral de ser para-raios da ministra. A culpa nunca é dela. Ou é dos seus antecessores, ou dos seus subalternos.

O discurso, feito há uma semana, foi desconcertante: “É muito penalizador para mim ter assumido politicamente uma solução que me foi garantida e vê-la desfeita sem sequer compreender porquê. (...) Fi-lo porque acreditei no plano que me foi apresentado e porque aprendi a confiar nas equipas com quem trabalho. (...) Aprendi que nada nos garante que aquilo que nos garantem que vai acontecer acontece.”

Como começa a ser um estranho hábito nesta nova AD, dos ministros aos autarcas, a vítima das falhas do Estado não é o governado, é o governante. Muito penalizador para a ministra, isto de não haver urgências de obstetrícia. Não queiram as grávidas passar pelas aflições de Ana Paula Martins. Apesar de terem traído a sua confiança, de tal forma que teve de o denunciar ao País, a ministra não anunciou a demissão de ninguém das suas equipas. Nem a sua, apesar de reiteradamente nomear pessoas que deixam ficar mal a sua indiscutível competência.

Ana Paula Martins preferiu passar logo para a polémica seguinte, entrando em guerra com os médicos. Não sei se a ministra tem razão na proposta de obrigar os médicos do Barreiro a irem fazer uma perninha ao Garcia de Orta. Já foi feito por Pizarro, que tentou enviar os obstetras de Santa Maria (por razões um pouco mais compreensíveis, já que o bloco de partos estava em obras) para São Francisco Xavier. Houve várias demissões e a saída de seis médicos. À confusão não terá sido estranha a então pouco diplomata administradora do hospital. Uma tal Ana Paula Martins. Sei que uma ministra que, ao longo de dois anos, nunca assumiu qualquer responsabilidade pelo seu mandato desastroso, atirando sempre as culpas para baixo ou para trás, não lidera coisa alguma. E que um governante irresponsável (no sentido literal do termo) nada pode exigir aos que dirige.

Ana Paula Martins não devia ser ministra desde as últimas eleições. Só o é porque a oposição é liderada por um partido inconsequente e outro deprimido. O primeiro está sempre aos gritos, levando o governo a trabalhar na aparência das coisas. O segundo está sempre a sussurrar, levando o governo a ignorá-lo. A má oposição faz o mau governo, sempre se disse. Nunca foi tão evidente.

Quanto à grande prioridade da ministra, que é o dano à sua própria carreira política, podemos estar descansados. Por pior que seja a revisão da lei laboral proposta pela sua colega Maria Rosário Ramalho, o emprego de Ana Paula Martins está seguro. Para os ministros deste governo, nem o despedimento por justa causa é aceitável. Evidentemente, nunca se demitem.»


23.9.25

Há sempre mais um

 


Vaso amarelo de vidro com sobreposição castanha e iridescência azul, gravado com uma cena subaquática. Cerca de 1900.
Émile Gallé.

Daqui.~

Pablo Neruda morreu há 52 anos

 


Pablo Neruda morreu em 23 de setembro de 1973, apenas 12 dias após o golpe de Estado no Chile, oficialmente em consequência de um cancro na próstata.

Se houve sempre dúvidas quanto à veracidade desta causa, elas agravaram-se alguns anos mais tarde quando o motorista do poeta afirmou que ele terá recebido uma injecção letal numa clínica de Santa Maria, em Santiago do Chile, para impedir que se exilasse no México como era sua intenção. Com base nestas declarações, o Partido Comunista do Chile apresentou uma denúncia formal à Justiça, foi aberto um processo e, em Abril de 2013, foi iniciada a exumação dos restos mortais do poeta (sepultado juntamente com a sua última mulher no jardim da casa em Ilha Negra), que foram enviados para análises em Espanha e nos Estados Unidos. Na clínica em questão, nunca foi possível encontrar a ficha médica de Neruda, nem a lista dos trabalhadores presentes.


Há um ano, depois de testes forenses, foi descoberta uma bactéria no seu corpo, provavelmente injectada pela equipe médica enquanto estava no hospital.




Jogos geopolíticos?

 


«O porta-voz da diplomacia chinesa Guo Jiakun declarou em conferência de imprensa que "é urgente promover um cessar-fogo integral em Gaza" e pediu aos países com maior influência sobre Israel que "assumam com seriedade as suas responsabilidades e garantam a verdadeira implementação do princípio de que os palestinianos governem a Palestina".»


Juliette Gréco

 


Cinco anos sem ela.



Ventura é uma pedra no sapato do almirante ou uma palmilha onde melhor assenta o pé?

 


«Henrique Gouveia e Melo esteve particularmente bem em quase toda a entrevista a Clara de Sousa. Digo “quase” porque continuo sem perceber para que serviu o almoço com Ventura. E a crispação do candidato perante a insistência da jornalista só reforça a ideia de que há, de facto, algo que precisamos de saber. Já lá iremos.

O almirante mostrou conhecer a Constituição, revelou-se moderado na interpretação dos poderes presidenciais e demonstrou uma visão equilibrada do que deve ser a vida em comunidade. Nada do que defendeu coloca os cidadãos uns contra os outros — nem sequer a crítica aos partidos que encaram as eleições presidenciais como “uma segunda volta das legislativas”. Ao ouvir Gouveia e Melo, percebe-se que ele é um eleitor típico do centro, que votou maioritariamente no PSD ou no PS ou, ocasionalmente, em forças próximas. Não ser do sistema não é o mesmo que ser anti-sistema.

A este propósito, diversos estudos têm mostrado um descontentamento crescente dos cidadãos com os partidos, divórcio que tem beneficiado quase exclusivamente o Chega. André Ventura é um produto do sistema que se apresenta como anti-sistema, mas o seu partido consegue imitar tudo aquilo que critica nos outros a um ritmo mais acelerado do que o seu próprio crescimento eleitoral — que, ainda assim, tem sido feito com grandes saltos. Mas não nos deixemos enganar, o Chega é instrumental no caminho traçado por Ventura. É evidente que existem muitos eleitores desiludidos com a democracia e iludidos por vendedores de banha da cobra que, aqui como noutros lugares do mundo, prometem tudo a alguns e ameaçam castigar todos os outros que lhes fazem frente. Estes eleitores, cansados dos partidos, precisam de um espaço comum para se reencontrar e defender a democracia. Não se percebe, por isso, a má reação dos partidos - e da generalidade dos comentadores - a uma candidatura de um democrata como Gouveia e Melo, apenas porque esta não nasceu nos diretórios partidários.

Um país que, em cinco presidentes, teve quatro ex-líderes do PS e do PSD não pode estar condenado a escolher novamente entre um ex-líder do PS e um ex-líder do PSD. As presidenciais são eleições para as quais os partidos não são formalmente convocados; transformá-las num play-off partidário é fazer o jogo de Ventura, que, qual caudilho, já sonha com um regime presidencialista. É preciso dizer, no entanto, que a Constituição está mais próxima do modelo francês, com o qual sonha o Chega, do que do sistema italiano — onde é o parlamento que escolhe o presidente — defendido pelos restantes partidos.

Na eventualidade de uma segunda volta entre Gouveia e Melo e Ventura, espero que todos os que militam em partidos democráticos, começando pelos seus dirigentes, não hesitem um segundo em manifestar o apoio ao almirante. Se não o fizerem, estarão a revelar-se democratas de pacotilha, merecedores de toda a má sorte que têm sofrido. Da mesma forma, numa eventual segunda volta entre Ventura e um ex-líder do PS ou do PSD, espero que Gouveia e Melo não hesite em declarar o seu voto num desses candidatos, como já fez no passado.

PEDRA OU PALMILHA?

Ao parlamentarizarem estas presidenciais, ao criarem esta “obrigatoriedade” de ir às urnas testar a força de cada partido, encurralaram o Chega — mas o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro. Percebe-se o pânico perante a possibilidade de uma segunda volta entre um candidato vindo de fora do sistema e um candidato que quer “fazer desabar o sistema”. Ver os candidatos do PS e do PSD ultrapassados pelo Chega na mesma eleição seria um abalo profundo.

Mais difícil de perceber é o almoço de Gouveia e Melo com Ventura, tendo Mário Ferreira como chefe de mesa. Depois de tudo o que Gouveia e Melo disse sobre o Chega — num esforço bem-sucedido para se livrar da fama de ser o candidato ideal para os eleitores de Ventura —, não se entende como o almirante caiu nessa esparrela. Do muito que disse Ventura sobre a procura de uma alternativa a si próprio e do pouco que disse Gouveia e Melo sobre o encontro, deduz-se que terá sido o líder do Chega a propor uma conversa para testar a hipótese de o partido apoiar o candidato sem partido.

Pelo desamor do Chega à democracia, pelo discurso suprapartidário do almirante — que não cola com o eventual apoio de Ventura — e por tudo o resto, este almoço ameaça transformar-se numa pedra no sapato da candidatura de Gouveia e Melo. A não ser que exista uma explicação mais plausível do que a que foi dada (a procura de possíveis intersecções). A única hipótese que encontro alimenta uma teoria da conspiração: o almirante teria tudo a ganhar com Ventura na segunda volta, pois seria eleito presidente com uma votação igual ou superior à de Eanes. Neste caso, Ventura não seria uma pedra no sapato, mas uma palmilha para deixar Gouveia e Melo mais confortável no pedestal reservado ao salvador da pátria. Venha o diabo e escolha, porque Ventura continuaria como figura central do sistema.»


22.9.25

Hoje há gafanhotos, amanhã não sabemos

 


Vaso "Gafanhotos" moldado por sopro, de vidro opalescente multicamadas com patina verde, 1912.
René Lalique.

Daqui.

Comentários para quê?

 


Autárquicas Porto

 


Outono, ele aí está

 



A maria-vai-com-as-outras reconheceu a Palestina. Não chega

 


«As condições apresentadas pelo governo português, no início de agosto, para este reconhecimento foram uma piada de mau gosto. Porque eram exigidas a uma Autoridade Palestiniana sistemática e deliberadamente destruída por Israel. Porque incluíam decisões que dependem do Hamas (a libertação dos reféns), dando-lhe uma legitimidade institucional que não podem ter. Porque dependiam do fim da ofensiva de Israel (desmilitarização de Gaza e eleições no território), que não tem qualquer interesse neste reconhecimento. E porque eram assimétricas (reconhecimento do Estado de Israel sem que a inversa seja necessária ou sequer previsível). Mas, não se tendo verificado nenhuma delas, Portugal avança, na mesma, para este reconhecimento.

Diria que mais vale tarde do que nunca, mas não estaria a ser justo. Portugal não reconheceu propriamente o Estado da Palestina. Limitou-se a seguir a tradição da sua política externa, seja qual for o governo ou regime: evitar até ao limite ter uma política externa. Reconheceu porque a França e o Reino Unido reconheceram e ficar só com a posição abjeta da Alemanha seria demasiado próximo de ter uma posição.

Houve um tempo em que celebraria este passo tardio, que retira vários países europeus do degredo minoritário em que se encontravam. Hoje, temo que seja o preço do silêncio. Temo que o gesto simbólico sirva para, cedendo à pressão da opinião pública, evitar outros mais concretos.

Apesar do assassinato sistemático de jornalistas (mais de 200 trabalhadores dos média), do cerco militar e político às organizações internacionais independentes, temos dados mais do que suficientes para saber que, diante dos nossos olhos, acontece um genocídio. Confirmado por um consenso alargado de estudiosos. Como ouvi, numa uma sessão bastante transversal, na última sexta-feira, de Bruno Maçães, a chamada "comunidade internacional" não pode dizer, como noutras circunstâncias, que não tinha todos os dados. É um genocídio e, em qualquer outro caso, um negacionista seria tratado como um pária desmerecedor de qualquer respeito intelectual e político.

O genocídio não acontece com o silêncio, mas com a cumplicidade da Europa (responsável por cerca de um terço das exportações e importações de Israel), que trava sanções que não sejam apenas simbólicas (até onde vai a hipocrisia quando se aplicam a ministros ou a colonos apoiados pelas IDF, e não a um governo ou a um Estado) e, em alguns casos, mantém ativa a venda de armas que matam crianças palestinianas.

O cinismo sádico que leva o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, a dizer, no meio de risos, ter um "plano de negócios" para transformar Gaza numa "fortuna imobiliária" para financiar os custos da matança não vem do ar de Israel. Vem do ar deste tempo. Por isso, ser complacente com o genocídio não é apenas uma questão de política externa. A cultura política que o justifica e celebra é uma doença que passa fronteiras. E o que vemos, em democracias como a alemã, mas também a britânica, é o silenciamento por vezes violento das vozes que se erguem em defesa de valores que dizem ser os nossos.

Nos Estados Unidos, a perseguição do Estado e do governo à liberdade de opinião, sobretudo nas universidades, não veio com o assassinato de Charlie Kirk. Está à solta desde que começou o genocídio em Gaza. Na Alemanha e no Reino Unido, perseguem-se movimentos, reprimem-se manifestações de solidariedade à Palestina. Quanto maior a desfaçatez do governo de Israel, maior a violência contra as vozes que, nos países aliados, exigem mais do que simbolismo.

Uma parte da esquerda e demasiada direita acham que podem ficar no lugar onde estavam, quando endossavam, com argumentos racistas que justificam o abuso com uma pretensa superioridade cultural e civilizacional (os que sempre foram usados pelo colonialismo), a ocupação de territórios palestinianos, a violência sistemática, quotidiana e organizada contra um povo, e a inviabilização de dois Estados. Porque Israel está cercado de inimigos, dizem para justificar o sofrimento de um povo que vive há décadas cercado de muros. Esse lugar, que há muito já lhes devia ser desconfortável, deixou de existir.

Não se é moderado a travar um genocídio. Não se chama "amigo" a quem o comete. Não se põem condições às suas vítimas para o travar – o reconhecimento do Estado palestiniano destruído em toda a sua capacidade política, vindo com condições, é uma piada de mau gosto. Isso trata-se depois. Agora, trava-se o crime. Os genocidas tratam-se com determinação. Para depois os punir. Tudo o resto é cumplicidade.»


21.9.25

Foi há 13 anos

 


Seis dias depois da manifestação «Que se lixe a troika», em 15 de Setembro, fomos milhares os que estivemos em frente ao Palácio de Belém, à espera das conclusões de uma reunião do Conselho de Estado.

Continuar a ver AQUI (texto e vídeo)

Carlos Moedas: isto é importante

 


Leonatd Cohen

 


Seriam 91.



Vírus antidemocracia

 


«Os inimigos da democracia têm hoje mais motivação para irem às urnas do que muito do povo arreigadamente democrata. Em muitos países europeus e do Ocidente, a possibilidade de o voto ser a arma de aniquilamento da própria democracia é dramática, mas é real. As lideranças da extrema-direita estão a jogar forte na demonstração dessa possibilidade, também em Portugal.

Cresce aceleradamente o número dos deserdados pelas políticas neoliberais executadas em nome da democracia, designadamente na Europa. As injustiças e desigualdades têm-se aprofundado e atrofiam projetos de vida de muitos estratos da sociedade em várias gerações, incluindo as mais jovens. Há, assim, muito voto de protesto que pode convergir com o dos inimigos da democracia.

As governações europeias renderam-se aos encantos e benefícios imediatos do ultraliberalismo económico, num quadro em que este impõe a espiral de sucção de recursos mais forte da história. Os beneficiários daquela espiral precisam das forças ultraconservadoras e fascistas no poder e o contexto geopolítico e geoestratégico, bem como a postura dos Estados Unidos da América, estão a facilitar a conjugação de fatores que lhes abre caminho. O terreno da política está cheio de vírus que matam a democracia. Como responder a esta situação?

Quando os governos e outras instituições do poder não respondem aos justos anseios dos povos, há que afirmar o poder da rua, gerando-lhes incómodos. É isso que temos de fazer em Portugal. São importantes as manifestações contra as alterações às leis laborais avançadas pelo Governo, porque constituem um ataque a relações de trabalho que salvaguardem a dignidade e a cidadania de quem trabalha, um rombo na já frágil presença do poder sindical nos locais de trabalho, e um barrar a entrada da democracia nos espaços de trabalho.

Importância idêntica têm as manifestações dos imigrantes: sem imigração com direitos teremos piores salários e total precarização das relações laborais e não seremos Estado de direito democrático. É necessário um combate na defesa de todos os fatores de coesão de que a sociedade dispõe.

Vamos ter a "comemoração revanchista" do 25 de novembro. Como disse o presidente da Associação 25 de Abril, "Eles não querem o 25 de Abril. Eles odeiam o 25 de Abril". O conteúdo democrático da Constituição da República aprovada em 2 de abril de 1976 jamais existiria sem os objetivos e lutas, mesmo com contradições, que se desenvolveram nos dois anos anteriores.

Nas eleições autárquicas há que atacar outros vírus. O poder local foi, desde a sua criação, um fator de confiança dos portugueses na democracia. O descontentamento manifestado com políticas nacionais pode estar a penetrar no plano local. A pretensa entrega de competências ao poder local, sem correspondentes meios, é uma das causas geradoras de expectativas que não podem concretizar-se. Matemos os vírus que minam a democracia.»


Eurovisão Russa

 


«Proibida de participar na Eurovisão, devido à invasão da Ucrânia, a Federação Russa reativou um antigo festival internacional de canções. A Rússia sobe a palco com um cantor pró-Rússia, o evento será apresentado por uma dupla oriunda da China e da Índia e também estarão presentes os EUA.»

Daqui.