11.3.17

Dica (502)




«Angela Merkel is planning a dual strategy for her first face-to-face meeting with Donald Trump on Tuesday. She wants to foster close personal relations with the new U.S. president, but she also wants to make clear the Berlin is armed for a trade war against Washington.» 
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Um 11 de Março há 42 anos



Nesse décimo primeiro dia de Março de 75, pelas 11:45, o RAL 1 (mais tarde conhecido por RALIS), foi bombardeado por aviões da Base Aérea nº 3 e cercado por paraquedistas de Tancos, na concretização de uma tentativa de golpe de Estado, liderada por António de Spínola.

O que se passou durante o resto desse dia é resumido num documento do Centro de Documentação 25 de Abril e está parcialmente gravado nos vídeos (no fim deste post). Dia que acabou já sem Spínola no país: com a mulher e quinze oficiais fugiu de avião para Badajoz.

11 de Março marca o início do PREC, que viria a durar oito meses e meio – até ao 25 de Novembro. Quem já era adulto lembra-se certamente dos ambientes absolutamente alucinantes de tudo o que se seguiu, sobretudo a partir de 14 de Março quando foi criado o Conselho da Revolução e se deu a nacionalização da Banca e da maior parte das companhias de Seguros.

E não se julgue que foi só a chamada extrema esquerda a aplaudir essas medidas:
«As nacionalizações são saudadas à esquerda e não são contrariadas à direita. O PPD apoiou-as, embora prevenindo que "substituir um capitalismo liberal por um capitalismo de Estado não resolve as contradições com que se debate hoje a sociedade portuguesa".
Mário Soares mostrou-se eufórico, considerando tratar-se de "um dia histórico, em que o capitalismo se afundou". Disse num comício que "a nacionalização da banca, que por sua vez detém (…) a maior parte das acções das empresas portuguesas e, ao mesmo tempo, a fuga e prisão dos chefes das nove grandes famílias que dominavam Portugal, indicam de uma maneira muito clara que se está a caminho de se criar uma sociedade nova em Portugal".» (Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, Os dias loucos do PREC, p. 28.)

Foi assim, por mais inverossímil que pareça a 42 anos de distância.

Para quem quiser conhecer ou recordar os acontecimentos:








E a canção do Zeca sobre este data:


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Na minha aldeia, são tudo primos e primas – ou noras

O grande abandono



Excertos do texto de José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«Falar dos pobres é politicamente intangível, toda a gente fala dos pobres, mesmo que não nada por eles. E é verdade que os mais pobres sofreram muito com estes anos de política da troika, mas, como as suas expectativas não eram grandes, ficaram no seu gueto cuidadosamente vigiado pela assistência caritativa a que a política de direita os remeteu. O papel do Estado na criação de um elevador social que lhes desse a esperança de sair da pobreza foi travado e eles ficaram ali, onde já estavam, numa redoma social, que a política do Governo PSD-CDS quis acima de tudo manter com receio da agitação social.

Mas, como muitas vezes acontece, a agitação social veio de outros lados, não da parte mais de baixo da escala social. Se analisarmos esses anos, as únicas organizações com algum sucesso em alargar a mobilização social e política foram do “meio” da escala social: os “precários” de diferentes associações, com muitas ligações ao Bloco de Esquerda, e os “reformados” da Apre!, que representavam um sector da “classe média”, profissões liberais, funcionários públicos, muitos que tinham sido eleitores do PSD e do PS. A isso se deve acrescentar, por justiça, e no meio de enormes dificuldades e num período de refluxo, a CGTP e os sindicatos. Sobre estes últimos repito o que já disse: imaginem o que seria o mundo laboral e a legislação do trabalho se não fosse a resistência sindical, e, mesmo assim, muito perderam com a aplicação mais durável e com maior sucesso e zelo do programa da troika pelo Governo PSD-CDS. (…)

Há um factor que convém ter em conta – é que a direita está a perceber mais depressa do que a esquerda a essência do “trumpismo”. Ainda não é capaz de mobilizar esse descontentamento, porque está muito acantonada socialmente e o populismo precisa de líderes e protagonistas vindos da televisão, que escasseiam. Mas caminha para aderir ao seu modus operandi naquilo que é mais perigoso – o discurso social e a “pós-verdade” que circula pelas redes sociais.

Não é de agora a proximidade da direita portuguesa ao programa de Trump, já vem de antes, mas falta-lhe a componente populista. Quando se vê um conjunto de cartazes da Juventude Popular, já com alguns anos, é patente a proximidade. Aliás, enquanto o CDS passou a Partido Popular, e depois de novo a CDS-PP, a antiga Juventude Centrista mudou para Juventude Popular e por aqui ficou. Esses cartazes falam de “liberdade”, “segurança” e “impostos”, mas em que termos? A “liberdade” é: “A nossa geração não precisa de subsídios. Só queremos que nos deixem trabalhar.” A “segurança” é: “O Estado protege os criminosos. Quem nos protege a nós?” Os “impostos” são: “Dois milhões de pessoas com rendimento mínimo. Quem pensas que anda a pagar essa avareza?” Para além dos jovens populares não saberem o que significa “avareza”, não se ficam por aqui. Há outros cartazes com imagens, com jovens muito “betos” para serem eficazes fora do círculo social do CDS, mas mesmo assim esclarecedores: “Trabalhas toda a noite num bar para pagares a faculdade, o Estado tira-te 20% para dar a quem não quer trabalhar.” “O Estado rouba-te os sonhos e distribui-os por quem nada quer fazer.” E uma defesa do cheque-ensino ao modo da secretária de Trump para a Educação, Betty DaVos.

Portanto, o programa está cá, falta apenas o salto populista. O abandono a que foram deixados os trabalhadores, os pequenos empresários, os operários, uma massa de gente a quem tiraram o futuro e amachucaram o presente geram ressentimento que, como a água, segue o caminho mais fácil. Ele encontra-se no olhar para a casa limpa e composta que espera os refugiados e não precisa dos mastins da extrema-direita para lhe indicar os alvos. Eles sabem que o CDS, o PSD, o PS, os abandonaram à sua sorte, estão-se literalmente borrifando para as “causas fracturantes” do Bloco de Esquerda, e a “linguagem de pau” do PCP não os mobiliza. Eles esperam no seu fel – até um dia.» 
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10.3.17

Dica (501)




«These dystopias may sound like science fiction, but they’re perfectly plausible given our current trajectory. The technology around robotics and artificial intelligence will continue to improve – but without substantive political change, the outcome will range from bad to apocalyptic for most people. That’s why the recent rumblings about a robot tax are worth taking seriously. They offer an opportunity to develop the political response to mass automation now, before it’s too late.» 
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Uma verdadeira efeméride: 10 de Março de 1917




«Os responsáveis pela colocação destes anúncios foram os centros de espiritismo de Lisboa e do Porto, uma atividade muito em voga à época. Centros onde se reuniam pessoas de várias classes para receber mensagens do além.»

E, como estive fora, só agora vi isto. Tão bom!


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10.03.2017 – Boris Vian



Boris Vian faria hoje 97 anos. Escritor, engenheiro mecânico, inventor, poeta, cantor e trompetista, também anarquista, teve uma vida acidentada e ficou sobretudo conhecido pelos livros de poemas e alguns dos seus onze romances, como L’écume des jours e L’automne à Pékin.

Especialmente célebre ficou também uma canção – Le déserteur – , que foi durante muitos anos uma espécie de hino para todos os que recusavam participar em guerras, incluindo muitos portugueses. Lançada durante a guerra da Indochina, foi grande o seu impacto e acabou mesmo por ser proibida por antipatriotismo, na rádio francesa, pouco depois do início do conflito na Argélia.

Nunca esquecerei quando Le déserteur cumpriu a função da mais improvável das marchas nupciais, no casamento de um amigo, em Bruxelas, no fim dos anos 60.


(Serge Reggiani : Dormeur du Val , de Arthur Rimbaud, e Le déserteur de Boris Vian.)
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Marcelo e a bimbalhada de um aniversário



Não via televisão há mais de três semanas, mas os noticiários de ontem fizeram-me descer à terra e abrir a boca de espanto. A bimbalhada a que assisti, a propósito do primeiro aniversário de Marcelo como presidente da República, ultrapassou todas as barreiras possíveis do ridículo – tanto do «festejado», como dos jornalistas que o seguiram durante todo o dia. Que raio de país é este?!...

(N.B. – Bimbalhada: toque ou repique simultâneo de muitos sinos. Mas também: conjunto de bimbos.) 
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O pequeno homem do castelo alto



«Esta semana, uma longa reportagem/documentário da SIC do jornalista Pedro Coelho (o nome é mera coincidência), intitulada "Assalto ao Castelo", veio dar a conhecer uma parte da actuação da regulação bancária no pré e durante a queda do BES. Depois de ter visto a reportagem, começo pela moral da história: o respeitinho é muito bonito. (…)

O conceito DDT é abrangente. Se existe Supervisão Bancária e há um DDT, obviamente também é dono da Supervisão Bancária. Não fosse assim, Salgado seria conhecido como DDTMDSB - Dono Disto Tudo Menos Da Supervisão Bancária.

Perante Salgado, e tudo o que ele representava, a Supervisão Bancária de Carlos Costa foi substituída pela Supersubserviência ao banqueiro. Carlos Costa tinha dois grandes problemas nesta sua relação com Salgado. Quando o ex-presidente do BES fazia anos, devia ser complicado saber o que oferecer a quem já tem tudo. O outro era tentar tirar alguma coisa a quem é dono de tudo. (…)

Em sua defesa, o governador do Banco de Portugal veio dizer o que já tinha dito aquando da comissão parlamentar pós-queda do BES: ele não tinha poder para afastar Ricardo Salgado da presidência executiva do Banco Espírito Santo. O que podia fazer era utilizar a persuasão. Se isto é verdade, qual a lógica de ter um senhor de idade, de cabelos brancos, à frente do Banco de Portugal? Se, para evitar a queda de um banco, tudo o que nos resta é persuadir um banqueiro, não faria mais sentido ter uma boazona, sexy, como governadora do BdP?

Resumindo, se estão a pensar fazer uma remodelação no Banco de Portugal, recordo que Monica Bellucci está a viver em Lisboa. Estou certo de que os olhos da Monica Bellucci serão bem mais persuasivos do que a supervisão de Carlos Costa.»

João Quadros

9.3.17

O país deve estar muito melhor



Estive fora mais de três semanas, segui vagamente o que se ia passando por cá, mesmo sobre a «tragédia» de uma conferência que não teve lugar. Estou optimista: um país em que tanta gente encartada se ocupa, afincadamente, de um tema transcendente como este já deve ter resolvido todos os seus problemas importantes.

Entretanto, leio esta notícia e sinto-me gozada. 
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8.3.17

Sydney: a Ópera e a Ponte



A Ópera de Sydney é certamente o seu cartão de visita mais conhecido e com toda a justiça. Projectada pelo dinamarquês Jørn Utzon desde 1959, foi inaugurada em 1973 e é célebre pela arrojada arquitectura e por uma localização privilegiada na grande baía da cidade. Andei hoje em visita guiada pelas suas cinco salas de espectáculo e por outros espaços e, tal como tinha sido avisada por leituras várias, e para lá de características técnicas certamente adequadas e excelentes, tem-se uma certa decepção quanto à correspondência com as expectativas criadas pelo que se vê do exterior. (Aliás, o projecto arquitectónico do interior não foi da auditoria de Jørn Utzon.)

Já não direi o mesmo sobre a Ponte da Baía de Sydney (Sydney Harbour Bridge) que atravessei nos dois sentidos: excedeu o que dela sabia. Datada de 1932, é uma bela estrutura com oito faixas de rodagem, mais duas para comboios, uma para bicicletas e outra para peões – com 50 metros de lagura total. Considerada inutilmente grande quando inaugurada, já foi reforçada, em 1992, com um túnel (Sydney Harbour Tunnel), e fala-se da construção de mais outro. Verdadeiramente impressionante, vale a pena atravessá-la que mais não seja para ver a Ópera, e muito mais, do outro lado da baía.

As três semanas de viagem já lá vão e a verdade é que passaram bem depressa.




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7.3.17

A lenda das Três Irmãs e muita bicharada



Hoje o dia começou de novo bem cedo para se chegar às Montanhas Azuis, situadas a 50 kms a Oeste de Sydney. Parecem de facto azuis as que são vistas mais ao longe, por um fenómeno relacionado com partículas emitidas pelos abundantes eucaliptos existentes na região.

Mas há uma interessante lenda ligada a três pedras, bem visíveis de vários ângulos. Um homem passeava com as três filhas e deixou-as em determinado local para ir caçar. Entretanto, percebeu que se aproximava um monstro que as mataria e, como andava sempre com um osso mágico, usou-o para as transformar temporariamente em pedras e tornou-se ele próprio um pássaro. O monstro passou mas aconteceu o pior: o pássaro não conseguiu encontrar o osso e as raparigas ficaram para sempre pedras – as célebres Três Irmãs (imagem no topo do post). O conjunto de montanhas nesta região são de uma grande beleza, vi-as de miradouros, de um comboio e de dois teleféricos.

Mas antes disso, pelo caminho, parei no Featherdale Wildlife Park, que alberga animais da fauna australiana: cangurus e afins de todos os tamanhos e feitios, coalas, aves, répteis, pinguins minúsculos, etc., etc. O diabo da Tasmânia estava recolhido e não se mostrou e saio da Austrália sem ter visto cisnes negros, o que nunca esperei que me acontecesse.

O fim aproxima-se: amanhã passarei o dia em Sydney e depois… serão vinte e muitas horas entre a saída deste hotel e a chegada a Lisboa. Não há-de ser nada.







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6.3.17

Sydney



Corais e florestas ficaram para trás, estou já em Sydney.

Algumas poucas horas a circular por uma parte desta grande cidade, que tem quase cinco milhões de habitantes (mais de um quinto do total do país) deram para perceber que é lindíssima, com os seus ícones mais conhecidos vistos um pouco de todo o lado, com muitas baías de tamanhos variados e a «grande» baía, com a famosa Praia Bondi, muitos parques bem cuidados no centro da cidade, numerosas casas ainda em estilo tipicamente inglês, restaurantes animados, cheios de gente mesmo relativamente tarde.

Mas quase tudo está ainda por descobrir, amanhã é outro dia e faltam poucas horas para que comece… Ficam algumas imagens.






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5.3.17

Depois dos corais, as florestas



Esta região do Norte da Austrália, onde ainda estou, tem 9.000 quilómetros de florestas tropicais protegidas e foi por uma delas que hoje andei.

Nem tinha consciência de de ter «subido» tanto: do paralelo 45 no Sul da Nova Zelândia até ao 17 onde se situa Cairns. O resultado foi a surpresa de mergulhar agora numa mais do que exuberante flora tropical, variando os meios de transporte: comecei por um combóio preparado para proporcionar belíssimas perspectivas de montes, vales e cascatas, continuei num tanque anfíbio que já andou pela Segunda Guerra Mundial e acabei num teleférico, com sete quilómetros de comprimento (nunca tinha andado em nada de parecido, em extensão e altitude), que passa por cima de muitos milhares de árvores gigantescas e permite que se tenha uma ideia da variedade e da dimensão do que está em causa. Tudo isto com o Mar de Coral no horizonte. Magnífico é a palavra adequada para resumo do dia.

Quanto a bicharada, as visitas detalhadas ficam para um parque em Sydney, mas já vi hoje um santuário de borboletas, cangurus, coalas e até o tal diabo da Tasmânia… Não resisto a resumir uma característica do casoário (última imagem no fim deste post), uma ave ratite maior do que um peru mas mais pequena do que qualquer avestruz: é o macho que choca os ovos, durante cinquenta dias, seis a doze de cada vez, enquanto a fêmea vai preparando nova dose com outros machos. Muito pra frentex, não?

Amanhã? Sydney.







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