12.1.19

Dica (842)




«Right-wing populist parties in Europe have been gaining strength for years. Now, they hope to use European Parliament elections in May as a springboard for gaining greater influence in the EU. Surveys indicate they may be successful.»
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No PSD, a realidade ultrapassa a ficção



Pedro Santos Guerreiro no Expresso de 12.01.2019.
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«As Voltas do Passado: a guerra colonial e as lutas de libertação» (1)




Primeira parte da conversa de Fernando Rosas com Miguel Cardina e Bruno Sena Martins, co-organizadores do livro "As Voltas do Passado: a guerra colonial e as lutas de libertação" no Socialismo 2018.


A segunda parte será disponibilizada mais tarde, hoje ou amanhã.
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No jornalismo o mais importante é a informação



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«Um dos problemas do jornalismo contemporâneo português é a sua pouca atenção à informação e a sua substituição pela opinião. A opinião é um elemento importante do tecido democrático que estende pelo espaço público o debate, mas não substitui a informação, o velho programa do jornalismo de “quem, o quê, quando, onde, porquê e como”. Ora o que se está a passar é uma contínua degradação da informação e, pior do que isso, da “vontade de informar”, em detrimento de uma informação opinativa, uma forma de “narrativa” que envolve subjectivamente o seu autor naquilo que relata, e o prende a uma sucessão de opiniões e a uma escassez ou deturpação de informações.

Já tenho várias vezes denunciado esse processo que se tem acentuado à medida que as redacções se tornam mais desertificadas, mais hierarquizadas e mais feudalizadas. E é um processo mais grave na imprensa de referência. Quem cobre um partido, ou uma área da cultura, ou do espectáculo, ou uma manifestação de rua, é hoje pouco mais do que um jornalista ou dois, e muito menos uma equipa, mesmo nos grandes jornais. Esse(s) jornalista(s) é (são) “especializado(s)” num assunto, o que em si é positivo, mas detêm o controlo da “narrativa” sobre esse assunto, o que é mau. Isto soma-se ao efeito do “jornalismo de rebanho” que isola as opiniões solitárias e tende a uniformizar o produto final, e a diminuir o pluralismo.

São eles também que falam com as “fontes”, muitas delas abusivamente anónimas, e com todos os problemas que essa relação tem, havendo quase sempre uma espécie de tradoff entre jornalista e "fonte". E não adianta rasgar as vestes porque toda a gente sabe que é assim, a que acresce a relação muito menos transparente com as agências de comunicação. Ainda me estão por explicar por que razão quando uma empresa, um escritório de advogados, uma consultora, paga a uma agência de comunicação consegue “colocar” as sua notícias e quem não tem ou não paga o serviço, não consegue publicar nada, independentemente do seu valor informativo. Os casos mais evidentes são as páginas especializadas, por exemplo, do jornalismo económico.

Existe jornalismo tendencioso por simpatia política, mas nem sequer é disso que estou a falar, embora o produto final possa caber nessa categoria. Um exemplo, do falhanço de informação, que neste caso não cumpriu a obrigação de informar, foi o completo desconhecimento na campanha eleitoral brasileira para as presidenciais em Portugal, de que havia uma forte simpatia a favor de Bolsonaro, que depois se revelou nas urnas. Os nossos jornais dedicaram muito mais atenção ao PT, nem sequer se interessando por um fenómeno também nacional.

Mas voltando à feudalização crescente nos jornais - o jornalista A “manda” no que se publica sobre a Europa, o B sobre a crítica de livros, o C sobre o PS, etc. - e condiciona a “narrativa” sobre essa matéria, e nesse caso acaba por ser envolvido no que escreve. Se diz que um autor ou um artista são muito bons, muito dificilmente dirá que são maus, mesmo que as suas obras futuras sejam de inferior qualidade. O mesmo se passa com a apreciação das pessoas em que factores de simpatia ou antipatia são inevitáveis e acabam por condicionar a “narrativa”.

O que acontece é que se algum facto ou actuação colocar em causa a apreciação jornalística, quem fica em causa é também o jornalista, porque algures cometeu um erro de julgamento ou de apreciação, ou porque se envolveu tanto com uma opinião pessoal ou de grupo, que não pode, consegue ou deseja sair desse casulo em que se meteu. E é por isso que as “narrativas” não mudam, porque há uma resistência psicológica à mudança, quando ela põe em causa todo um perfil, toda uma série de apreciações, toda uma sucessão de opiniões. É por isso quando alguém é bom, ou esperto, ou hábil, ou responsável, fica sempre assim, porque não são os factos que mandam, mas o julgamento opinativo do jornalista. E quem é mau, ignorante, desleixado, incompetente, fica também sempre assim, pelas mesmas razões.

Com a solidificação da “narrativa”, os factos deixam de contar porque ou são híper-valorizados para acentuar uma opinião, ou são ignorados se se tornam “factos incómodos”, porque colocam em causa a apreciação que o jornalista tem feito, nalguns casos de há muito tempo para cá. Não é difícil fazer uma lista de amizades, ódios, gostos e desgostos, em que se percebe bem demais a simpatia ou a antipatia em todas as áreas do jornalismo. Com a escassez de pessoas e o pouco trabalho de equipa, a feudalização e o mandarinato, os jornais são sucessões de opiniões com muito pouca informação por trás. No caso dos jornalistas individuais, isto pode ser psicologicamente compreensível, mas é mau jornalismo.»
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11.1.19

Marcelo: «Vamos a isto...



... que eu estou a descer nas sondagens»
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Em dia PSD


Em verdade vos digo: António Costa deve ser um dos homens com mais sorte deste mundo! Se não joga no Euromilhões, devia fazê-lo.


«Todos sempre unidos no caminho da verdade»


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Dica (841)



Os irmãos escolhem-se (Sandra Monteiro) 

«Por vezes até surgem cidadãos com responsabilidades públicas e políticas que corporizam esta concepção de que ser democrata é habitar este espaço neutro, horizontal, contraditório e consensual, tolerante até à exaustão, que se quer mimetizado pelos cidadãos-espaço.

O presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa é um desses casos. A sua mensagem de Ano Novo voltou a ser um exemplo de como é possível dizer tudo e o seu contrário, agradar à esquerda e à direita, dificultando qualquer crítica. (…)

E o que dizer das suas declarações sobre o encontro com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro? Salientando o «tom fraternal» do encontro, e chamando-lhe uma «reunião entre irmãos», deu uma caução calorosa e de proximidade a um apoiante da ditadura militar e da tortura, que é racista, homofóbico e misógino, e que representa uma formação de extrema-direita enterrada em casos de corrupção. Tudo se desculpa porque podia estar a pensar na «empatia natural»com o povo brasileiro e porque há relações, desde logo comerciais, a preservar? Na democracia-espaço, sim, vale tudo. Na democracia-projecto é que estas posições se combatem. E os irmãos escolhem-se.»
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Glovo e Uber eats ou os ladrões dos tempos modernos



«O capitalismo sempre quis colonizar o nosso tempo. A apropriação de cada um dos nossos minutos, marcados por esse instrumento violento chamado relógio, é uma arma poderosa para ditar e comandar a organização da vida pessoal, social e familiar.

A flexibilização do tempo de trabalho, através de formas de organização especialmente penosas para os trabalhadores, como o trabalho por turnos, o banco de horas ou adaptabilidade e a criação de novas modalidades contratuais (contrato de muito curta duração, intermitente, temporário) são expressão da adaptação da legislação laboral ao mercado e uma resposta às suas necessidades. Entretanto, corre-se atrás do prejuízo tentando mitigar os efeitos da lei do mercado, por via da proteção laboral, apelando-se à compatibilidade com direitos fundamentais protegidos constitucionalmente, enquanto se inventam novas formas de alcançar o objetivo de servir os interesses patronais com medidas espúrias e falsamente bem-intencionadas como um período experimental alargado para desempregados de longa duração com maior dificuldade de integração no mercado de trabalho. É este, aliás, o estado da arte, na discussão do novo pacote laboral em Portugal.

Surgem, diariamente, novos mecanismos de apropriação do tempo de trabalho e as tecnologias servem esse propósito. Enquanto se aumentam horários de trabalho por via de uma desconexão inexistente, com telemóveis que tocam a toda a hora, com e-mails que têm que ser lidos em qualquer lugar, com uma urgência empertigada que mata o direito ao descanso e ao lazer, dão-nos UBER eats e Glovo. Entregam-nos as compras em casa, dão-nos os medicamentos à boca, trazidos por um trabalhador explorado que pedala com uma bicicleta, para cima e para baixo, para ganhar um dinheirinho extra.

E convivemos, alegremente, com esta tranquilidade da vida moderna, que nos faz chegar uma pizza a casa, depois de um dia com horas a mais a trabalhar, sem pagamento de trabalho suplementar e sem descanso compensatório, que isso de cumprir a legislação laboral é para incautos e a internet é o paliativo.

Recordemos os "Tempos modernos", em que Charlie Chaplin nos mostrava o operário, alimentado por uma máquina frenética, de tempo contado, fustigado por uma linha de montagem infernal que lhe garantia tiques, em resultado de mimetização de tarefas a uma velocidade alucinante, que não se compadecia com pausas, a atirá-lo para acidentes de trabalho e doenças profissionais. É sempre o tempo que nos querem. E quem é dono dele é dono de tudo.

Na curta-metragem "Hola, buenas noches!", um distribuidor de comida ao domicílio, que presta funções através de uma aplicação móvel, fala-nos das suas condições de trabalho enquanto pedala durante 12 horas. E é difícil não as achar indecorosas.

Tempos modernos estes em que convivemos, com entusiasmo obsceno, com novas formas de exploração laboral à distância de um clique, a troco da usurpação do nosso tempo, esse tempo que é cada vez menos nosso.»

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Festa no «Observador»



«A redação do Observador no momento em que chega o SMS: "Luís Montenegro apresenta candidatura ao PSD"»

Via «Geringonça» no Facebook
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10.1.19

Vistos Gold?


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França: força contra a violência?




«Incapable d’articuler une réponse politique sans abandonner son projet de libéralisation de la société et de l’Etat, le gouvernement s’apprête à redoubler l’arsenal répressif. Mais les classes populaires qui se sont intégrées à la démocratie contemporaine grâce à l’institutionnalisation de l’Etat social ne peuvent se résigner à la défaite et à l’acceptation pure et simple d’un modèle économique, social et politique qui leur est imposé. Le gouvernement invoque l’état de droit et la démocratie représentative. Or, il rétrécit le droit autant qu’il étend l’espace de ce qui est illégal. Il risque de nuire à la légitimité de la loi, d’éroder la légitimité d’exercice de la force publique, d’instrumenter la police en corps de défense de l’ordre.»
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90 é uma bela idade




Parabéns, Tintim!


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Democracia racial e outra "estórias" que o Brasil gosta de contar a si mesmo



«O caso brasileiro, com a eleição de Bolsonaro, de que pretendo falar, comporta uma dimensão de transformação ideológica e social tremenda, nem sempre devidamente alcançado pela imprensa e comentadores políticos. Se na Europa e Estados Unidos, com a crise económica de 2008 e as crises sociais que ali foram fervilhadas, quando o "outro", representado, sobretudo, pelos imigrantes, mas também pelas minorias que se concebem como privilegiadas, os chamados “descamisados da globalização” começaram a verbalizar o seu mal-estar e, num contexto de crise de representação por parte dos partidos políticos mainstream, aderem a movimentos extremistas clássicos, agora reformados pelas agendas do novo milénio, no contexto brasileiro o cenário é ainda mais complexo do que isso, porque coloca em questão a própria construção da brasilidade, expondo as fragilidades de uma nação imaginada sob falácias ideológicas.

Ora, uma dessas primeiras e mais decisivas falácias, ou de outra forma, uma das estórias que o Brasil gosta de contar a si mesmo, é o da democracia racial. Enquanto base ideológica, o mito da democracia racial propagou-se entre todas as camadas sociais brasileiras permitindo fabricar perceções sociais em que a raça não operava na mobilidade e composição sociais, virando o olhar da descriminação para categorias sociais diferentes, como o "pobre", a "mulher", o "nordestino", o "veado" (homossexual).

Quando devidamente analisada, a questão racial no Brasil revela que para além dessa narrativa que serviu interesses geopolíticos, nada mais sobra que os traços grossos da mitologia. Em rigor, o Brasil não só não superou a questão racial, como jamais superou a escravatura, simplesmente transformando a condição de escravo na condição da segregação racial. Com a abolição da escravatura e com o projeto de desenvolvimentismo e embranquecimento social (interligados), ao negro, outrora escravo, reservou-se a condição de marginalidade social, empurrado para fora do traçado urbano, preservando as disposições ideológicas e legais nas quais negro, poluição étnica, ética e religiosa andavam entrelaçadas. Ao produzir a marginalização do negro, o Brasil criou as condições segregacionais adequadas para imaginar a democracia racial.

Com efeito, entre a queda do mito da democracia racial – graças às ciências sociais e aos movimentos negros – e as políticas de ação afirmativa empreendidas pelos governos do PT, ocorre a reação dos setores historicamente favorecidos, que viram os seus privilégios raciais e de classe ameaçados. Manifestações contra negros nas universidades, contra as cotas raciais, contra os direitos das domésticas, entre outros, fizeram um périplo que abriu caminho para a ascensão de uma figura próxima à de Trump, sabendo que a classe média e alta brasileira tem uma representação social de si mesma de base norte-americana. Assim, graças a uma estratégia de coligação de forças conservadoras ligadas aos media, uma campanha bem montada de fake news via whatsapp, o apoio massivo das principais indústrias brasileiras, em particular os interesses do gado, aliadas a um discurso populista capaz de cativar largas franjas sociais, a eleição de Jair Bolsonaro tornou-se numa realidade, passando, à imagem da sua grande referência, Donald Trump, do candidato-comédia ao presidente eleito. Quando excluído o impacto das fake news, a realidade revelada expressa a dimensão moral do Brasil: um país profundamente marcado pela homofobia, pela misoginia, pela demarcação racial e de classe. Este cenário é agudizado pela circunstância histórico-ideológico-moral que o país vive, com a revolução evangélica em curso.

O crescimento e a conquista do poder por parte das igrejas evangélicas são um dado sociológico e político já devidamente analisado pela academia brasileira. O poder político da designada bancada evangélica é, apenas, parte da realidade brasileira, onde o controlo dos media permite uma onda de fanatismo sem par no Ocidente, que se tem traduzido numa verdadeira guerra santa contra as religiões afro-brasileiras, concebidas como espaços de culto demoníaco e de albergue dos “caídos em desgraça”, como os homossexuais, travestis, e outros membros da comunidade LGBTI. Ora tais igrejas, com taxas de crescimento incomparáveis, revelam-se espaços especiais de doutrinação político-ideológica, tendo feito, na sua larga maioria, intensa, ainda que ilegal, campanha pró-Bolsonaro, ungido como Salvador da Pátria e o Messias que conduzirá o país à restauração da ordem, da moral e dos bons costumes. Esse programa ideológico em curso é evidente na composição ministerial. Olhando, por exemplo, para a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, vemos plasmado todo o programa revolucionário evangélico em curso. Nas suas palavras: “É uma nova era no Brasil: menino veste azul e menina veste rosa”, ou “o Estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã”. Estas afirmações, proferidas no dia da tomada de posse, continuam uma narrativa particularmente preocupante perante a pasta que assume. Damares Alves que, um mês antes, afirmava que o “modelo ideal de sociedade é com mulheres apenas em casa”.

Em suma, o programa de governo de Bolsonaro configura uma total inversão da marcha civilizacional dos últimos governos, procurando implementar uma agenda que concentra a ideologia da ditadura militar, do ultraconservadorismo económico, do alinhamento das relações internacionais quase exclusivamente com os Estados Unidos (de Trump, concretamente), e da moral cristã-evangélica ultraconservadora, messiânica, de combate ao demónio representado noutras religiões e na sociedade da diversidade. De forma abreviada, a agenda do governo que agora começa funções é a da coabitação entre o plano ideológico da ditadura militar e o plano da ditadura moral. A eleição de Bolsonaro traduz uma disposição social alargada que não se revia no caminho encetado pelo PT. As classes historicamente favorecidas, caraterizadas por um manual ético e moral extremamente conservador, quando beliscadas no seu status quo, i.e., quando viram a “senzala” avançar em direção à “casa grande”, reclamando a partilha de privilégios e a conquista de direitos que lhes foram historicamente negados, reagiram, alinhando-se não ao centro-direita, mas à extrema-direita brasileira, a única capaz de reverter em tempo recorde todos os “privilégios” dados aos indesejáveis. A esta minoria juntou-se a demograficamente expressiva “nação” evangélica. Assim, depois de ter contado a si mesmo a estória da democracia racial, o Brasil contou a estória da democratização social. Tudo para não ter de contar a história do racismo, da exclusão social e da propensão autoritária.»

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9.1.19

Joan Baez, 78 anos



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Um país, dois sistemas





«Marcelo Rebelo de Sousa foi confrontado com o facto de ter estado presente na cerimónia de posse do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, no dia 1 de janeiro, em Brasília, e interrogado se não entende que é também importante para a comunidade portuguesa na Venezuela a sua presença na posse de Nicolás Maduro.
O Presidente da República remeteu a questão para o Governo e nada mais acrescentou sobre este tema.»
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09.01.1908, Simone de Beauvoir


Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir nasceu a 9 de Janeiro e faria hoje 111 anos.

Tudo já foi escrito sobre Simone, mas vale talvez a pena recordar o papel decisivo de uma das suas obras: Le Deuxième Sexe. Se esteve longe de ser um manifesto militante ou arauto de movimentos feministas que, em França, só viriam a surgir quase duas décadas mais tarde, a verdade é que os espíritos não estavam preparados para a problemática da libertação da mulher, tal como Simone de Beauvoir a abordou, nem para a crueza da sua linguagem.

As reacções não se fizeram esperar, tanto à esquerda (onde o problema da mulher estava fora de todas as listas de prioridades), como, naturalmente, à direita. François Mauriac escreveu: «Nous avons littérairement atteint les limites de l’abject», Albert Camus acusou Beauvoir de «déshonorer le mâle français».

Esta obra foi certamente uma das maiores «pedradas» que levei como leitora no início da idade adulta. Estudante recém-chegada a Lovaina, com uma mala quase de cartão, ida desta west coast salazaríssima e com dezanove anos – tentem imaginar o cenário. Apanhei então, em cheio, a grande repercussão do livro na Europa francófona.

Para a sua compreensão e consagração terá sido decisivo o sucesso nos Estados Unidos, onde foi publicada em 1953. O movimento feminista, em que Betty Friedman e Kate Millet eram já referências, estava aí suficientemente avançado para a receber. Efeito boomerang: Le Deuxième Sexe «regressou» à Europa no fim da década de 50, com um outro estatuto, quase bíblico, e teve a partir de então uma longa época de glória.

Paralelamente, iam sendo publicadas outras obras da autora, como a trilogia das Memórias – o que mais apreciei de tudo o que dela li e que não foi pouco (Mémoires d’une jeune fille rangée (1958), La force de l’âge (1960), La force des choses (1963)).

Simone de Beauvoir nunca provocou grandes empatias e foi sempre objecto de discussões sem fim sobre a sua importância relativa quando comparada com a de Sartre. Mas, goste-se ou não, estava no centro do Olimpo que Paris era então – quando, no Café de Flore, toda a gente vivia envolta em fumo e Juliette Greco cantava «Il n’y a plus d’après».


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Marcelo também na RTP – Um filme de terror, ao que isto chegou!



«Marcelo Rebelo de Sousa gravou uma mensagem ao cantor Roberto Leal, que será transmitida às 17 horas desta quarta-feira no programa da tarde do canal público, confirmou ao PÚBLICO um assessor do Chefe de Estado. (…) 

O cantor Roberto Leal tem revelado em várias entrevistas que se encontra doente e na tarde desta quarta-feira estará no programa da RTP1, o que levou a estação a fazer o pedido ao Presidente para se dirigir ao cantor.»
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A moda é provocar vizinhos



«Luigi Di Maio é o líder do Movimento 5 Estrelas e acaba de oferecer apoio digital aos manifestantes franceses do movimento "coletes amarelos". Isto é, um político italiano proclamou dar ajuda àqueles que fazem movimentos sediciosos no país vizinho - manifestações não autorizadas e violentas - para eles melhor se organizarem.

"Não se rendam, o M5S apoia-vos!", disse Di Maio. Não se rendendo, os "coletes amarelos" podem continuar a ocupar as rotundas francesas, a partir vitrinas das lojas francesas e a queimar automóveis franceses.

A proposta de ajuda, claro, estava integrada no inalienável direito de quem quer que seja dar a quem quer que seja o que quer que seja e gritar aos microfones esse apoio. Não sei em que artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos está consignado tal direito, cito de memória, mas certamente alguém na caixa de comentários desta crónica há de lembrar: "Eu cá dou o que me apetece e a quem me apetece." Pois. Acontece, porém, que Luigi Di Maio é vice-primeiro-ministro de Itália.

Vice-primeiro-ministro de Itália, Itália que tem 488 kms de fronteira com França. França que enviou Stendhal escrever Viagens em Itália. Itália que exportou Yves Montand para ele cantar para o mundo em francês. Francês em que se tornou Pietro Brazzà para explorar África em nome de França, apesar de ter nascido em Castel Galdolfo, na província de Roma.

Roma do rei de Roma, Napoléon François Joseph Charles Bonaparte, filho de Napoleão. Napoleão que não roubou La Gioconda - nem na primeira nem na segunda campanha que o imperador fizera em Itália (séc. XVIII), num intercâmbio que já levara as legiões romanas de Júlio César à Bretanha (séc. I a.C.) - porque a pintura já estava em Paris, 300 anos antes, levada pelo autor, o italiano Leonardo da Vinci... Enfim, Itália e França, dois países mais do que amigos, um encontro antigo e profundo, naturalmente ligado na União Europeia...

"Não se rendam, apoio-vos!", disse o vice-primeiro-ministro italiano Luigi Di Maio aos insurretos que atacam o legítimo e eleito governo francês. Foi insulto mas não uma novidade nas relações entre dois países aliados e com negócios e pactos comuns. Na campanha eleitoral que o levou à Casa Branca, Donald Trump propôs um muro que ainda hoje insiste em fazer entre os EUA e o México. E permitiu-se um chiste: disse, então, que o muro seria pago pelos mexicanos "mas eles ainda não sabem..." Conhecem maior insulto que a prepotência apresentada em forma de gozo?

Em qualquer bairro, a falta de respeito entre vizinhos abre o apetite que leva muitas vezes à bofetada. Os países criaram a diplomacia para prevenir tais derivas. Vale de pouco quando palhaços de cinco estrelas chegam a vice-primeiro-ministro e carroceiros milionários chegam a presidente.»

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8.1.19

Muro? Problema resolvido


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Os meninos à volta da coleira


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Não é Papa, é Pepa!



Francisco intercedeu pela vitória do Tondela? Parece que não: alguém confundiu Papa com Pepa, o treinador do clube em questão. Queridos jornais!
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20 anos de euro: um balanço desolador



«Faz agora duas décadas que o euro substituiu o escudo e várias outras moedas nacionais. Apesar da data redonda, não houve grandes festejos. Não é de estranhar. Por muito amor que se tenha à ideia de integração europeia, é difícil não concluir que a moeda única ficou muito aquém das promessas e expectativas que gerou.

A evolução dos indicadores macroeconómicos para Portugal é clara. Desde que existem dados disponíveis, não houve nenhuma sequência de 20 anos em que o crescimento médio do PIB nacional fosse tão baixo, a taxa média de desemprego tão elevada e os défices externos tão expressivos. Tendo em conta o poder aquisitivo, o rendimento médio dos portugueses está hoje mais distante da média da zona euro do que estava há 20 anos. Esta não é certamente uma história de sucesso.

Ao ler estas linhas não faltará quem se apresse a atribuir o mau desempenho da economia portuguesa neste período aos erros dos sucessivos governos nacionais. É uma conclusão apressada. O balanço desolador da moeda única não é uma especificidade portuguesa. Não é sequer uma característica peculiar dos países do Sul da Europa.

Nestes 20 anos o PIB da zona euro como um todo cresceu 20 pontos percentuais abaixo do PIB dos EUA e criou menos 1,5 milhões de empregos. O falhanço da moeda única não é apenas económico. Longe de representar um factor de coesão entre os Estados e os povos europeus, o funcionamento da zona euro tornou-se um dos principais focos de tensão e instabilidade do processo de integração europeia. A cada nova eleição nacional cresce o peso dos partidos nacionalistas e eurocépticos. Seguramente, a Europa não é hoje um continente mais unido do que era há 20 anos.

Uma visão generosa tenderá a atribuir o mau desempenho da zona euro a factores externos (como a crise financeira originada nos EUA) e a considerar que as dificuldades políticas presentes são apenas as dores de parto de um projecto com futuro assegurado. É efectivamente uma visão generosa.

Os problemas da moeda única europeia são em larga medida o resultado da sua arquitectura institucional. Era sabido à partida que submeter economias com estruturas produtivas muito diferentes à mesma política monetária era uma aposta arriscada. A taxa de juro e a taxa de câmbio mais adequadas a cada economia nacional dependem muito das características de cada país e da fase do ciclo económico em que se encontram. Restava a esperança de que a unificação das moedas contribuísse para que as estruturas económicas ficassem mais semelhantes e os ciclos económicos mais alinhados. Não foi isso que aconteceu, pelo contrário.

A criação do euro e a integração plena dos mercados financeiros traduziram-se na queda abrupta e duradoura das taxas de juro reais nos países do sul, e em fluxos de capital nunca vistos em direcção às periferias. Como acontece em qualquer parte do mundo, a abundância súbita de liquidez estimulou o crescimento explosivo da construção e do imobiliário, criando novas e boas oportunidades de investimento para os bancos dos países do centro da UE. Num primeiro momento isto trouxe mais emprego e investimento. Mas conduziu também ao inevitável aumento de preços e custos nas economias periféricas, e ao crescente endividamento de empresas e famílias. A unificação monetária criou assim condições para a emergência de uma Europa dividida entre países credores e países devedores.

Como se não bastasse, a partir de 2002 registou-se uma forte subida do câmbio do euro face a outras moedas internacionais, que produziu efeitos claramente assimétricos: em países especializados em produtos de exportação de baixo valor acrescentado, como Portugal, tornou mais difícil competir internacionalmente; em países exportadores de capital, como a Alemanha ou a Holanda, traduziu-se numa maior capacidade de investimento internacional.

Nos países periféricos, o crescimento do mercado interno e as dificuldades acrescidas de competir internacionalmente levaram, naturalmente, à canalização dos investimentos para actividades menos expostas à concorrência externa. Assim, ao mesmo tempo que as importações aumentavam, as exportações estagnaram em percentagem do PIB. Os défices externos sucessivos implicaram o recurso ainda maior ao financiamento estrangeiro. Tal como vários outros países com estruturas produtivas semelhantes, Portugal viu a sua dívida externa aumentar continuamente até à grande crise de 2008-2009. Nesse contexto, mais do que o nível das dívidas públicas (que variavam muito de país para país), foi a acumulação de dívida externa que levou os investidores internacionais a duvidar da capacidade dos países periféricos da zona euro para pagarem o que deviam.

A crise da zona euro é assim, em larga medida, o resultado da arquitectura institucional da moeda única, que não só não diminuiu como aumentou a divergência nas estruturas económicas dos países membros. Quando a crise chegou, tornou-se claro que a zona euro não estava preparada para lidar com os problemas que ajudou a criar. A resposta à crise, como sabemos, consistiu numa austeridade profunda, duradoura e contraproducente, a qual acentuou ainda mais as divergências.

Se hoje se vivem tempos mais tranquilos nas economias europeias, os problemas não estão resolvidos. A zona euro continua dividida entre países credores e países devedores (hoje ainda mais do que no passado), entre economias especializadas em sectores intensivos em capital e conhecimento e economias que se baseiam em actividades de reduzido valor acrescentado. Tal como há 20 anos, a política monetária do BCE não dá nem pode dar respostas adequadas a situações tão diversas. Tal como há 20 anos, a única forma que os países têm de lidar com os seus desequilíbrios externos é desvalorizar os salários e reduzir os serviços públicos, prolongando a crise social e regredindo nos direitos sociais. Tal como há 20 anos, quaisquer mudanças substanciais na arquitectura da zona euro estão dependentes de decisões unânimes entre os Estados membros, o que é tanto mais improvável quanto mais divergentes são as suas economias e interesses dominantes.

Não é por falta de ideias que estes problemas não se resolvem: é por falta de consenso sobre as possíveis saídas da actual situação e pela impossibilidade institucional de conciliar interesses divergentes por via democrática no quadro da UE. Vinte anos depois, a crise existencial da zona euro veio para ficar. Não temos como escapar disto: o balanço é mesmo desolador.»

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7.1.19

Volta, Américo Tomás



«Interrompi aqui uma reunião que tinha. Acabei uma e ia começar outra e espreitei para ver o seu primeiro programa. Como, ao longo da vida, várias vezes estive consigo quando arrancou com novas fases da sua vida (…), queria desejar-lhe felicidades.»

Mas por que raio é que gozávamos tanto Américo Tomás?
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Marcelo: só tem surpresas quem quer



Eu ando com um tal pó aos actos de Marcelo, mais recentemente por causa dos afectos com o irmão Bolsonaro e a amiga Cristina, que não me sai da cabeça o seu passado que só engana quem não o conhece ou quem quer ser enganado.

Quando ainda havia esperança de que ele não fosse eleito PR, escrevi um texto relacionado com uma saga em que estive envolvida. Marcelo vigiado pela PIDE desde os 16 anos? Quem tiver paciência que leia isto.

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Professor, ligue-me



«Professor ligue -me . Pode ser às 12 às 14 ou às 15 para a RTP3. Também mereço.»

Alberta Marques Fernandes no Facebook.
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Marcelo e Cristina Ferreira – em directo e sem filtros





A realidade ultrapassa as nossas capacidades de imaginação. Ao que isto chegou!
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O irmão de Bolsonaro



Assino por baixo tudo o que está escrito neste texto. E se Luis Leiria «pecou» foi por omissão, ao não falar da falta de indignação, individual e colectiva, que este episódio devia ter provocado e não provocou (com poucas e honrosas excepções).

«A ida do presidente Marcelo Rebelo de Sousa à posse de Jair Bolsonaro na Presidência do Brasil, no passado dia 1, envergonha-me e deve envergonhar todos os democratas portugueses.

Não se pode encarar a chegada ao poder do candidato da extrema-direita como se fosse uma outra qualquer. Estamos a falar de um candidato que terminou a campanha com uma ameaça aos seus adversários, afirmando que estes só tinham dois caminhos – a prisão ou o exílio; de um candidato que é racista, xenófobo, que despreza e rebaixa as mulheres, que declara os índios como inimigos do desenvolvimento da nação, que defende a tortura e especificamente torturadores como Brilhante Ustra, o homem que levava filhos menores a ver a mãe despida e barbaramente torturada. Somente isto, a apologia da tortura, já seria suficiente para tornar um simples aperto de mão um ato repugnante.

Marcelo Rebelo de Sousa não desconhece nada disto. Mesmo assim, foi à cerimónia de posse. Poderia não ter ido; Portugal poderia ter estado representado por outra delegação que não incluísse chefe de Estado e em nada isso prejudicaria as atuais relações comerciais entre os dois países nem a comunidade portuguesa no Brasil.

À cerimónia de posse de Jair Messias Bolsonaro compareceram 46 delegações estrangeiras, das quais apenas dez eram lideradas por chefes de Estado. Entre estes dez, a grande estrela foi Benjamin Netanyahu, de Israel. Da Europa, além de Marcelo, só estava Viktor Orbán, da Hungria, que partilha com Bolsonaro a orientação de extrema-direita.

As 46 delegações marcaram uma das mais reduzidas presenças estrangeiras de sempre. Para se ter uma ideia, a posse de Dilma Rousseff, em 2011, contou com a presença de 130 delegações estrangeiras, das quais 32 eram lideradas por chefes de Estado.

Não contente com ter ido abrilhantar a chegada ao poder do primeiro presidente desde o fim da ditadura militar que professa uma política neofascista, Marcelo Rebelo de Sousa ainda exultou com o destaque dado à diplomacia portuguesa, salientando que Portugal ficou em 3º lugar no alinhamento dos cumprimentos. E sublinhou o "tom fraternal" do encontro com Bolsonaro: "Como eu disse, e como disse o presidente Bolsonaro, era uma reunião entre irmãos, e entre irmãos o que há a dizer se diz rápido, como se diz em família, e há uma empatia natural entre povos que facilita fazer passar a mensagem".

Para fechar, a cereja no topo do bolo foi o convite para que o presidente brasileiro faça uma visita oficial a Portugal em 2019.

Como não considerar este comportamento uma rasteira aos democratas brasileiros, aos opositores de Bolsonaro que, como Guilherme Boulos, ex-candidato pelo PSOL, foram nominalmente ameaçados pelo novo presidente? Que deceção a dos brasileiros que não apoiaram Bolsonaro e que, diante do discurso de ódio e de guerra partilhado por todo o novo governo de Brasília esperavam tudo menos este comportamento entusiasta do mais alto representante de Portugal, um país visto como uma exceção à onda de extrema-direita que varre a Europa!

Repito: a subida ao poder da extrema-direita num país continental como o Brasil não é nem pode ser visto como um acontecimento corriqueiro. As ilusões de que o liberalismo selvagem do novo governo vai provocar o crescimento económico em breve se desfarão e o fluxo de brasileiros à procura de uma vida melhor na Europa, incluindo Portugal, vai prosseguir. Com uma diferença, a forte possibilidade de esse fluxo ser engrossado pelos perseguidos políticos. Será descabido lembrar que ainda não se sabe quem matou Marielle Franco, que os seus assassinos e os mandantes do crime continuam à solta?»

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6.1.19

Dia de Reis?


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França: as razões da ira


«Pois, não era expectável, à luz dos mais elementares ensinamentos da História e das Ciências Sociais para já não dizer do mais elementar bom senso, que quase quatro décadas de neoliberalismo desenfreado a culminar com ano e meio de guerra social aberta contra a população, conduzissem inelutavelmente à revolta e mesmo à insurreição populares? 



Cristina Semblano
Economista; assistente de Economia na Universidade de Paris III-Sorbonne Nouvelle; autarca na região de Paris
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Quem é Mário Machado?


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Novos muros velhos



«Há alguns meses circulou a imagem de um menino migrante preso numa jaula nos Estados Unidos. Uma imagem construída para representar uma realidade mais atroz. Muitas pessoas, entre as quais me incluo, partilharam esta imagem nas redes sociais. A maioria dos comentários a esta imagem não se prenderam no problema que ela continha, mas antes sobre o facto de a imagem não ser real. Pois, não era real, a realidade era bem pior do que a sua encenação. Nos últimos meses, crianças oriundas da América Central morreram nas mãos das autoridades norte-americanas. Ao horror da detenção de crianças e de famílias em jaulas juntou-se o impasse das vidas da mais recente caravana migrante oriunda, sobretudo, das Honduras.

Desde a eleição de Trump que muito se tem falado sobre a promessa de um muro entre os Estados Unidos e o México para supostamente controlar os fluxos migratórios. No final desta semana, a Câmara dos Representantes voltou a chumbar a construção do muro de Trump, justificado tanto pela sua ineficácia como pelos custos exacerbados. Mais uma vez assistiremos ao Senado, dominado pelos Republicanos, a não aprovar a proposta da Câmara. O próprio Trump já ameaçou na sua conta do Twitter: "O muro está a caminho."

A atenção que é dada ao muro de Trump contrasta com a omissão pública dos muros que se vão construindo um pouco por toda a Europa. À beira dos 30 anos da queda do Muro Berlim percebemos que este não foi o último a cair na Europa. Já a promessa que a sua queda acarretava, a de um mundo multipolar mais democrático, essa continuou a cair com o muro.

A suposta ameaça migratória tudo justifica e, embora não se fale do assunto, cerca de metade do muro de Trump já está edificado em território europeu. São 1200 quilómetros de cimento, de concreto, de arame farpado, do que seja necessário para erigir barreiras físicas. São já 1200 quilómetros de vergonha. Na Hungria, na Grécia, em França, em território espanhol, na Eslovénia, na Macedónia e na Bulgária erguem-se os muros à mesma velocidade que se fecham os olhos às atrocidades que lhes estão associadas.

São os nove quilómetros de Ceuta e os 12 quilómetros de Melilla. Apesar de em território africano, são espanhóis. É o muro de Nea Vyssa, na Grécia, ou os quatro metros de altura do muro de Calais, em França. São os 30 quilómetros erigidos pela Bulgária na fronteira com a Turquia ou os escandalosos 175 quilómetros de Viktor Órban que separam a Hungria da Sérvia. Desde 1993 que não pararam as construções de muros em território europeu. A cada rota migratória - a do Mediterrâneo Ocidental, a do Mediterrâneo Central, a do Mediterrâneo Oriental e a dos Balcãs - os seus muros. Na Europa parece ter-se esquecido que os muros, tal como qualquer barreira, não impedem apenas as entradas. Estes são também os muros que nos têm reféns a todos de uma política que ou se trava ou só pode acabar mal.»

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