9.7.16

Golden Sachs, ainda


Agora com legendas em português.


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Dica (330)




«Now, much that seemed impossible only a short time ago suddenly feels plausible. Britain leaving the EU? That's what the majority of British want. Donald Trump as president of the United States? It's unlikely, but what do we know? Marine Le Pen the next French president? Never! But what if she does win? And what happens if, one day, the Dutch or the Austrians hold referendums on future EU membership?

Voters have become unpredictable. Many are turning away from the traditional political power centers and toward the new populist movements. The outrage of these voters is often neither oriented clearly toward the left nor to the right, and yet it poses an internal threat to Western democracy.» 
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Durão Barroso - Always look on the bright side of life



Este não será candidato a Belém, pelo menos enquanto eu for viva. 
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A questão portuguesa na União Europeia



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«Tudo é mau esta semana, para não variar, embora a pátria esteja entregue às delícias do futebol para se distrair. Mas há uma coisa nova, que tanto pode dar para o torto, como criar um pequeno espaço de oportunidade para aliviar as grilhetas do Tratado Orçamental. (…) Existe hoje na Europa uma “questão portuguesa”, como no passado houve uma questão grega e há no presente uma questão britânica, inglesa, escocesa e norte-irlandesa, logo, a prazo, uma questão espanhola. (…)

Se não houvesse a “questão portuguesa” a margem de manobra do governo Costa seria já nula, embora permaneça muito escassa, e, como ela existe, acentua a esperança do governo de passar pelos pingos da chuva por parte do governo e a esperança contraditória de que os amigos do PSD no PPE e nos mais agressivos “ajustadores” do Eurogrupo, a começar por Schäuble, se voltem contra Portugal com o mesmo vigor punitivo que tiveram com a Grécia. A essência da “questão portuguesa” é que já não o podem fazer com o à-vontade com que o faziam antes, visto que há hoje na Europa uma clara divisão entre países no entendimento da aplicação do Tratado Orçamental, em particular nas suas consequências sancionatórias.

Não oferece dúvida para ninguém que para Schäuble, Djisselbloem, Dombrovski, a actual solução governativa e a política a que chamam de “reversões” são inaceitáveis e a abater. (…). Se pensam que é 0,1 ou 0,2% do défice que os irritam, desenganem-se. Já fecharam os olhos muitas vezes a violações bem mais graves ao Tratado. O que eles não querem é que o alvo da austeridade mude. (…)

Convém não minimizar o poder destes homens, com origem na Alemanha, que hoje manda na União e que entende que todas as “reformas” necessárias, como se vê nos textos de Schäuble, vão no sentido de tirar os poderes já residuais dos parlamentos nacionais, e ultrapassar a Comissão, que acham demasiado sensível às pressões políticas, para as entregar a um grupo de tecnocratas, certamente escolhido pela Alemanha. Como propõe Schäuble, que sabe muito bem o que quer, essa nova instituição teria poderes para reprovar orçamentos dos estados nacionais e propostas deste tipo são vistas como a resposta “integratória” pós-“Brexit”. Por isso, estes homens olham com preocupação para a situação portuguesa, embora não tenho dúvidas que estão confiantes de que, no momento necessário, a podem esmagar sem contemplações. E podem.

O outro lado da “questão portuguesa”, o lado que deu alguma folga a Portugal, embora não se saiba se é para durar, foi visível no modo como a questão das sanções por incumprimento foram apresentadas. Percebe-se muito bem pelas palavras de Moscovici que tipo de discussões existiram e como essas discussões, de clara natureza política, impediram algumas manobras em curso. Pelo menos para já. A mais importante era apresentar as sanções sobre o incumprimento de 2014-5 como sendo uma avaliação da política do governo Costa em 2016. (…)

Moscovici fez questão de repetir várias vezes, e esta repetição não é inocente, de que estava a falar de 2015 e não de 2016. Ou seja, Moscovici estava a par, como os seus colegas na Comissão, do significado político interno das sanções, das polémicas que o PSD suscitou na semana anterior para se desresponsabilizar, e fez questão de se demarcar de Passos, Cristas e Maria Luís. Não sei se o fez por iniciativa pessoal, mas a insistência em 2015 significa que a questão foi debatida na Comissão e que esta está dividida. Ora, como Renzi, Hollande, Tusk e Schultz fizeram declarações explícitas e públicas contra a aplicação de sanções a Portugal, estamos perante algo que não tem precedente nos últimos quatro anos de coligação PSD-CDS. Isso significa que na União começa a haver a divergência que interessa a Portugal, a contestação ainda embrionária, mas densa de significado político, da aplicação rigorosa do Tratado Orçamental e esse é um dos lados da “questão portuguesa”. Pode ficar pelo caminho, face ao poder alemão e dos seus aliados, mas que existe, existe.» 
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8.7.16

Previsões bem prováveis


«”Bombistas suicidas do aeroporto de Istambul eram da ex-União Soviética" - Há o risco de os próximos serem da ex-União Europeia.» 

João Quadros no Negócios de hoje. 
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Durão Barroso: ditosa Pátria que tal filho tem!



Nicolau Santos no Expresso diário de 08.07.2016:

 

E por falar em Goldman Sachs



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Papá, já cheguei à Goldman Sachs!



Bem melhor do que ser presidente da CE é tê-lo sido.

Durão Barroso vai ser presidente da Goldman Sachs.

Sanções valentes e imortais



«Pode ser fanfarronice, derivado de estarmos na final do Euro 2016, mas já entrei numa fase em que bem me podem ameaçar com sanções da CE que não levo a sério.

Não adianta o Schäuble fazer ameaças porque o que os portugueses temem é a final do Euro e os pontos na carta de condução. (…)

A CE, como pai, é miserável. Esta ideia de ir adiando castigos é de quem não leu tratados nem o livro do Doutor Benjamin Spock. Ninguém consegue levar a sério esta gente. Decidam-se! As sanções da CE são piores do que o tratamento de canais, já é a terceira vez que lá vamos. Sejam valentes ou parem com ameaças. Tanta pressa para o Reino Unido invocar o artigo 50 e não são capazes de tomar uma decisão com os pobres ibéricos. (…)

A CE gosta de fazer os outros de parvos, daí Durão ter sido presidente da dita. Já todos percebemos que o castigo não são as sanções, mas sim tentar obter o que se quer, com os adiamentos de possíveis sanções. Antigamente, chamava-se chantagem. Maria Luís, desta vez, falou verdade quando disse que não haveria sanções se ela ainda fosse ministra das Finanças. Não é a esquerda que é anti-UE. É a UE que é anti-esquerda. A Catarina Martins vai ter de se vestir como a Maria Luís e o Costa vai ter de aprender a fazer papos de anjo.

Não sei se a CE vai insistir muito mais tempo nesta táctica sádica de "castigar o passado, mas com um olho num futuro de redenção", sabendo que o Brexit está longe de ter dado que falar e o Deutsche Bank ainda não começou a ser falado. O que é certo é que se a CE resolver deixar a "geringonça" de Costa em paz até ao fim de 2016, quem vai ter de arranjar um plano B é Passos Coelho.»

João Quadros

7.7.16

Dica (329)




«E até seria possível imaginar outra Europa, claro: uma Europa de nações e de povos, livres e soberanos, que cooperam, em modo de geometria variável, porque existem interdependências a gerir. Essa cooperação seria útil na medida em que aumentasse a margem de manobra das democracias nacionais. Na ausência desta ideia, ficamos perante uma forma de inadvertido nacionalismo, baseado na defesa implícita da criação dos atributos de um Estado, mas numa escala europeia muito superior, em modo EUA idealizado, o que só pode produzir monstros imperiais neste continente irremediavelmente plural.»
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Futebol, venham eles




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Islândia



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Domingo à vista


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Europa - Voando sobre um ninho de cucos



Na conferência de imprensa da CE, esteve há pouco a ser dito e repetido que as possíveis sanções a Portugal e Espanha serão devidas apenas aos deficits de 2014 e 2015. Portanto, na segunda metade de 2016, pretende-se hipoteticamente impedir, com as ditas sanções, que se cumpram os objectivos deste ano.

Estão a gozar connosco ou movemo-nos todos num mundo do «faz de conta»?

Também podia ser Messi-anismo


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A teoria dos cogumelos



«Em 1893, o conde de Samodães, na introdução ao catálogo da Exposição Industrial Portuguesa, escrevia umas palavras singelas e tristes: "As finanças do Estado estão arruinadas, a taxa do imposto tem atingido o máximo de tolerância, o país definha, a emigração cresce, o dinheiro metálico desapareceu, as grandes casas bancárias ou faliram ou se aproximam da insolvência, as questões políticas azedam-se, as crises ministeriais multiplicam-se." Ou seja, nada de fundamental mudou em Portugal. Mudam-se os tempos, mantêm-se as vontades. A diferença é que, com a entrada na Zona Euro, o país entregou os seus últimos poderes a um grupo de burocratas e líderes políticos sediados em Bruxelas e Berlim cujos interesses não se confundem com os dos portugueses. Há quem fique muito contente com isso e ache que esse é o corolário do célebre projecto de "destruição criativa" iniciado em 2011 e cujos resultados foram a anemia da nossa economia, a destruição do que sobejava da poupança nacional e o colapso do que restava de símbolos empresariais nacionais. Destruiu-se a pensar que o país renasceria por livre vontade da natureza.

Como os cogumelos. Marcelo Rebelo de Sousa, nesse aspecto, percebeu a analogia: todos os cogumelos são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros. E, neste sufoco interno e externo, Marcelo é que aconchega António Costa e não o inverso, como se viu em alguns tempos de Cavaco e Passos Coelho. Dentro da teoria dos cogumelos há os que são envenenados e os que podem ser refogados. Na Europa aristocrática de Bruxelas o veneno escorre através dos "champignons". Por aqui, refoga-se a CGD, numa comissão de inquérito, que pelo exemplo das primeiras horas de concílio vai ser um prato indigesto para os cidadãos: cogumelos recheados com queijo bolorento. A grande dúvida dos portugueses é se neste "Masterchef" de demasiados "chefs" e poucos cozinheiros a sério, eles não passarão por aqueles cogumelos mais pequeninos que são cortados aos quadradinhos.»

Fernando Sobral

6.7.16

Dica (328)



Os sancionalistas. (Mariana Mortágua) 

«Os sancionalistas falam sempre em nome do interesse nacional. Só não percebem, ou fingem não perceber, que interesse nacional é um país poder escolher o seu Governo e as suas políticas, sem ter que ser sujeito a pressões, ameaças e humilhações. Aceitar a chantagem, participar nela, não é patriotismo, é colaboracionismo. Assim são os nossos sancionalistas. Mas sempre, é claro, de pin com a bandeira portuguesa na lapela.» 
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Portugal 2 – Schäuble 0



E não haverá sanções. 
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Marcelo de Falcon no jogo de Lyon

Momentos «western spaghetti»



«Algures no céu, Bud Spencer pode olhar para baixo e chegar à conclusão que entre os "western spaghetti" de Trinitá e a política moderna há mais semelhanças do que contrastes.

Trinitá, pistoleiro conhecido como "a mão direita do Diabo", viajava pelo deserto numa padiola arrastada pelo cavalo. Bambino, "a mão esquerda do Diabo", usava-a para sovar os que roubavam o pão aos pobres ou abusavam da virtude das senhoras e das crianças. Eram justos e a justiça era feita pelas próprias mãos. E todos nos divertíamos com isso. Hoje a política assemelha-se a um filme de humor sem piada. A sensatez dissolveu-se, a justiça eclipsou-se, a ética evaporou-se.

A novela sobre as "sanções" aos párias destes dias na União Europeia (Portugal e Espanha) é tão interminável (e intragável) como algumas que passam nas televisões nacionais. A CE passa a bola para o Ecofin e este irá decidir algo que depois a CE, a seu tempo, transformará em penalidade. Só que se Portugal, no tempo de Passos Coelho, era um aluno modelo que tudo aceitava como uma bênção, agora António Costa é mais duro de roer. Tem alguns amigos na Europa que não o desejam ver cair.

Não é por acaso que o presidente dos socialistas no Parlamento Europeu, Gianni Pittella, escreveu a Juncker pedindo "compreensão" com Portugal (esquecendo-se na carta de mencionar Espanha do conservador Rajoy). Exemplo de outras linhas de clivagem na UE que vão fervendo em lume brando. Se a acção da UE face aos países ibéricos mostra a clivagem que, com a saída do Reino Unido, crescerá entre Norte e Sul, em Portugal os momentos "western spaghetti" não param. Na CGD, 2.500 trabalhadores são destilados enquanto a administração da Caixa engorda e a chamada comissão de inquérito vai fornecer um momento "Casa dos Segredos" ao país. Nada dali sairá: PS, PSD e CDS são irmãos de sangue na forma como tornaram a CGD num condomínio privado de interesses partidários. Todos têm telhados de cristal. Tal como a UE. Nenhum resistiria a uma chapada de Bud Spencer.»

Fernando Sobral

À espera de sanções - a UE não atina com calendários

Refugiados – A vergonhosa posição da Hungria



Sabe-se agora que a Hungria vai referendar o direito de a UE decretar a instalação obrigatória de cidadãos não húngaros na Hungria. Trata-se de um país de 10 milhões de habitantes, ao qual caberia o astronómico acolhimento de 1294 pessoas!

É o momento de recordar que, exactamente há 60 anos, 200.000 húngaros, sobretudo jovens, fugiram  e receberam o estatuto de refugiados em muitos países europeus e americanos. Sem Uniões Europeias, sem quotas, por simples solidariedade. Conheci uns tantos desses refugiados, que encontrei em Lovaina quando mais tarde lá cheguei como estudante, fiquei amiga de alguns e gostava bem de saber o que pensam hoje disto tudo.

A Revolução Húngara de 1956, contra as políticas impostas pelo governo do país e pela União Soviética, teve início em 23 de Outubro e durou até 10 de Novembro do referido ano. Tudo começou numa terça-feira, no centro de Budapeste, com uma manifestação de milhares de estudantes que tentaram ocupar a rádio e foram reprimidos. A revolta alastrou depois ao resto do país, provocou a queda do governo e a sua substituição. Em 4 de Novembro deu-se a invasão pelas tropas do Pacto de Varsóvia e a resistência acabou daí a seis dias.

É verdade que esses 200.000 húngaros fugiam do «comunismo» e talvez o actual governo húngaro considere que o daesh é mais benigno e que as guerras de que fogem hoje milhões de seres humanos não passam de jogos de computador.

O mínimo que se poderia esperar de quem já lutou pela liberdade de procurar destinos, que considerou melhores, era que não impedisse outros de fazerem o mesmo. Infelizmente, a História nem sempre deixa lições. 
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5.7.16

Marcelo já conquistou a Anita


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Dica (327)




«Quanto ao referendo, cada demonstração política da Comissão vai-nos relembrar como ele é incontornável. Pois ficará a questão: mesmo que as autoridades europeias ainda tenham o discernimento de recuar nas sanções, amanhã e depois haverá mais. E como é que Portugal vai escolher o seu futuro, no meio do euro que nos amarra ao empobrecimento e de uma União que nos prende ao autoritarismo?

Um referendo, que nos dizem impossível, será inevitável. A minha conclusão é para a política que vem: a luta pela democracia para nos libertar das imposições vai ser um factor chave na reconstituição da política nacional com a crise da União Europeia.» 
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Afinal havia outra!



«Maria Luís Albuquerque mostrou, há dias, que acredita que tem a inusitada capacidade de transformar rosas em pão. Ou seja, que se fosse ministra das Finanças, distribuiria milagres em vez de impostos e os portugueses estariam agora a fazer um piquenicão.

Esquece, convenientemente, que foi por causa da sua gestão de 2015 que a União Europeia aperta agora Portugal. Ou que a implosão do Banif não surgiu como um meteorito inexplicável. Claro que as declarações de Maria Luís são típicas do Portugal dos Pequenitos que costuma funcionar como fundamento ideológico dos partidos políticos. A culpa é sempre do outro, versão pimba do célebre êxito de Mónica Sintra, "Afinal havia outra". O certo é que Portugal está agora em campo aberto, funcionando como alvo de uma série de atiradores furtivos, que têm assim uma magnífica desculpa para evitar falar dos problemas dos bancos alemães, do défice francês, dos acordos vergonhosos sobre os refugiados ou do Brexit.

Nesse aspecto, os políticos e os burocratas europeus não são diferentes dos seus parceiros portugueses. António Costa é uma das bolas de um jogo de bilhar que ultrapassa o problema português (ou espanhol). Mas agora também de tomar decisões claras: ou se verga às exigências comunitárias ou terá de gritar alto contra elas. E aí será um alvo a abater. Mas esse é também o dilema daquilo a que chamamos o socialismo europeu: ou é alternativa a esta Europa medíocre, ou torna-se um apêndice do PPE.

É claro que se a UE cortar os fundos estruturais corta o que resta de margem de manobra para o investimento (que é inexistente sem eles). É o mesmo que dizer a Portugal: vamos corta-lhes o oxigénio, do qual nunca recuperarão. Nada que admire. Afinal Wolfgang Schäuble parece estar a preparar a Europa a duas velocidades, fora da ineficaz CE: os aliados fiéis manterão o ritmo definido por Berlim. Os outros serão como os anéis de Saturno: servem para enfeitar. Está visível o que se prepara para a UE pós-Brexit. Portugal é só uma desculpa esfarrapada.»

Fernando Sobral

É isto


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A UE já não sabe o que é a dignidade



«A discussão sobre o “Brexit” prossegue, sem dar sinais de esmorecer. Antes pelo contrário. A tempestade que ninguém esperava ainda está longe de revelar o seu comportamento futuro e as ondas de choque mal começaram a fazer-se sentir. (…)

Até pode ser verdade que os eleitores votam com a carteira, mas há valores para além da carteira que continuam a ser relevantes e que, em certas circunstâncias, se tornam determinantes. Estou a falar de algo cujo significado muitos em Bruxelas não conhecem. Estou a falar de dignidade. Uma palavra cuja evocação faz Durão Barroso sorrir durante as viagens aéreas com que cruza o Globo para servir os seus 22 empregos. Uma palavra que faz Jean-Claude Juncker sorrir durante os interlúdios etílicos em que sonha com os 22 empregos que as indulgências fiscais que pôs em prática no Luxemburgo lhe trarão como reconhecimento da sua actividade política.

E no entanto, uma certa ideia de dignidade foi sempre uma das mais importantes forças motrizes da história, para o melhor e o pior. Milhões de homens e mulheres escolheram morrer de pé em vez de viver de joelhos em nome dessa coisa vaga chamada dignidade, que somos incapazes de definir quando a temos mas que sabemos imediatamente que perdemos no momento exacto em que no-la roubam. Essa dignidade depende da liberdade mas exige também algo ainda mais simples: o respeito que as pessoas de bem dedicam umas às outras. Para mim, o momento onde a UE mostrou o grau da indignidade a que estava disposta a chegar aconteceu na longa noite onde Tsipras foi submetido à sua sessão de waterboarding, uma sessão de humilhação levada a cabo pelo Conselho Europeu. Para mim, esse foi o dia em que a UE morreu. O dia em que o copo de cristal se partiu, sem esperança de reparação. (…)

É porque a UE já não sabe o que é a dignidade que deixou de conseguir conquistar algo para além da carteira dos europeus.

Os símbolos dessa indignidade multiplicam-se. É Juncker dizendo aos eurodeputados britânicos com um descaramento inaudito que já não deviam estar no Parlamento Europeu (ele, que, ao contrário deles, nem sequer foi eleito para o seu cargo). É o mesmo Juncker ameaçando o RU com um divórcio litigioso (com que autoridade? com que mandato?) para aterrorizar os outros países que se atrevam a referendar a permanência na UE e os cidadãos que queiram votar contra. É Valdis Dombrovskis ameaçando cortar os fundos estruturais para Espanha e Portugal. É Schäuble ameaçando Portugal com um segundo resgate por termos a veleidade de ter um governo de esquerda, apesar de continuarmos a acatar todas as imposições de Bruxelas. São todas as pressões em defesa de sanções a Portugal, sem outro sentido que não seja quebrar a espinha a um país que, depois de andar de joelhos, teve um arroubo de dignidade e decidiu levantar a cabeça. Esta é a indignidade de que muitos europeus (cada vez mais) preferem fugir. Ainda que paguem essa veleidade com a carteira. A dignidade não tem preço. Há quem não perceba.»

4.7.16

Vizinhanças úteis


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Dica (326)




«The problem of the European Union today is that, instead of helping those who suffer from globalization, it has set up policies that hurt these people even more. It is no surprise that the losers revolt. If the EU continues with austerity and structural reforms, revolt will spread and will take the form of attempts to exit the Union. It is time the European Union takes the side of the losers of globalization instead of pushing for policies that mainly benefit the winners.» 
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A modéstia da dra. Maria Luís



Nicolau Santos no Expresso diário de 04.07.2016 (excerto): 



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União Europeia, próximos capítulos?




Este artigo do Spiegel é muito elucidativo na explicação das duas tendências que se vão desenhando nos bastidores da União Europeia pós choque do Brexit: mais integração via Comissão versus mais acordos intergovernamentais. 
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Iraque? Mais morto, menos morto…




A importância dada pela comunicação social portuguesa aos três atentados terroristas da última semana é inversamente proporcional não sei exactamente a quê. A probabilidade de haver ou não portugueses entre as vítimas é certamente um dos factores, a banalização do número de mortos por país é outro – Iraque? Mais morto, menos morto… 
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Europa para além da UE



«Não é lúcida a confusão entre “União Europeia” e “Europa” como se fossem o mesmo. Não são. Dependendo da delimitação a Leste, o número de países da Europa ronda os 50 mas com a saída do Reino Unido da UE nesta apenas existirão 27. Existe uma Europa para além da União Europeia, mesmo que esta congregue muitos dos mais influentes, por enquanto. Sem o Reino Unido a população da UE será de 443 milhões de habitantes enquanto o total da Europa se aproximará dos 740 milhões. É surreal que se diga que alguém que abandona a UE está a virar as costas à Europa. O Reino Unido continua na Europa e seria deslocado que imaginássemos que a Noruega ou a Suíça vivem num desesperado universo atrasado porque não integram a UE ou que a Suécia vegeta no primitivismo económico porque declinou aderir ao Euro.»  

Pedro Jordão

3.7.16

Michel Rocard – a última entrevista

Dica (325)

Franz Kafka, 03.07.1883

Na situação verdadeiramente kafkiana em que o mundo se encontra, recordemos que Franz Kafka nasceu em Praga, em 3 de Julho de 1883.



Renúncia
Era muito cedo, pela manhã, as ruas estavam limpas e vazias, eu ia à estação. Ao comparar a hora no meu relógio com a do relógio de uma torre, vi que era muito mais tarde do que eu acreditara, tinha que apressar-me bastante; o susto que me produziu esta descoberta fez-me perder a tranquilidade, não me orientava ainda muito bem naquela cidade. Felizmente havia um polícia nas proximidades, fui ter com ele e perguntei-lhe, sem fôlego, qual era o caminho. Ele sorriu e disse:
– Queres conhecer o caminho através de mim?
– Sim – disse –, já que não posso encontrá-lo por mim mesmo.
– Renuncia, renuncia - disse e voltou-se com grande ímpeto, como as pessoas que querem ficar a sós com o seu riso.
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Panama Papers?



Desaparecidos no Triângulo das Bermudas? 
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«Sanções» – Dalila nada tem a ver com o assunto



Ele é nas redes sociais, em rodapés de TV, até em jornais: lá vem o «s» em vez do «ç». Mas que fique claro que nos ameaçam com «Sanções», não com «Sansões» – a Dalila nada tem a ver com o assunto. 
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