9.3.13

Eleitores: 1/3 com mais de 60 anos



A propósito da fortíssima presença de idosos na manifestação do 2 de Março, o Expresso lembra hoje que, segundo os últimos dados da Direcção-Geral da Administração Interna, são perto de três milhões os eleitores com mais de 60 anos – quase um terço do total de recenseados. 

A este dado, acrescente-se o facto de se absterem tradicionalmente menos do que os mais novos. Não sei se há estudos recentes sobre a distribuição da abstenção por faixa etária, mas recordo-me de ter visto um texto sobre as legislativas de 2002, que apontava para valores inferiores a 17% nos maiores de 60 anos, quando era cerca de 34% para os menores de 40.

E regresso à notícia do Expresso (sem link): «Facto é que a participação política dos mais velhos (...) está pouco estudada. Os sociólogos Pedro Magalhães e Jesus Sanz Moral, que em 2008 fizeram um relatório sobre “Os jovens e a política” para o Centro de Sondagens da Universidade Católica, permitem-nos, ainda assim, traçar um perfil: os mais velhos fazem pior avaliação do funcionamento da democracia, são mais pessimistas em relação ao futuro, têm maior tendência para dizer que não se interessam ‘nada’ pela política do que os mais novos. Só que os seus níveis de conhecimento factual sobre política são superiores aos destes e por isso têm maior propensão para votar e dão mais importância ao voto como forma de participação, em desfavor do protesto. Mas isso foi há cinco anos. Agora, como cantaria o septuagenário Bob Dylan, “times they are a’changin”.À atenção da classe política.»

Repito: «À atenção da classe política.» Os partidos que se cuidem. 
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Cavaco: o inquilino certo para fechar a porta?



«Se me perguntassem, há um ano, o que é que corria o risco de se quebrar em primeiro lugar, se a Zona Euro ou a nossa III República, a minha resposta inclinar-se-ia para a Zona Euro. Hoje, penso o contrário. Com as tensões que se acumulam no país, sem válvula de escape ou mecanismo de equilibração, o actual regime político pode estar em causa. Esperemos que seja possível um sobressalto cívico que salve a república. Mas, se prevalecer o pior, teremos no Palácio de Belém o inquilino certo para fechar a porta. O ator mais veterano e, simultaneamente, o defensor mais negligente deste crepuscular ciclo histórico.»

Viriato Soromenho-Marques
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Isto não pára!


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A caminho do «centrão»



Paulo Pedroso afirmou ontem, na TVI24, que teme que o PS seja tentado a constituir um governo minoritário, o qual, no seu entender, seria nada menos do que «suicidário».

Assim sendo, disse, «se à esquerda não há desbloqueamento, se eu acho que um governo minoritário é trágico para o país, e também para o Partido Socialista, evidentemente que a alternativa que sobra é uma alternativa com o PSD ou com o PSD e com o CDS, em função da conjuntura».

(Ouvir aqui.)

Não sei se este excerto posto online pela TVI trai o pensamento de Paulo Pedroso que poderá ter contextualizado melhor estas suas afirmações. Mas assim, a seco, soam-me a desistência de qualquer alternativa à inevitabilidade de um «centrão» e a exclusão, por parte do PS, de uma tentativa para o evitar. «À esquerda não há desbloqueamento»? E por parte do Partido Socialista em direcção a quem está à sua esquerda : há?

Desistências deste tipo é a última coisa de que precisamos, neste momento. Já que, parafraseando Churchill, o «centrão» está muito longe de ser a pior de todas as soluções com excepção de todas as outras. Porque é mesmo péssima. 
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8.3.13

Entretanto, os Oficiais das Forças Armadas


Anteontem, em Almada, cerca de 500 elementos das associações de Oficiais das Forças Armadas, Sargentos e Praças estiveram reunidos e criticaram duramente a actuação do governo e do ministro da Defesa. Convocaram uma concentração para o próximo dia 20 de Março, por ocasião da entrega de uma carta ao Primeiro Ministro. A seguir com atenção.

Depois de uma série de considerandos, que podem ser lidos aqui, declaram na referida carta:

«Os militares dos Quadros Permanentes (QP), nas situações de activo, reserva e reforma, e em Regime de Voluntariado (RV) e de Contrato (RC), reunidos no Pavilhão de Desportos de Almada, para debaterem as medidas ditas de austeridade que lhes têm vindo a ser impostas e os problemas com que são confrontados, sem esquecerem os seus concidadãos que vêm sendo igualmente confrontados com enormes sacrifícios que parecem não ter fim, aos quais transmitem toda a sua fraterna solidariedade, decidem o seguinte:
  • Lembrar que os militares nunca procuraram eximir-se aos sacrifícios impostos a quase todos os portugueses, mas que continuam a considerar indispensável que a equidade presida à distribuição dos correspondentes esforços;
  • Levar ao conhecimento da opinião pública que, com a descaracterização e desarticulação das Forças Armadas em curso, está a pôr-se em causa um pilar fundamental do Estado, último garante dos Superiores Interesses Nacionais;
  • Manifestar indignação pela forma como o Sr. MDN actua e permite que se actue perante a opinião pública, esquecendo o dever de tutela, que, para os militares, é sagrado;
  • Considerar como uma autêntica exigência nacional a necessidade de se pôr cobro às gravosas medidas de que são alvo as Forças Armadas e os militares. 

Para isso, mandatam as Associações Profissionais de Militares (APM) para:
  • No próximo dia 20 de Março, a partir das 17H30, procederem à entrega da presente Resolução na Residência Oficial do Sr. Primeiro-Ministro, convocando uma Concentração de Militares para o mesmo local e hora, como símbolo do estado de espírito que os leva a essa diligência, apelando desde já aos que participam neste Encontro para que nela compareçam;
  • Em função da resposta do poder político, prosseguirem nas acções e iniciativas eventualmente consideradas necessárias para que os objectivos traçados possam ser atingidos.» 
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Mulheres, também por cá




Fotografia de Paulete Matos
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Mulheres birmanesas



Neste 8 de Março, em jeito de homenagem à coragem de Aung San Suu Kyi, algumas mulheres que vi num dos mais belos países em que já estive. Sofridas, serenas.





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Troikas e minhocas



«As minhocas não ouvem e não vêem. Vivem enterradas a construir canais na terra. Reproduzem-se pelo processo de regeneração, criando novos seres a partir de cada pedaço. 

A troika também não ouve nem vê. Diferencia-se das minhocas porque não areja a terra. Torna-a inabitável. Há hoje claramente um diálogo de surdos entre a sociedade portuguesa e a troika e o seu apêndice local, o Governo. É evidente que esta austeridade não está a funcionar, embora a troika assegure que está. A troika fala mas não ouve e não vê. Sobretudo, não sente. Ela nem sequer é mestre da retórica: insinua-se nas sombras e actua através dos seus diligentes seguidores locais.»

Fernando Sobral, no Jornal de Negócios.
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Não daria muito jeito ter Grândola como marcha nupcial

7.3.13

Grandes árvores (1)



Começo hoje uma nova série sobre árvores vistas por esse mundo fora. Estas são da Quinta de San Pedro Alejandrino, em Santa Marta na Colômbia. (Foi lá que Simón Bolivar passou os últimos dias da sua vida e que morreu, em 17 de Dezembro de 1830.)

Magdalena, Santa Marta (2012)




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Quando até o RAP já só fala (quase) a sério



Como é o caso, hoje, na Visão. Sempre à 5ª, mais uma crónica de Ricardo Araújo Pereira.

«A grande diferença entre o povo italiano e o povo português é que os italianos votaram num palhaço e os portugueses votaram numa anedota. (...) Tanto política como humoristicamente, a escolha dos italianos parece mais sensata. O palhaço sempre pode ir inventando piadas novas, ao passo que a anedota não muda.»

Na íntegra AQUI.
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Próximo?!



A Europa soma e segue: em França, no quarto trimestre de 2012, a taxa de desemprego ultrapassou a barreira dos 10%, pela primeira vez desde 1999. 25,7% entre os jovens activos ( 730.000 pessoas).

A Europa afunda-se. Até quando e até onde?

(Fonte) .

A vida está acima da dívida



A mãe de todas as mensagens das manifestações do passado fim de semana foi a afirmação da vida contra a morte. Uma afirmação com três nomes: dignidade, democracia e patriotismo. E uma canção, onde coube todo país exceto o governo. Sentindo um perigo e uma ameaça viscerais, os portugueses recusam-se a deixar de gostar de si e do seu país. Vivem um momento de intensa inteligência intuitiva que está além e aquém do que os discursos e representações oficiais dizem deles. Recusam-se a aceitar que uma vida honesta feita de muito trabalho e estudo possa ser apelidada de preguiçosa, leviana e aventureira, que os impostos e os descontos pagos ao longo da vida tenham sido em vão, que quem menos pagou seja quem é mais protegido num momento de dificuldade coletiva. Recusam-se a aceitar que a democracia seja uma máquina de triturar a esperança, um moinho que só sabe moer o moleiro, uma farsa onde só são reais os fios que sustentam as marionetas, uma engrenagem encalhada num parlamento à beira-mar enterrado. Recusam-se a aceitar que os representantes eleitos pelo povo representem exclusivamente os interesses de credores predadores, que os governantes tenham outra pátria que não a dos governados, que a riqueza do país e o bem-estar dos cidadãos se transformem em penhora de um futuro hipotecado, que o roubo deixe de o ser apenas por estar institucionalizado e cotado internacionalmente. Recusam-se a aceitar que um governo nacional se comporte como a comissão liquidatária do país, reduza a história e a cultura a números, de que aliás retira tantas previsões quantas imprevisões, viaje às escondidas pelo país e só fale em público quando o público é estrangeiro.

Esta inteligência intuitiva, que afirma a dignidade, a democracia e o patriotismo, permite entender o que parece inexplicável: que o governo seja indigno, apesar de ocupar instituições dignas; antidemocrático, apesar de ter sido eleito democraticamente; e antipatriótico, apesar de se dizer nosso ante outros países. A inteligência intuitiva não dispensa razões nem desconhece riscos, mas tem com umas e outros uma relação indireta ou fractal. Tem assim uma leveza traiçoeira que torna o seu tratamento político complexo. Eis algumas das razões. Cerca de 20% da receita fiscal vai para pagar juros (por cada 100 euros, 20 vão para os credores); pagamos em juros mais do que gastamos com a educação (108%) e 86% do que gastamos com a saúde; os juros representam 15% da despesa efetiva total do Estado; a política de austeridade aniquila os devedores até ao ponto de nada mais lhes poder tirar senão a vida nua que ainda lhes restar; se propuséssemos uma renegociação da dívida e não pagássemos juros durante o período de negociação (moratória), o nosso orçamento estaria equilibrado e seria possível libertar recursos para investimento e criação de emprego.

Quais os riscos? Se a política atual se mantiver, os portugueses passarão os próximos trinta anos a transferir a sua poupança para o exterior; com o ritmo migratório de 40.000 pessoas por ano, na grande maioria jovens e muitos deles altamente qualificados, daqui a dez anos Portugal será um imenso deserto com balões Google de resorts para turistas. Mais do que riscos, estas são certezas. Contra elas, há que ponderar os riscos da moratória. Portugal ficará sem acesso aos mercados? Mas não é esta a situação atual? O que aconteceu com a Islândia? Os credores, confrontados com uma ameaça credível de moratória, serão rígidos ou negociarão receber alguma coisa em vez de nada? A UE deixará cair definitivamente a periferia, como tem vindo a fazer, ou entenderá finalmente que a crise do sul da Europa só é grave porque há um norte que se alimenta dela e dispõe de uma moeda apenas coerente com a sua economia? Ante riscos de desastre e certezas desastrosas, a inteligência intuitiva não hesita.

O hino à vida que se ouviu pelo país inteiro foi uma moção popular pela demissão do governo. Parafraseando o que Humberto Delgado disse sobre o que faria de Salazar se ganhasse as eleições: obviamente, demitam-se!

(Daqui)
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6.3.13

Com dedicatória à EMEL


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O aluno marrão



«E aí está a sétima avaliação da troika. Só me lembro de uma daquelas histórias que envolviam sempre um Joãozinho, agora transmudado em Pedro. Deve ser mais ou menos assim: Bom dia, senhor professor, sou o Pedro e venho pedir mais um adiamento da prova. Mas, estudou?, pergunta o professor. Estudei, senhor professor, li a sebenta toda e portei-me sempre de forma exemplar, responde Pedro. Muito bem. Olhe, está chumbado, mas vou colocar na pauta um dez para não parecer mal. Chumbado, senhor professor? Sim, chumbado. Próóóóximo!»

Azeredo Lopes

Reformados e indignações



Alguma tinta já correu desde a apresentação pública do MIR (Movimento dos Indignados Reformados), feita ontem e largamente divulgada pelos meios de comunicação social.

Um grupo de pensionistas apessoados decidiu criar um movimento, reuniu dinheiro para contratar advogados e consultores de alto nível, intercedeu junto do Provedor de Justiça e vai fazer tudo o que puder para lutar pela inconstitucionalidade da CES (Contribuição Extraordinária de Solidariedade). Nada contra, são livres de o fazer. É dito que têm todos «reformas milionárias» (eles garantem que não, que entre os 70 membros há quem receba pouco mais de 1350 euros, limite mínimo para a aplicação da CES) e que, por esse motivo, é imoral que reclamem? Talvez, mas quem quiser que lhes atire a primeira pedra: os que têm pensões de 200 euros também não entenderão a revolta dos que recebem 1.351.
Outra questão, bem diferente, é tentar perceber (e eu ainda não percebi exactamente) por que razão a principal cara do Movimento é alguém com o passado profissional de Filipe Pinhal, tanto em termos quantitativos como judiciais. Não sei se se trata de um tiro no próprio pé e / ou de um acto sobranceiro e acintoso com efeitos nefastos colaterais: virar a maioria da população contra todos os que reclamam por serem vítimas da CES (afinal são ricos, quando comparados com os mais pobres), acabando assim, por ricochete, por provocar uma aceitação da medida incluída pelo governo no OE2013.

Também: na conferência de imprensa em que o MIR foi lançado, apareceu um contestatário que interpelou vigorosamente a mesa e que, rapidamente, se tornou o herói do dia nas redes sociais. Também ele reformado da banca e «vítima» da CES, acusou os presentes de «já terem mamado muito à conta do zé trabalhador». Intervenção populista qb e que serve, conscientemente ou não, para completar o cenário: afinal, há reformados «indignados» pobres, ricos e muito ricos. Faltava esta cereja em cima do bolo.

Em resumo, tudo isto serve, às mil maravilhas, para fazer esquecer o fundo da questão: os reformados e os pensionistas são credores do Estado português, como o FMI e outras entidades o são, porque assinaram com ele um contrato. E este tem de ser respeitado, sob pena de nós, cidadãos, termos definitivamente a certeza de que já não vivemos num Estado de direito, que cumpre os seus compromissos. 
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Clausura



Se ele imitasse o Papa, dissesse ao mundo que o peso que leva é demasiado grande para os seus fracos ombros, mandasse fazer obras numa das cavalariças de Belém e lá se recolhesse em clausura para sempre? Isso é que era!

5.3.13

Se...



Se é possível conservar a juventude
Respirando abraçado a um marco de correio;
Se a dentadura postiça se voltou contra a pobre senhora e a mordeu
Deixando-a em estado grave;
Se ao descer do avião a Duquesa do Quente
Pôs marfim a sorrir;
Se o Baú-Cheio tem acções nas minas de esterco;
Se na América um jovem de cem anos
Veio de longe ver o Presidente
A cavalo na mãe;
Se um bode recebe o próprio peso em aspirina
E a oferece aos hospitais do seu país;
Se o engenheiro sempre não era engenheiro
E a rapariga ficou com uma engenhoca nos braços;
Se reentrante, protuberante, perturbante,
Lola domina ainda os portugueses;
Se o Jorge (o «ponto» do Jorge!) tentou beber naquela noite
O presunto de Chaves por uma palhinha
E o Eduardo não lhe ficou atrás
Ao sair com a lagosta pela trela;
Se «ninguém me ama porque tenho mau hálito
E reviro os olhos como uma parva»;
Se Mimi Travessuras já não vem a Lisboa
Cantar com o Alberto...

    ...Acaso o nosso destino, tac!, vai mudar?

Alexandre O'Neill,
1958
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O país está preocupado

O mundo do avesso

Já nem o capitalismo é o que era?



No Domingo passado, 68% dos suíços votaram em referendo a limitação de remunerações «excessivas» dos executivos das empresas cotadas em bolsa e a proibição de indeminizações «douradas». O autor das propostas agora aprovadas foi Thomas Minder, senador da UDC (União Democrática do Centro, populista de direita).

Vale a pena percorrer o dossier publicado pelo jornal Le Temps Initiative Minder (acesso gratuito mas que exige registo) para se medir o tom da polémica que envolveu o processo.

Fala-se de «triunfo popular», a maioria das opiniões parece reflectir a necessidade de se regressar a um «capitalismo são», mas há também quem fale do risco de fuga de líderes do mundo económico para outras paragens menos castradoras. À esquerda, espera-se que se trate de uma mudança de clima na sociedade, mais favorável às questões da redistribuição da massa salarial e à diminuição do fosso actualmente existente.

Confesso-me com mixed feelings: se tudo isto é eticamente louvável, não me parece que a aplicação de uma espécie de pensos rápidos à fase actual do capitalismo resolva qualquer questão de fundo, quando o primado da alta finança sobre a política permanece incólume. E, aí, não se vislumbra qualquer túnel quanto mais uma luz ao fundo do mesmo. Mas, enfim: talvez seja um pequeno (bom) passo, sei lá... 

(A ler também, no mesmo jornal, um longo texto: La déferlante pro-Minder
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Finalmente, ele falou



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4.3.13

«Generosidades» na Grécia



Em Atenas, representantes de onze multinacionais reuniram com o Ministro do Desenvolvimento, manifestando-se interessados em investir no país desde que possam admitir trabalhadores a tempo parcial (três ou quatro dias por semana) por 250 a 300 euros por mês, com poucas ou nenhumas regalias e indeminizações mínimas em caso de despedimento.

Aparentemente, não entendem a reacção negativa dos gregos, governantes incluídos, que vêem neste plano um reforço da pressão do FMI, da troika e da Alemanha para que os gregos se tornem novos e bons «trabalhadores chineses». Como diz um comentador, «em vez de nos tornarmos a "Dinamarca do Sul", acabaremos como a "China da Europa"».

Sei que me repito: é sempre prudente que acompanhemos o que se vai passando na Grécia.

(P.S. – O salário mínimo é actualmente 586 euros/mês, depois de um corte de 22%.)  

(Fonte)

Outra que vai deixar a sua zona de conforto

Europa: mais um imbróglio



«Angela Merkel deve ter dificuldade em adormecer. A realidade italiana excedeu a imaginação de um mau argumentista de quinta categoria. (...)
Temos aqui um imbróglio insanável. Monti já não tem legitimidade para nada. A Itália ficará sem governo por tempo indeterminado e, mesmo que o tivesse, a verdade é que quem ganhou as eleições fê-lo em luta contra a austeridade. Se a pressão dos mercados se tornar insustentável, Merkel terá de escolher entre deixar o BCE dar um cheque em branco à Itália ou correr o risco de ver Roma afundar-se no Mediterrâneo, arrastando com a sua bota as esperanças de sobrevivência da Zona Euro.»

Reformados são velhos mas não são parvos



Na manifestação de Sábado, um dos factos que mais me impressionou, a mim e a muitas pessoas que ouvi ou com quem falei entretanto, foi a elevadíssima percentagem de pessoas idosas, em comparação com desfiles semelhantes, por exemplo o de 15 de Setembro. Com uma caracterísitica específica: era inequivocamente visível que muitos participantes caminhavam sozinhos, ou com um amigo, e não militantemente organizados como, por exemplo, nos eventos convocados pela CGTP.

Assim se explica talvez muitos comentários que fui ouvindo e que reflectiam o que Daniel de Oliveira escreve hoje no Expresso: «Muitos dos reformados que no sábado foram para a rua participaram na sua primeira manifestação de sempre. Ou seja, passaram pela ditadura, pelo PREC e por toda a democracia sem usarem desse direito. E só agora, com mais de 60 anos de vida e quase 40 de democracia, é que se sentiram empurrados para a rua.» É estranho que, já adultos, não tenham participado no 1º de Maio de 74, nas manifestações quase diárias de entusiasmo com o PREC ou, em sentido oposto, nalgumas bem diferentes, como a da Fonte Luminosa ou a de apoio a Pinheiro de Azevedo? E nem sequer mais tarde, nos anos 80, quando o FMI cá esteve? Sim, é estranho, mas aparentemente verdade.

Saíram agora à rua e é bom que quem de direito – partidos e movimentos sociais – lhes preste mais atenção, de preferência sem paternalismos discriminatórios e bacocos, porque eles são velhos mas não são parvos. Até porque é bom não esquecer, e volto a citar DO, que «num País envelhecido, os reformados são quem decide quem governa». 

(Imagem TVI, Cláudia Lima da Costa)
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3.3.13

Próxima hipótese de campanha



... para Michelle Obama?
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Ratzinger, o reformado



A Europa está no estado turbulento que conhecemos, de Itália nem vele a pena falar, mas do Vaticano chegam notícias verdadeiramente de um outro mundo sobre tudo o que rodeia a passagem do ex-papa à condição de reformado.

Parece que continuará a ser tratado por «Sua Santidade Bento XVI», mas o anel de ouro que usava, com o seu nome «e, em alto relevo, o apóstolo Pedro pescando sobre uma barca», terá de ser destruído na presença dos cardeias (porquê?...).

Enfim: vai-se o anel, ficam os dedos e os pés também. O que não fica são os belos sapatos vermelhos (que afinal não eram Prada), substituídos já por nove pares de outros, novinhos em folha e agora castanhos, fabricados no México com uma suavíssima pele de bezerro recém-nascido. Não se sabe quantas léguas terá de palmilhar para os gastar, mas adiante.

Tudo isto deve ser importantíssimo para a humanidade em geral e para Fátima Campos Ferreira em particular, mas estejamos sobretudo atentos ao facto de Ratzinger ter deixado de ser infalível no passado dia 28 de Fevereiro às 20:00 (19:00 em Lisboa). Sabe-se lá se não vai andar por aí a dizer que não acredita na Imaculada Conceição ou assim. Ou mesmo, porque não, que deixou de crer na própria infalibilidade do Papa.

(Vídeo sobre sapatos)
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Manif. de apoio ao Governo em 9 de Março?



A guerra de números a propósito da manifestação de ontem é absolutamente ridícula e cansativamente recorrente.

Mas tenho uma proposta a fazer: que Passos Coelho & Friends convoquem uma manifestação de apoio ao governo e às suas políticas para o próximo Sábado, em Lisboa, exactamente com o mesmo percurso. (Poderão assim reatar, aliás, uma antiga tradição do passado, que as arcadas do Terreiro do Paço ainda recordarão...) E que façam o mesmo nas outras cidades.

At the end of the day, será certamente fácil perceber se terão estado mais ou menos pessoas do que ontem, sem cálculos de áreas e mesmo sem fotografias aéreas. Ou não? 
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Moção de Censura Popular (lida no Terreiro do Povo no dia 2 de Março)



Esta Moção de Censura Popular expressa a vontade de um povo que quer tomar o presente e o futuro nas suas mãos. Em democracia, o povo é quem mais ordena.

Os diferentes governos da troika não nos representam. Este governo não nos representa.

Este governo é ilegítimo. Foi eleito com base em promessas que não cumpriu. Prometeu que não subiria os impostos, mas aumentou-os até níveis insuportáveis. Garantiu que não extorquiria as pensões nem cortaria os subsídios de quem trabalha, mas não há dia em que não roube mais dinheiro aos trabalhadores e reformados. Jurou que não despediria funcionários públicos nem aumentaria o desemprego, mas a cada hora que passa há mais gente sem trabalho.

Esta Moção de Censura é a expressão do isolamento do governo. Pode cozinhar leis e cortes com a banca e a sua maioria parlamentar. O Presidente da República até pode aprovar tudo, mesmo o que subverte a Constituição que jurou fazer cumprir. Mas este governo já não tem legitimidade. Tem contra si a população, que exige, como ponto de partida, a demissão do governo, o fim da austeridade e do domínio da troika sobre o povo, que é soberano.

Que o povo tome a palavra! Porque o governo não pode e não consegue demitir o povo, mas o povo pode e consegue demitir o governo. Não há governo que sobreviva à oposição da população.

Esta Moção de Censura Popular é o grito de um povo que exige participar. É a afirmação pública de uma crescente vontade do povo para tomar nas suas mãos a condução do país, derrubando um poder corrupto que se arrasta ao longo de vários governos.

No dia 2 de Março, por todo o país e em diversas cidades pelo mundo fora, sob o lema "Que se lixe a troika! O povo é quem mais ordena", o povo manifestou uma clara vontade de ruptura com as políticas impostas pela troika e levadas a cabo por este governo.

Basta! Obviamente, estão demitidos. Que o povo ordene! 
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