17.5.08

Sucesso

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16.5.08

Há vida para além das jotas











Há dois dias, estive numa escola secundária em Rio Maior. De Rio Maior, só recordava umas mocas que me barraram uma estrada, nos idos de 75. Numa escola secundária, não entrava há uns tantos anos.

Daí a agradável surpresa ao ver a iniciativa de uma professora de História que, com os alunos, organizou um ciclo de actividades dedicado ao estudo do Estado Novo. Dele fazia parte uma exposição - «naïve», certamente, «à antiga», sem qualquer recurso a meios tecnológicos sofisticados, com muitas coisas recuperadas em sótãos de avós, desde livros escolares a uma colecção de Sandokan, fardas da Mocidade, objectos, diplomas, muitas fotografias. Cereja em cima do bolo: Salazar num caixão (que terá provocado alguma celeuma). Mas, também e sobretudo, textos, cronologias, muita informação recolhida, sistematizada e bem apresentada.





Impossível não pensar em Cavaco e nos jotas que o rodeiam para levarem os jovens à política – ou vice-versa, nem entendo bem.

E a estranha sensação de que eles e estes alunos que eu vi não pertencem à mesma galáxia.

15.5.08

68 - Sartre vs Raymond Aron



A vingança serve-se fria















A Ana Matos Pires mandou-me uma entrevista que Gentil Martins deu ao Jornal de Leiria de 17 de Abril de 2008.

Sim, é o mesmo que, durante a campanha a favor da IVG, em 2007, nos fez a vida negra com as barbaridades que espalhou, em descabeladas defesas da vida, e que anda por aí a separar tudo o que é siamês. Que se diz democrata cristão, que é contra o uso obrigatório de cadeirinhas para crianças nos automóveis porque impede os casais de terem mais do que dois filhos (se houver muitos, que mal há em que morram alguns, é isso?!!!! faltam-me pontos de exclamação) e que faz afirmações categóricas sobre homossexuais e transsexuais.

Para ele, a homossexualidade «é anti-natural. A natureza humana é feita para se reproduzir como qualquer espécie animal». Racionalidade à parte, digo eu.

Interrogado sobre o facto de um transsexual estar grávido: «Há doidos em todo o mundo. Discordo da transsexualidade. Não me venham dizer que o cérebro é diferente, pois ninguém provou que seja. Há todo o género de aberrações na natureza humana. A transexualidade é um disparate (...). Pessoalmente, sugeriria o apoio do psiquiatra.»

Quando leio coisas destas, tenho sentimentos terríveis. Chego a lamentar que o Otelo não tenha mesmo metido uns tantos no Campo Pequeno. No mínimo, desejo que o Dr. Gentil Martins tenha dez netos homossexuais e uma meia dúzia de bisnetos filhos de transsexuais. Depois conversamos.

14.5.08

Cannes 1968

Os acontecimentos de Maio chegaram ao Festival de Cannes, a partir do dia 13. Realizadores como Godard, Truffaut, Lelouch, Roman Polanski, Alain Renais, Milos Foman e muitos outros juntaram-se aos protestos.

No dia 19, os organizadores suspenderam o evento.

Um interessante vídeo com discussões entre realizadores e actores.




À partida, o filme dado como favorito, nesse ano, era «O baile dos bombeiros» de Milos Forman.

boomp3.com

13.5.08

Um texto de Edmundo Pedro

Nos últimos meses, tenho lidado quase diariamente com Edmundo Pedro, esse grande senhor da resistência e da democracia, à beira de completar uns 90 anos, tão lúcidos e tão activos, que deixam de rastos todos os que com ele têm de trabalhar numa qualquer militância – fala quem «sofre»... Para além de tudo o mais, tanspira força e determinação, como julgo que é visível nesta fotografia tirada há meia dúzia de dias.

Preso pela primeira vez aos quinze anos, deportado para o Tarrafal com dezassete, publicou já o primeiro volume das suas Memórias (leitura absolutamente mandatória!) (*) e está a terminar o segundo.

Uma ligeira gripe impediu-o de se deslocar a Berlim ontem, 13 de Maio, a convite de um Forum de Jovens Europeus para a preservação da Memória Histórica. Mas enviou uma comunicação que já publiquei na íntegra numa outra frente e da qual deixo aqui largos excertos (**).

«No fim da minha longa vida, (...) a minha participação na vossa reunião, teria representado, para mim, um momento cheio de significado. Teria tido a oportunidade de apresentar um testemunho vivo do que foi, em Portugal, o regime totalitário inspirado pelo nazismo. A repressão não atingiu, no meu país, os aspectos dantescos, quase inconcebíveis, que caracterizaram o regime hitleriano. Mas, apesar disso, conhecemos a experiência concentracionária inspirada pelo modelo nazi, com tudo o que ela representou de humilhação e de degradação da condição humana.

Eu próprio (...) estive preso num campo de concentração quando tinha dezassete anos. Fui libertado no fim da segunda guerra mundial, com vinte e sete. Se Hitler tivesse ganho a guerra, o mais provável teria sido que eu e os meus companheiros tivéssemos morrido naquele campo de pavor que foi chamado
«Campo da morte lenta», onde foram assassinados dezenas de prisioneiros, na sua maioria jovens.

Nessa época, eu era um jovem comunista convencido de que estava ao serviço de um projecto libertador. Enganaram-me. Mas a disposição de me sacrificar até à morte para aceder a um mundo mais livre e mais justo continuou a ser um valor para o Homem, na luta histórica pela dignidade da sua condição. Esta luta nunca termina. Ela é sempre actual. Passa pelo combate contra todos os regimes que não respeitam os Direitos Fundamentais do Homem, contra todos os inimigos da Liberdade – inclusive os que, insidiosamente, mascaram os seus projectos totalitários com aparências libertadoras.

Levar-vos-ia, portanto, meus caros jovens, o testemunho vivo de alguém que partilhou, com outros milhões de seres humanos, por toda a parte na Europa, as consequências do terror nazi que não poupou os países europeus mais ocidentais – esta Europa Comunitária, que hoje partilhamos em conjunto, e na qual não são tolerados regimes totalitários.

O futuro pertence-vos. Sois vós, portanto, caros jovens europeus, que tendes o dever de defender as aquisições sociais e políticas da nossa Comunidade de paz e de progresso, mas também de prosseguir os esforços para os aprofundar e consolidar.

A mensagem que vos dirijo é uma mensagem de esperança no futuro da construção colectiva da nossa comunidade. Mas é também uma mensagem que vos incita a uma vigilância permanente. A Liberdade não é uma aquisição garantida para sempre. É a vós, fundamentalmente, que pertence a tarefa de evitar o regresso a esse passado de horror a que, felizmente, fostes poupados. Sede vigilantes!

Incito-vos (...) a continuar não só a vossa reflexão, mas também a acção concreta contra todas as tentativas de regresso a esse passado de humilhação e de ignomínia que foi o da Europa da minha juventude.»

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(*) Edmundo Pedro, Memórias. Um Combate pela Liberdade, Âncora editora, Lisboa, 2007, 554 p.

(**) O original do texto está escrito em francês, traduzi-o eu para português.

As coisas que eu não sei

A espera num cabeleireiro é sempre fonte de saber. Qualquer que seja a revista que me põem nas mãos, aprendo muito mais do que com três horas de telejornais.

Na que li hoje, falava-se de gravidezes – de Carolina Salgado (mas fiquei sem saber quem é o pai da criança), do quarto filho de Victoria Beckham (e eu que nem sabia que ela já tinha três). Luciana Abeu consolava João Malheiro (ela pareceu-me a Floribela, ele não suponho quem seja). Parece que Carlota e Pedro Lencastre vivem num «loft» à beira-rio (quem são e qual é o rio?) e que nasceu João Pedro, terceiro filho de Lurdes Baeta (???).

Ainda ia nas primeiras páginas, mas mais não li sobre o país real porque chegou a minha vez.

Pouco depois, comprei o jornal e o quinquagésimo documento sobre Maio 68, desta vez sob a forma de dvd. E voltei para casa, ligeiramente preocupada com o meu avançado estado de esquizofrenia.

Se este se calasse...

«O casamento estável entre um homem e uma mulher é um dos "princípios não negociáveis" para uma "correcta convivência civil e cristã"», defendeu hoje o cardeal Saraiva Martins no Santuário de Fátima.

Terá dito ainda que «perante a "apostasia (abandono público) da fé" e da "razão"», a mensagem de Fátima veio marcar «um século ensanguentado pela loucura de duas Guerras Mundiais, marcado por nacionalismos exasperados, por ideologias ateias e materialistas».

Pessoas como esta causam mais danos à igreja que pretendem defender do que milhares de apóstatas honestos.

Jotas há muitas

Há quem louve a última iniciativa do PR, o que não é certamente o meu caso. O show off, que as televisões nos serviram ontem, tinha patine de seriedade mas transpirava vacuidade por tudo quanto era póros.

Da reunião com as jotas (tantas!...), terá saído a ideia peregrina de criar «roteiros da juventude», ou seja, de promover passeatas de Cavaco de braço dado com as ditas jotas.


Deixo uma sugestão para um primeiro roteiro.
Visitem as discotecas onde crianças de doze anos (nem sei se mais novas) podem entrar, embebedar-se e consumir drogas até cairem para o lado. É pouco provável que elas se interessem muito por política dentro de uma meia dúzia de anos.

Estes locais têm porta semi-aberta para a rua e são conhecidos por todas as polícias e por todas as ASAE’s deste mundo. Que, escandalosamente, as ignoram e assobiam para o lado – saberão elas porquê, talvez só porque Bruxelas ainda não tenha mandado nenhuma lei sobre o assunto. Não se diga que a culpa é (só) dos pais: sei de alguns que roem as unhas sem saberem o que podem permitir e o que devem proibir.

Visite estas discotecas, senhor presidente. Pode ser que por lá encontre algum dos seus netos mais velhos.

12.5.08

Congresso Feminista 2008


Nos próximos dias 26, 27 e 28 de Junho realiza-se, na Fundação Calouste Gulbenkian e na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, o Congresso Feminista 2008. Esta iniciativa, que partiu da UMAR e se alargou a uma vasta Comissão Promotora, terá carácter científico e interventivo, com vista a (re)lançar os feminismos como forma de reconfigurar a democracia e a participação cidadã.

Para além de cinco salas com intervenções em simultâneo, os e as participantes podem esperar um recheado programa cultural, com destaque para a música, «performances», moda, joalharia, cinema, exposições de pintura, lançamento de livros, entre muitas outras actividades.

O site do Congresso merece uma visita.

Até 31 de Maio o valor de inscrição é menor do que dessa data em diante. Pode inscrever-se aqui.

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Uma observação de carácter pessoal: a Comissão Promotora tem, neste momento, cerca de 400 membros – aproximadamente 10% de homens, 90% de mulheres.
Nem comento para não me irritar – mas não me conformo.

Um pouco de fado, please...



boomp3.com

Cavaco, os jovens e o Bloco

Leio que o BE se insurge por não ter sido convidado pelo PR para uma reunião, onde é suposto que as jotas dêem uns palpites para que os jovens se aproximem da política.

Preferia que se tivesse regozijado por não ser obrigado a participar numa farsa.

11.5.08

Do sexo como droga















Que este ano se celebram vários quadragésimos aniversários, já demos por isso e de que maneira. Agora que alguém se lembre de festejar o da famigerada encíclica Humanae Vitae (ela também de 1968) que condenou todos os meios contraceptivos, isso é que só pode lembrar ao diabo, infiltrado algures no Vaticano, ao que parece na Pontifícia Universidade Lateranense (*).

Em vez de a deixar discretamente em vigor mas sem alaridos, Ratzinger vem reavivar feridas e insurgir-se agora contra a gestação artificial, «técnica mecânica» que não pode substituir o acto de amor que «o esposo e a esposa partilham como sinal de um mistério maior», nem «invalidar a qualidade do amor e da sacralidade da vida».

Pior: diz que é necessário defender «a dignidade da pessoa» quando «o exercício da sexualidade se transforma numa droga que quer subjugar o casal aos seus próprios desejos e interesses, sem respeitar os tempos da pessoa amada». Leram bem: droga. Não se sabe se leve se dura, se cria dependência ou apenas alucinações.

Em 2008 como há quarenta anos, o reino do mais primário obscurantismo e da mais obsoleta intolerância. Até que cada vez mais católicos se fartem de ser humilhados e as igrejas se transformem todas, a pouco e pouco, em excelentes museus e belíssimas bibliotecas.

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(*) Notícia um pouco por todo o lado, por exemplo aqui.

A paciência e a prosa

Ao Domingo de manhã, uma das primeiras coisas que faço quando abro o computador é procurar a crónica de Nuno Brederode Santos no DN. Atavismos de quem admira a prosa e é amiga do autor.

A inveja que tenho de quem pensa e escreve assim:

«Agora sozinho em casa, tenho o mundo a meus pés. E sei bem quanto este poder absoluto é capaz de corromper: em regra, ele induz uma enorme sonolência, que me embrulha nesse imenso durante que é o interim do berço à cova. Hoje, como tantas vezes, é o caso. Eu bem queria escapar ao que os media consagram, mas o seu cerco é um abraço de jibóia: para escrever, não posso sair, e, não saindo, sou escravo deles.»