27.7.19

Querida EMEL



Na praceta onde moro, o estacionamento passou a ser pago há cerca de um ano. A ganância é tal que nem o espaço onde termina a passagem de peões foi poupado: transformaram-no em lugar para um carro…
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27.07.1970 – O dia em que Salazar morreu




A ler: este texto de Diana Andringa, então presa em Caxias, em que ela descreve como a notícia foi recebida: O velho foi à viola.
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A Europa nunca foi fascista



«Quanto mais migrantes vierem, mais diluídos serão os nossos valores cristãos", afirmou o bispo de Szged, uma cidade no sul da Hungria. O bispo falava também em nome do seu primeiro-ministro, Viktor Orbán, mentor de várias medidas antidemocráticas, contra a imprensa, os juízes ou a universidade. Ideia semelhante foi lançada em Portugal, há uns dias. Como chegámos aqui? O que nos tem trazido de um mundo liberal, de reforço democrático, desde a queda das ditaduras do sul e do Muro de Berlim, a um mundo em que o discurso do mal se banaliza? Em vez de respondermos diretamente a estas perguntas e assim ceder à agenda política de quem as causa, recordemos do que falamos quando falamos da Europa. O resultado, como veremos, é altamente positivo. A Europa nunca teve donos e não será desta que os terá. A Europa é de quem nela vive e ninguém tem o poder de decidir quem tem esse direito. Procuremos ver o todo através de algumas partes.

Corria o ano de 711 quando uma estirpe de seguidores de Maomé, vindos de onde hoje é a Síria, aportou às costas da Península Ibérica, onde, organizados politicamente, ficaram durante mais de quatro séculos; e para sempre no sangue, na cultura, na ciência ou na tecnologia. Ficaram simplesmente porque trouxeram coisas novas que a todos beneficiou e porque assim funcionava o mundo. Esta troca não foi apanágio do sul, pois a Europa cruzou influências com o exterior em todos os quadrantes. Os reinos árabes peninsulares seriam derrotados por reinos cristãos. Seguiram-se séculos de afirmação dos poderes centrais - e isso em toda a Europa. Todavia, a religião que serviu como distinção perante o exterior cedo se transformou na base da guerra dentro de fronteiras. Desses confrontos religiosos resultaram reinos ou impérios cada vez mais fortes, divididos pelas diferentes faces do cristianismo. A leste manteve-se o espectro da fronteira muçulmana.

Este quadro, naturalmente incompleto e frágil, define apenas a grande organização política. Se o seguíssemos acriticamente, veríamos a ele associados o nascimento dos Estados-nação, o advento dos impérios autoritários, assim como dos Estados fascistas e do estalinismo. Mas temos de olhar para além disso, temos de olhar para a Europa dos indivíduos e dos povos, que foi crescendo sob essa ordem superior.

A revolução comercial medieval, dentro e depois fora das fronteiras do continente, trouxe novas formas de poder político, que viriam a traduzir-se nos Estados livres e abertos do nordeste europeu. As revoluções do conhecimento e científica que se seguiram, as ideias do iluminismo, acabariam por libertar uma das maiores nações europeias, a França, numa revolução que viria a deixar um importante legado nos Estados alemães ocidentais, e nas penínsulas ibérica e italiana. Não foi um movimento de um só sentido, mas sim de avanços e recuos. Todavia, se escolhermos um qualquer ponto de um qualquer século da história europeia, somos obrigados a fazer um balanço positivo dos avanços da força dessa Europa dos povos.

O predomínio da vontade dos muitos sobre os poucos é uma das características mais importantes da história da Europa e essa persistência faz-nos pensar que assim continuará. Mas é preciso estarmos atentos às tentativas de contrariar esse domínio e isso deve ser feito de forma estruturada, institucional, e não casuística e individual. O domínio dos povos depende da força de organização dos povos. A invenção da democracia universal, em que todos votam, é o melhor exemplo disso.

As palavras do bispo e do primeiro-ministro húngaro estão a ser replicadas em outros países europeus. Precisamos de estar atentos e de estudar e recordar o que a Europa significa. É um erro cair na ratoeira de se discutir estes temas com base na retórica nacionalista ou racista. É preciso contrapor ideias sobre o que é a Europa, ideais da respetiva história.

E há vantagens neste jogo. Os nacionalistas e racistas não conseguem unir-se para além das fronteiras, porque se rejeitam entre si. Quem apela ao "cristianismo" na Hungria olha com superioridade a quem faz o mesmo apelo em Portugal, país com uma herança considerada demasiadamente pesada dessa mesma Síria de onde vêm os visados dos nacionalistas húngaros. E isso não é uma ironia da história: é a própria história. Ninguém, por muito que tente, consegue subir na escala social através do racismo ou do nacionalismo. A Europa, simplesmente, não funciona assim. Nem o mundo.»

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26.7.19

As "cobras" de Cabrita



«Esta sexta-feira, o ministro Eduardo Cabrita, depois de recusar responder às perguntas colocadas pela jornalista da Renascença e por outros colegas de televisão, esperou que as luzes de apagassem e, já com os microfones desligados, mimoseou os repórteres com o epíteto de “cobras”. (…)

O ministro da Administração Interna, mesmo sem o querer, mostrou, na sua arrogância e falta de cultura democrática, o que pode constituir a prática corrente de um futuro não muito longínquo. Basta lembrar a célebre frase de Jorge Coelho “Quem se mete com o PS leva” num contexto da já mais do que provável maioria absoluta. (…)

Para o Governo este é “um não-caso”. Os kits distribuídos no quadro dos programas "Aldeias Seguras" e "Pessoas Seguras" são kits de demonstração sem qualquer valor de proteção pessoal como insiste a Proteção Civil.

E nós somos todos parvos? As lanternas também não dão luz? Os rádios não funcionam?

Vamos só pensar dois minutos: o Governo faz uma grande campanha contra a propagação da SIDA e fornece um kit onde para ilustrar a necessidade de sexo “seguro” fornece uma embalagem de preservativos furados. Se existir um 'boom' de gravidezes indesejadas, vem depois dizer candidamente que não eram “obviamente” para utilizar?»

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O PS nos seus labirintos


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O Árctico como nunca o imaginámos



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Podemos ser parvos, mas não somos estúpidos




«A Protecção Civil garante que os kits fazem parte de uma mera campanha de sensibilização (e não devem ser usados em incêndios), mas o Ministério da Administração Interna chamou-lhes “kits de autoprotecção e golas de protecção fumo” num balanço relativo aos incêndios rurais de 2018 onde se fala dos programas Aldeia Segura e Pessoas Seguras.»

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Do resultado previsto



«A previsibilidade em política só não antecipa a morte do artista se ainda houver terra para queimar após vindima. Que foi chão que deu uvas, isso todos dirão.

Rui Rio tem lidado, desde o seu primeiro dia como líder do PSD, com uma tropa de execução que não lhe permite um sopro de descanso. Nada como a disputa eleitoral magna de Outubro para clarificar de vez o que lhe sopram pelas costas e por cima do ombro. Com a exclusão de Maria Luís Albuquerque das listas para as próximas eleições legislativas, por não querer dormir com o inimigo, Rio é agora o líder da oposição interna a si mesmo. Estendeu uma passadeira à sua rendição. O mal pode ser aterrador mas nunca foi desconhecido. Está de fora mas vem de dentro, totalmente complacente. O PSD vive o momento em que vê na autofagia a sua solução.

As eleições são provas exigentes para quem não consegue fazer a digestão dos resultados. A obra-género de Rui Rio será sempre incompleta enquanto o partido que dirige teimar em fazer Brexit do país, preocupando-se apenas com as guerras intestinas. Contrariamente a Boris Johnson, outro primeiro-ministro improvável, Rio não sucede. Não sucede a Passos, sucede ao Diabo que não veio e teve que passar por três eleições, duas internas e uma europeia. Se, relativamente ao agora primeiro-ministro britânico, as expectativas são tão baixas que só muito dificilmente poderá deixar de ser surpreendente, Rio só será capaz de continuar a surpreender pela forma como resiste ao desfile tortuoso de apunhalamentos. Assim se sente a orfandade social-democrata: os órfãos de Passos e do neoliberalismo acreditam mesmo que a "geringonça" foi uma máquina usurpadora de poder e Rui Rio um colector de restos.

As sondagens raramente nos informam da tendência da improbabilidade. O piscar de olhos enamorado de Santana Lopes ao PSD é a assunção de que, não podendo esvaziar mais o que já está vazio, prefere fazer de conta que não bateu com a porta dos fundos, há poucos meses, à procura de estrondo. A maçonaria que Rui Rio culpa pela hecatombe da mais recente sondagem que coloca o PS mais perto da maioria absoluta, também deve andar a executar rituais de iniciação nas estruturas locais do partido. Uns, autoexcluem-se. Outros, fazem finca-pé no confronto sabendo o desgaste que causam à liderança. José Afonso cantava "das eleições acabadas/ do resultado previsto/ saiu o que tendes visto/ muitas obras embargadas". Estamos a cerca de dois meses das eleições e é o que vemos.»

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25.7.19

25.07.2013 – CTT



O dia em que um governo privatizou os CTT.
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Grandes verdades


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Força, força, companheiro Santana Lopes




“As pessoas estão muito preocupadas com a extrema-esquerda, com as políticas que cheiram a gonçalvismo. Há a hipótese de dois terços da próxima Assembleia da República ser assim, nem quero pensar nisso.”

Ena! Gonçalvismo à vista!!! 
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Prestar contas (II)



«O poder político democrático não é uma prerrogativa herdada, não é um prémio, uma honra ou recompensa por serviços ou favores prestados. Por isso mesmo também não é um poder vitalício.

É apenas, simplesmente, o exercício de um mandato atribuído por força da vontade expressa pela maioria dos cidadãos em eleições livres e independentes. Estão, portanto, excluídas da qualificação do poder político, em democracia, as relações de fidelidade e vassalagem associadas às ditaduras e, no passado, aos regimes senhoriais. Em vez disso, o mandato implica responsabilidades específicas dos eleitos para serem cumpridas num período de tempo limitado e de cuja execução se espera leal e tempestiva prestação de contas aos mandantes, ou seja, aos cidadãos eleitores.

Já falta pouco mais de dois meses para que a maioria e a Oposição enfrentem novas eleições e todos respondam perante o povo que os elegeu.

No mandato que agora finda, destaca-se como extraordinária aquisição política do próprio regime constitucional, o reforço notável da dimensão parlamentar da democracia representativa desenhada pela Lei Fundamental. O acordo parlamentar firmado pelo PS com os Verdes, o PCP e o Bloco de Esquerda, na sequência das eleições de 2015, permitiu à Esquerda constituir-se como uma maioria capaz de assumir os compromissos da campanha eleitoral e de os cumprir, escrupulosamente, ao longo de uma legislatura inteira. Pelo contrário, a Direita revelou-se incapaz de compreender a sua derrota e ficou dividida entre a fidelidade aos dogmas que arrasaram os serviços públicos e as instituições do Estado - ao longo dos quatro impiedosos anos da "austeridade" - por um lado, e a tentação demagógica de multiplicar promessas à custa de recursos financeiros que antes dizia não existirem. Perante a mais grave ofensiva ideológica das forças da Direita em toda a curta vida da democracia conquistada pela Revolução de Abril, a Esquerda soube defender os valores da solidariedade e da dignidade humana, soube falar verdade, cumprir o prometido e reconquistar a confiança sem a qual nenhuma democracia sobrevive.

Como disse aqui na última semana acerca desta legislatura e da solução de governo acordada, o debate político e o confronto de ideias acabou por se confinar às contradições entre as diversas forças políticas da Esquerda enquanto a Oposição de Direita se resignou às suas inconciliáveis contradições e resvalou no populismo que hoje constitui a mais séria ameaça à liberdade e à democracia. Os cidadãos sabem reconhecer quem lhes fala verdade e cumpre o que promete. É neste caminho de consolidação da confiança que o Partido Socialista tem de prosseguir.»

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24.7.19

24.07.2011 – Machu Picchu



Qualquer pretexto é bom para se falar de Machu Picchu , onde tive a enorme felicidade de estar em 2004.

Foi num 24 de Julho (de 1911) que o explorador americano Hiram Bingham encontrou duas famílias que o levaram às ruínas da «velha montanha». Até lá, esta «cidade perdida dos Incas», que é o símbolo mais típico do seu império (e hoje também do Peru), construída no século XV a 2.400 metros de altitude, extraordinariamente bem conservada e com uma localização absolutamente excepcional, mantinha-se desconhecida. Tem duas áreas distintas, uma dedicada à agricultura, numa série impressionante de socalcos, e uma outra urbana com templos, casas e sepulturas, dispostos ao longo de ruas e de (terríveis!) escadarias.

Património da Humanidade desde 1983, Machu Picchu é destino inesquecível para quem já lá foi e fortíssima recomendação de viagem para quem puder fazê-la.

Tradicionalmente, parte-se de Cusco (uma cidade absolutamente mágica), segue-se pelo Vale Sagrado, com paragem obrigatória no mercado de Pisac, passa-se pelo Vale de Ollantaytambo e apanha-se o mítico comboio que chega às imediações das ruínas. Então… é ficar primeiro de boca aberta e depois descer, trepar, ouvir explicações, imaginar a vida por aquelas paragens, quando a França e a Inglaterra ainda se batiam na Guerra dos Cem Anos e o nosso Vasco da Gama lutava com o cabo das Tormentas. Um pouco impróprio para cardíacos pela altitude e pelo esforço para calcorrear pedregulhos, mas vale bem o sacrifício. Ou não fossem as viagens uma das melhores coisas que levaremos desta vida.







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Boris Johnson



Para além de tudo o que já foi dito e escrito, as redes sociais incendiaram-se ontem quando Paulo Portas afirmou, num telejornal da TVI, que BJ seria «o PM mais culto da Europa». O costume: como é «feio, porco e mau», seria obrigatoriamente mais ou menos analfabeto para a generalidade dos comentadores… Por isso me parece útil deixar aqui este texto, publicado ontem no Facebook por alguém que conheceu bem BJ (e que eu conheço pessoalmente):

O EXTRAVAGANTE BORIS JOHNSON 

Conheço o Boris Johnson pessoalmente, fomos colegas de trabalho no início dos anos 90 quando estive colocado durante três anos na delegação da Lusa em Bruxelas. Ele era o correspondente do Daily Telegraph na capital belga. Por dever de ofício encontrávamo-nos todos os dias em serviço, incluindo nas muitas viagens ao estrangeiro que os jornalistas encarregados de cobrir a UE e a NATO em Bruxelas são obrigados a fazer para acompanhar os trabalhos das instituições.

É um tipo muito inteligente, culto, arrogante, com notável sentido de humor, extremamente ambicioso e extremamente desonesto. Mente com a maior das facilidades, torce a verdade de forma a que ela se enquadre no que lhe der jeito no momento. Inventava notícias com a maior das facilidades, sempre para pôr em causa as instituições europeias. Eram prontamente desmentidas, mas para ele isso não tinha qualquer relevância. Já tinha deitado o seu veneno contra a UE nas páginas do jornal, isso é que interessava...

Um traste, mas um traste educado em Eton e em Oxford, onde foi um dos melhores alunos. Absolutamente irresponsável e indigno de confiança. O tipo é um diabo, inteligente e culto, mas completamente amoral. Por isso mesmo muito perigoso!... Até pode ser que dê um bom PM mas ou me engano muito ou acabará por tropeçar em si próprio e espalhar-se...

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PS: Notem bem, por favor, que eu sublinho que o Boris Johnson não é desqualificado nenhum, contrariamente ao que alguns comentários que aqui vejo parecem concluir. É um tipo muito capaz, muito qualificado. É um historiador com vários livros publicados, foi um presidente (Lord Mayor) da Câmara de Londres competente. Moralmente é que não é de confiança, deixa-me as maiores dúvidas e preocupações. Já o Trump e o Bolsocoiso são completamente desqualificados. Não há comparação possível...

Zé-António Pimenta de França
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Rui Rio



Ajudem este desgraçado a retirar-se com alguma dignidade.
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As grandes carreiras políticas já não dependem dos eleitores



«Christine Lagarde foi nomeada presidente do Banco Central Europeu e é preciso substituí-la no FMI. As transferências de verão estão ao rubro e o nosso Ronaldo das Finanças está na shortlist. Alguém confirmou que é provável que seja escolhido a Marques Mendes. Portugal, que se começa a especializar na exportação de burocratas, antecipa mais um momento de êxtase. Depois de Barroso e Guterres, com os enormes ganhos que todos sabemos terem representado para o país, podemos ter mais um dos nossos a brilhar lá fora. O nosso espírito de emigrante vibra com isto. Por mim, torço por Centeno em Washington. Não me parece que por lá possa fazer grandes cativações. Mas quem ache que ganharemos muito com uma possível nomeação deve fazer um balanço sério da passagem de Centeno pela presidência do Eurogrupo.

Não deixa é de ser curioso que uma organização tão ortodoxa como o Fundo Monetário Internacional pense em escolher Mário Centeno, ministro das Finanças de um Governo supostamente socialista. Ou houve uma revolução no FMI ou isto diz alguma coisa sobre o que tem sido a gestão financeira do nosso ministro.

Longe vão os tempos em que a grande ambição de um ministro das Finanças era chegar a primeiro-ministro e a de um primeiro-ministro era chegar a Presidente da República. Isso é tão século XX. Hoje, uns e outros sonham com cargos internacionais. Daqueles onde realmente se manda, os eleitores não chateiam e ainda por cima se ganha bem. O que quer dizer que as grandes carreiras políticas já não se fazem com os olhos na democracia e no povo, fazem-se com os olhos numa classe global de burocratas sem nação, quase sempre amigos dos únicos poderes globais que sobrevivem: os económicos. Sobretudo os ministros das Finanças, que concentram um poder absurdo nos governos. Escolhidos entre tecnocratas, estão muitas vezes acima dos primeiros-ministros que os cidadãos conhecem e em quem, de alguma forma, votaram.

Isto é bastante perverso. Porque quer dizer que quem governa já não o faz a pensar nos governados. Se tivessem ambições nacionais era isso mesmo que teriam de fazer. Esta nova estirpe de políticos governa para agradar as organizações internacionais, dominadas pelos Estados mais poderosos. E a lógica é tão perversa que já conseguimos convencer os eleitores de que um bom ministro das Finanças é o que nos trata mal para ter a simpatia externa. E é isso que explica que, em países periféricos como Portugal, os ministros das Finanças se tenham transformado em embaixadores das instituições europeias no Governo e não o oposto. Conhecemos as consequências: um défice muito aquém das metas que nos foram exigidas pela Europa. O país não precisa, mas o currículo técnico de Centeno sim.»

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23.7.19

Comentários para quê


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Mudam-se os tempos…


«Eu ainda sou do tempo em que estar na corrida para a direcção do FMI não fazia currículo à esquerda.»

Ana Cristina Pereira Leonardo no Facebook.
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Bolsonaro tem de mudar urgentemente de penteado


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Cara Aberta de Jô Soares a Bolsonaro



Monsieur le president: come je sé que, etant troglodite, vous parlé multilangues, je comence em françois, langue de la diplomacie mondiale pour que ningán duvide: parabiéns! Parabiéns! parabiéns! Quel idê genial de nomé votre fils Eduardô come ambassadeur! 

Tout come il faut respetant les regles: premier, comemoré la idé certe, 35 ans. Alors, petite feste, troque de petit presents etc. 

Chanté le parabiéns, apagué les veles, comê le bolê! Comê le bolê! E depuis le present principale: lui, qui há dejá une graduation em hamburguér et talvois une pos-graduation em cheeseburguér? Aussi, si nous avons deja um ex-president, FHC, pourquoi ne pas tenté aussi um ambassadeur KFC? Après ça, il faut tenté une master degre em pipoque. Afinale de contes, nous devons aproveité les oportunités que la vie nous oferece. Par exemple: Votre Majesté savé que Rafael Leonidas Trujillo Molina, quand a assumí le podê em 1930, a la Republica Dominicana, a nomé son filhô Ramfis, com a pene quatre ans de idé, coronel de salário y privilégios del Exército dominicano?

En 1938, le president Jacinto B. Peynado (president que sucessé a Trujillo) promové le coronel Ramfis Trujillo Martinez, de neuf ans, a general de brigada, promoción que fu outorgué “en mérito al serviço” em se constituant nel plus jeune general del histoire du monde? Regardé les fotôs: nést pas fôfe?

Bien avant, Napoleon, lembré dele? Nomée irmains e parents come rois de la Holandá, roi de Náples (aquel da pizzá), roi de Espanhe e rois da Westphalie. (Je ne coné pas Westphalie mais pesquisé avec vos amis dans le Twitter pour savoir onde é que fique.)

Enfin, chegue de converse. Jagarre dans le pape mais sempré pour colaboré avec Votre Majesté.

Signé: Jô Soares, influencieur analogique
Em verité: José Eugenio Soares, oficial da Ordem de Rio Branco
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Trump e a estratégia do racismo



«A questão racial nos Estados Unidos tem estado omnipresente no debate político norte-americano, desde a fundação do país até à atualidade.

Na génese dos EUA, a casta dominante dos WASPs (acrónimo que em inglês significa Branco, Anglo-Saxão e Protestante), descendente dos primeiros colonizadores europeus do território, tratou de assegurar os privilégios políticos, económicos e sociais face aos demais grupos étnicos. Numa primeira fase os imigrantes europeus não protestantes (e.g. irlandeses, italianos, polacos), foram-se emancipando e, posteriormente, outros tantos grupos étnicos conquistaram o seu espaço nos EUA. Atualmente encontram-se afro-americanos, latinos, judeus, ou asiáticos em todo o tipo de profissões e cargos públicos.

Contudo, importa não esquecer que os EUA são de facto um país jovem. Ainda estão presentes os ressentimentos decorrentes dos grandes conflitos que marcaram a década de 60 do século XX, com o movimento dos direitos civis, ou mesmo a própria Guerra Civil Americana, que ocorreu cem anos antes, onde a questão racial foi um dos temas centrais.

Recentemente o Presidente Donald Trump reanimou o tema de forma calculista, com o polémico tweet dirigido às congressistas Alexandria Ocasio-Cortez, Ilhan Omar, Rashida Tlaib e Ayanna Pressley. Mas não foi o primeiro presidente norte-americano a fazê-lo. A história política dos EUA é fértil em exemplos semelhantes não só do lado republicano, mas também do lado democrata com conhecidos líderes como George Wallace, Governador do Alabama, que até ao final dos anos 70 do século anterior defendeu o segregacionismo de forma populista para agradar ao eleitorado do seu estado.

Apesar das alterações políticas e legislativas que decorreram, a questão racial está longe de estar arrumada no sótão da curta história dos EUA e Donald Trump aproveitou-se disso. Ao contrário do que alguns dos seus críticos pensam, Trump não é um político amador e desajeitado que comunica irrefletidamente. O presidente norte-americano é exímio na forma como decide qual deve ser a agenda política e mediática. Ele coloca os americanos e o mundo a discutir aquilo que ele entende que deve ser discutido no momento.

Trump já está em campanha eleitoral. As suas declarações são pensadas com um único objetivo – ganhar as eleições presidenciais do próximo ano. O “convite” de Trump para as congressistas democratas saírem dos EUA teve várias intenções: posicionar o Partido Democrata o mais à esquerda possível, obrigando-o a fazer a defesa das quatro congressistas conectadas com a ala de esquerda mais radical do partido; seduzir o eleitorado supremacista branco tradicional e a geração mais moderna da alt-right; e retirar da agenda temas que prejudicam a sua eleição (nomeadamente a prisão do seu amigo de longa data Jeffrey Epstein e a investigação sobre o seu alegado envolvimento na intervenção russa durante as eleições de 2016).

Após o polémico tweet, uma sondagem realizada pelo USA Today/Ipsos relevou dois dados importantes: a popularidade de Trump junto do eleitorado republicano aumentou 5% e desceu 2% junto dos democratas; e 70% do eleitorado republicano considera existir má-fé por parte de quem acusa alguém de ser racista. Estes resultados permitem concluir que Trump conseguiu polarizar o debate e cerrar fileiras junto do Partido Republicano para o combate que se advinha cada vez mais aceso. Esta é a guerra que Trump quer levar para as próximas eleições presidenciais – “nós” contra “eles”, em que o “nós” é uma personificação do verdadeiro cidadão americano, liderado por Trump.

O alegado racismo de Trump, alimentado por declarações sugestivas, é uma estratégia que serve o propósito de mascarar o seu populismo clássico.

Trump parte na dianteira da corrida eleitoral. O presidente norte-americano lidera as sondagens para as presidenciais, num momento em que o Partido Democrata ainda não escolheu o seu candidato. Subestimar a sua estratégia e comprar a sua guerra resultará numa reeleição fácil em 2020.»

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22.7.19

Sondagens, sondagens (2)


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22.07.1969 – Rei de Espanha designado como sucessor de Franco


Há 50 anos, Juan Carlos I de Bourbon foi designado pelas cortes espanholas como sucessor de Franco, jurando-lhe lealdade e respeito pelas leis vigentes - e cumpriu. 

Viria a ser proclamado rei em 22 de Novembro de 1975, depois da morte do generalíssimo, tendo então tido início o processo da Transição Espanhola. Os espanhóis não tiveram, como nós, a experiência única de viverem uma Revolução depois do fascismo.

Voltando a 1969, sempre me fez muita impressão ver este vídeo: 


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Sondagens, sondagens (1)



Pois...
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Morrerão de velhos no Restelo



«Todas e todos nós na comunidade política a que pertencemos ou onde vivemos – a República Portuguesa – sabemos da importância simbólica e identitária do longo processo histórico da expansão do Estado português.

Todas e todos sabemos que esse processo incluiu o protagonismo do país numa certa época, o descobrimento de geografias e realidades culturais por parte de quem ainda não as conhecia, a disseminação da língua portuguesa, trânsitos culturais de vários tipos, o surgimento de novas realidades sociais e a transformação de outras.

Mas, quer o nacionalismo do século XIX, quer o regime ditatorial que ocupou grande parte do século XX, fizeram da expansão do Estado português uma narrativa identitária com contornos exclusivamente nacionalistas e encomiásticos, preocupada quer com o reforço da identidade nacional como forma de ilidir as desigualdades e conflitos internos, quer com a legitimação internacional e a compensação pela perda de protagonismo no quadro europeu.

Uma parte fundamental dessa narrativa foi menosprezar o papel português no tráfico de pessoas escravizadas, na desestruturação de sociedades, no colonialismo necessariamente assente no racismo, ou no trabalho forçado após abolição da escravatura, entre outros processos.

Todos foram legitimados por visões do mundo e por discursos que assentaram no seguinte: a noção de hierarquias raciais dentro da espécie humana, sendo as raças dos “descobertos” ou colonizados consideradas inferiores; a noção de hierarquias culturais e de evolução linear humana; a própria invenção da branquitude como marca de superioridade racial e da Europa como marca de superioridade cultural e estágio mais avançado daquela evolução.

Na sequência das lutas das populações escravizadas e colonizadas, na sequência do trabalho dos seus líderes, ativistas e intelectuais, e com o apoio dos aliados europeus mais influenciados pelos ideários dos direitos humanos, desde há aproximadamente um século que vivemos num mundo em que vêm sendo postas em causa as crenças em que assentaram a expansão e o colonialismo europeus. O ponto de viragem mais radical foi o que se deu na sequência do Holocausto – produto extremo e expectável dos ideários racistas produzidos na Europa – e, logo, na sequência dos movimentos de libertação anticoloniais e antirracistas pelo mundo fora. No caso português, a ação dos movimentos de libertação africanos no decurso das guerras coloniais foi absolutamente crucial para o fim da ditadura portuguesa, a abertura à democracia liberal e ao percurso para a adesão europeia.


21.7.19

Para fechar a semana que acabou




Com dedicatória ao Grupo Parlamentar do PS.
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Filho simpático


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Há gente para tudo



Um grupo de socialistas de Coimbra, ministra da Saúde incluída, reuniu-se numa almoçarada para «Lembrar 19 de Julho de 1975, na Fonte Luminosa».

Eu prefiro não comentar.
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Concertação não é câmara alta



«Há validade e seriedade política no argumento do Partido Socialista (PS), de não se dispor a aprovar legislação laboral que não tenha sido "consensualizada" na Concertação Social? Não. E o PS e o Governo sabem bem que o argumento não tem sustentação.

Conceituados constitucionalistas, juristas do trabalho, investigadores e académicos de várias formações, grande parte dos atores sociais que participaram na Concertação Social e ex-governantes da área do trabalho reconhecem que esse importante órgão de consulta e concertação tem, desde a sua génese, entorses conceptuais, estruturais e orgânicas e que, muitas vezes, foi instrumentalizado por governos. Além disso, funciona com uma representatividade imposta, sem qualquer aferição inicial e ao longo dos 35 anos da sua existência, por motivos políticos. A Concertação Social nunca foi, mas hoje está ainda mais longe de ser, um espelho fidedigno das relações laborais em Portugal.

O primeiro-ministro, António Costa, afirmou ao "Público" a 7 de dezembro de 2015: "Tal como não temos uma visão limitada do diálogo político ao "arco da governação", também não temos o diálogo social limitado às confederações patronais mais uma confederação sindical", rematando a análise do tema dizendo, "ninguém queira transformar a Concertação Social numa câmara alta com poder de veto sobre as decisões da AR".

O PS explora a necessidade de submissão das reformas laborais à Concertação Social - a instituição mais pensada na lógica do velho arco da governação - como modo de travar reformas de sentido mais progressista. O PS raramente afirma discordar das reformas laborais que vota desfavoravelmente. Diz apenas que os parceiros sociais ainda não se pronunciaram ou se pronunciaram desfavoravelmente. Ao refugiar-se na posição dos parceiros sociais, protege-se da posição insustentável que seria assumir, abertamente, a rejeição de direitos fundamentais na área laboral.

Com este comportamento, o PS diz aos portugueses que nunca será possível fazer reformas laborais de sentido progressista em Portugal, mesmo que a maioria da população tenha transmitido um sinal implícito nesse sentido através do seu voto. Submeter todas as reformas laborais à Concertação Social é assegurar que só há dois caminhos possíveis: ou a estabilização dos desequilíbrios, como agora fez, ou o aprofundamento desses desequilíbrios. As duas opções, em conjunturas diferentes, agradam a Bruxelas, à Direita e a todos os que objetivamente apostam nos baixos salários, na precariedade, na descaracterização da negociação coletiva, na colocação de toda a no lado dos trabalhadores como caminhos para o sucesso do "mercado de trabalho". A recente afirmação de António Costa à "Visão" (11/07), "assumimos, perante o presidente Cavaco Silva, que respeitaríamos os compromissos conseguidos em Concertação Social", confirma por que lado ele optou nesta revisão de leis laborais.

Não teremos mudança qualitativa da nossa matriz de desenvolvimento com o Governo aliado à elite empresarial mais conservadora - que continua a dominar a economia e o emprego - e a não valorizar os trabalhadores da Administração Pública, mesmo que faça muitos discursos apelativos e qualitativos aos setores mais inovadores.

Coloque-se o tema da Concertação Social e o do trabalho, em força, no debate eleitoral.»

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