16.5.15

Afrodite?



Dizem-me que foi exactamente aqui, da espuma destas águas de Petra Tou Romiou, em Chipre, que Afrodite emergiu das ondas. E quem sou eu para duvidar… 
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15.5.15

Chipre ortodoxo



Hoje foi dia de trepar até ao ponto mais elevado de Troodos (quase 2.000 metros), a cordilheira mais alta de Chipre, por uma estrada com dois sentidos em que por vezes mal cabe um autocarro. Mas correu tudo bem e valeu a pena para ver uns tantos mosteiros e igrejas ortodoxos por lá semeados.

Destaque para o Mosteiro de Kikkos, o mais importante do país, belíssimo sobretudo por dentro (mas com proibição de fotografar, razão pela qual a imagem que está no cimo deste post não é minha…). O conjunto de ícones, um dos quais atribuído a S. Lucas, é realmente magnífico! Nele vivem actualmente cerca de 20 monges, de vários países, mas são amplas as instalações e abertas mesmo a turistas (com intuitos religiosos, assume-se), que aí podem permanecer algum tempo… gratuitamente.

Este e outros mosteiros dedicam-se à produção de vinho e aguardentes várias e as lojas para compra de souvenirs têm mais garrafas do que ícones. Aliás, a Igreja Ortodoxa cipriota, tal como a grega, parece dar-se bem com o vil metal: é proprietária de uma grande quantidade de terras, tem muitas acções em bancos, a marca mais popular de cerveja pertence-lhe, etc., etc.

Amanhã deixo este país que não cheguei a entender minimamente, mas vou muito curiosa e seguir-lhe-ei as pisadas nos próximos tempos. Tudo isto é bastante confuso, a começar pelo facto de a actual Constituição ratificar o uso de três bandeiras: a cipriota, a grega e a turca! E, de facto, é mais do que corrente ver edifícios apenas com a da Grécia (ou lado a lado com a de Chipre). Um pouco como se se quisesse deixar todo o futuro em aberto. E vou mesmo convencida de que é essa a realidade: isto não fica assim durante muito tempo.



14.5.15

Clima de pré-guerra civil?


Lidos de longe e em diagonal, jornais e redes sociais revelam-me um clima de pré-guerra civil em Portugal. Por causa do Acordo Ortográfico, evidentemente. Keep calm…
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13.5.15

Chipre vinícola



Nem que estivesse a escrever até amanhã conseguiria resumir o que vi nos dois últimos dias em termos de camadas de ruínas, umas reconstruídas e outras nem por isso, pegadas de todas as gentes que por aqui foram passando, em guerras e impérios, desde muitos séculos antes de Cristo. Basta olhar para a situação do Chipre no mapa e pensar nas histórias do Mediterrâneo para ser fácil imaginar, e andar por aqui uns dias para prever que a movimentação não vai ficar pelo presente estado de coisas. Mas adiante, deixo de lado as «pedras» e os oráculos para falar… de vinho.

Estive hoje em Kolossi, perto de Limassol, um vale extraordinariamente fértil onde outrora foram cultivadas vinhas, cana-de-açúcar, oliveiras, algodão, etc., etc. Tem um belo castelo construído no século XV (para substituir um outro anterior, entretanto destruído), e produz-se ainda hoje, nesta região – a Comandaria – um dos mais antigos vinhos de que há memória. Adocicado, parecido com o que se produz na Madeira, com a particularidade de se datar o início da sua produção em 3.500 anos a.c. Aliás, o lindíssimo recipiente que se vê na imagem, destinado a guardar vinho, vem precisamente dessa época e foram encontrados por aqui muitos exemplares semelhantes. Para grande orgulho dos cipriotas, continua-se a produzir e a exportar Comandaria.

Deixando os vinhos e passado para o açúcar: junto do castelo, vêem-se as ruínas de uma antiga fábrica onde um rego de água fazia girar uma pesada pedra circular que esmagava as canas para obter açúcar – depois exportado por essa Europa fora, enquanto os nossos navegadores descobriam mundos.

Amanhã é outro dia. E o fim da estadia aproxima-se.
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12.5.15

Pequenos grandes livros


Crónica de Diana Andringa, hoje na Antena 1:

Há muito, muitos anos, li um dos livros que gostaria de ter escrito – creio que todos nós temos livros assim – mas que logo compreendi não ter, infelizmente, qualidade para escrever. Chamava-se Let Us Now Praise Famous Men, que entendi à letra como Louvemos Agora Grandes Homens, mas que a editora brasileira «Companhia das Letras» titulou Elogiemos os Homens Ilustres.

O livro resulta de uma grande reportagem feita em 1936 pelo jornalista James Agee e o fotógrafo Walter Evans, retratando os efeitos da Grande Depressão na população rural do sul dos Estados Unidos.

Recusada pela revista «Fortune», que a encomendara, a reportagem viria a sair em livro em 1941. Acompanhado pelas fotografias a preto e branco de Walter Evans, o texto de Agee, simultaneamente preciso e poético, dá-nos não apenas a dor e o desespero, mas também a dignidade daqueles que retrata, tornando-se uma referência para estudantes de Jornalismo e de Antropologia.

Lembrei-me de Agee ao ler um pequeno livro – um conjunto de cadernos atados com fio vermelho – editado pela «Cooperativa Outro Modo» e a edição portuguesa de «Le Monde Diplomatique». Nele não há fotografias, apenas – e neste apenas não há qualquer menorização – vozes de pessoas, recolhidas e enquadradas por sociólogos e antropólogos, vozes que falam sobre a sua vida e o seu trabalho, como diz o pós-título. Chama-se Tempos Difíceis, estes tempos em que um homem vê o mundo a fugir-lhe pelas mãos e fica cada vez mais desgastado, como o senhor I , ou uma trabalhadora de um call center desata a chorar no meio de uma chamada porque, vivendo sozinha com a filha, acaba de ser despedida, ou uma «manipuladora de aves», pomposo nome para quem anda de joelhos no estrume a apanhar animais para o matadouro, ao fim da noite já não consegue andar em posição nenhuma, as costas a não aguentar tanto tempo dobradas, os joelhos marcados por um calo de estrume, mas também tempos em que se recorda o sonho de um Portugal mais solidário, mais feliz, onde toda a gente tivesse pão para comer, direito à habitação, à instrução e à cultura, toda a gente tivesse direito ao trabalho e onde as desigualdades sociais não fossem tão abismais. Um livro que nos mostra as pessoas que existem para além do Excel, que mais do que viver acima das suas possibilidades querem ter a possibilidade de viver, a quem os cofres do estado cheios não garantem comida no frigorífico nem salário ao fim do mês.

Um pequeno grande livro, a ler, porque, mesmo que nada nele nos pareça desconhecido, é outra a forma de mostrar a realidade. Um pequeno livro que talvez pudéssemos depôr nas entradas de S. Bento ou da Gomes Teixeira, na esperança de que algum ministro, algum Secretário de Estado, algum assessor, pudesse passar-lhe os olhos antes de vir asseverar, com a voz bem colocada, que o país está, visivelmente, a melhorar.


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11.5.15

E a Turquia aqui tão perto



Não é preciso percorrer muitos quilómetros para Nordeste de Lárnaca para chegar à parte turca de Chipre, não sem antes ter atravessado uma base militar inglesa, avistado uns barracões da ONU e várias guaritas com soldados turcos encavalitados, com a missão de vigiarem sabe-se lá quem ou o quê.

Paragem na «fronteira», entrada de uma funcionária a bordo para simples contagem de cabeças (mas parece que nem sempre é assim e há que não deixar em casa passaporte e cartão de cidadão), visita às importantes ruínas de Salamina e chegada a Famagusta. Podia referir muitas coisas, falar da «cidade fantasma», por exemplo, mas o tempo é pouco e limito-me a mostrar o que, até agora, mais me marcou como símbolo desta terra dividida e ocupada: a catedral gótica de S. Nicolau, construída entre 1298 e 1400 e convertida para mesquita quando os otomanos invadiram Famagusta em 1571. Como tal permaneceu até hoje, com os seus minaretes e agora com duas bandeiras hasteadas na fachada: a da Turquia e a do Estado cipriota turco.

Muito haveria a dizer sobre este Chipre dividido em dois, que ainda não «entranhei». Embora o mundo em geral, e a União Europeia em particular, não reconheçam esta anexação, que tem tantos anos como a nossa democracia, uma coisa é certa: do lado de lá da «linha verde», há uma moeda própria (sem euros, portanto), os bancos são turcos e não obedecem a quaisquer directivas nacionais ou europeias, etc, etc, etc.. Tudo previsto, certamente, e o mundo continua a girar. 


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Mas Lárnaca também é isto


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10.5.15

Chipre – primeiros passos



Aterrei em Lárnaca, na costa sudoeste do país, hoje sobretudo virada para o turismo, no passado ocupada por muitas e variadas gentes, com relevo para os otomanos que por cá ficaram 300 anos.

Cidade orgulhosa de alguns dos seus antepassados, com especial relevo para dois: Zenão, o filósofo grego que aqui nasceu e se mudou para Atenas de onde nos legou o estoicismo; e São Lázaro, o propriamente dito, amigo de Cristo, que terá deixado a Galileia, vindo a tornar-se o primeiro bispo de Cítio (antigo nome de Lárnaca).

Veracidade história mais contestada neste segundo caso (parece que Lázaros havia muitos por estas paragens), o que não impediu que tenha sido construída uma bela igreja bizantina sobre… o seu túmulo. (É dela as imagens que aqui deixo.) Tenho à minha frente um livrinho que explica os detalhes de toda esta história e prometo lê-lo…

Amanhã há mais, irei a «território ocupado» (sic) – a parte turca da ilha, claro. País complicado!