Paulo Moura, jornalista do Público, esteve ou está ainda na China e tem vindo a publicar uma série de textos, que tenho lido com o maior interesse. De realçar um extenso dossier inserido na Revista2 daquele jornal do passado Domingo, mas detenho-me hoje neste artigo de ontem: O
nevoeiro de Chongqing paira sobre o Congresso do Partido Comunista.
Não tivesse eu estado em Chongqing, capital da China em tempos de Chiang Kai-shek, e teria provavelmente passado à frente. Mas estive, há oito anos, e já escrevi em tempos que «não me lembro de alguma vez ter guardado piores recordações de uma cidade: caótica, feiíssima, com uma poluição devastadora». Foi lá que apanhei um barco que me levou, durante três dias, pelo rio Yangtse, até à Barragem das Três Gargantas, então ainda em construção.
Ao ler Paulo Moura, voltam as imagens mas numa escala diferente: quando lá estive, em 2004, julgo que a população rondava os 9 milhões de habitantes, hoje terá cerca de 33. Parece impossível, mas não o é, como muitas outras realidades com que nos deparamos naquele novo centro do mundo. Chongqing, «tal como existe hoje, foi inventada em 1997», com o objectivo de desenvolver esta região do centro do país.
«Em poucos anos, a cidade tornou-se num dos maiores centros industriais do mundo. Grande parte dos motores de automóveis e a maior parte dos motores de motos são construídos aqui, em Chongqing. "E também uma enorme percentagem da indústria de contrafacção e produtos ilegais", acrescenta Zhon Zhiling, engenheiro numa empresa do sector energético. "Em Chongqing não há qualquer lei em vigor, para quem tem dinheiro. Os empresários e os líderes do partido estão conluiados para fazer dinheiro, seja de que maneira for".» Daí que Chongqing já tenha sido considerada como o paradigma da corrupção na China.
Vejo imagens e constato que, de facto, este skyline não existia há nove anos:
Mas a terrível poluição já lá estava e, aparentemente, só terá piorado: «Em Chongqing nunca se vê nada. Um nevoeiro pardo e encharcado envolve os arranha-céus, as montanhas, o Yangtse, o maior rio da Ásia. A cidade seria assombrosa, se a conseguíssemos ver. É assim todo o ano, dizem. As abertas são raríssimas. O capacete não sai. Deve-se à extrema humidade tropical, latitude, interioridade, o rio e as montanhas. Ou à poluição. Já ninguém sabe. É provável que seja tudo junto. (...) Ninguém sabe onde a bruma acaba e a sombra começa. A atmosfera é turva e pegajosa, como um pântano suspenso».
Gostava bem de saber se ainda existe um extraordinário mercado, com um cheiro inesquecível, onde se vendiam os mais extraordinários produtos, sobretudo uns bichos, muitos ainda vivos, que se contorciam em primitivos alguidares. É bem provável que sim.
E espero também que continuem a nascer simpáticos pandas, como este que vi no Jardim Zoológico.
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