10.11.12

Pela China dentro



Paulo Moura, jornalista do Público, esteve ou está ainda na China e tem vindo a publicar uma série de textos, que tenho lido com o maior interesse. De realçar um extenso dossier inserido na Revista2 daquele jornal do passado Domingo, mas detenho-me hoje neste artigo de ontem: O nevoeiro de Chongqing paira sobre o Congresso do Partido Comunista.

Não tivesse eu estado em Chongqing, capital da China em tempos de Chiang Kai-shek, e teria provavelmente passado à frente. Mas estive, há oito anos, e já escrevi em tempos que «não me lembro de alguma vez ter guardado piores recordações de uma cidade: caótica, feiíssima, com uma poluição devastadora». Foi lá que apanhei um barco que me levou, durante três dias, pelo rio Yangtse, até à Barragem das Três Gargantas, então ainda em construção.

Ao ler Paulo Moura, voltam as imagens mas numa escala diferente: quando lá estive, em 2004, julgo que a população rondava os 9 milhões de habitantes, hoje terá cerca de 33. Parece impossível, mas não o é, como muitas outras realidades com que nos deparamos naquele novo centro do mundo. Chongqing, «tal como existe hoje, foi inventada em 1997», com o objectivo de desenvolver esta região do centro do país.

«Em poucos anos, a cidade tornou-se num dos maiores centros industriais do mundo. Grande parte dos motores de automóveis e a maior parte dos motores de motos são construídos aqui, em Chongqing. "E também uma enorme percentagem da indústria de contrafacção e produtos ilegais", acrescenta Zhon Zhiling, engenheiro numa empresa do sector energético. "Em Chongqing não há qualquer lei em vigor, para quem tem dinheiro. Os empresários e os líderes do partido estão conluiados para fazer dinheiro, seja de que maneira for".» Daí que Chongqing já tenha sido considerada como o paradigma da corrupção na China.

Vejo imagens e constato que, de facto, este skyline não existia há nove anos:



Mas a terrível poluição já lá estava e, aparentemente, só terá piorado: «Em Chongqing nunca se vê nada. Um nevoeiro pardo e encharcado envolve os arranha-céus, as montanhas, o Yangtse, o maior rio da Ásia. A cidade seria assombrosa, se a conseguíssemos ver. É assim todo o ano, dizem. As abertas são raríssimas. O capacete não sai. Deve-se à extrema humidade tropical, latitude, interioridade, o rio e as montanhas. Ou à poluição. Já ninguém sabe. É provável que seja tudo junto. (...) Ninguém sabe onde a bruma acaba e a sombra começa. A atmosfera é turva e pegajosa, como um pântano suspenso».

Gostava bem de saber se ainda existe um extraordinário mercado, com um cheiro inesquecível, onde se vendiam os mais extraordinários produtos, sobretudo uns bichos, muitos ainda vivos, que se contorciam em primitivos alguidares. É bem provável que sim.


E espero também que continuem a nascer simpáticos pandas, como este que vi no Jardim Zoológico.

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Para décadas



«O ministro das Finanças disse esta semana que o ajustamento em Portugal não é coisa para anos, mas para décadas. O que é espantoso é que não se interrogue sobre três coisas. A primeira é se não haverá um caminho alternativo que nos poupe a esta imensa dor social. A segunda é se pensa que este calvário se pode fazer sem uma violenta convulsão social. E a terceira é saber onde pensa encontrar trabalhadores motivados para dar a volta à situação. É só e é tudo.»

Nicolau Santos, Expresso «Economia»
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Sempre oportuno


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E quanto a Obama



Ainda bem que foi eleito, mas:

«"O melhor ainda está para vir", proclamou na noite da reeleição. Obama anuncia, à sua maneira profética, o mesmo que os governantes europeus anunciam com menos elegância oratória: que, sangrado o doente, virá a saúde eterna. Mas, na verdade, o que ele promete é apenas a continuidade da sangria. Obama é um democrata clintoniano e não rooseveltiano. Nunca o ouvirão dizer – como disse esse seu antecessor – que compreende as razões dos que odeiam os ricos. Não, como Clinton, ele dará continuidade à orientação antissindical, à política de rebaixamento dos salários, à cumplicidade com Israel contra a Palestina, à manutenção do império dos combustíveis fósseis e ao dogma de que os bancos são demasiadamente grandes para falirem.

Um Obama assim é a prova da perversão de um sistema político em que os democratas dão por garantido o voto da esquerda e, por isso, apostam sempre na sedução à direita. De tal forma que ficam eles próprios seduzidos pelo objecto da sedução. Talvez esta seja a mais útil contribuição das eleições americanas para Portugal.»

José Manuel Pureza

9.11.12

Solidariedade é isto


A redacção de El País guardou alguns minutos de silêncio como forma de protesto e, depois (a partir do minuto 5:40), contou em voz alta até 149 – o número de despedimentos previsto, 1/3 do total de trabalhadores. 

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O povo é sereno



Ninguém imagina que se pudesse convocar, hoje, uma manifestação de apoio ao actual governo! Mas foi o que aconteceu, em 9 de Novembro de 1975, em relação ao VI Governo Provisório e ao primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo, por iniciativa de PS e PSD (secundados por CDS, PPM e PCP de P-ML). Contra as forças à esquerda do PS, obviamente.

Terreiro de Paço cheiíssimo (quando não era moda dizer-se que terá sido «a maior manifestação de sempre», ainda bem presentes que estavam as multidões de homenagem a Salazar...) e tudo como previsto, até que granadas de fumo e de gás lacrimogéneo rebentaram, e se ouviram alguns tiros, durante o discurso de Pinheiro de Azevedo. «O povo é sereno, é apenas fumaça!», gritou este, numa tirada que ficou para a pequena história.

A esquerda da esquerda viu a cena em casa, em directo televisivo (je, moi...) e riu a bandeiras despregadas. Quem lá estava não ganhou para o susto.


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Foi há 23 anos



... que caiu o muro de Berlim. Pretexto para o recordar, através deste conjunto de fotografias e pequenos vídeos, entre os quais um com um excerto do discurso de J.F.Kennedy, em 26/6/1963: «Ich bin ein Berliner».



Declaração de todos os reitores das universidades públicas


Hoje, sobre a política do governo em relação ao sector.

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Comício internacional



9 de Novembro, 21h30 
Pavilhão do Casal Vistoso (metro Areeiro), Lisboa
  • Alexis Tsipras (Syriza) 
  • Jean-Luc Mélenchon (Parti de Gauche) 
  • Gabriele Zimmer (Die Linke) 
  • Cayo Lara (Izquierda Unida) 
  • Alda Sousa (Bloco de Esquerda)
  • Francisco Louçã (Bloco de Esquerda)
  • Marisa Matias (Bloco Esquerda)

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O fantasma de Cavaco



Ele já reapareceu fugazmente, mas Ricardo Araújo Pereira terá escrito esta crónica antes do feliz acontecimento ou nem acreditou no que viu...

«Desapareceu do seu palácio Aníbal Cavaco SIlva. Quando foi visto pela última vez, vestia fato escuro e gravata azul. É de estatura média e em princípio não dispõe de meios financeiros para se deslocar ou garantir o seu sustento, uma vez que, segundo se sabe, a reforma não lhe chega para as despesas.» 

Na íntegra AQUI.
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8.11.12

Lisboa veste-se

Entretanto na China



Começou hoje em Pequim o XVIII Congresso do Partido Comunista Chinês e tão entretidos andamos com as nossas tragédias domésticas que só nos últimos dias está a ser dada alguma atenção a este importante acontecimento. 2.270 delegados estão reunidos no Palácio do Povo da Praça Tiananmen, numa cidade guardada por 1,4 milhões de polícias e vigilantes voluntários – números que escapam à nossa imaginação...

Ascenderá ao poder uma nova geração de líderes dos quais dependerá um quinto da humanidade – e os outros quatro quintos também. Na sessão de abertura, Hu Jintao discursou durante uma hora e meia e pôs a tónica na luta contra a corrupção, sem dúvida um dos principais males do país. Luta que será tão severa que castigará, «sem clemência, qualquer pessoa envolvida, seja qual for o seu poder ou cargo que ocupe».

Muito se escreverá, nos próximos dias por esse mundo fora, sobre este congresso e sobre a China. (A propósito: quem tiver em casa a «Revista2» do Público de Domingo passado não deixe de ler o extenso e excelente dossier elaborado por Paulo Moura.)

Marginalmente, chama-se a atenção para o papel das novas «primeiras damas rebeldes»: com as mulheres dos próximos presidente e vice-presidente, poderá ter chegado ao fim o seu tradicional low profile. Peng Liyuan, casada com Xi Jinping, é uma das cantoras mais famosas do país. Começou como soldada, cantou em bandas militares e actua sempre numa gala televisiva anual, vista por centenas de milhões de pessoas. Não resisto: 



Algo se semelhante para uma futura primeira dama de Belém? Isso é que era!

(Muita informação aqui e aqui.)
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Por três votos



... se ganha uma votação e se pode perder um país.

Ontem , no parlamento de Atenas, teriam sido necessários 150 votos a favor para a aprovação do novo pacote de austeridade e, depois de muitas peripécias, foram obtidos 153.

Tudo em ordem, as regras do jogo parlamentar foram cumpridas. E, sim, são as «menos piores» de todas as que temos (embora, no caso grego, estejam viciadas a montante com o bónus de 50 deputados adicionais com que é brindado o partido mais votado – neste caso, a Nova Democracia).

Mas ver o destino de um país dependente de uma espécie de desafio, em que por um golo se perde ou por outro se ganha, não pode deixar de causar perplexidade e de levar a ter esperança de que, um dia, melhores sistemas virão – que instaurem, e defendam, verdadeiras democracias. Quais? That's the one million dollar question.

Todos os detalhes sobre a votação aqui ou aqui
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Atenas, 7 de Novembro

7.11.12

Com um dia de atraso



Não sei se foi por um acto falhado que não me lembrei ontem das quatro horas televisivas que passei, há 37 anos, nesta mesma sala, em frente de um écrã mais pequeno e não colorido. Estou a referir-me ao célebre debate entre Cunhal e Soares, em 6 de Novembro de 1975, que ficou para a história sobretudo com o registo da frase com que Cunhal respondeu a Soares, quando este afirmou que o PC dava provas de querer transformar Portugal numa ditadura: «Olhe que não! Olhe que não!»

E falo de acto falhado da minha parte porque, no ponto em que estamos, me é relativamente doloroso recordar as esperanças que então tínhamos, mesmo em situação conturbada e a poucos dias do fim do PREC. 

Mário Soares ainda anda por aqui, agitadíssimo e, ao contrário do que possa parecer e do que muitos apregoam, absolutamente igual a si próprio e ao seu PS.

Tropecei nesta citação do debate, que me fez sorrir – sorriso amarelado, obviamente:

Álvaro Cunhal – «A aliança dos socialistas portugueses (...) é com os comunistas e com as forças de esquerda contra a reacção fascista, contra as forças da direita. Se os socialistas assim o compreenderem, podem dar uma contribuição muito positiva para a construção dum novo Portugal.» (Daqui.)


 

Recepção a Merkel no Parlamento Europeu

Na noite em que Isabel Jonet transformou Rui Vilar e Manuela Ferreira Leite em perigosos esquerdistas



As posições de Isabel Jonet, que lidera 247 bancos alimentares na Europa, como presidente da respectiva Federação Europeia, não são propriamente novidade e, desde há muito, que se sabe de que lado da barricada é que se situa: o da caridadezinha mais básica. Mas ontem à noite, na SIC Notícias, conseguiu exceder todas as expectativas! Se o actual governo se «refundar», já sabe onde encontrar uma boa candidata a ministra de qualquer coisa. 

Vale a pena ouvi-la. (Fica também o debate na íntegra.)



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O verbo e a verba



Com todas as diferenças ideológicas que me separam de Bagão Félix, considero que é umas das pessoas que, nas últimas semanas e com um discurso que todos compreendem, melhor tem explicado como é profundamente errado o caminho que este governo está a seguir, no seu experimentalismo devastador para o Estado social. 

Fá-lo, uma vez mais, em artigo de opinião no Público de hoje (sem link). Mesmo não concordando inteiramente com tudo o que escreve, destaco alguns parágrafos (e divulgo, também, o texto na íntegra): 

«Se no princípio era o verbo (refundar), no fim é a verba (redução estrutural da despesa). (...)
Só há uma forma consistente de sanear as finanças públicas: menos despesa para menos impostos e não mais impostos para mais despesa. O verdadeiro imposto é a má despesa: a despesa injustificada, ineficiente ou injusta. (...)
O debate sobre a despesa tem-se centrado agora à volta do Estado social. Importa recordar que este é uma conquista civilizacional que, embora com muitas imperfeições e falhas, tem contribuído para uma maior coesão social e correcção de desequilíbrios. Sem pensões e subsídios, a pobreza não atingiria apenas 18% da população, antes alcançaria 41%. (...)
A sustentabilidade do Estado social passa, em primeiro lugar, por se gerarem os recursos necessários para a sua preservação e reformulação. (...)
A salvaguarda do Estado social exige tempo, perseverança, atitude construtiva, sentido de responsabilidade, humanismo radical e capacidade de resistir aos interesses protegidos. (...) É uma questão estruturalmente geracional que os portugueses julgarão. De outra forma, não haverá respostas para as crianças e jovens de hoje: o futuro de Portugal!»


Texto na íntegra:

Nem tudo corre mal.



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6.11.12

Countdown -6: A Merkel não manda aqui!



Dia 12 de Novembro, Angela Merkel vem a Portugal.

E Angela Merkel representa a Europa da austeridade, a Europa nas mãos do poder financeiro, a Europa dos directórios, do poder político não sufragado, a Europa cada vez mais sujeita a instâncias internacionais que promovem a destruição das nossas economias e sociedades. Angela Merkel é uma das figuras de proa da ideologia que nos impõe a pobreza, o desemprego, a precariedade e a destruição do estado social, tendo a troika e os governos troikistas como armas.

Não admitimos que outros decidam por nós. Não aceitamos que os nossos governos aceitem que nos destruam a todos para favorecer alguns. Recusamos em absoluto que as decisões sejam tomadas por quem não elegemos, mesmo quando quem elegemos se submete de bom grado a decisões que, pura e simplesmente, nos destroem.

Angela Merkel simboliza tudo isto. Por isso, queremos deixar muito claro que não manda aqui. Nunca votámos nela. Recusamos a austeridade que quer impor à Europa, como rejeitamos os governos que a aceitam.

Por tudo isto, vamos dizer-lhe, muito claramente: Fora Daqui!

Saindo do Largo do Calvário às 13h, seguiremos até Belém onde expressaremos claramente que a Merkel Não Manda Aqui!

(Daqui.)


Ler: Protesto contra Merkel desvaloriza alertas sobre violência durante visita
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Para pioneiros tecnológicos



Muito mais aqui

(Via Virgílio Vargas)
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Sophia – «Vemos, ouvimos e lemos»



Por ocasião do 93º aniversário do nascimento de Sofia de Melo Breyner, alguns blogues e sobretudo o Facebook, encheram-se de fotografias e de poemas seus. 

Escolho recordá-la como a resistente à ditadura, que foi, durante décadas, até ao 25 de Abril. Juntamente com o seu marido, Francisco Sousa Tavares (o «Tareco», para os que éramos seus amigos), nunca recusou uma presença, uma assinatura, uma voz, integrada no universo dos «católicos progressistas».

Foi candidata pela oposição (CEUD) às eleições legislativas de 1969 e, um ano antes, escreveu propositadamente um poema que muitos cantam mas poucos sabem ser de sua autoria: a Cantata da Paz, tão divulgada por Francisco Fanhais depois do 25 de Abril, e que foi por ele «estreada» numa Vigília contra a guerra colonial, na passagem do ano de 1968 para 1969 (onde Sophia esteve obviamente presente).

(Cabeçalho do folheto policopiado, distribuído na igreja de S. Domingos, em 31/12/1968, com a letra da «Cantata da Paz)


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A guerra das pequenas facturas



Leio mais uma notícia vinda da Grécia e interrogo-me sobre os possíveis efeitos da concretização do que terá sido decretado, para já a título experimental e apenas na área da restauração. Num esforço para diminuir a evasão fiscal, reconhecida como muito grande naquele país, o governo decidiu que os consumidores a quem seja recusada uma factura têm o direito de sair sem pagar.

Não é dito como é que cada uma das partes prova os factos. Com testemunhas? Com câmaras de vigilância sonoras? 

Além disso e sobretudo: no estado caótico em que se encontra a sociedade grega, lançar uma parte dos cidadãos contra uma outra, de pequenos comerciantes neste caso (porque é deles que se trata, pelo menos para já), pode ser engenhoso, e nem sei se deliberado, mas é certamente perigoso: «musculados» como os gregos são, e desesperados como se encontram, é bem possível que as discussões facilmente imagináveis não se limitem a alguns empurrões. Não será certamente razão para início de uma guerra civil, mas é brincar com o fogo. (Ou não? Haverá cumplicidade entre clientes e comerciantes? Não faço ideia.)

E se algo de semelhante fosse decidido em Portugal, onde essa cumplicidade para pequenas fugas ao fisco cresce de dia para dia? Julgo que tudo acabaria sem problemas, com o dono da tasca a fazer um desconto, a oferecer um café – ou a dar a facturazinha... A «refundação» não passará por aqui.

(Fonte da notícia)
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Bom conselho


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5.11.12

O Estado caritativo



Este terrível título da primeira página do Púbico de hoje remete para um extenso dossier (sem link) sobre o «Programa de Emergência Alimentar». Logo na primeira frase, uma jornalista comenta que «o nome faz pensar num país atingido por uma seca devastadora, ou a braços com uma guerra». De facto.

Os primeiros acordos assinados entre o governo e cantinas de vários serviços datam de Abril e, neste momento, são já financiadas mais de 34 mil refeições por dia. Em duas páginas, seguem-se gráficos e números e mais números de localizações, de refeições, de pessoas.

O Estado social a ser substituído pela caridade exercida pelo próprio Estado – como líamos há uns meses nas notícias sobre a Grécia, ainda crentes que não as veríamos por cá. Engano nosso. 

Mas quem é toda esta gente? «São pessoas que na sua maioria estavam empregadas ou recebiam subsídios que, por sua vez, permitiam fazer face aos seus compromissos e às suas despesas fixas», diz alguém da Caritas de Setúbal.

E têm rostos que não vemos, mas nomes que nos são por vezes revelados, como o do. protagonista de uma das histórias relatadas. Já trabalhou num Call Center, já teve uma bolsa, viveu depois à custa da namorada que, entretanto, também ficou desempregada. Enviou currículos, tem ido a entrevistas. Entretanto:

«De manhã, o recém-formado em Engenharia Electrotécnica Adilson Gonçalves, de 25 anos, saiu de casa com uma camisa de xadrez, os colarinhos a saírem do pullover de malha, o casaco de cabedal preto. Impecável. Foi à Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova, no Monte da Caparica, onde dentro de duas semanas defende a sua tese de mestrado, e depois dirigiu-se ao lar de idosos Granja Luís Rodrigues, da Santa Casa da Misericórdia de Almada. Sentou-se num banco do jardim, apesar das nuvens ameaçarem chuva. Esperou que lhe trouxessem um saco com o almoço e o jantar. E saiu. Adilson é um dos beneficiários do Programa de Emergência Alimentar.»

Assim vamos. Até onde e até quando? Não sabemos, ninguém sabe.
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Edmundo Pedro – Memórias aos 94



Edmundo Pedro faz 94 anos em 7 de Novembro e, no dia seguinte, é lançado o terceiro volume das suas Memórias. 

No primeiro, publicado em 2007, relata a vida desde a infância até ao regresso do Tarrafal para onde foi deportado com 17 anos. No segundo (2011), o que se segue até ao 25 de Abril. Neste, teremos o que se passou desde a Revolução.

8 de Novembro, 18:30 
Auditório do Edifício Novo da Assembleia da República 
Apresentação por Maria Barroso e Luís Osório 
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O que se deseja hoje na Grécia

Leituras boas, em vésperas da breve aparição da senhora



Segundo dois economistas de universidades belgas, citados hoje por Jorge Nascimento Rodrigues no Expresso online, a Alemanha deve assumir os riscos dos erros que cometeu, na medida em que «os bancos alemães emprestaram montantes enormes aos países periféricos sem terem realizado uma análise de crédito adequada». 

Este mecanismo criou «a ilusão de que não havia risco envolvido» quando, de facto, este crescia de ano para ano – sobretudo entre 2011 e 2007.

Hoje, os mesmos falam de uma possível desintegração da zona euro como «se a pertença dos "periféricos" fosse uma fralda descartável». Mas se alguns destes países entrarem em bancarrota, o sistema bancário alemão terá de ser resgatado pelo governo de Berlim.

A Alemanha podia ter evitado esta trajectória «reduzindo os seus excedentes», mas continua a recusar fazê-lo.

Na íntegra aqui
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Portugal esvazia-se

4.11.12

«Cuba en el corazón» (Manuel António Pina)



Em busca de um outro texto, tropecei numa crónica de MAP, publicada  em 2/1/2009, e   que   já não encontro online no JN. Assino-a por baixo, da primeira à última linha, e estou certa de que o mesmo acontece com muitos outros que a leiam.

«Não sei se acontece o mesmo com toda a gente: o meu coração vai sempre uns metros à frente da minha razão; quando a razão chega, já o coração – ou lá o que é – partiu de novo.

Daí que tenha às vezes a impressão de que a minha razão (e no entanto sou, até em excesso, comummente racional) preside a uma ausência.

Na vida, só em raros momentos felizes razão e coração batem unanimemente, sem ressentimentos, pois se a razão é complacente, poucas vezes o coração se submete às considerações da razão.

A Revolução Cubana, que faz 50 anos, é um difícil conflito que tenho comigo mesmo. Ao longo dos anos, o meu coração, transbordante de jovens rebeldes descendo da Sierra Maestra de rifles na mão e corações limpos, sangrou com Padilla preso e humilhado (“Diz a verdade,/ diz, ao menos, a tua verdade./ Depois, deixa que qualquer coisa aconteça”), com Arrufat, Reynaldo Arenas, Raul Rivero… “La sangre, no quería verla”, e fechava os olhos.

Mas se o coração explica tudo, mesmo o inexplicável, a razão não. Cuba é hoje a recordação de algo íntegro e novo que, se calhar, nunca aconteceu senão dentro do meu coração.»

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Em 14 de Novembro de 1152 AC – a primeira greve



Reinava no Egipto Ramsés III e os trabalhadores que estavam a construir o seu túmulo protestaram por terem salários em atraso. Salários que consistiam de cereais e que, havia um mês ou dois, não eram distribuídos a pedreiros, cinzeladores, pintores, carpinteiros, marceneiros, mumificadores, guardas e artesãos de todos os tipos.

Ao fim de três dias de greve, os trabalhadores acabaram por invadir o templo funerário do faraó Ramsés II e declararam: «Viemos até aqui porque temos fome, porque não temos roupa, nem peixe, nem óleo, nem verduras. Contai isto ao faraó, nosso Bom Senhor, e ao Vizir, nosso Chefe. Fazei com que possamos viver.»

Durante os dois meses que se seguiram os pagamentos foram irregulares, o que deu origem a novos protestos. Só mais tarde se regularizaram. 

(Fonte)

Quando fizermos a próxima greve, em 14 de Novembro deste ano, estaremos a festejar um aniversário inesperado.

Europa, Europa


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Merkel manda, Durão apaga-se




Ela nunca perceberá que aquilo de que a Europa e a própria Alemanha precisam é de um verdadeiro objectivo de crescimento, como alguns (não só Ulrich) têm vindo a dizer: o tal «Plano Merkel» (por associação ao Plano Marshall do pós guerra) que, esse sim, inscreveria o seu nome, a dourado, na história do Século XXI. Assim, vê-lo-á a negro, como negras serão as nossas vestimentas quando nos visitar um dia destes.

Entretanto, aquele compatriota, cuja nomeação para a União Europeia tanto honrou os portugueses, passa entre os pingos da chuva belga. Nem poderá contar os navios do Tejo como Cavaco, deve entreter-se a atear a lareira e a comer pipocas.

Julgo que não terá sido para isto que foi criada a União Europeia. Mas posso estar enganada, claro. 
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