4.2.17

Refugiados: drama sem fim à vista




«Un millier de réfugiés squattent le centre de Belgrade, dans des hangars abandonnés, le froid et les fumées toxiques. (…) 
«La température est passée sous les -10°C ces derniers jours. Pour se réchauffer, on brûle tout ce qui passe. Bois, plastiques, vêtements... Mais surtout, les traverses de l'ancienne voie ferrée. Ce sont ces planches imprégnées d'hydrocarbures qui émettent cette fumée hyper toxique. "Ici, 99,9 % des personnes sont malades".» 
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Uma data, muitas efemérides



Se todos os dias do ano estão associados a nascimentos de pessoas que, por diferentes razões, marcaram os nossos percursos, 4 de Fevereiro é um deles. Nesta data, vieram ao mundo Rosa Parks, Jacques Prévert, Fernand Léger e, dentro de muros, Almeida Garrett, Henrique Galvão e... Alberto João Jardim.

Escolho Rosa Parks. Nasceu em 4 de Fevereiro de 1913 e morreu em 2005. Ficará para sempre como um dos símbolos do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, juntamente com Martin Luther King, e ficou famosa por ter recusado ceder o seu lugar no autocarro a um branco, no dia 1 de Dezembro de 1955. Foi então presa mas, em poucos dias, os negros de Montgomery organizaram um boicote à discriminação nos autocarros, que durou um ano, e ganharam a batalha: até aí, eram obrigados a ocupar os lugares traseiros e a cedê-los aos brancos se o autocarro enchia.



Mas foram também muitos os acontecimentos que marcaram o rumo das nossas histórias e cito apenas três (de importância desigual, eu sei...): o início da Conferência de Ialta (1945), entre Roosevelt, Churchill e Estaline para ser decidido o fim da Segunda Guerra Mundial e a repartição das zonas de influência entre o Oeste e o Leste, e claro, acima de tudo, o início da Guerra Colonial.

Com o país ainda agitado pelo assalto ao Santa Maria, que só chegaria a Lisboa alguns dias depois, 4 de Fevereiro de 1961 marca o início da luta armada em Angola, concretizado numa revolta em Luanda, com ataques à Casa de Reclusão, ao quartel da PSP e à Emissora Nacional.

Os acontecimentos precipitaram-se com graves ataques no Norte de Angola, na noite de 14 para 15 de Março, enquanto em Portugal se desenvolvia uma tentativa de Botelho Moniz para afastar Salazar. Mas Américo Tomás reitera a sua confiança no Presidente do Conselho e este anuncia uma remodelação ministerial que o fará assumir também a pasta da Defesa Nacional. É então, em 13 de Abril, que lança uma frase que ficará célebre: «Andar, rapidamente e em força!»



Depois... foi o que se sabe. Durante mais treze anos.
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Dica (491)




«'The irony is that those who have suffered the most in the last 25 years will be the first victims,' says Mr Stiglitz.» 
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Mais uma vez: o ascenso do "trumpismo" nacional



 José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«Falar de Donald Trump é a coisa mais importante sobre a qual se pode falar nestes dias. Tudo o resto parece menor e é efectivamente menor, e sinto-me quase escapista se falar de política doméstica face ao que está a acontecer ao mundo. (…)

E como falamos para Portugal, quando muito com efeitos caseiros, é de Trump em Portugal que tem interesse falar. Isto, porque Trump é a mais grave consequência de muitos anos de desleixo político em nome de uma certa “economia” política, da crise da social-democracia, que se impôs depois de 2008, e que pode ter efeitos muito perigosos, mas pode também ter efeitos benéficos. Trump polariza, a seu favor e contra, e esse efeito polarizador maximizará os seus apoiantes, mas também fará sair de uma longa letargia os seus adversários. Trump teve a vantagem de não permitir qualquer benefício da dúvida e de ser tão claro no sentido da sua intervenção, que provocou uma imediata reacção negativa, que, um pouco por todo o lado, tem vindo em crescendo. Esse fenómeno é global e não permite muitas hesitações. (…)

Será que são “radicais”, como acusa a direita portuguesa aos que não dão qualquer benefício de dúvida a Trump? Na linguagem simplista que, quer queiramos quer não, faz algum sentido na política redutora dos nossos dias, Trump é de esquerda ou de direita? A resposta é muito clara: Trump é de direita, de uma direita agressiva e pouco democrática, proteccionista e pouco liberal, que da política quer a opinião das massas, mas não quer os procedimentos da democracia e o primado da lei, ou seja, usa a demagogia, a irmã perversa da democracia, para um caminho perigosamente autoritário. (…)

Neste contexto, Trump é um problema para a direita, que detesta o seu lado revolucionário e anticonservador, mas que o aceita muito mais do que o pode admitir. Aliás, é interessante verificar que, quase sem excepção, os artigos escritos à direita em Portugal sobre Trump têm como motivação muito mais a crítica aos críticos de Trump do que a crítica a Trump. Embora não possa garantir ter lido todos, ainda estou para ver um artigo, comentário, declaração vindo da direita portuguesa que seja apenas… contra Trump. E não faltam motivos. O que há é ataques aos que atacam Trump, e depois desgosto com a personagem, mas a economia da indignação vai para os “radicais” que o atacam, muitas vezes colocados no mesmo plano. Outra variante é dizer que Trump está a fazer o mesmo que fez Obama ou Clinton, só que gabando-se, em vez de esconder a mão, como eles fizeram. Na aparência pode ser verdadeiro, como é o caso do muro com o México que já existia, mas toda a gente sabe que, no domínio simbólico da política, o muro de Trump, “pago” pelos mexicanos como sinal da sua culpa colectiva, é uma coisa completamente diferente do de Obama. Do mesmo modo, há uma diferença abissal entre “banir” a entrada de imigrantes ilegais, e ter todo o cuidado com a imigração de zonas de conflito, e “banir” as entradas de países muçulmanos porque são muçulmanos. E mesmo assim “banir” só os países muçulmanos onde Trump não tem negócios, e não aqueles como a Arábia Saudita que efectivamente exportaram mais terroristas para os EUA e para todo o Médio Oriente.

Trump chegou à presidência americana num período de geral radicalização da direita e de destruição do centro. Trump e a direita portuguesa partilham os inimigos. Ora, na lógica dos mecanismos redutores da política dos dias de hoje, essa direita vai-se encostar cada vez mais a ele, tanto mais quanto Trump pareça ir perder, porque os seus adversários são os seus, e os inimigos dos meus inimigos meus amigos são. A comunidade de adversários é, em tempos de crise, um poderoso factor de aproximação. Será muito pouco bonito de ser ver, mas vai-se ver, ou melhor, já se está a ver.» 
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3.2.17

Esta não seria grave


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Mariana Mortágua, hoje na AR



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«America first»? Quem é o segundo?



A Holanda começou. A esta hora, mais seis países europeus aderiram. (Irei actualizando este post.)














Da série: «Grandes títulos»



Falta um «preto», um transgénero e uma coxa, não é?
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Trump lovers



«Após os primeiros dez dias de Trump na presidência dos EUA, ainda há quem arranje uma dúzia de razões para justificar, ou defender, Trump. O argumento mais comum é o "ao menos ele cumpre o que prometeu", muitas vezes dito pelas mesmas pessoas que diziam (para justificar o que Trump afirmava durante a campanha): "Está a exagerar. Depois não vai ser assim, é só para ganhar uns votos, vai ser um bom Presidente."

O amor é cego. Por isso, Nuno Rogeiro cegou e veio à SIC Notícias dizer, em jeito de resumo, que nesta primeira semana de Trump o que tinha sido muito mau foi o conjunto de "mentiras contra Trump usadas pelo media". (…) Das duas uma, ou Nuno Rogeiro é intelectualmente desonesto, ou só é possível todo este entusiasmo, simpatia e manipulação de números porque ele e o Trump têm o mesmo cabeleireiro. É uma mistura de taxidermia de esquilos com penteado. Não é por mero por acaso que Nuno Melo também alinha com este discurso. (…)

É ridículo tentar deitar amaciador em Trump, Maduro, Erdogan ou outros líderes com a justificação do "democraticamente eleitos". Ser democraticamente eleito não faz de ti um democrata. A democracia é tão permissível a ponto de permitir a vitória de um ditador. Mas, se for uma saudável democracia, terá anticorpos e uma Constituição que lhe permita voltar a ser o que era.

Em relação a Trump, não pode haver um meio-termo - "eu gosto de umas coisas dele, mas esta última não aprecio muito". Não estamos a falar dos Capitão Fausto. Trump é daquelas pessoas que ou se ama (e recebes uma mesada e levas uns apalpões) ou se odeia, se és uma pessoa. Quem ama que se assuma sem justificações que acabam por trair esse amor.

Os EUA entraram numa fase, prevista no "1984" do George Orwell, onde o governo nos diz para não acreditarmos no que vemos e ouvimos e apenas no que ele nos diz. Eu vou alinhar nessa ideia. Por exemplo, quando Trump diz que é mentira que o busto de Martin Luther King tenha sido retirado da Sala Oval e que foi tudo mentira dos media, acredito nele e imagino que, na realidade, o busto não foi retirado, saiu por vontade própria. Foi a rebolar e pirou-se. Tinha vergonha de estar ali. Ainda aparecia a malta do KKK toda contente por o Presidente dos Estados Unidos ter a cabeça decepada de um negro ao lado da secretária.»

2.2.17

Dica (490)




«A secretive network of business lobbyists has long held sway in US politics. Now their allies in the UK government are planning a Brexit that plays into their hands.» 
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A fotografia que se tornou viral

As novas tecnologias e o suicídio por amor: uma arreliadora incompatibilidade



Na Visão de hoje, Ricardo Araújo Pereira explica como o final de «Romeu e Julieta» seria diferente no tempo dos telemóveis.

«- Estou?
- Romeu, é Frei Lourenço. Tudo bem? Olha, é só para avisar que a Julieta não está mesmo morta. Parece que está mas não está. Foi uma poção que eu lhe dei, pá.
- Ah, óptimo. Que susto. É que parece mesmo morta. Sendo assim, vou pô-la em posições esquisitas e tirar umas fotografias engraçadas para colocar no snapchat #falsofalecimento. Já te mando.»

Na íntegra AQUI
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Steve Bannon? Isto promete!




«The United States and China will fight a war within the next 10 years over islands in the South China Sea, and “there’s no doubt about that”. At the same time, the US will be in another “major” war in the Middle East.

Those are the views – nine months ago at least – of one of the most powerful men in Donald Trump’s administration, Steve Bannon, the former head of far-right news website Breitbart who is now chief strategist at the White House.»
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Dica (489)



The Opposition Is Born. (Corey Robin) 

«Trump thinks he can do what he’s doing now because no one will stop him. He’s wrong.»
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1.2.17

Disneyland


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Vítor Baía?!




Ignorância minha, certamente, que ignorava o passado ligado à coisa pública deste ex-futebolista. Ou então... isto de política e futebol ainda anda mais ligado do que eu pensava. Ou ainda… o PSD está mesmo aflito na procura de candidatos para as próximas autárquicas! 
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É isto, assino por baixo



Daniel Oliveira no Expresso diário de 01.02.2017:


..(...)



E o mundo vai-se rearrumando, pois claro




«There are strong signs that countries in Asia and the Pacific region are turning away from the United States and tilting toward China as the Trump administration emphasizes "America First."

Perhaps the most alarming signals are coming from Australia, a country that has deep cultural and historical ties to the United States but which depends on exports of raw materials to China. Donald Trump is deeply unpopular in Australia, which like the United States is an immigrant nation.»
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Morrer com dignidade



Quando este tema começa a ser discutido hoje na Assembleia da República, volto a divulgar o texto de um Manifesto, que subscrevi e que esteve na base da criação do Movimento Cívico para a Despenalização da Morte Assistida. Foi o pontapé de saída para o que agora está a acontecer.

Somos cidadãs e cidadãos de Portugal, unidos na valorização privilegiada do direito à Liberdade. Defendemos, por isso, a despenalização e regulamentação da Morte Assistida como uma expressão concreta dos direitos individuais à autonomia, à liberdade religiosa e à liberdade de convicção e consciência, direitos inscritos na Constituição.

A Morte Assistida consiste no acto de, em resposta a um pedido do próprio — informado, consciente e reiterado — antecipar ou abreviar a morte de doentes em grande sofrimento e sem esperança de cura.

A Morte Assistida é um direito do doente que sofre e a quem não resta outra alternativa, por ele tida como aceitável ou digna, para pôr termo ao seu sofrimento. É um último recurso, uma última liberdade, um último pedido que não se pode recusar a quem se sabe estar condenado. Nestas circunstâncias, a Morte Assistida é um acto compassivo e de beneficência.

A Morte Assistida, nas suas duas modalidades — ser o próprio doente a auto-administrar o fármaco letal ou ser este administrado por outrem — é sempre efectuada por médico ou sob a sua orientação e supervisão.

A Morte Assistida não entra em conflito nem exclui o acesso aos cuidados paliativos e a sua despenalização não significa menor investimento nesse tipo de cuidados. Porém, é uma evidência indesmentível que os cuidados paliativos não eliminam por completo o sofrimento em todos os doentes nem impedem por inteiro a degradação física e psicológica.

Em Portugal, os direitos individuais no domínio da autodeterminação da pessoa doente têm vindo a ser progressivamente reconhecidos e salvaguardados: o consentimento informado, o direito de aceitação ou recusa de tratamento, a condenação da obstinação terapêutica e as Directivas Antecipadas de Vontade (Testamento Vital). É, no entanto, necessário, à semelhança de vários países, avançar mais um passo, desta vez em direcção à despenalização e regulamentação da Morte Assistida.

Um Estado laico deve libertar a lei de normas alicerçadas em fundamentos confessionais. Em contrapartida, deve promover direitos que não obrigam ninguém, mas permitem escolhas pessoais razoáveis. A despenalização da Morte Assistida não a torna obrigatória para ninguém, apenas a disponibiliza como uma escolha legítima.

A Constituição da República Portuguesa define a vida como direito inviolável, mas não como dever irrenunciável. A criminalização da morte assistida no Código Penal fere os direitos fundamentais relativos às liberdades.

O direito à vida faz parte do património ético da Humanidade e, como tal, está consagrado nas leis da República Portuguesa. O direito a morrer em paz e de acordo com os critérios de dignidade que cada um construiu ao longo da sua vida, também tem de o ser.

É imperioso acabar com o sofrimento inútil e sem sentido, imposto em nome de convicções alheias. É urgente despenalizar e regulamentar a Morte Assistida.

Adelino Gomes, Aldina Duarte, Alexandre Quintanilha, Álvaro Beleza, Ana Drago, Ana Gomes, Ana Luísa Amaral, Ana Matos Pires, Ana Zanatti, Anabela Mota Ribeiro, André Freire, António Canastreiro Franco, António-Pedro Vasconcelos, António Pinho Vargas, António Sampaio da Nóvoa, Boaventura Sousa Santos, Capicua, Carlos Alberto Moniz, Catarina Portas, Clara Ferreira Alves, Cláudio Torres, Constantino Sakellarides, Cristina Sampaio, Daniel Oliveira, Diana Andringa, Dulce Salzedas, Elisa Ferreira, Fausto, Fernanda Lapa, Fernando Alves, Fernando Rosas, Fernando Tordo, Francisco Crespo, Francisco George, Francisco Louçã, Francisco Mangas, Francisco Teixeira da Mota, Helder Costa, Helena Roseta, Heloísa Apolónia, Henrique Sousa, Isabel Medina, Isabel Moreira, Isabel Ruivo, Jaime Teixeira Mendes, Joana Lopes, João Goulão, João Lourenço, João Ribeiro Santos, João Semedo, Jorge Espírito Santo, Jorge Leite, Jorge Palma, Jorge Sequeiros, Jorge Torgal, Jose A. Carvalho Teixeira, José Gameiro, José Jorge Letria, José Júdice, José Manuel Boavida, José Manuel Mendes, José Manuel Pureza, José Pacheco Pereira, José Vítor Malheiros, Júlio Machado Vaz, Laura Ferreira dos Santos, Lucília Galha, Luís Cília, Luís Filipe Costa, Luís Moita, Machado Caetano, Mamede Carvalho, Manuel Loff, Manuel Luís Goucha, Manuel Pizarro, Maria Antónia Almeida Santos, Maria Filomena Mónica, Maria Irene Ramalho, Maria Teresa Horta, Mariana Mortágua, Mário Crespo, Mário Nogueira, Marisa Matias, Miguel Esteves Cardoso, Miguel Guedes, Nuno Artur Silva, Nuno Saraiva, Octávio Cunha, Olga Roriz, Paula Teixeira da Cruz, Paulo Magalhães, Pedro Abrunhosa, Pedro Campos, Pedro Ponce, Pilar del Rio Saramago, Raquel Freire, Raquel Varela, Ricardo Sá Fernandes, Richard Zimler, Rogério Alves, Rosalvo de Almeida, Rosário Gama, Rui Rio, Rui Tavares, Rui Zink, Sérgio Godinho, Sobrinho Simões, Tatiana Marques, Teresa Pizarro Beleza, Tó Zé Brito, Vasco Lourenço, Viriato Soromenho Marques

Movimento Cívico para a Despenalização da Morte Assistida

movcivic.ma@gmail.com
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A vitória da política (infelizmente)



«Donald Trump possibilitou-me uma coisa muito rara: ter uma certeza absoluta. Tenho a certeza absoluta de que aquilo vai acabar mal. Não sei quando, não sei como e sobretudo não sei para quem. Mas vai, garantidamente, acabar mal. Para quem achava que estes eram, cada vez mais, tempos de impotência total dos políticos perante a economia, Trump demonstra exatamente o contrário. A política não acabou e Trump não fez mais nada desde que tomou posse senão prová-lo:. (…)

Os que haviam decretado – lamentando-o – a morte da política, já devem estar a lamentar que ela não estivesse mesmo morta. A política não é só nobreza e democracia e compaixão pelos desfavorecidos e amor ao próximo. A política é tudo o que um homem poderoso quiser fizer com ela. Pode ser, como Trump, a política ao serviço de um programa ultraliberal, xenófobo e que modela a progressão social em função das leis do salve-se quem puder.

Com Trump regressamos às ideias. Sobretudo à mais primordial das ideias: a de que de um lado está o bem e do outro o mal. E que não é possível estar em cima do muro sem escolher o lado. Ele quer que se jogue este jogo. Não vejo, sinceramente, como não o fazer. (…)

Hoje, passados 71 anos sobre o dia em que as tropas soviéticas libertaram Auschwitz, percebemos, atónitos, como há tantas coisas que se passam nos EUA que parecem quase ecos do que se passou nos anos 1930 na Europa: a vitória do ódio; a vingança dos deserdados da crise; a promessa do regresso a uma glória antiga. Não há, portanto, outro caminho. Se Trump quer política, então que se faça política. A esquerda que se deixe de estar em cima do muro e entenda o que pessoas como Bernie Sanders dizem em vez de privilegiar soluções nem carne nem peixe nem antes pelo contrário, como que as que Hillary Clinton protagonizou.»

31.1.17

Como chegou Hitler ao poder?



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Morte assistida em debate




José Manuel Pureza no «Prós e Contras» de 30.01.2017.
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Atenção que Trump é popular



Ricardo Costa no Expresso diário de 31.01.2017 (excerto):

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Próxima etapa nos EUA?



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Isabel Jonet: não me parece que seja síria


Não quererá emigrar para os EUA para não termos de a ler ou ouvir?

A luz eléctrica de Trump



«Benjamin Harrison foi o primeiro Presidente americano que teve luz eléctrica na Casa Branca. Estávamos em 1891. Mas a inovação não mudou os hábitos do casal presidencial.

Tanto Harrison como a sua mulher, Caroline, tinham tanto medo de serem electrocutados que nunca foram capazes de tocar num interruptor. Donald Trump gosta de tocar em todos os interruptores como um menino rabino. Mesmo aqueles em que a sensatez mostra que podem causar um curto-circuito. Continuará a fazê-lo até que os republicanos garantam o que efectivamente lhes interessa alterar dos anos de Obama. Depois se verá. A obsessão proteccionista de Trump, feita de forma populista para seduzir os descrentes que nele votaram, é uma descarga eléctrica. O mundo precisava, é certo, de se agitar face a esta globalização que estilhaçou universos saudáveis. Mas Trump é um pistoleiro à solta. A construção do muro com o México, que seria pago com uma taxa de 20% sobre as importações mexicanas, acabaria assim por ser paga pelos contribuintes americanos. (…)

Com a Europa, Trump julga estar num casino de Las Vegas: a ameaça de um acordo comercial com o Reino Unido é apenas a face visível de uma política americana de há muito. Os EUA, depois de terem favorecido a integração europeia no pós-guerra, sempre utilizaram o Reino Unido para a estilhaçar. Quando Londres não integrou o euro, a moeda europeia perdeu a possibilidade de ser uma moeda onde o petróleo era cotado (a libra e o dólar continuaram a ser determinantes no preço do petróleo do Mar do Norte). Daí que Trump seja tão perigoso para a ideia de Europa unida. Ele talvez julgue que, no meio das ruínas à sua volta, os EUA voltem a ser a única superpotência. Mas é aí que Trump (e os seus ideólogos) estão enganados. Há interruptores que causam choques mortais em quem os toca.»

30.1.17

Sem comentários


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Dica (488)



Trial Balloon for a Coup? (Yonatan Zunger) 

«Analyzing the news of the past 24 hours.»
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30.01.1937 – Vanessa Redgrave



Vanessa Redgrave, essa grande actriz britânica, nasceu em Londres, em 30 de Janeiro de 1937.

Com participação em mais de 80 filmes e seis nomeações para Óscares, foi também activista política desde muito nova (várias vezes candidata em eleições gerais, entre 1974 e 1979, pelo Partido Revolucionário Trotskista), mantendo-se depois disso sempre ligada a muitas iniciativas de solidariedade e de protesto, como, por exemplo, uma campanha contra a guerra no Iraque.

Ainda não se retirou, tem participação em dois filmes prevista para este ano. Por ocasião do seu 80º aniversário, 11 minutos em que a sua vida artística, e não só, é resumida.


(Mais detalhes aqui ou aqui.)

Em 1978 recebeu o Óscar de Melhor Atriz Secundária pelo papel de «Julia» no filme com o mesmo nome, onde actuou ao lado de Jane Fonda e de Meryl Streep.

Foi grande então a polémica que o filme provocou e vale a pena ouvir o que ela disse na cerimónia de recepção do prémio:




Julia, 1977



Julgo que as primeiras imagens dela guardo são de Blow-up (1966) e Isadora (1968).




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Sem papas na língua


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Pior é sempre possível


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Debates irrelevantes



«O filósofo Ortega Y Gasset disse, um dia, que o Presidente brasileiro Getúlio Vargas fazia política de esquerda com a mão direita e de direita com a mão esquerda.

Resta lembrar que terminou a sua carreira, de forma coerente, utilizando a mão direita para dar um tiro no lado esquerdo do peito. Não se sabe se o actual Governo pratica esta arte, embora se desconfie que o tentou com a troca da baixa da TSU para subir o salário mínimo. No delirante debate de sexta-feira no Parlamento, ficou-se também com a convicção de que o PSD também tem como referente a política de Getúlio Vargas: que a sua oposição à descida da TSU se baseava apenas na vontade de ser contra a subida do salário mínimo. Para não pôr em causa a sacrossanta "desvalorização interna", ideologia base da política de austeridade que assola os povos cada vez que o relógio de cuco canta em Berlim. (…)

O que sobrou daquilo que alguns referiram ser um debate parlamentar foi um conjunto de irrelevâncias retóricas. Mas ficou evidente que, se o CDS consegue ser uma oposição certeira e elegante, Passos Coelho, desde que deixou de ser primeiro-ministro, anda bastante perdido. Por cada TSU que encontra como fonte de juventude sobram-lhe rugas por causa de escolas como a Alexandre Herculano ou a CGD e o Novo Banco. A sua combatividade face ao aumento do salário mínimo parece pouco própria de alguém que ostenta a bandeira da social-democracia. A pobreza do país e os credores externos não podem explicar tudo. Assim Passos parece muitas vezes um daqueles grupos de tributo aos Yes ou aos U2, que não se afastam do repertório original nem um milímetro. Tornando-se irrelevantes porque não podem competir com o passado dos grupos originais. O que sobra deste pretenso debate foi que Passos ainda não percebeu que este já não é o seu tempo.»

29.1.17

Vergonha que fica para a História


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Se tivesse sido o Bloco a fazer isto…


… já tinha caído o Carmo e a Trindade. Se a notícia (replicada em vários jornais) for verdadeira, claro. E não um «facto alternativo».


«De surpresa e sem aviso prévio ao PS e ao Governo, o PCP apresentou sexta-feira na Assembleia da República um pedido de apreciação parlamentar do decreto-lei que transferiu a Carris para a Câmara de Lisboa, por discordar da “municipalização” do serviço público de transporte colectivo de superfície de passageiros na capital.» 
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29.01.1963 - O Tempo e o Modo



Nasceu há 54 anos, em 29 de Janeiro de 1963. Alguns (cada vez menos, infelizmente...) recordarão a importância que teve o lançamento desta revista como plataforma, para uma ampla esquerda, de um diálogo possível em tempos de censura bem dura, na sociedade portuguesa daquele início da década de 60. Pessoalmente, tive a sorte de nela participar. Para além do enriquecimento que esse facto me proporcionou, permitiu-me colaborar com grupos e pessoas, que, sem a existência da revista, estariam fora do meu universo de então.

António Alçada Baptista, João Bénard da Costa, Pedro Tamen, Nuno Bragança, Alberto Vaz da Silva e Mário Murteira, todos católicos, concretizaram um projecto que, desde o seu início, foi aberto à colaboração de não crentes, o que hoje parece absolutamente trivial, mas que esteve longe de o ser e foi mesmo objecto de uma votação. Não resisto a resumir o que então se passou: antes de a dita votação se efectuar, foi rezada uma Avé-Maria para que o Espírito Santo iluminasse os presentes e a decisão, pela positiva, foi tomada por cinco votos a favor e dois contra, o que permitiu que tivessem sido colaboradores, desde o início, Mário Soares, Salgado Zenha, Jorge Sampaio e Sottomayor Cardia, entre outros. Este episódio, hoje dificilmente compreensível, revela bem o peso da mentalidade então vigente e a importância histórica dos que contra ela lutavam – «abertura» passou a ser um dos sinais de marca de O Tempo e o Modo.

Em 1964, por ocasião do primeiro aniversário da revista, António Alçada Baptista comentou, bem à sua maneira: «O Tempo e o Modo pretendeu ser essa mesa onde as pessoas se conheceram e à volta da qual alguns se quiseram sentar. Depois, e à mesma mesa sentados, acharam que era possível falar. Conversados, reconheceram que muitas preocupações lhes eram comuns e que, talvez, ao tentarem resolvê-las, o poderiam fazer em equipa.» (O Tempo e o Modo, nº 12, Janeiro de 1964, p. 1.)

Foi longa e atribulada a história da revista (publicada entre 1963 e 1977, em duas séries).
A ler: O Tempo e o Modo, 50 anos depois

(A totalidade do conteúdo da revista está disponível em dvd (dois exemplares, uma para cada série) e pode ser comprada na Fundação Mário Soares.)
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Esta mania de muros vem de longe



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Dica (487)



World reacts to Donald Trump's US travel ban. 
[The Guardian – Live update]

Uma coisa é criticar a imprensa outra é contestar o seu direito




«O curso das coisas com a Presidência Trump nos EUA é particularmente perigoso, porque revela uma crescente tendência autoritária. O modo como Trump se comporta é o de detentor da verdade, sabendo que está a mentir, mas impondo-se com o poder ou pura e simplesmente relativizando tudo, de modo que os "factos" soçobram para "opiniões". As opiniões podem coexistir e à cabeça são iguais face ao mercado da influência. Enfim, não é bem assim, mas podemos, para já, não ir mais longe. Mas os factos não são moles, são duros. (…)

Trump pode ter muitas razões de queixa da comunicação social, muitas aliás justas, mas atravessou toda a campanha eleitoral e agora os primeiros dias da Presidência a mentir sem qualquer pudor. Depois de ter chamado "nazis" aos serviços de informação, vem agora dizer que ninguém mais do que ele os estima. Faz o mesmo que já fez aquando das célebres declarações sobre o modo como "segurava" as mulheres, tendo no dia seguinte dito que "ninguém mais do que ele respeitava as mulheres". Vamos ver disto todos os dias e isto levanta um enorme problema para todas as pessoas, a começar por aquelas que têm que lidar com ele, chefes de Estado estrangeiros por exemplo.

Quanto aos jornalistas confrontados com esta imposição de mentiras flagrantes, "factos alternativos", começaram a fazer aquilo que deveriam ter feito durante a campanha: a titular as declarações de Trump com adjectivos como "falsas". Por exemplo, no New York Times: "Trump falsely hits media…", ou o Washington Post "Spicer [o porta-voz] makes easily disproved claims…". Claro que, como a guerra é com eles, os jornais e as cadeias de televisão aprenderam a lição de que nenhuma complacência pode haver com este comportamento, porque é o equivalente a uma forma de violência, de bullying. (…)

O que ele está a pôr em causa é que possa haver um espaço público democrático, onde se confrontam todas as opiniões, mas onde não se confrontam os "factos" com "factos alternativos", ou seja mentiras, como se tivessem o mesmo estatuto.»