«Donald Trump possibilitou-me uma coisa muito rara: ter uma certeza absoluta. Tenho a certeza absoluta de que aquilo vai acabar mal. Não sei quando, não sei como e sobretudo não sei para quem. Mas vai, garantidamente, acabar mal. Para quem achava que estes eram, cada vez mais, tempos de impotência total dos políticos perante a economia, Trump demonstra exatamente o contrário. A política não acabou e Trump não fez mais nada desde que tomou posse senão prová-lo:. (…)
Os que haviam decretado – lamentando-o – a morte da política, já devem estar a lamentar que ela não estivesse mesmo morta. A política não é só nobreza e democracia e compaixão pelos desfavorecidos e amor ao próximo. A política é tudo o que um homem poderoso quiser fizer com ela. Pode ser, como Trump, a política ao serviço de um programa ultraliberal, xenófobo e que modela a progressão social em função das leis do salve-se quem puder.
Com Trump regressamos às ideias. Sobretudo à mais primordial das ideias: a de que de um lado está o bem e do outro o mal. E que não é possível estar em cima do muro sem escolher o lado. Ele quer que se jogue este jogo. Não vejo, sinceramente, como não o fazer. (…)
Hoje, passados 71 anos sobre o dia em que as tropas soviéticas libertaram Auschwitz, percebemos, atónitos, como há tantas coisas que se passam nos EUA que parecem quase ecos do que se passou nos anos 1930 na Europa: a vitória do ódio; a vingança dos deserdados da crise; a promessa do regresso a uma glória antiga. Não há, portanto, outro caminho. Se Trump quer política, então que se faça política. A esquerda que se deixe de estar em cima do muro e entenda o que pessoas como Bernie Sanders dizem em vez de privilegiar soluções nem carne nem peixe nem antes pelo contrário, como que as que Hillary Clinton protagonizou.»
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