O João nasceu em 7 de Fevereiro de 1935. Faria hoje 80 anos.
Na memória colectiva, ficou certamente ligado sobretudo ao cinema, como director da Cinemateca, antes como coordenador do respectivo sector na Fundação Gulbenkian, desde sempre por causa da sua paixão pela 7ª arte. Talvez nem todos se lembrem de que foi também actor em onze filmes de Manoel de Oliveira e num de João César Monteiro (e bem recordo o entusiasmo com que se estreou nas filmagens de O Passado e o Presente, em 1972).
Escreveu livros, esteve desde sempre ligado à aventura que foi a história da Editora Moraes, lançou, em 1963, O Tempo e o Modo e foi o seu elemento central durante toda a primeira fase da revista. «Católico progressista» quase avant la lettre, foi também um dos primeiros a deixar o barco, pelo menos como elemento activo.
Mas, para mim, ele ficou sobretudo como um entre muitos amigos de um grande grupo de fronteiras variáveis, com quem atravessei uma das épocas mais importantes da minha vida, não só em militâncias várias mas no entusiasmo inesquecível de todas as vivências de juventude na segunda metade dos anos 60. Foi também um dos elementos de uma família extraordinária que me «acolheu» como amiga próxima e a quem devo, sem dúvida, uma parcela importante daquilo que hoje sou.
A Arrábida foi uma das maiores paixões da sua vida, a ela me ligam também muitas recordações de longas semanas na casa da família Bénard da Costa, em Alportuche, ainda sem electricidade, das intermináveis conversas noite fora à luz da vela, com o mar de um lado e o Convento incrustado na Serra do outro, da festa pela chegada do primeiro gira-discos a pilhas, vindo dos Estados Unidos, dos dramas de amores e desamores.
Passaram-se décadas, o mundo mudou radicalmente, outros partiram como o João. Hoje mesmo, morreu Manuel Lucena, um seu compagnon de route que fez 77 anos neste 7 de Fevereiro. É uma geração que vai naturalmente desaparecendo. Mas que deixará uma forte marca.
[Republicação modificada]
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