21.3.20

Frase do dia


«Bolsonaro é Trump sem a escolaridade obrigatória» 

Pedro Mexia
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Boa iniciativa para todos nós



Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra

Este video foi realizado com gravações efectuadas na residência de cada um dos elementos do Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra e depois efectuada uma montagem sonora que resultou num momento que pretende gritar a esperança. Queremos mostrar que mesmo isolados, podemos agir colectivamente e fazer alguma coisa pelos outros.

(Com direcção artística do maestro Rui Paulo Simões, montagem de áudio de Gil Figueiredo, com montagem vídeo de Barbara Simões e produção de José Guilherme Martins.)
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O nacionalismo bacoco da Renascença



Só nos faltava o nacionalismo bacoco destes patetas e esse vírus não parece ter cura. Como se estivéssemos num campeonato de futebol para ganharmos ao resto do mundo.


«Renascença, RFM e MEGA HITS apelam a todos os Portugueses para que vão buscar a bandeira do Euro e lhe possam dar uma nova vida, pela vida de todos!»
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A guerra que não podemos ter



«Uma epidemia é uma situação trágica. Vão morrer provavelmente milhões de pessoas no mundo, dezenas de milhares em Portugal. A ciência (médica, epidemiológica) ditará a prevenção e a reação, dentro daquilo que é novo, e do que não é novo. À política cabe interpretar a ciência e permitir que ela atue e chegue ao mundo real de cada um, que os testes cheguem a quem precisa, que as pessoas só andem o necessário, que ninguém vá onde não tem de ir, mas não deixe de ir onde tem de estar. Ciência e política tratam da cura. Mas a política não trata só da cura. Fazer política em tempo de pandemia é também não embarcar em curas que matem quase todos por muitos anos. E não vai ser fácil a política que nos protege da cura.

Por mais teletrabalho, 5G, medidas excecionais de adiamento de prazos e de pagamentos, nenhum país sobrevive fechado em casa meses a fio, a sair para passear o cão. Esta verdade, que é evidente, terá hoje poucos adeptos vocais, porque quadra pouco com o sentimento de pânico geral, com o instinto humano de proteção, com a tragédia real que se avizinha, com todas as mortes em conjunto e com cada uma delas em concreto, com as escolhas sobre os ventiladores. Mas essa atitude de nos defender da cura alguém tem de a ter, e é isso que também, repito, também, se exige de quem nos governa. E, desde já, não é quando o mal estiver feito que se vai tentar reanimar o restaurante fechado despejando dinheiro, ou perdoando o pagamento por conta.

Mais do que na área da saúde, o governo tem dado uma resposta clara ao lado económico da pandemia, pela voz do ministro Siza Vieira. António Costa, numa entrevista na SIC, quis deixar claro que, mais do que obrigar as pessoas a ficar em casa, poderia ter de tomar medidas precisamente no sentido contrário, de obrigar setores, fábricas, áreas a não fechar, obrigar pessoas a sair de casa, a terem de trabalhar. Outros poucos políticos, como Fernando Medina, têm tido a coragem de insistir no ponto fulcral de que há também o dever de minorar a crise económica e social. A breve trecho, serão mais os que falarão nisto e os emergencistas perceberão que a emergência económica vai ser sobretudo uma emergência social, porque todas as crises doem sempre mais e primeiro a quem menos tem, quem menos pode. A quem menos merece. Há um estrato da população, mais pobre, de qualificações mais baixas, que já está dividida entre os que têm de trabalhar (na caixa do supermercado, na distribuição da refeição, na recolha do lixo, no tratamento das águas, na logística toda por detrás da prateleira do supermercado) e os que não podem trabalhar e têm de ficar em casa sem saber o que vai acontecer no mês seguinte ao do fecho da loja, do restaurante ou do ginásio.

Claro que a questão é complexa, até porque não há muito que um país possa fazer sozinho, mas é alguma coisa. Mais tarde ou mais cedo - por razões económico-sociais mais do que por razões ligadas à progressão da doença -, algumas medidas mais drásticas vão ser revertidas para que se tente acolchoar uma pancada cuja força bruta ninguém ainda sabe qual vai ser. E nesse momento vai achar-se que é demasiado cedo para tirar as pessoas de casa, que é preciso esperar mais, manter o pé no travão.

Aquilo que podemos dar-nos ao luxo de ter é uma guerra entre os quarentenistas e os outros, entre os que querem mais recato e os que defendem e fazem para que o país não pare. Porque essa guerra, que vai ter uma acusação moral implícita (os que preferem a economia e os que preferem a vida dos idosos), é só a guerra que nos faltava. E não terá vencedores.»

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20.3.20

Decreto sobre declaração do estado de emergência



Está AQUI.
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Irão Covid-19: do horror




«Uma simulação informática, conduzida pela Universidade de Tecnologia de Sharif, em Teerão, concluiu esta semana que o número de vítimas mortais pode exceder os 12 mil e atingir um pico em meados de maio. No pior dos cenários, se as pessoas continuarem a viajar e a ignorar as recomendações de saúde, o estudo aponta para 3,5 milhões de mortos.»
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Ela aí está. Dantes era assim e voltar a ser



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Coronahumor (1)


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Toma lá o estado de exceção para o caso de precisares



«Esta quarta-feira, o Presidente da República falou ao país, do Palácio de Belém, de onde deve sempre falar em circunstâncias graves, deixando claro que a autoridade do Estado depende de instituições, e não de personalidades. Tornou públicas as suas razões para a declaração do estado de emergência, pela primeira vez na nossa democracia constitucional. Já aqui deixei a minha posição sobre o tema. Os meus dois argumentos fundamentais contra a declaração do estado de emergência, neste momento (sublinho o “neste momento”), foram a de que é extemporânea, como prova o facto de quem usa este instrumento não o ter solicitado, e que cria expectativas que, não sendo correspondidas, aumentarão a ansiedade dos cidadãos e a pressão para saltar degraus nas medidas. O Presidente confirmou expressamente os dois argumentos.

Confirmou o primeiro explicando que se trata de um estado de emergência preventivo: “Outros países, que começaram mais cedo do que nós a sofrer a pandemia, ensaiaram os passos graduais e só agora chegaram a decisões mais drásticas, que exigem maior adesão dos povos e maior solidariedade dos órgãos do poder. Nós, que começamos mais tarde, devemos aprender com os outros e poupar etapas, mesmo se parecendo que pecamos por excesso, e não por defeito.” Ou seja, o Presidente reconhece que declara o Estado de emergência sem que ele seja neste momento necessário, apenas para se antecipar, expressão que usa expressamente.

E reafirmou-o mais à frente: “Diz o povo: mais vale prevenir do que remediar. O que foi aprovado não impõe ao Governo decisões concretas, dá-lhe uma mais vasta base de Direito para as tomar. Assim, permite que possam ser tomadas, com rapidez e em patamares ajustados, todas as medidas que venham a ser necessárias no futuro.” Ou seja, o Presidente reconhece que o Governo não precisa nem solicitou este instrumento para as medidas que agora toma e assume uma figura até agora desconhecida na nossa democracia: o estado de exceção preventivo, que não corresponde a qualquer dificuldade realmente existente neste momento.

Suspeito que não teremos, por agora, qualquer medida relevante que não pudesse ser tomada sem o estado de emergência. Ainda ontem a Assembleia da República aprovou várias medidas excecionais de concentração de poder e agilização de procedimentos do Governo e das autoridades sem qualquer estado de emergência. O absurdo é tal que, segundo consta, um dos exemplos dados no Conselho de Estado para a necessidade desta opção terá sido o da greve, desmarcada antes de existir, no Hospital de Braga. Espero que não seja verdade, porque quereria dizer que há algum conselheiro de Estado que desconhece a existência da figura da requisição civil, usada ainda esta semana para pôr fim à greve dos estivadores. Esta antecipação é especialmente difícil de explicar quando nem sequer se esgotaram todos os estádios de emergência previstos na Lei de Bases da Proteção Civil. Como se vê em Ovar, o estado de calamidade dá imensa latitude ao Governo sem que se tenha de pôr o país em estado de exceção.

Poderá dizer-se que o estado de emergência, não sendo ainda necessário, também não faz mossa a ninguém. Também foi o próprio Presidente, logo no início da sua intervenção, a explicar os efeitos psicológicos perversos da sua decisão. E não devemos desprezar a importância da psicologia de massas num momento de medo coletivo como estes. Marcelo Rebelo de Sousa começa por mostrar que tem consciência no equívoco que alimenta nos cidadãos: “Sabia e sei que muitos esperam do estado de emergência um milagre que tudo resolva num minuto, num dia, numa semana, num mês.”

E sabia e sabe que a deceção terá como único efeito mais ansiedade, frustração e mais pressão irracional. Também foi ele que o disse: “Sabia e sei que, em plena crise, as pessoas se sentem tão ansiosas, tão angustiadas, que aquilo que pedem um dia ou uma semana, uma vez dado, é logo seguido de mais exigências ou mais reclamações, à medida que as preocupações ou os temores se avolumam.”

Esta pressão social para medidas cada vez mais restritivas, sem a ponderação de todos os fatores, pondo as autoridades a serem dirigidas pelo medo dos cidadãos, será a caminhada para o abismo. Duvido que o poder político consiga resistir a tal pressão de um país fechado em casa em frente às redes sociais. O que o pode levar a medidas impensadas e irresponsáveis, para acalmar a ansiedade, com brutais efeitos sociais e económicos que não estão hoje nas preocupações da maioria dos cidadãos mas têm de estar na cabeça dos decisores políticos.

Reconhecendo o Presidente que o estado de emergência é por agora desnecessário e meramente preventivo, que o Governo ainda se sente capaz de exercer o seu poder sem recorrer a tão grave instrumento, que ele cria uma expectativa que será frustrada e que o medo e a ansiedade levarão ao pedido de medidas mais restritivas sem ponderação de outros fatores, não posso dizer que discordo do raciocínio que levou a esta decisão. Pura e simplesmente não compreendo que raciocínio foi esse.

Sobra o único argumento que me parece coerente: “Esta base de Direito dá um quadro geral de intervenção e garante que, mais tarde, acabada a crise, não venha a ser questionado o fundamento jurídico das medidas já tomadas e a tomar.” Mas é curtíssimo, quando tal questão nem foi levantada por ninguém.

As duas últimas razões apresentadas por Marcelo Rebelo de Sousa para decretar do estado de emergência foram, na realidade, a apresentação de atenuantes para quem desconfia, como qualquer democrata deve desconfiar, da utilização demasiado lesta de qualquer tipo de estado de exceção: que ela é contida, não atingindo o núcleo duro dos direitos, liberdades e garantias, e flexível, tendo de ser renovada ao fim de 15 dias, como a Constituição exige. Não são razões, são pedidos de compreensão.

O estado de exceção é uma coisa muitíssimo séria. Agora, no meio do medo, tudo pode parecer banal, até a sua declaração sem que seja totalmente necessário, só porque pode vir a dar jeito. Mas a sua banalização – não é preciso haver uma necessidade imediata, basta haver a sensação de que ela pode vir a existir – abre um precedente que não deixará de ser aproveitado noutro momento e talvez por gente pouco recomendável. Imaginem um Cavaco Silva na Presidência ou um José Sócrates como primeiro-ministro depois desta banalização do uso do estado de emergência para se der jeito a um governo. Vou repetir isto várias vezes por estes dias: haverá vida depois desta epidemia. Cuidado com o que semeamos.»

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19.3.20

Aviso aos velhos


Não acreditem em boatos quanto a limitação horária para frequência dos locais estabelecidos (alimentação, farmácia, bancos, etc.). António Costa negou expressamente a existência desses horários específicos, em resposta a uma pergunta na conferência de imprensa.

(Sem que isto não signifique que estas deslocações não devam ser reduzidas apenas às indispensáveis, claro.)

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Pensar de pernas para o ar



(Um bom conselho nas horas que passam)


Pensar de pernas para o ar
é uma grande maneira de pensar
com toda a gente a pensar como toda a gente
ninguém pensava nada diferente

Que bom é pensar em outras coisas
e olhar para as coisas noutra posição
as coisas sérias que cómicas que são
com o céu para baixo e para cima o chão

Manuel António Pina, in O país das pessoas de pernas para o ar
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Titanic?


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Não, não estamos em guerra (voltamos é a ser Sísifo)



«1. Políticos, jornalistas e médicos usam demasiadas vezes uma linguagem bélica para mobilizar a população na luta contra a pandemia da covid-19. Na imprensa, é usual lermos ou ouvirmos declarações de que “estamos em guerra” ou estamos a “lutar pela nossa sobrevivência”. É certo que é uma metáfora, mas é uma metáfora desproporcionada e provavelmente contraproducente, pois pode incutir também sentimentos negativos no ser humano e na sociedade: o medo do outro, o outro como inimigo — o portador o vírus.

No mundo de há cem anos sabia-se bem o que era uma guerra e os seus efeitos devastadores na humanidade. A I Guerra Mundial (1914-1918) foi uma catástrofe sem precedentes para Europa (sobretudo) e o mundo da época. No final da guerra — e nos anos seguintes — também se soube o que era uma terrível pandemia: a do vírus influenza A do subtipo H1N1, mais conhecida como gripe espanhola, ou pneumónica. Provocou imensas mortes e sofrimento humano (ver Laura Spinney, “Pale Rider. The Spanish Flu of 1918 and how it Changed the World.” NY, PublicAffairs, 2017). Na sociedade portuguesa dessa altura, também foi marcante o sofrimento provocado por uma (a guerra) e pela outra (a doença). Mas, como nos mostra a imprensa de há cem anos, ninguém se via em guerra contra a gripe espanhola depois de ter sofridos os horrores inimagináveis da guerra das trincheiras de França e da Flandres, como sofreram, directa ou indirectamente, centenas de milhares de portugueses.

2. Na Ilustração Portugueza nº 661 de 21 de Outubro de 1918, p. 321 (numa coluna intitulada “crónica”), podemos ler um texto curioso. Permite-nos ter uma ideia do ambiente que se vivia na época, com algum humor à mistura, sobre o medo e pânico social que também se instalou, do qual vou aqui transcrever um excerto. “Dá-se com a actual epidemia o que sempre se tem dado em casos análogos, agora com o agravamento de se confessar a impotência médica contra o mal, como se a medicina tivesse sido alguma vez mais do que um simples auxiliar da natureza: o medo concorre em grande parte para o alastramento da doença, parece que enfraquecendo os organismos e privando-os assim dos meios de resistência […] sabemos de um facto, a propósito, que tem feito de anedota e que apontamos como exemplo de precaução levada ao máximo. A aldeia onde costumamos procurar a indispensável compensação de um ano de trabalho não foi poupada pela grippe pneumonica, sendo poucas as famílias que não sofreram a desagradável visita.” Essa preocupação transformou-se “em pavor nos espíritos tímidos, entre os quais se conta o de certo comerciante que aos primeiros rebates [do dobre melancólico dos sinos] se meteu na cama, sem o mínimo de sintoma de ter sido acometido pela enfermidade. Visitámo-lo, inquirimos e respondeu-nos com a maior fraqueza que o que tinha era medo. — Todas as cautelas são poucas, declarou-nos. E como naquele momento um boletineiro lhe batesse á porta e lhe dissesse que era portador d’um telegrama, perguntou ansioso: — Sabe de onde foi expedido? — Da Azambuja, respondeu o homem. — Da Azambuja onde a epidemia tem morto tanta gente? Não recebo! E não recebeu.”


Texto do Decreto do Presidente da República



Pode ser lido AQUI.
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18.3.20

Isto


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Coronavirus – Efeitos colaterais





«Segundo informações publicadas pelo jornal inglês Dailymail, os macacos se dividem em duas gangues rivais. Uma se reúne em volta dos templos, enquanto a outra ocupa as ruas da cidade.»
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Estado de pânico institucionalizado



«Não, não é minimamente proporcional! Não, não é aceitável que o Presidente da República finja que se esqueceu de tudo quanto escreveu sobre Direito Constitucional democrático e, intimidado pelos Torquemadas todos que difundem o vírus do pânico e acusam de “cobardia” quem não está em pânico como eles, se coloque à frente do partido do alarmismo e banalize o recurso ao estado de emergência num momento em que não há qualquer indício social de desprezo pelas medidas sanitárias já impostas!

O Presidente faz mal em dar ouvidos aos alarmistas (autarcas, académicos do “eu bem vos avisei”, Chicões e influencers do terror social no Facebook) que, depois de fecharem milhões em casa (ajudando a que quem é já portador do vírus contamine depressa os seus conviventes forçados 24/24 horas), se horrorizam com gente a correr ao ar livre ou sentada num parque público, e que, só por isso, quer polícias e soldados transformados em gestores improvisados de saúde pública, a deterem cidadãos pela rua. Era bem melhor que, por cima da sua idiossincrática visão da doença e da saúde (cada um tem direito à sua, mas o Presidente de uma República não tem o direito de a impor sem boa fundamentação científica e ponderação política), ele ouvisse mais a Direção-Geral da Saúde, gente que lhe explique o necessário equilíbrio entre medidas de contenção e esse mínimo de vida social e afetiva que permite produzir, distribuir, assegurar a vida daqueles a quem se recomenda ficar em casa.

Ou será que o Presidente também quer mandar para casa quem trabalha? Não se dá ele conta que o estado de emergência só vem aumentar o estado de alarme social que serviu de justificação para o encerramento de tudo quanto é público, fazendo com que aqueles que têm mantido o país a funcionar se perguntem porque não podem/deveriam eles fechar-se em casa também? Julga ele que o estado de emergência aumenta a segurança sanitária para quem tem, deve, continuar a trabalhar? Quando o número de casos continuar a subir (como sobe em Itália desde que se impuseram as medidas de restrição absoluta à mobilidade, ao mesmo ritmo que subia sem elas), não percebeu ele que o partido do pânico clamará que “isto não está a funcionar!” e vai pedir que se parem transportes públicos, se fechem fábricas, se imponha o recolher obrigatório, se limite a uma hora por dia a saída de casa? Cedeu-se ao pânico uma vez, ceder-se-á sempre...

Não, sr. primeiro-ministro, não diga que “sempre que o Presidente assim considerar, o Governo cá estará para executar essa ordem”! Diga-lhe não agora para não ter de lhe dizer sim cada 15 dias, quando, perante uma situação inevitavelmente pior que a atual, o Presidente continuar a insistir que há que renovar o estado de emergência, ou pedir um upgrade para o estado de sítio! Não, não deixe que o partido do pânico venha pedir a revisão da Constituição para permitir tornar permanentes exceções que só se deviam permitir por 15 dias! Não, peça à Assembleia da República que não deixe que o homem dos afetos se transforme em contagiador de pânico! Se ao fim de uma vítima mortal já aqui estamos, como estaremos ao fim de cem? Não nos deixe morrer da cura.»

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Those were the days



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17.3.20

Sim, estou a trabalhar a partir de casa


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Estado de Emergência?



Um texto:

«A suspensão dos direitos, liberdades e garantias constitucionais é uma medida extrema numa sociedade democrática. Ninguém que preze a democracia, a liberdade e a Constituição da República Portuguesa (CRP) deve aceitar de ânimo leve a decisão de decretar o Estado de Emergência.

Eu revejo-me e defendo a CRP, que prevê esta figura extrema. Se se demonstrar necessário recorrer a ela, aceitá-lo-ei em nome de um bem maior, sem nunca esquecer os riscos que ela acarreta.

Mas todas as minhas inquietações se agravarão se o Estado de Emergência for decretado sem justificação clara e sem um apoio alargado nos vários órgãos de soberania.

Em nome da coesão que tem marcado a forma como estamos a lidar com a emergência sanitária em Portugal, espero mesmo que ninguém se precipite nesta tomada de decisão.»

Ricardo Paes Mamede no Facebook
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Estado de emergência contra a disciplina voluntária



«Num momento de aflição e ansiedade não tem faltado quem se dedique a pedir com urgência o que sabe que acabará por acontecer, ignorando, na maior parte das vezes, a necessidade de preparação e os limites temporais em que algumas medidas podem vigorar. Medidas extremas, se não forem preparadas, podem ter efeitos ainda mais nefastos do que aqueles que pretendem evitar. O que quer dizer que uns dias podem fazer toda a diferença entre a contenção de um desastre ou o agravamento de um desastre. E há medidas, como a quarentena mais restritiva, que têm um tempo limite de duração depois do qual um país entra em colapso. Não entrar cedo nesse estado (e não faço ideia se agora é cedo ou tarde) é o que evita ser obrigado, de forma ordenada ou desordenada, a sair cedo demais dele. Há decisões que se tomam mesmo cedo demais. Este é o tipo de assuntos em que devemos confiar nas autoridades, assessoradas por técnicos de saúde pública e não só. Deixo este tema mais abrangente para amanhã, se nada se colocar no caminho. Hoje fico-me por assunto estritamente político e constitucional: a declaração do estado de emergência. Quem queira perceber o que é, para além do que sugere a palavra, aconselho a leitura da Constituição da República Portuguesa e da lei 44/86.

Como aconteceu com o fecho das fronteiras com Espanha, que tinha preferencialmente de ser negociado, ou o encerramento das escolas, que tinha de ser preparado, há um movimento de cidadãos, a que o Presidente da República parece ser sensível, em defesa da declaração do estado de emergência que já existe noutros países. Há médicos a exigi-lo, como se fosse uma forma de contenção do vírus. É como se declarar o estado de emergência levasse à existência da própria emergência, mobilizando mais meios e vontades.

Mas a declaração do estado de emergência tem uma função: dar mais poderes ao Governo e às autoridades administrativas. Declarar o estado de emergência não trava coisa nenhuma, não sensibiliza ninguém, não põe ventiladores e médicos nos hospitais. O estado de emergência nem sequer limita, por si só, a liberdade de movimentos dos cidadãos. Apenas dá essa latitude legal de ação ao Governo, se assim o entender. Isso só faz sentido se o Governo e as autoridades não estiverem a conseguir, por causa dos limites que a lei lhes impõe ou pela desobediência dos cidadãos, aplicar as medidas que vão sendo definidas.

Até agora, não há qualquer evidência de que a Lei de Bases de Saúde e a Lei de Bases da Proteção Civil (que ainda permite subir para os graus de contingência e de calamidade e que dá imensa latitude às autoridades para agir contra quem desobedeça a ordens suas) não sejam suficientes para fazer tudo o que tem de ser feito agora. Não conheço nenhum episódio de resistência às autoridades, não se sabe de qualquer pedido de requisição de bens ou propriedade desejado pelo Estado, não há casos de desordem pública e nenhuma ordem de restrição de movimentos foi ainda solicitada que seja impossível no quadro atual – e só quando for saberemos se ela necessita de outro reforço legal.

Em resumo, tirando a parte simbólica, alguém terá de explicar o que muda, neste momento, o estado de emergência. Veremos, se ele vier, na fundamentação que é exigida para a sua aprovação. Sinto que há quem julgue que a palavra “emergência” - e não o conteúdo desta figura constitucional - fará milagres.

Penso que será a primeira vez na história de qualquer nação que o estado de emergência é decretado sem que o Governo, que é o seu executor, tenha mostrado vontade de o fazer. Na realidade, se um governo pode fazer o seu trabalho sem que se decrete o estado de exceção é melhor que assim o faça. Estranho é que sejam os cidadãos a pedir ao Governo para que reforce o seu poder sobre eles quando demonstram, como têm demonstrado crescentemente, sinal de respeito pelas ordens dadas e não há notícia de desobediência às forças de segurança. É como se a nossa disciplina valesse menos por ser voluntária.

É sinal de falta de apego a direitos, liberdades e garantias esta vontade de os entregar a um governo sem que esse o governo sequer o tenha solicitado. Atitude ainda mais estranha é a de quem pede a declaração do estado de emergência como forma de criticar um qualquer suposto laxismo do Executivo. Querem reforçar os poderes de quem julgam que o exerce mal?

Compreendo que a forma encontrada pelo Presidente da República para mostrar preocupação e firmeza seja esta declaração do estado de emergência. Já se sabe que o Governo não se oporá e o Parlamento o aprovará por unanimidade. Ninguém responsável quer, neste momento, qualquer tipo de conflito político. A ação de Marcelo Rebelo de Sousa, reduzida a este ato simbólico que alguns julgam milagroso, acabará aqui. Compreendo que milhões de pessoas ansiosas sintam aquela irreprimível necessidade de ver que sobem degraus de ação e prevenção que as fazem sentir mais seguras. Se a declaração do estado de emergência tiver essa função apaziguadora (como supostamente teriam todas as anteriores), que venha. Mas mesmo esse efeito esgota-se agora e até cria expectativas que não poderão ser acompanhadas. Quando for preciso dar esse sinal, mais nada restará a não ser o que inevitavelmente vai acontecer.

Se a perda de direitos, liberdades e garantias não foi necessária para nenhuma medida até agora tomada e para todas as que estão planeadas para os próximos dias, talvez fosse mais avisado usar este expediente quando estivermos perante um impedimento real e identificado à ação das autoridades e do Estado. Até porque o estado de emergência tem de ser renovado de 15 em 15 dias e isso ocupará quem devia estar preocupado com o que tem mesmo de ser feito, no quadro da lei que temos enquanto ela for suficiente. Nada disto implica que o estado de emergência não venha a ser necessário, perante novas dificuldades. É até bem provável que o seja, como foi noutros países. Os limites à circulação assim o podem vir a exigir. Fará sentido, perante essa necessidade, dar este passo. Mas não para nos obrigarem a fazer o que já fazemos voluntariamente.

Não me parece que dar sinais crescentes de alarme seja sempre o mais indicado. Se o povo consegue ser disciplinado, se não há motins, revoltas ou movimentos de desobediência às forças de autoridade, se não há greves e manifestações, se não há sequer a necessidade declarada de requisição dos hospitais privados, havendo total abertura de cooperação, se é possível limitar os movimentos das pessoas com a lei em vigor (que nem sequer esgotámos), porque precisamos que nos ponham na ordem? Merecia, quando isto passar, que nos deitássemos todos no divã. Outros povos resistem ao estado de exceção, nós desejamo-lo mesmo quando o poder não o pede.»

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Ajuda DOS refugiados sírios



De Tayybeh, Restaurante dos Refugiados Sírios 

OFERTA | O JANTAR É POR NOSSA CONTA

Queremos agradecer a todas as equipas médicas que estejam ao serviço e que merecem ao fim do dia um jantar descansado em família para poderem voltar ao campo de batalha que têm enfrentado diariamente por todos nós.

1 JANTAR POR CADA ELEMENTO DAS EQUIPAS MÉDICAS DE EMERGÊNCIA

Liguem! E passem por cá para levantar…

OBRIGADO PELO VOSSO ESFORÇO
Se conhecerem alguém médicos ou enfermeiros que estejam ao serviço
PARTILHEM POR FAVOR!
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16.3.20

O discurso de Macron



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Depois da Itália, a Espanha




«Según una nota oficial de la legación, el primero de ellos es el envío urgente de un "lote de asistencia de material médico de acuerdo con las necesidades de España", similar al que el gobierno de Beijing hizo llegar a Italia el 12 de marzo. Hay más. El Estado asiático se compromete a abrir corredores de importación de "equipos de protección personal (los llamados EPIs) y equipos médicos muy necesarios", tanto para los hospitales como para la ciudadanía o "servicios sociales", tal y como los define la embajada.»

Chegará a nossa vez? .

Quanto ao PR, vergonha alheia




«O quê era isto?!
O Presidente da República de Portugal a falar aos Portugueses em tempo de crise?

Péssimo! Não me refiro ao conteúdo, sobre este aqui não me pronuncio, mas à forma. Parecia a última mensagem de um Chefe de Estado sitiado, como se fosse Salvador Allende a gravar enquanto os golpistas já sobem nos corredores do palácio presidencial.

Os Portugueses que o ouviram e já têm medo, depois deste comunicado terão mais.

Não me digam que a miserável qualidade técnica e mesmo da performance de Marcelo pode ser desculpada com a quarentena. Trata-se do Presidente da República, por amor de Deus! Se for preciso, vão lá dois técnicos de som e imagem com equipamento decente e ficam depois lá com ele em quarentena o tempo necessário!»

Lutz Brückelmann no Facebook
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Prova de vida



«A resposta aos efeitos da pandemia vai acontecendo de forma mais ou menos enérgica, mas estamos ainda muito longe do tempo em que se fará o balanço sobre a eficácia das medidas. Como vai sendo assinalado cada vez com mais insistência, estamos perante um problema muito grave e de efeitos potencialmente devastadores sobre a saúde de milhões de pessoas e sobre a economia global. Há mesmo quem diga que este será o maior desastre alguma vez enfrentado no planeta e que a partir daqui nada será igual. Talvez seja cedo para o dizer. Mas nunca será tarde demais se começarmos de imediato a trabalhar concertadamente para atenuar os danos que já estão a ser causados.

Desde logo com a consciencialização individual e coletiva a que estamos obrigados. Comportamentos de risco são inaceitáveis pelo que podem provocar na nossa vida e na daqueles com quem convivemos. Prevenir não é apenas ficar fechado em casa à espera que tudo passe depressa. É também estar disponível para ajudar, para respeitar escrupulosamente os apelos das autoridades, para não tomar atitudes desproporcionadas como a de recorrer aos serviços de saúde por tudo e por nada ou participar no açambarcamento de produtos alimentares, medicamentos e afins. A resposta deverá ser global, mas a sua eficácia depende do contributo individual de cada um.

É também o tempo das instituições públicas e privadas sejam elas municipais, regionais, nacionais, europeias ou mundiais. Dos decisores políticos, da comunidade médica e científica, do setor social, da proteção civil ou das forças de segurança. Mas também dos empresários e dos trabalhadores. Ninguém está verdadeiramente preparado para uma calamidade com estas proporções nem, a não ser em cenários e no papel, a resposta a estas situações foi sequer ensaiada. Por isso é fundamental que a pesada responsabilidade que alguns têm de tomar decisões em nome do interesse coletivo, seja assumida e partilhada por todos. O tempo é de juntar esforços e de unir. De colaboração ativa entre comunidades, investigadores e decisores na procura de respostas e de soluções para os problemas que surgem a uma velocidade alucinante.

A Europa e o mundo têm sido confrontados nos últimos anos com enormes desafios decorrentes da globalização, das ameaças ao multilateralismo, do crescimento dos movimentos nacionalistas e populistas, de correntes de pendor mais liberal que põem em causa o papel dos Estados e, especialmente na Europa, a relevância do Estado social.

Pois chegou o tempo de os Estados e as organizações internacionais fazerem a sua prova de vida, exercendo toda a sua autoridade e assumindo cabalmente o seu papel. É certo que existe uma desconfiança generalizada nas instituições por parte dos cidadãos. Terá chegado a oportunidade de nos demonstrarem que andámos todos enganados e que podemos confiar nos governantes e em todos quantos trabalham para ajudar a tornar o mundo melhor.

E será também o momento de iniciar uma reflexão profunda sobre o mundo em que queremos viver. Se escolhemos o acentuar dos desequilíbrios económicos, culturais e sociais ou se optamos por uma distribuição mais justa da riqueza e das condições de acesso a uma vida digna. Se queremos constituir uma comunidade solidária e interdependente ou se queremos ver erguer mais muros e permitir o surgimento de líderes autocráticos que fomentam o ódio e o isolamento em nome de interesses egoístas e de projetos sem futuro.»

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Resposta difícil nos tempos que correm


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15.3.20

A nossa vida mudou mesmo


A ministra da Saúde afirmou esta tarde que é provável que a curva epidemiológica aumente até ao final de Abril. Nada que não fosse expectável, mas não deixa de parecer uma eternidade.

Toda a força de ânimo é pouca.
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Sobreviva, lave as mãos



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O vírus da nossa humanidade



O egoísmo e o ódio têm uma só pátria; a fraternidade não a tem. Lamartine

«O coronavírus é um teste à nossa humanidade. Será que, no meio da angústia de podermos ser contaminados ou de vermos os mais queridos afetados, seremos capazes de olhar para os outros como parte da mesma humanidade? E será que além de pensarmos no nosso problema, teremos tempo para nos comover com a sorte dos refugiados que vão desaparecendo das páginas dos jornais?

Como não nos lembrarmos neste tempo de angústia do romance de Camus, A Peste, sobre uma epidemia mortífera que contamina uma cidade? A cidade é fechada e campos de quarentena são erigidos. O herói do livro, o médico Rieux, luta contra a epidemia ao mesmo tempo que afirma os valores da solidariedade e da humanidade comum, denunciando os que passaram a ver “o outro” como o mal, a ameaça, o “estrangeiro” a abater. Para Rieux, a resistência e a indignação são a forma de aproximar os seres humanos e de fazer emergir o “que têm em comum: o amor, o sofrimento e o exílio”.

Escrita em plena II Guerra Mundial, esta obra é também uma alegoria à resistência contra a peste do fascismo que tanta gente contaminou.

Trump, ao classificar o codiv-19 de “vírus estrangeiro”, quando anunciou o fecho das suas fronteiras aos Estados europeus de Schengen, assume a ideologia que sempre marcou a sua presidência: a xenofobia, o racismo e o nacionalismo. Racismo que, como o vírus, se tem espalhado um pouco por todo o mundo nos ataques contra os chineses e os asiáticos, vistos pelos defensores da supremacia branca como o novo perigo amarelo.

A Europa não está, infelizmente, imune ao vírus da desumanidade, ao medo do outro visto como portador do mal. Os refugiados tratados como inimigos na fronteira da Grécia com a Turquia, o apoio que o governo de Atenas recebeu das instituições da União, a criação pela Grécia de um Guantánamo para refugiados — um centro de detenção onde o direito não se aplica —, como denuncia uma reportagem do New York Times, são também sintomas da banalização do mal.

Na altura em que os cidadãos dos Estados da União e os seus governos tudo fazem para combater a pandemia, em que a nossa atenção se concentra nas medidas sanitárias, não seria mal pensarmos no que serão as democracias e a União Europeia para além da crise, por mais longa que ela seja.

Se a União Europeia se destruir não será porque o coronavírus provocou uma nova crise financeira, mas porque perdeu um dos valores fundamentais que a fundaram: o da fraternidade. Na fraternidade para com os que são infetados pelo vírus, nos cuidados que cada tem de ter a pensar no próximo, na consciência que os serviços nacionais de saúde são essenciais à nossa sobrevivência, vamos redescobrindo a nossa humanidade. Mas essa fraternidade tem de ser incondicional e dirigida a todos os seres humanos. É essa fraternidade que não pode ser negada aos que vivem no medo da doença ou aos que fogem da guerra, pois são todos vítimas de crises que os ultrapassam.

Seria bom que muitos dos europeus que se indignam (e com razão) por serem transformados num vírus estrangeiro por Trump encontrassem tempo para pensar nos que são reprimidos nas fronteiras da Europa, nos que veem os barcos das suas odisseias a serem destruídos nas águas que foram de Ulisses, o primeiro dos exilados.

O Mundo não tem fronteiras. Não as tem para os vírus, para as ideias, nem para os mercados. Alguns pensam ainda poder travar a viagem dos homens com arame farpado. Não será um absurdo? Não será a negação da solidariedade imprescindível para vencermos as crises?

Trump pode tentar ganhar as eleições com um discurso xenófobo, os europeus podem querer isolar-se dos males da guerra nas suas fronteiras, mas não conseguem, assim, prevenir o pior dos vírus, aquele que vai destruindo as nossas democracias.

A inquietação com um Mundo que pode num abrir e fechar de olhos ser hostil, incapaz de nos garantir os direitos fundamentais, incluindo a saúde, continuará a ser uma das grandes angústias do século XXI. No século XX, os grandes cenários apocalípticos eram os da guerra. Depois da II Guerra Mundial, o cinema enchia as salas com o terror da hecatombe do inverno nuclear, como em O Dia Depois de Nicholas Meyer.

Hoje os cenários apocalípticos já não são os da ficção científica, mas os que acompanhamos pelas televisões e pelas redes sociais em direto, com mais ou menos sensacionalismo: tragédias humanitárias, catástrofes naturais, tragédias ambientais e pandemias. O que será decisivo para o nosso futuro será a nossa capacidade para preservar a nossa humanidade comum.

Rieux, no final do livro, alerta, em plena festa de comemoração da vitória sobre a Peste, para outras epidemias que virão, e para a necessidade de se estar preparado para elas, e aponta ainda para a importância de redigir a crónica daquela epidemia porque dela se poderia concluir que “há nos homens mais coisas a admirar do que a desprezar”. Hoje, quando vemos a abnegação de tantos no combate à pandemia, e que no meio do medo se erguem vozes em defesa dos refugiados, podemos dizer que está aí o futuro da Europa.

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Trancados em casa, mas com humor


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