24.10.15

Dica (150)




«The stage seems set for months of political chaos in Portugal. It is hard to see how this will please financial institutions, investors and markets, as the President suggests. No, this seems more intended to appease pro-Brussels hardliners. It is a worrying development. (...)

Those who want to believe that systematic denial of democracy in European states will eventually lead to the creation of a peaceful and democratic United States of Europe are deluding themselves. Denial of democracy cannot possibly bring about democracy. Nor can it create peace.» 
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Rosa Parks morreu há 10 anos



Rosa Parks morreu em 24 de Outubro de 2005, com 92 anos. Era costureira, vivia em Montgomery e apanhava todos os dias o mesmo autocarro. No dia 1 de Dezembro de 1955, a parte da frente do mesmo, reservada a passageiros brancos, já não tinha nenhum lugar vago e o condutor ordenou que Rosa se levantasse e cedesse o seu. Recusou e foi presa, facto que desencadeou uma reacção em cadeia, nomeadamente o boicote dos autocarros de Montgomery durante um ano.

Mas não se tratou de um impulso isolado: há muito que Rosa se recusava a entrar nos autocarros pela porta traseira e que era activista em outras causas, nomeadamente na luta pelo direito ao voto. Ficou ligada, para sempre, juntamente com Luther King e tantos outros, à luta pela emancipação dos negros, sendo muitas vezes qualificada como «the first lady of civil rights» ou «the mother of the freedom movement».



Versão Pete Seeger:


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Angola, o país onde mais crianças morrem



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L'État c'est lui?



Excertos de um texto de Manuel Loff no Público de hoje:

«Crispado. Furioso. Cavaco comportou-se como um banal chefe de partido que, sem que a Constituição lho permita, quer abrir um precedente perigoso em qualquer democracia: barrar o caminho do poder à maioria dos representantes legítimos da vontade popular. (...) A ameaça velada de Cavaco de que não dará posse a um governo que “dependa do apoio de forças políticas” que, na sua perspectiva, são “antieuropeístas” não tem precedente na nossa história democrática e aproxima-se de precedentes como o dos militares chilenos que queriam impedir a tomada de posse de Salvador Allende, mal ele foi eleito, em 1970, com o apoio de socialistas e comunistas. Três anos depois, foi o que se viu... (...)

O mesmo Cavaco que gastou os seus dez anos de governo (1985-95) a atacar a lei fundamental do nosso regime por entendê-la contaminada pelo “colectivismo do 11 de Março” e por uma “indiscriminada estatização da economia” (discursos de 1988 e 1990) atreve-se hoje a dizer ser “este o pior momento para alterar radicalmente os fundamentos do nosso regime”. Foi, de facto, tudo quanto ele fez naqueles dez anos... Mas quais fundamentos? Nesta espécie de l'État c'est moi versão estrépito final cavaquista, este homem quer arrogar-se o direito de definir os fundamentos de um regime que ele imagina ser o seu: “participação na NATO”, “adesão plena à União Europeia e à zona euro”, “relação transatlântica” e CPLP. (...)

Com quem, afinal, se preocupa o Presidente da República, quando tem de decidir sobre o novo governo dos portugueses? Quem considera ele ser titular de interesse legítimo sobre a condução dos negócios da polis portuguesa? “As instituições financeiras, os investidores e os mercados”, a quem ele quer “impedir que sejam transmitidos sinais errados”. É essa a sua comunidade de cidadãos. Não a dos portugueses comuns, os desempregados de longa duração, os jovens forçados a deixar o seu país, os milhões de ofendidos, roubados e maltratados. (...)

Creio que me não enganei ao longo de todos estes anos quando interpretei a devastação neoliberal e austeritária como um processo de transição para um novo regime, em ruptura radical com um passado em que a democracia não se concebia sem justiça social, mesmo que, afinal, não tivesse sido mais o de um capitalismo minimamente limitado pela capacidade de controlo democrático da política económica. Cavaco, a direita, demasiada gente, vive já com este novo regime austeritário e de capitalismo de casino na cabeça. É por isso que quer agora acusar de intuitos revolucionários os que, com toda a legitimidade democrática, tentam retomar o caminho da democracia. Pura inversão da leitura histórica: é a direita que quer mudar o regime democrático, que quebrou o contrato social, que nunca aceitou a sua lei fundamental. Isso, sim, teria sido uma mudança de regime.» 
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23.10.15

Um governo liberal de libelinhas



«São 22:53 de quarta-feira, 21 de Outubro, estamos todos à espera de Cavaco. Pelo menos, eu estive, até há uns minutos, mas decidi avançar e arriscar fazer a crónica, imaginando que a decisão do nosso PR vai ser um ajuste directo ao Governo do PàF.

Quando escrevo – decidi avançar e arriscar – há um claro exagero da minha parte. Já são muitos anos a ver Aníbal trabalhar e confesso que seria uma enorme surpresa – e comeria o meu chapéu (uso uma pirâmide de gambas na cabeça) – se a decisão do nosso PR fosse outra.

É verdade que Cavaco Silva anunciou à nação, antes das eleições, que era "extremamente desejável que o próximo Governo disponha de apoio maioritário e consistente na Assembleia da República". Aliás, Cavaco Silva parece ser vítima do velho conto "cuidado com o que desejas porque pode acontecer". Provavelmente, o nosso Presidente rezou muito, muito e prometeu ir a Fátima se houvesse uma maioria mas esqueceu-se de excluir os comunistas; pensou que seria óbvio para a Aparecida. (...)

Posto isto, vamos então assumir que o XX Governo Constitucional vai ser entregue à PàF. Perdoem-me o trocadilho, mas será o XXis mais rápido do mundo. Não chega a ser XXis, é um mijinha. A esperança de vida do XX Governo Constitucional só é comparável à das efémeras. As efémeras são uma espécie particular de libelinhas que têm um ciclo de vida que vai dos 30 minutos até às 24 horas, muito raramente chegando aos dois dias de vida. (...)

No fundo, este Governo do PàF vai ser daquelas experiências que a Vida é Bela vendia: venha viver as emoções de ser ministro ou secretário de Estado durante uma semana. Para ser ministro do Governo do PàF, não é preciso pedir licença sem vencimento no actual local de trabalho, basta meter 15 dias de baixa.

Um XX Governo Constitucional do PàF é um conto para entreter crianças. Na realidade, só conta para a estatística, não é para levar a sério, até dá para pôr um cavalo no lugar do Crato, e a educação fica a ganhar. São quinze dias de regabofe assumido dos ex-além-da-troika. Vai servir para tirar fotocópias e roubar esferográficas e rolos de papel higiénico.»

João Quadros

PS+BE+PCP 1 – PàF+Cavaco 0

Dica (149)



Cavaco Silva e o passado a morder o presente.

«A ideologia, quando a ideia é fraca, torna-se raiva, como Cavaco Silva demonstrou ontem.
O país lembrar-se-á deste presidente.»
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No pasarán!



Cheguei há pouco a Portugal. Esta madrugada, li em Madrid a notícia sobre o decisão de Cavaco Silva. Talvez por estar em Espanha, só me veio à ideia: «No pasarán!» 
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21.10.15

Carta ao Presidente da República de Angola


Exmº Senhor Presidente da República de Angola,
Eng. José Eduardo dos Santos

Os abaixo-assinados integraram, em 1970-1971, na qualidade de réus e de advogados destes, o Processo nº 44/70, do 4º Juízo Criminal de Lisboa, vulgo Tribunal Plenário da Boa Hora.

Nesse processo, o Governo colonial-fascista português e a sua polícia política, a PIDE, acusaram 10 jovens – quase todos naturais de Angola – de desenvolverem “actividades atentatórias da segurança do Estado” e de colaborarem com “movimentos terroristas” “para fazer com que, por meios violentos e com o auxílio estrangeiro de países inimigos de Portugal, se separe da Mãe Pátria aquela parcela de Território Nacional (Angola)”.

Nessa ocasião, em 21 de Outubro de 1970, o representante em Argel do MPLA, Castro Lopo, leu, aos microfones da rádio “A Voz da Liberdade” um apelo do Movimento em que dizia: “Sob a acusação de conspiração contra a segurança do Estado português, assistimos na realidade ao processo sumário de todo um povo de mais de 5 milhões de homens, nessa hora submetidos a tribunais e leis que nunca recohecemos como legítimos.” O MPLA exortava todos os que escutavam, portugueses como angolanos, à solidariedade com os réus do Tribunal Plenário de Lisboa: “Que cada um de vós não se furte às responsabilidades que lhe cabem por cada um dos dez acusados sentados no banco dos réus. Que cada um de vós se sinta responsabilizado pelas centenas de angolanos que definham e morrem em campos de concentração, em Cabo Verde ou em Angola. Que cada um de vós se sinta responsabilizado pela sentença condenatória que vai ser lida e que foi decidida em vosso nome.”

Passaram 45 anos, e a prisão em Angola de Luaty Beirão e outros jovens que contestam o regime acorda em nós a memória desse processo em que fomos réus e advogados. Na acusação que lhes é feita encontramos o eco da que nos foi feita quando lutávamos pela independência de Angola, as “actividades atentatórias da segurança do Estado”. Mas na nossa consciência ecoam também as palavras do Apelo do MPLA: não, não nos furtamos à responsabilidade que nos cabe perante esses jovens encerrados nas prisões de Luanda, culpados de lutarem por um sonho que era também aquele que afirmávamos no Tribunal Plenário de Lisboa: o de um futuro livre, feliz e progressivo para todos os filhos de Angola independente. O sonho dos pais fundadores do Movimento Popular de Libertação de Angola. Não podemos furtar-nos à responsabilidade que nos cabe por não termos conseguido cumprir esse sonho, por não termos deixado aos jovens esse país que sonhámos.

Passaram 45 anos, Senhor Presidente, mas não nos esquecemos. E queremos acreditar que também o Senhor Presidente recorda ainda a sua juventude e os sonhos daquela a que Pepetela chamou A Geração da Utopia. É em nome dessa memória, Senhor Presidente, e com o mesmo amor por Angola que nos fez enfrentar a PIDE e o Tribunal Plenário, que lhe solicitamos a imediata libertação de Luaty Beirão e dos seus companheiros de prisão.

Para maior certeza de que esta carta chegará à sua atenção, permitir-nos-emos dar-lhe pública divulgação.
21 de Outubro de 2015

Diana Andringa
Manuel Macaísta Malheiros
Maria José Pinto Coelho da Silva
Mário Brochado Coelho 
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Uma arruada laranja


Os deuses protegeram-me do sofrimento e dos «nervos» e fizeram-me escolher, há muito tempo, a data para esta viagem, sem que pudesse adivinhar o que por aí se passaria nestes dias.

Para compensar, vi-me ontem no meio de um arruada laranja (!!!) de suporte a Scioli, o candidato que vai à frente nas sondagens para as presidenciais do próximo Domingo, aqui na Argentina. (Curiosidade: se o candidato mais votado tiver mais de 40% dos votos ganha à 1ª volta volta, não há 2ª.)

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20.10.15

Buenos Aires ainda sem jacarandás em flor



… mas o Café Tortoni continua igual e é sempre um regalo para os olhos.



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Isto vem de muito longe


(Colónia do Sacramento, Museu de Portugal)

Não existia sobretaxa de IRS, mas havia salários em atraso e o pagamento dos mesmos estava ligado ao desenvolvimento da cidade. 
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19.10.15

A «Colónia» portuguesa


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Confesso que não sou especialmente sensível às pegadas de portugueses, que tenho visto por esse mundo fora. Mas Colónia do Sacramento, aqui no Uruguai, é mesmo diferente e muito especial.

A quantidade de casas que por cá deixámos, algumas muito bem reconstruídas e cuidadas, outras à espera de melhores dias, enche os olhos e transporta-nos «para aí» a séculos e milhares de quilómetros de distância. Distinguem-se imediatamente das espanholas e muitas albergam hoje museus que me preencheram grande parte do dia.

Amanhã? Buenos Aires chama por mim.





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Colónia do Sacramento e rastos dos portugueses



Só tive ainda tempo de dar uma primeira e rápida vista de olhos a esta terra magnífica e pacífica, separada de Buenos Aires pelo Rio da Prata e 45 quilómetros. Hoje verei tudo o que puder na Cidade Velha, ontem só deu para reconhecer meia dúzia de rastos dos portugueses.

A Colónia do Santíssimo Sacramento foi fundada em Janeiro de 1680 por Manuel Lobo, governador da Capitania Real do Rio de Janeiro, a mando da coroa portuguesa, desejosa de estender o seu domínio, através do Brasil, até ao Rio da Prata. Foram depois muitas as lutas e vicissitudes por que passou até à independência do Uruguai em 1828.

Situada numa Península, tem praias e mais praias (de água doce, claro), à espera do Verão que teima em não chegar. Mas chegará. Eu é que já estarei por aí – com Inverno… 



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18.10.15

Presidenciais: boas notícias



… que me chegam aqui ao Uruguai. Finalmente, tenho em quem votar!

Marisa Matias é candidata à Presidência da República.

Amores e cadeados



Não foi só em Paris que os amantes penduravam «cadeados de amor» na Ponte das Artes, tantos que o peso se tornou mais do que excessivo e que foi necessário alterar a tradição.

Em Montevideu também há uma versão semelhante, mais modesta mas nem por isso com menos sucesso. Numa das avenidas mais importantes da cidade, existe uma fonte onde milhares de cadeados prometem amor eterno aos pares que lá os colocarem. Mas dizem as más-línguas que guardam a chave para o que der e vier…