15.5.10

Vuvuzela?



Habituem-se!

(Via Virgílio Vargas no Facebook)

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Nem mirra nem incenso


Nada vi sobre a estadia do papa a Norte, a não ser uma frase que corria em «pé de ecrã» durante o serão de ontem: «Papa quer cadeira em que descansou no Porto». É a que está na foto, aparentemente, e já estará a ser embalada para seguir viagem rumo ao Vaticano.

Feiosa, para meu gosto, entre Moviflor e IKEA, embora certamente mais cómoda do que o trono de S. Pedro para ler o jornal. Mas, em Itália, terra de design por excelência, não haveria outras cadeirinhas primando também pelo «conforto e ergonomia»? Porquê esta? Porquê de Paredes? Uma cunha do dr. Basílio Horta para promover as nossas exportações? Julgo que não: apenas mais uma prenda a juntar ao terço biológico de bugalhos de eucalipto, ao peixe congelado, a compotas, a uma camisola do Benfica e a um quadro de S.Nuno para agradecer a canonização. E, evidentemente, à imagem de S. António, oferecida por Cavaco Silva, na sua persistente cruzada para convencer o mundo de que ele é bem nosso e não das gentes de Pádua.

Faz isto algum sentido? Talvez seja perfeitamente normal que um papa chegue a casa com toda esta tralha , mas confesso que eu trouxe coisas bem mais interessantes na minha mala que veio da Índia e do Butão.

P.S. - Afinal foram duas cadeiras e não uma!
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Sínteses difíceis

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14.5.10

Humor megro ou nem por isso

O meu papa é melhor do que o teu?


Nos últimos dias, têm surgido aqui e ali (no Facebook, em mails, até num SMS enviado da reunião de intelectuais no CCB) conversas e comparações entre João Paulo II e Bento XVI, em geral com balanço positivo a favor deste último. Questão um tanto bizantina, à qual tenho respondido sistematicamente do mesmo modo: não consigo escolher, para mim são ambos «piores».

A rampa descendente começou logo quando Paulo VI (1963-1978) substituiu João XXIII (1958-1963), teve um patamar de esperança, durante um mês, quando João Paulo I foi eleito e antes que desaparecesse não se sabe ainda em que espécie de combate, e bateu no fundo (será?) com João Paulo II e Bento XVI.

Não sei se esta apreciação igualitária dos dois últimos papas tem raízes no meu ADN, já que sou neta de uma prussiana alemã que seria hoje polaca, mas a verdade é que não consigo, nem por um minuto, «preferir» uma pessoa apenas porque é indiscutivelmente mais inteligente do que outra mas que, perante os gravíssimos problemas da humanidade, defende, sempre e antes de mais, os princípios da sua «paróquia». Regressando ontem, em Fátima, como aliás seria de esperar, à condenação do aborto e à defesa da família «fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher», Bento XVI quis mostrar que não desiste e fá-lo, de um modo geral, com uma insuportável sobranceria: «Cientes, como Igreja, de não poderdes dar soluções práticas a todos os problemas concretos, mas despojados de qualquer tipo de poder, determinados ao serviço do bem comum, estais prontos a ajudar e a oferecer os meios de salvação a todos». Sublinhe-se o «oferecer».

Adiante. João Paulo II ou Bento XVI? No «dar pr’á troca», só estou a ajudar o meu neto a completar a caderneta de cromos do Mundial de Futebol.

E a canção do dia é, obviamente:

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Saldanha Sanches


Morreu esta madrugada. Pode ser lida aqui uma longa entrevista dada em 2008, em conjunto com sua mulher, Maria José Morgado - sobre a vida, a juventude, a militância.
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13.5.10

Em Espanha, contra a ditadura cubana


MANIFIESTO

Cuba está soportando una feroz y dolorosa dictadura que mantiene al país en la miseria.
Una dictadura que en sus postrimerías se muestra despiadada y sorda a las voces que reclaman libertad y democracia.
La cuestión cubana es hoy una cuestión de derechos humanos básicos y esenciales.
La elección está, sencillamente, entre democracia o totalitarismo.
Los españoles sabemos muy bien que nada puede justificar la falta de libertad. Ayudemos al pueblo cubano para que alcance la democracia lo antes posible.

¡No los dejemos solos!

É este o texto do Manifesto que 60 artistas, escritores e intelectuais espanhóis lançaram ontem no quadro de uma «Plataforma de Españoles para la Democratización en Cuba». Entre os nomes mais conhecidos, Mario Vargas Llosa, Pedro Almodóvar, Rosa Montero, Antonio Muñoz Molina e Jorge Semprún.

Aberto agora à subscrição pública, pode ser assinado aqui.

Na apresentação da Plataforma, o governo de Zapatero foi expressamente acusado de cumplicidade com o regime cubano pela «diplomacia silenciosa» que tem praticado, mesmo por ocasião da morte de Orlando Zapata.


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Só intelectuais foram 1.300

A Palmira F. Silva tem publicado, no Jugular e também no DN, muitos e excelentes textos a propósito da visita de Bento16 a Portugal, como, por exemplo, Apenas uma questão de Marketing, sobre a reunião com figuras da cultura, que teve lugar nontem no CCB.

«Afirmar, como o Papa o fez aos nossos intelectuais, que “há toda uma aprendizagem a fazer quanto à forma de a Igreja estar no mundo”, não indica, como alguns optimistas leram, que o Papa pretende abrir alguma janela para o mundo real ou repensar as ideias que tornam a hierarquia da Igreja completamente desfasada da sociedade. A conclusão da frase, “levando a sociedade a perceber que, proclamando a verdade, é um serviço que a Igreja presta à sociedade, abrindo horizontes novos de futuro, de grandeza e dignidade” indica que para Bento XVI é a sociedade que está errada e que a Igreja apenas precisa de aprender qual é a forma de mostrar ao Mundo que é a detentora da “verdade”.»
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Vermelho ou sobretudo negro



(Realce meu)
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12.5.10

Grandes motivações


Estamos bem entregues - Herman Van Rompuy, presidente da União Europeia:

(A propósito, leitura aconselhada: A Europa está a implodir?)
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Tempo de milagres


«Antecedendo a visita do Papa, Portugal tem sido contemplado com uma verdadeira cornucópia de milagres, da desabituada vitória do Benfica no campeonato ao arquivamento (sem julgamento) do processo em que um ex-presidente da Câmara de Lisboa e mais responsáveis camarários eram acusados de ter lesado a autarquia em benefício da notória Bragaparques, propriedade do não menos notório Domingos Névoa, também ele, por sua vez, milagrado pela Relação de Lisboa com a absolvição do crime de tentativa de corrupção de um vereador, apesar de ter sido dada como provada toda a matéria de facto que levara à sua condenação em primeira instância. Nada, porém, que se compare ao milagroso sobressalto de consciência que levou 10 ex-ministros das Finanças em peregrinação, de baraço ao pescoço, junto de outro ex-ministro das Finanças, para lhe mostrarem a sua "profunda preocupação" com a "situação do país". Ao todo, os 10+1 ex-ministros foram responsáveis pela "situação do país" durante 28 dos 36 anos de Democracia. Se foi, e acredito que sim, a visita do Papa que os inspirou ao arrependimento, abençoado seja o Papa.»

Manuel António Pina, hoje no JL

Caos?

Não se trata do ruído de uma caravana eleitoral, de regozijo pela presença de um papa, nem sequer de gloriosos festejos benfiquistas. É pura e simplesmente o dia a dia do trânsito em Calcutá.

Primeiro estranha-se, depois até se sente a falta...



(Filme da autoria da S.)
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11.5.10

Juiz Garzón, «o último exilado do franquismo»

Baltasar Garzón aceitou hoje o convite que lhe foi dirigido pelo presidente do Tribunal Penal Internacional para exercer a função de assessor externo naquela instituição, durante sete meses, e pediu para esse efeito a respectiva autorização ao governo espanhol.

A «Asociación para la Recuperación de la Memoria Histórica» já reagiu considerando este «exílio» de Garzón como uma «amputação na justiça espanhola»: «"Que el único juez que se ha atrevido a investigar estos crímenes se tenga que marchar de España es un estrechamiento de la democracia", opina Silva. El colectivo cree que es "un hecho de extrema gravedad como precedente para otros jueces que intenten investigar los crímenes del franquismo"».

Quem o diz é Emilio Silva, presidente da referida Associação, que conheci há alguns meses num colóquio do CES, em Coimbra, e que é autor do livro Las fosas de Franco. Nele relata, detalhadamente, os esforços e toda a espécie de peripécias que o levaram a encontrar as ossadas do seu próprio avô, militante da Izquierda Republicana, assassinado pelos falangistas em 1936.

Por mais que nos indignemos com este verdadeiro escândalo que se passa aqui bem perto de nós, nunca conseguiremos realizar a revolta dos que nela estão directamente envolvidos, como é o caso dos familiares das vítimas do franquismo, que vivem naquilo que chamam uma «grande fossa chamada Espanha».

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Habemos papa (4)



Com dedicatória.
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Habemos papa (3)


Posso estar a ser hoje muito intransigente, mas paciência.

Há pouco, a família Cavaco Silva em peso recebeu o papa na sede da Presidência da República. Em nome de quê e de quem?

Que eu saiba, a casa familiar situa-se na Travessa do Possolo, a tal das marquises de alumínio, e não em Belém. Bento16 talvez não desdenhasse de um lanchezito preparado pela D. Maria.
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Habemos papa (2)


Do bom gosto…

E, afinal, parece que «O Papa não usa Prada, mas Cristo».
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Habemos papa (1)


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Ainda sobre «A Esquerda Radical»


Ausente do outro lado do mundo, não estive no lançamento do livro de Miguel Cardina, mas chamo a atenção para a entrevista que deu à Angelus Novus.

A última pergunta e a respectiva resposta:
P. Existe uma “esquerda radical” hoje? Dito de outra forma: o Bloco de Esquerda é o “herdeiro natural” do legado (ou legados) da esquerda radical? E, admitindo que a resposta é positiva, o que significa isso?

R. Várias perguntas com diferentes respostas. Vamos por partes: existe hoje uma esquerda radical que ainda pensa e age de acordo com os cânones da esquerda radical das décadas de 1960 e 1970. Tem pequenas expressões organizativas, mas é sobretudo uma maneira de ver o mundo e a política que também conflui com modos de activismo presentes no Bloco de Esquerda. Mais complicada é a questão de saber se o Bloco de Esquerda é o “herdeiro natural” desse legado. Eu diria que é e não é. Por um lado, o BE tem uma parte da sua origem associada a partidos de extrema-esquerda, de matriz trotskista e maoísta, que decidem operar uma espécie de salto qualitativo que lhes permitisse sair do gueto no qual pareciam estar condenar a ficar. Mais: muitas das suas bandeiras de luta, que em última análise remetem para um entendimento da opressão – e da emancipação – como realidade plural, tiveram a sua génese ou reconfiguração no radicalismo dos anos sessenta e setenta. Por outro lado, é hoje evidente que as melhores e mais qualificadas intervenções do BE são feitas a partir do Parlamento, para onde canalizam boa parte das suas energias. Este aspecto, bem como uma postura mais dialogante para com os restantes partidos de esquerda, são, em certa medida, uma novidade que não se encontra no radicalismo daqueles anos.
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10.5.10

Visita do papa - última hora


Homem de pouca fé, Bento16 temeu que a nuvem o impedisse de aterrar em Lisboa e veio andando: anda incógnito pelo Douro, tentando vindimas fora de época.
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Lost in transition


De Calcutá para Lisboa, do Sol indiano para o mundo dantesco que passou a ser, intermitentemente, o dos aeroportos europeus, numa experiência que ultrapassa tudo o que as televisões possam tentar mostrar.

Passo a resumir. Depois de uma etapa Calcutá – Frankfurt, longa mas até relativamente repousante, deparámos com um primeiro e assustador «Cancelled» alinhado com o anúncio do nosso voo para Lisboa. Nem sonhávamos então o que viriam a ser as treze horas que se seguiram, de check-in em check-in até ao desespero quase total. Finalmente, o quarto cartão de embarque para a quarta fila de espera em aviões superlotados deu-me o último lugar no último voo da noite. Menor sorte tiveram alguns companheiros de viagem que, à hora em que escrevo, ainda não chegaram a casa.

Indo um pouco atrás. Se ninguém pode prever quando vem e para onde vai a malfadada nuvem, seria de esperar que a experiência de semanas tivesse servido para corrigir algumas aberrações, como, por exemplo, a rigidez da Lufthansa que, mesmo sabendo que a TAP, seu parceiro na Star Alliance, estava a voar para Lisboa com muitos lugares vagos, não nos encaminhou para os mesmos, insistindo em nos manter em filas de espera irrealistas nos seus próprios aviões. Se o caos é inevitável, não parece haver grande empenho ou profissionalismo em o minimizar.

Viagem Frankfurt – Lisboa, portanto? Não necessariamente: meia hora antes da aterragem, soubemos que esta aconteceria… no Porto, onde autocarros esperavam para nos trazer a Lisboa. Ironia de destinos vários: em Frankfurt, os voos para o Porto estavam a ser cancelados…

Na recolha das malas, verifiquei que a minha - e só a minha!... – não tinha vindo, facto que esteve na origem do episódio mais kafkiano da noite (já início do dia de hoje, pelas 6 da manhã). Depositada na Portela, impunha-se que fosse declarar que a minha bagagem não tinha chegado ao destino. Para isso, tinha de entrar por uma porta pela que é suposto que apenas se saia, já que se reclama o extravio de malas no átrio em que as mesmas são normalmente recolhidas, antes de se passar a alfândega e de sair para o hall das Chegadas. Eu estava do lado de fora, claro, porque não está previsto que se faça um voo… de autocarro! Nada convenceu os mais de vinte seguranças com que falei, das mais variadas empresas, a acompanhar-me, já que a nenhum competia essa tarefa. Todos me diziam que só me restava tomar o meu lugar numa fila para o minúsculo balcão de Apoio ao Cliente, com dois ou três funcionários, onde centenas de pessoas (milhares?) esperavam em serpentina, que, bem esticada, deveria dar a volta a todo o aeroporto. Dez subidas e outras tantas descidas depois, uma alma caridosíssima deu-me o telefone directo do balcão a que eu aspirava chegar há mais de uma hora e lá convenci uma senhora a vir-me buscar cá fora. A partir daí, tudo correu bem, até me pareceu que as duas funcionárias ensonadas ficaram contentes por ter algo para fazer, já que estavam ali enclausuradas, com o aeroporto encerrado, numa área deserta a que ninguém conseguia aceder, embora houvesse multidões com bagagens extraviadas, na tal terrível fila do Apoio ao Cliente.

Tudo isto é normal? Não me parece, mas enfim. Uma coisa é certa: viajar na Europa não voltará a ser o que era e, como em muitos outros domínios, a ferrugem parece ser quem mais ordena neste velhíssimo continente.
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