
José Eduardo dos Santos está em Portugal, na primeira visita de Estado desde que subiu ao poder há cerca de trinta anos. Viagem com fins eminentemente económicos: em tempo de fundilhos em mau estado e com um novo banco na manga, há que evitar conversas incómodas –
real politik ou
business as usual, como preferirem.
E, no entanto, todos conhecemos mil histórias de negócios duvidosos e faustas vidas dos governantes desse país riquíssimo, onde a esmagadora maioria do povo é miserável. Onde se mata para roubar um telemóvel. Onde se é preso por escrever ou por falar, como no Portugal colonizador.
A secção portuguesa da Amnistia Internacional dirigiu
uma longa carta a Luís Amado, onde declara que «continua preocupada com as violações dos direitos humanos cometidas com aparente imunidade por agentes da polícia em Angola nos últimos meses», ao mesmo tempo que denuncia situações concretas e chama de novo a atenção para o caso de José Fernando Lelo, antigo correspondente da «Voz da América», condenado a doze anos de prisão «apenas por expressar as suas opiniões e as suas críticas ao governo».
Paralelamente, o Bloco de Esquerda
anunciou que não estará presente no encontro que José Eduardo dos Santos terá, na Assembleia da República, com Jaime Game e representantes dos grupos parlamentares, tendo declarado que «o Estado Português deve ter relações com Angola, mas não pode desconhecer o que se passa neste país, nem muito menos aproveitar-se dele, assumindo uma visão exclusivamente pragmática com ausência de valores».
Iniciativas «piedosas», ineficazes, puramente simbólicas? Provavelmente. Mas de símbolos também é feita a vida e convém não o esquecer quando são bem mais fáceis solidariedades com causas longínquas e líderes coloridos e carismáticos, do que com estes parentes próximos que, para o bem mas nem sempre, estão aqui mesmo ao virar de uma esquina da nossa história.