
Maria Manuela Cruzeiro fez uma entrevista de cerca de quarenta horas a um dos principais capitães de Abril, Vasco Lourenço, e propõe-nos um longo caminho bem pelo interior da revolução de 74, desde as fases de preparação até à Constituição de 1976.
Não me alargo em elogios, mais do que merecidos, porque
João Tunes já o fez sem poupar nas palavras, e remeto também para tudo o que ele escreveu sobre o livro, com destaque para a clareza com que o papel de Vasco Lourenço nele é evidenciado.
Três apontamentos de leitura apenas.
- Mais de duas semanas depois de o livro estar disponível, registo, com alguma estranheza devo dizê-lo, a ausência de reacções públicas ao mesmo, apesar de algumas personalidades, de grande relevo na história recente do país (como é o caso do general Eanes), não saírem muito bem na fotografia que Vasco Lourenço delas faz.
- Mesmo se VL responde negativamente, e com grande ênfase, quando lhe é perguntado se não houve «uma dose de sorte» no sucesso das operações no dia do 25 de Abril, fica-se com a sensação contrária: ao acompanhar a descrição detalhada de todos os passos da preparação, volta-se a pensar que muitos fios poderiam ter sido quebrados, a tal ponto eles ainda hoje parecem débeis.
- VL diz, e repete à saciedade, que os militares nunca quiseram fazer uma revolução (à partida, nem sequer um golpe militar), mas apenas devolver a liberdade ao povo através de eleições livres. O filme dos acontecimentos, revisto através da leitura deste livro, mostra, com todo o detalhe e com uma clareza impressionantes, como a revolução ultrapassou imediatamente os seus principais agentes e começou de facto, na rua, no próprio dia 25 de Abril.
* Maria Manuela Cruzeiro, Vasco Lourenço, do Interior da Revolução, Editora Âncora, 576 p.