23.10.10

Guillermo Fariñas, o Prémio e o Bloco


Como é sabido, o Parlamento europeu atribuiu este ano o Prémio Sakharov ao opositor cubano Guillermo Fariñas, protagonista de uma recente e longuíssima greve de fome em luta pela libertação de presos políticos no seu país – greve pelo menos parcialmente «vencedora», diga-se de passagem.

É a terceira vez, em oito anos, que o prémio é atribuído a resistentes cubanos e terão sido os agrupamentos à direita que ganharam a votação, quando outros teriam preferido a etíope Birtukan Mideska ou a ONG israelita «Breaking the Silence». Absolutamente legítima a reivindicação de uma distribuição mais universal, mas parece-me que o impacto recente dos actos de Fariñas justifica amplamente a atribuição do prémio. E esperemos para ver se o governo cubano vai permitir que Fariñas se desloque a Estrasburgo para o receber (?!...) ou iremos a assistir a uma nova greve de fome, já anunciada.

Mas uma coisa é perder uma votação e outra é condenar o seu resultado. Neste contexto, não entendi os argumentos de Miguel Portas que, ainda segundo o Público, lamentou a decisão e referiu a este propósito, o «reacender de guerras frias acabadas» de «um tempo que já passou». E registei, com perplexidade mas satisfação, que ele retirou entretanto do seu Facebook estas afirmações, e outras no mesmo sentido, que lá tinha publicado…

Eis senão quando esbarro com uma intervenção de Luís Fazenda na AR, em que este retoma e amplifica o assunto, com a veemência que o caracteriza (alguém o interpelou? havia necessidade?):


Regressa ao tema «guerra fria», levantado por Miguel Portas, como se quem é contra a falta de liberdade de expressão em Cuba estivesse automaticamente ao serviço dos EUA (mas onde é que eu já ouvi isto?...), e insurge-se contra a utilização do prémio «para que sejam atingidos determinados fins», numa «insistência que não pode deixar de ter uma leitura política». 

Convém talvez lembrar que se trata de um prémio que é definido como «meio para homenagear pessoas ou organizações que dedicaram as suas vidas ou acções à defesa dos direitos humanos e à liberdade». Havia certamente dezenas de candidatos possíveis, mas não cabe Fariñas nesta definição?  Ou  não haverá ainda um T-shirt do Che escondida debaixo de muitas camisas do Bloco?

P.S. – Por informações entretanto recebidas, fiquei a saber que apenas o PCP e o PEV votaram contra o «voto de saudação» apresentado ontem na AR pelo CDS, pelo que presumo que esta intervenção de Luís Fazenda seja uma declaração de voto do Bloco: a favor mas com estas reservas. Fica explicada a existência da intervenção, mas em nada se altera a minha opinião sobre o conteúdo da mesma.
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Da decência


«Eu preferia um país onde um deputado me dissesse: "Tive um convite do caraças e, claro, já aceitei." Não seria o país ideal mas, nesse, sentir-me-ia menos enganado.»

Ferreira Fernandes, no DN, a propósito da ida do deputado Agostinho Branquinho para a Ongoing.
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Para ler e meditar


Um importante texto de Boaventura Sousa Santos publicado no último número da Visão e significativamente intitulado A «ditamole»:

«Se nada fizermos para corrigir o curso das coisas, dentro de alguns anos se dirá que a sociedade portuguesa viveu, entre o final do século XX e começo do século XXI, um luminoso mas breve interregno democrático. Durou menos de quarenta anos, entre 1974 e 2010. Nos quarenta e oito anos que precederam a revolução de 25 de Abril de 1974, viveu sob uma ditadura civil nacionalista, personalizada na figura de Oliveira Salazar. A partir de 2010, entrou num outro período de ditadura civil, desta vez internacionalista e despersonalizada, conduzida por uma entidade abstracta chamada “mercados”.

As duas ditaduras começaram por razões financeiras e depois criaram as suas próprias razões para se manterem. Ambas conduziram ao empobrecimento do povo português, que deixaram na cauda dos povos europeus. Mas enquanto a primeira eliminou o jogo democrático, destruiu as liberdades e instaurou um regime de fascismo político, a segunda manteve o jogo democrático mas reduziu ao mínimo as opções ideológicas, manteve as liberdades mas destruiu as possibilidades de serem efectivamente exercidas e instaurou um regime de democracia política combinado com fascismo social. Por esta razão, a segunda ditadura pode ser designada como “ditamole”.»

Ler aqui o texto na íntegra.
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Os toureiros espanhóis matam o touro na arena, os portugueses abatem-no depois da corrida


Nada a ver com acesas discussões ente adeptos e inimigos de lides: trata-se apenas da primeira frase de um artigo que The Economist publicou há dois dias sobre a actual situação de Portugal. A ler aqui.

Mas o touro é...
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As Cidades e as Praças (24)





Praça da Catedral, Milão
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22.10.10

Ok Go

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Más notícias, mas previsíveis


O Algarve lamenta que grandes operadores turísticos a nível mundial tenham agora deixado de o incluir nas suas ofertas, durante a chamada época baixa do ano. Eles terão sido também já responsáveis, em termos gerais, pela perda de três milhões de estrangeiros / dia, na última década, fundamentalmente pela forte aposta que começaram a fazer em mercados não europeus. Prevêem-se novas falências a sul, o que é terrível num dos sectores em que não deveríamos mesmo minguar.

A notícia não me surpreende de todo. Por um lado há «a crise» que faz certamente diminuir a procura e, por outro, à excepção de golfe, que tem o Algarve realmente para oferecer quando o Sol deixa de queimar a valer e a temperatura do mar desce um número razoável de graus? Um clima um pouco mais ameno? Haverá sempre alguns nórdicos enregelados que vêm por aí abaixo. Mas, pelo mesmo preço, ou menor ainda, há todo o hemisfério Sul à distância de um clique, da América Latina à Ásia e à Austrália, em época alta ou média alta, ou seja em pleno Verão ou quase.

E, a nível mundial, a oferta é tanta, mas tanta e tão variada, cresceu de tal maneira na última meia dúzia de anos (em parte porque alguns países magníficos, até agora fechados ou sem infra-estruturas turísticas as criaram e nelas investiram a sério, por exemplo no sudoeste asiático), que não vislumbro que mudanças radicais são possíveis para que surjam hipóteses ganhadoras que contrariem a tendência que parece estar a concretizar-se. Será muito difícil inverter o tipo de desenvolvimento (não) qualitativo que foi permitido ao longo de décadas e que, muito provavelmente, tende a colocar-nos na cauda de uma qualquer outra tabela.
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Petição pelo Pluralismo: última hora


Termina hoje, às 23h59, o prazo para recolha de assinaturas. Segue-se o processo de entrega às autoridades competentes e estão já na calha algumas outras iniciativas. Um último esforço de divulgação, please...

Texto e assinaturas AQUI.

Porque há quem tenha dificuldade em ler o texto correctamente, copio-o:

Petição pelo pluralismo de opinião no debate político-económico

Às direcções de informação dos canais televisivos portugueses e restantes meios de comunicação social; - responsáveis por programas de televisão que abordam questões político-económicas; - grupos parlamentares com representação na Assembleia da República; - Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

As medidas de austeridade recentemente anunciadas pelo governo vieram mostrar, uma vez mais, a persistência de um fenómeno que corrói as bases de um sistema democrático. Nas horas e dias que se seguiram à conferência de imprensa de José Sócrates e de Teixeira dos Santos, os órgãos de comunicação social, nomeadamente as televisões, empenharam-se mais em tornar as referidas medidas inevitáveis do que em promover efectivos espaços de debate em torno das grandes opções político-económicas.

De facto, os diferentes painéis de comentadores televisivos convidados para analisar o chamado PEC III foram sistematicamente constituídos a partir de um leque apertado e tendencialmente redundante de opiniões, que oscilou entre os que concordam e os que concordam, mas querem mais sangue; ou entre os que acham que o PEC III vem tarde e os que defendem ter surgido no timing certo. Para lá destas balizas estreitas do debate, parece continuar a não haver lugar para quem conteste, critique ou problematize o quadro conceptual que está em jogo e as intenções de fundo, ou o sentido e racionalidade dos caminhos que Portugal e a Europa têm vindo a seguir, em matéria de governação económica.

Por ignorância, preguiça, hábito, desconsideração deliberada ou manifesto servilismo, os canais televisivos têm sistematicamente tratado a análise da crise económica como se o intenso debate quanto aos fundamentos doutrinários e às opções políticas que estão em jogo pura e simplesmente não existisse. Com a particular agravante de a crise financeira, iniciada em 2008, ter permitido uma consciencialização crescente em relação às diferentes perspectivas, no seio do próprio pensamento económico, no que concerne às responsabilidades da disciplina na génese e eclosão da crise.

Com efeito, diversos sectores político-sociais e reputados economistas têm contestado a lógica das medidas adoptadas, alertando para o resultado nefasto de receitas semelhantes aplicadas em outros países e denunciado a injusta repartição dos sacrifícios feita por politicas que privilegiam os interesses dos mercados financeiros liberalizados. Mas a sua voz permanece, em grande medida, ausente dos meios de comunicação de massas.

Não se trata de criticar o monolitismo das opiniões convocadas para o debate, partindo do ponto de vista de quem nelas não se revê. Uma exclusão daqueles que têm tido o privilégio quase exclusivo de acesso aos meios de comunicação seria igualmente preocupante. O problema de fundo reside em ignorar, nos dias que correm, o pluralismo de interpretações e perspectivas sobre a crise, sobre os seus impactos e sobre as opções de superação.

Somos cidadãos e cidadãs preocupados com este silenciamento e monolitismo. E por isso exigimos aos órgãos de comunicação social – em particular às televisões, e sobretudo àquela a quem compete prestar “serviço público” – que respeitem o pluralismo no debate político-económico de modo a que se possa construir uma opinião pública mais activa e informada. Menos do que isso é ficar aquém da democracia e do esclarecimento.

Será dado conhecimento da presente petição, e dos respectivos subscritores, às direcções de informação dos canais televisivos portugueses e restantes meios de comunicação social; a responsáveis por programas de televisão que abordam questões político-económicas; aos grupos parlamentares com representação na Assembleia da República e à Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

Para informações e contactos: pluralismonodebate@gmail.com
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Importa-se de repetir, Francisco Lopes?


«Manuel Alegre dará um melhor Presidente que Cavaco Silva?
Pode haver estilos diferentes, palavras diferentes, mas em aspectos essenciais o percurso de um e de outro coincidem.»

Goste-se ou não de Manuel Alegre, concorde-se ou não com a sua candidatura, é preciso ter lata e ser muito (nem sei que adjectivo escolher…) para fazer uma afirmação como esta.

E já que a asneira parece livre, eu também não vejo diferenças essenciais entre a candidatura de Francisco Lopes e a de Manuel João Vieira. Afinal, ambos querem servir o país!
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As Cidades e as Praças (23)



Praça da Torre do Relógio, Thimphu (2010)
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21.10.10

A pensar no OE

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Dos Himalaias para a Floresta Negra


A Alemanha e o Butão são países que nunca me lembraria de associar, mas leio hoje que se realizou recentemente na cidade de Schömberg um «festival da felicidade». Durante uma semana, com a presença de delegados do Butão, tentou-se começar a definir uma visão de felicidade ou uma «constituição» da felicidade para Schömberg e está prevista uma reunião com todos os responsáveis municipais para discutir e aprofundar o assunto.

Curiosidade: ignorância minha, mas dizem-me que há em alemão um problema de terminologia, já que a palavra «glück» significará simultaneamente felicidade, sorte e contentamento, o que não é bem a mesma coisa quando se fala de Gross National Happiness

A atracção pelo modelo de GNH vai fazendo assim o seu caminho, lentamente, mas um pouco por todo mundo. Vou registando. Se eu não estivesse estado no Butão, teria visto o título desta notícia e passado à frente. Mas estive, o que faz toda a diferença.

(Fonte)
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Irresistível

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E viva o Simplex!


O PS incluiu, numa proposta de lei que apresentou à AR, um conjunto de 433 leis, a maior parte de 1975, que no seu entender deveriam ser revogadas.

Vale a pena ler os exemplos que o DN enumera, e que terão proporcionado aos deputados excelentes momentos de hilaridade pela sua absoluta inutilidade, mas um desses casos merece especial realce: o decreto «que demitiu da corporação dos Oficiais da Armada o Almirante Américo Tomás».

Não tivesse a proposta do PS sido recusada e poderia acontecer que a alma penada de Tomás viesse agora reclamar benesses e condecorações, já que, como terá sublinhado um deputado do PS, «às vezes as partes nos processos vão desencantar leis de que já ninguém se lembra. "Há senhores juízes e senhores advogados que vão buscar coisas do arco da velha."» E deputados também, sem qualquer espécie de dúvida!!!

Pena é mesmo que não se possa revogar a sua certidão de óbito, para termos candidato de direita alternativo a Cavaco, em 2011. Isso é que era: aqueles discursos!
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As Cidades e as Praças (22)





Plaza Mayor, Trinidad (1995)
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20.10.10

E a França ali tão perto

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Agora os cemitérios


Em meados de Dezembro, entra em vigor uma nova lei que regula o acesso e exercício da actividade funerária. Se bem percebo, os cemitérios continuarão sob alçada da administração local, mas estas podem conceder a privados e associações mutualistas e outras (por exemplo as IPSS) a respectiva exploração.

Nem sonho em que diferem a Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL) e a Associação dos Agentes Funerários de Portugal (AAFP), a não ser que a primeira tem sede em Lisboa e a segunda no Porto, mas parecem ter posições diametralmente opostas em relação a esta lei, o que não deixa de ser estranho.

Enquanto a primeira se regozija de um modo geral com o novo estatuto, a segunda vem hoje protestar veementemente contra o mesmo e defende que «a abertura do sector só deve acontecer caso os cemitérios "sejam privados da própria funerária, porque nada deve proibir que uma agência funerária, desde que tenha capital para investir e cumpra os requisitos legais, tenha um cemitério” ». E afirma ser contra «a abertura da exploração e gestão de cemitérios e capelas a instituições particulares de solidariedade social (IPSS)», por estas terem benefícios e isenções fiscais e serem assim concorrentes desleais. «Vão destruir o tecido produtivo do país no sector funerário», concluem.

Devo dizer que não me choca nada que outras entidades, para além dos dirigentes autárquicos (já agora gostaria de saber o que estes pensam do assunto, mas isso parece não ter sido importante para os jornalistas), assegurem a gestão desses sinistros recintos. Não me parece, com efeito, que se trate propriamente de uma área que pertença ao núcleo duro das atribuições do Estado providência, mas fico com a sensação de que há, por trás disto tudo, várias histórias bastante mal contadas.

Mas retenho o conselho: «Vão destruir o tecido produtivo do país no sector funerário.» Convenhamos que é uma belíssima frase!

(Fontes: 1 e 2)
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Vidas sem fumo


Um post delicioso e sofrido do jpt que deixou de fumar há um mês:

« (…) Sem o cigarro nada é bom. Uma vida sem fumo é uma vida sem atitude. Sem prazer. Nem enleio. Sem este enrolar, sensual, do fumo mastigado seguindo traqueia abaixo. Sem o ejacular nasal. Ou os frémitos, raros, dos cigarros em jejum. Sem aquele acordar, devastado, de quem se usou. Sem tabaco fico sem esta superioridade, altaneira, e assim fruidora, de tudo encarar de cigarro entre-mãos. De tudo apagar, veemente, num qualquer cinzeiro. Ou, melhor ainda, esse tudo atirar para bem longe, num piparote de puta-que-pariu, sim, a todas essas beatas usadas e lambuzadas que nos circundam. Agora seguindo sem cigarros, engordando, querendo viver um bocadinho mais, ovelhas respeitosas do matador. Lamurientas na esperança. Não é essa, afinal, a sempre fácil decisão? Sempre querida?»

A propósito (1957):


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Tragédia confirmada


Depois de uma noite de expectativas com desfecho absolutamente previsível, e quando vamos assistir agora a infindáveis jogos de espelhos de que todos vão querer sair o menos distorcidos que for possível, sabemos de antemão que nada de substancial será alterado e que continua infelizmente válida «A tragédia desejada» de que fala Rui Tavares:

«É estranho dizê-lo, mas se o orçamento (previsto) fosse apenas injusto, nós já nem daríamos por isso. O nosso país é injusto há muito tempo; nos últimos anos só pontualmente e parcialmente contrariou essa tendência.
Mas é preciso dizer que este orçamento não é só injusto; é errado.
É perturbante pensá-lo, mas se este orçamento fosse apenas errado talvez nos limitássemos a encolher os ombros. Este país tem vivido com mais políticas erradas do que certas. E por vezes o errado é a única coisa que existe.
Mas é preciso insistir que este orçamento não é só errado; é trágico.»

Ler o resto aqui.
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As Cidades e as Praças (21)


Praça dos Mártires, Argel (1974)
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19.10.10

Os penúltimos medos


«De tanto asumir que nuestro miedo era real, le hemos cogido miedo a la realidad. Un miedo manso. Sobrevivimos en una burbuja estatal de códigos bien estáticos y sería incómodo jugar ahora a la ruleta cubana de la osadía. De tanto asumir que no éramos libres, esa mentira nos sumió. Un mentira mental.»

De Cuba.
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RTP – A leste do Pluralismo


Na Petição pelo pluralismo de opinião no debate político-económico, ainda em fase de recolha de assinaturas mas que será em breve encerrada, especifica-se uma exigência dirigida «em particular às televisões e, sobretudo, àquela a quem compete prestar “serviço público”»

Acontece que, entretanto, por mera coincidência ou nem por isso, parece existir uma especial atenção da SIC nos últimos dias (Expresso da Meia-Noite de 15 de Outubro com José Reis e José Castro caldas, oh, meu deus!...). Já a RTP avança em sentido oposto e anuncia como comentadores permanentes os economistas Daniel Bessa e Vítor Bento.

Comentários para quê…Mas razão adicional para se pressionar quem de direito, numa última oportunidade para assinar e divulgar a Petição.

Assina-se aqui e pode ser feito download do texto, em formato pdf, aqui.
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Manifestações em França, hoje


3,5 milhões de pessoas segundo a CGT (dados globais da polícia ainda não fornecidos às 17:15, hora local).

Veja aqui o mapa com a informação detalhada por cidades. Em actualização permanente.
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O Orçamento no seu melhor


A pouco e pouco vão sendo divulgadas algumas curiosidades do OE, como, por exemplo, que «o Governo vai aumentar, no próximo ano, os gastos com seminários, exposições e publicidade. (…) O orçamento para 2011 prevê que os ministérios gastem quase 23 milhões nestas duas rubricas, mais seis milhões que este ano. É um crescimento de 46% no caso dos seminários e de quase 30% na publicidade do Estado.»

Parece que a publicidade incidirá em parte no esforço para a participação da população no recenseamento de 2011 e acho bem porque, já agora, não é mau que saibamos pelo menos quantos somos…. O que já é mais curioso é que o ministro Jorge Lacão, que representou ontem o governo no Prós & Contras e que detém, se não me engano, o pelouro da Comunicação Social, tenha dito não ter elementos para responder a perguntas sobre justificação deste acréscimo de gastos.

Mas o que eu gostava mesmo de saber é qual é a possível razão para que o Governo vá «também aumentar em cerca de 30% a despesa com "artigos honoríficos e de decoração" para um total de 301 mil euros». Algum palpite? Ou tomam-nos mesmo por parvos e nós deixamos?

(Fonte)
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18.10.10

Da China: ainda as reacções ao Nobel da Paz


Depois de um grupo de vinte e três antigos dirigentes do Partido Comunista chinês terem escrito uma carta aberta ao governo exigindo uma série de reformas políticas, nomeadamente o fim da censura à liberdade de expressão, foi agora a vez de mais de cem professores, escritores, advogados e activistas na defesa dos direitos humanos pedirem a libertação de Liu Xiaobo, em carta aberta aos dirigentes do partido, no início da sua reunião anual em Pequim (texto, na íntegra no fim deste post).

Um excerto:
«We call upon the Chinese authorities to approach Liu Xiaobo’s Nobel Prize with realism and reason. They should take note of the responses to the prize inside and outside China and see in these responses the currents in world thinking as well as the underlying preferences of our fellow citizens. China should join the mainstream of civilized humanity by embracing universal values. Such is the only route to becoming a “great nation” that is capable of playing a positive and responsible role on the world stage. We are convinced that any signs of improvement or goodwill from the government and its leaders will be met with understanding and support from the Chinese people and will be effective in moving Chinese society in a peaceful direction.»

(Fonte), via Jorge Nascimento Rodrigues no Facebook.

Merkel, a xenófoba?


Uma notícia do Público de ontem pôs logo uns tantos blogues a artilharem armas e atirarem a matar, numa oportunidade de vingança contra todas as maldades da chanceler alemã: xenofobia, sem tirar nem pôr, nem qualquer espécie de dúvida.

Felizmente, a Helena Araújo, que vive em Berlim há muito tempo e sabe do que fala, fez entretanto um «aviso à navegação»:
«Antes de escreverem mais asneiras sobre a Alemanha em geral e a Merkel em particular, vão-se informar melhor. Tentem ler todo o discurso da Angela Merkel, e de caminho informem-se sobre o que é que um alemão quer dizer quando diz “multikulti”.»

E eu aconselho a leitura do post na sua totalidade porque explica muitas coisas importantes. Além disso, a Helena tem certamente toda a razão quando diz que «obviamente que a Angela Merkel não fez afirmações xenófobas. E quem admite que um chanceler alemão se pode permitir esse deslize não percebe nada da Alemanha».

A ler, também, este texto de Rue89.
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O mundo fractal

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A propósito da morte de Benoît Mandelbrot e a recordar os primeiros fractais que vi, num Spectrum (!!!), em idos de 80.





(Via Virgílio Vargas no Facebook)
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A terrível frase de Teixeira dos Santos


A escrever, nem que seja num post-it colado no frigorífico:
«Não vejo muito mais por onde ir se os mercados nos exigirem mais.»

«Não pode garantir, portanto, que estas são as últimas medidas?
Espero e estou confiante que terão impacto já. Mas de facto nós temos que ver o que está a acontecer. É quase uma insaciabilidade dos mercados a medidas de austeridade desta natureza.

Se isso vier a acontecer consegue antever o que é que podemos fazer mais? Continuar a subir o IVA? Cortar mais nos salários?
Eu não vejo muito mais por onde ir. »

E nós? Iremos por onde? A ler:
Daniel Oliveira, Zero de tolerância
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As Cidades e as Praças (20)



Praça Mozart, Salzburgo (1972)
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17.10.10

Citação do dia (3)


«Lá vai o português… lá anda. Dobrado ao peso da História, carregando-a de facto, e que remédio – índias, naufrágios, cruzes de padrão (as mais pesadas). Labuta a côdea do sol-a-sol e já nem sabe se sonha ou se recorda.»

José Cardoso Pires, E Agora, José?
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Premonição?

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E se..., talvez..., nunca se sabe..., chegasse um dia a vez de Macau nos colonizar?



(Via São Carvalho no Facebook)
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Ce n’est qu’un début?


Continuam em França greves e manifestações mais ou menos espectaculares, e embora o seu motivo imediato possa provocar em nós um sorriso amarelo de inveja (a luta contra a passagem da idade da reforma de 60 para 62 anos…), vale a pena parar e reflectir para além dos títulos dos jornais e da substituição do celebérrimo «métro, boulot, dodo» pelo novo «métro, boulot, caveau».

Polémica à parte sobre o número de manifestantes (ontem, 3.000.000 segundo os sindicatos, 825.000 para a polícia), a mobilização é impressionante pela persistência a que, de resto, os franceses nos habituaram desde sempre. E o que está em causa não é apenas o seu pretexto imediato, mas um protesto global, bem concretizado pela presença em massa de jovens que dizem recusar uma vida pior do que a da geração dos seus pais.

Inevitavelmente, há quem identifique semelhanças com Maio de 68, mas não vou por aí. O que considero significativo é que um país que nem sequer pertence ao famigerado grupo dos PIIG’s venha para a rua com esta virulência. Porque, no meu entender, é agora mais do que evidente que não é dos gabinetes ministeriais nem dos corredores de Bruxelas, muito menos de alternâncias ou consensos (!!!) entre governos mais ou menos clonados ou siameses, que se pode esperar uma solução para ultrapassar a fase trágica em que nos encontramos. É, não só mas certamente também, da rua, com solidariedades e sem barreiras patrióticas, pelo menos do Atlântico aos Urais. Pacificamente, antes que seja demasiado tarde para evitar que a violência tome conta da situação.
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