1.11.14

«Pão, por Deus»



Em 1 de Novembro de 1756, exactamente um ano depois do terramoto que destruiu grande parte de Lisboa, a população, paupérrima, aproveitou a data para lançar, por toda a cidade, um grande peditório. Batia-se às portas e pedia-se: «Pão, por Deus».

A tradição espalhou-se depois por todo o país e foi mesmo exportada para o Brasil. 
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Lido por aí (151)

Da semana que passou



De um texto de José Pacheco Pereira, no Público de hoje:

«Passei a semana a ver os nossos governantes vestidos com a farda da Mota Engil; passei a semana a aturar o Portas a saracotear-se no México com uma corte de jornalistas com a viagem paga para lhe darem espaço televisivo todos os dias, primeiro ia almoçar com o Carlos Slim (soam as trombetas), depois o Slim não apareceu (flautim); passei a semana a ouvir o ministro da Economia a elogiar uma subida de Portugal num ranking em que afinal desceu; passei a semana a ouvir mentiras sobre o Orçamento do Estado, a ouvir mentiras sobre o BES, a ouvir mentiras sobre as previsões económicas, tão ficcionais como a fada dos dentinhos; passei a semana a ouvir o primeiro-ministro a ler um discurso escrito que negou logo a seguir quando passou à oralidade, como se fosse a coisa mais natural do mundo dizer coisas diferentes com intervalo de minutos, ainda por cima sobre o bolso de centenas de milhares de pessoas (quem é que liga a isso?); passei a semana a ver um enorme vazio onde devia estar a oposição, com António Costa a comportar-se como primeiro-ministro putativo, em vez de assumir o papel de líder da oposição que é o dele até ganhar eleições; passei a semana a assistir àquela cena patética, de verdadeiros “amarelos”, na UGT, a dar legitimidade ao Governo que mais combateu o mundo do trabalho, com Passos Coelho a fustigar os trabalhadores num cenário “sindical”; passei a semana a ver imagens de Nuno Crato passeado pela UGT a bater palmas como se o masoquismo na moda fosse engolir alegremente uma manifesta provocação; passei a semana a ler jornalistas preguiçosos a repetirem os argumentos do poder sobre como foi bom o negócio do Novo Banco, passando do tudo ao nada no BESA, de como não é importante o chumbo do BCP nos testes de stress, como está sempre tudo bem quando os interlocutores são os que importam, os do clã, os que estão no “lugar certo” de Portugal, empresas, bancos, gestores, povo da economia “empreendedora”; passei a semana a ver sempre proteger os que mandam, Passos, Maria Luís, Carlos Costa, Stock da Cunha, e a considerar que tudo o que eles fazem é o “menos mau”, o “que podia ser feito”, uma “boa solução num contexto difícil”, etc., etc.; passei a semana a ver comparar realidades más com previsões boas, como se fossem a mesma coisa; passei a semana a ouvir silêncios, sobre as últimas estatísticas da pobreza, das penhoras, das dificuldades económicas, aquilo que não interessa ao “Portugal positivo”; passei a semana a ver apontar uns putativos culpados pela “sabotagem” do Citius, quando durante meses ouvimos técnicos sobre técnicos, distintos professores (será que Tribolet também faz parte da conspiração sabotadora?) a dizer que aquilo era desastre certo; passei a semana ver imagens de cãezinhos de Pavlov a abrir os dentes ao som de “Sócrates”, como se o homem ainda estivesse no poder, para esquecer que de 2011 a 2014 foram outros que aprofundaram as desgraças que ele deixou, numa indigência política assustadora do que vai ser o ano de 2015; passei uma semana a ouvir tudo o que era gente séria a contar como está a ser cheio o Estado, as fundações ligadas ao Governo, as empresas, tudo quanto é lugar seguro e bem pago e com poder, de “amigos do ajustamento”, da turma da “justiça geracional”, sem parangonas, sem publicidade, agora cada vez mais depressa, porque se aproximam tempos difíceis e o PS vai querer o seu quinhão; passei a semana a ler histórias muito silenciadas sobre milhares de euros que foram para empresas de comunicação, quase sempre as mesmas, as que trabalham para o Governo, para as empresas do PSI-20, para as autarquias cujos presidentes eram ou são os principais controladores dos aparelhos partidários, do PSD em particular; passei a semana a ouvir dizer que os aviões russos “invadiram o nosso espaço aéreo”, “passaram junto ao nosso espaço aéreo”, “passaram no espaço controlado por Portugal”, “entraram no espaço europeu” (a Rússia é uma nação europeia…), e a ouvir o ministro que mais ajudou a destruir as nossas forças armadas agarrado à oportunidade de dizer que “operacionalmente” estava tudo bem, quando se percebe nas entrelinhas que está menos bem do que parece (quantos F-16 estão canibalizados para dar as peças aos que voam, qual a autonomia real dos que voaram?).

Passei a semana a ver com tristeza como está o meu muito amado país. Tudo a cair aos bocados na apatia e indiferença geral.» 
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31.10.14

Afinal...



Via A Criada Malcriada no Facebook.
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Bye, bye, cherne – hoje é o dia



Sigamos o cherne, minha amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria...

Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado...

Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume de água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa...

Alexandre O’Neill
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Lido por aí (150)

A teimosia de Passos Coelho



«Apesar de o Tribunal Constitucional ter chumbado a possibilidade de mais cortes salariais depois de 2015, o primeiro-ministro diz que voltará a apresentar a mesma proposta, caso seja reeleito. Einstein já dizia que a insanidade é continuar a fazer sempre a mesma coisa e esperar que o resultado seja diferente. E Passos Coelho continua a apresentar sempre as mesmas leis que são sistematicamente chumbadas pelos juízes por violarem a Constituição.

Passos Coelho faz lembrar aquela velha história de Needleman contada por Woody Allen. Conta Woody que Needleman foi à ópera em Milão e, para ver melhor, inclinou-se sobre o parapeito do camarote, escorregou e caiu desamparado lá para baixo, para dentro do fosso da orquestra. Para não dar parte de fraco e evitar o ridículo, Needleman, que era muito orgulhoso e teimoso, passou a frequentar a ópera todas as noites e, de cada vez que lá ia, atirava-se para dentro do fosso de orquestra. Passos Coelho vai ao Tribunal Constitucional assim como Needleman vai à ópera. E de cada vez que lá vai recebe um chumbo. Mas isso não o inibe de lá voltar. E já são duas mãos cheias de chumbos em apenas três anos de governação.»

Pedro Sousa Carvalho

30.10.14

L'imagination au pouvoir

Bicharada



Na crónica de hoje, na Visão, Ricardo Araújo Pereira fala da sua experiência como dono de gato, ele que, até ao presente, só tinha quatro cães.

«[O gato] é um bicho que nos despreza de uma forma muito elegante. Está evidentemente convencido da sua superioridade em relação a nós – e é capaz de ter razão. Mas continuo firme no meu entusiasmo em relação aos cães. Os gatos sabem qualquer coisa, os cães são tão estúpidos como eu – o que lhes dá um encanto muito especial. (...) 

Os cães são crianças, os gatos são filhos adolescentes: também nos amam, embora com alguma relutância, acham mesmo que são independentes, e às vezes estão escondidos num armário. É a adolescência sem tirar nem pôr.»

Na íntegra AQUI.
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Anular a pena de morte para Asia Bibi


Assine a Petição AQUI e divulgue.

Il y a quatre ans, Asia Bibi, pakistanaise et mère de cinq enfants, a été condamnée à mort pour blasphème.

Asia a été accusée d'avoir fait des commentaires désobligeants sur l'Islam lorsque des voisins se sont opposés à ce qu'elle boive dans leur fontaine en raison de sa foi chrétienne - une accusation qu'elle a niée. Il y a quelques jours, une Haute Cour au Pakistan a confirmé la condamnation à mort d'Asia, ce qui signifie qu'elle risque l'exécution, à moins que la Cour suprême du Pakistan et la communauté internationale n'agissent pour la sauver.

Rejoignez-moi et demandez à votre gouvernement d'exprimer leur soutien à Asia Bibi et de réunir la communauté internationale pour la sauver.

Il y a quelques mois, j'ai lancé une pétition appelant les gouvernements à travers le monde à agir pour Meriam Ibrahim, une femme chrétienne au Soudan qui avait été condamnée à mort pour avoir refusé de renoncer à sa foi. Plus d'un million de personnes avaient signé ma pétition pour sauver Meriam et les dirigeants du monde comme le Premier ministre britannique David Cameron et le secrétaire d'Etat américain John Kerry s'étaient prononcés pour exiger sa liberté. L'été dernier, les charges contre Meriam ont été abandonnées et elle a pu retrouver ses enfants et son mari. Aujourd'hui, nous devons à nouveau mettre l'accent sur la persécution religieuse des femmes et oeuvrer à la libération d'Asia Bibi.

Au Pakistan, des politiciens ont été tués pour avoir défendu Asia. Ses propres cinq enfants et sa famille sont dans la clandestinité, craignant pour leur vie. Son exécution pourrait bientôt avoir lieu et sa famille et ses soutiens vont continuer d'être la cible d'attaques, à moins que la communauté internationale ne se mobilise pour demander sa libération et sa sécurité.

Nous pouvons aider Asia à recouvrer la liberté et essayer de faire en sorte qu'elle retrouve sa famille en toute sécurité. Merci d'exprimer votre soutien à Asia.

La persécution religieuse doit cesser. 
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Ricos e pobres – o fosso a aumentar



O Público.es (e muitas outras publicações) revela alguns dados que serão divulgados hoje, em mais de 50 países, num relatório de Oxfam International.

No essencial: 
  • «Entre 2013 y 2014, la riqueza de las 85 personas más acaudaladas del mundo —que poseen la misma riqueza que la mitad más pobre de la población del planeta— aumentó en 668 millones de dólares al día, lo que equivale a casi medio millón de dólares cada minuto.» 
  • «Mientras el número de "milmillonarios" con fortunas de más de 1.000 millones de dólares se ha duplicado en el mundo desde que se desencadenó la crisis en 2008, las desigualdades se han disparado.» 
  • «Los dos motores principales que han alimentado el incremento de la desigualdad son el fundamentalismo de mercado y la captura del poder político por las élites, que generan leyes hechas a la medida de los intereses de unos pocos.» 
  • «La desigualdad extrema es un freno a la prosperidad para la mayor parte de los habitantes del planeta (...) , el crecimiento económico sólo está beneficiando a los más ricos, y seguirá siendo así mientras los Gobiernos no actúen para revertir esta dinámica perversa.»
Comentários para quê.
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29.10.14

Lido por aí (149)


@João Abel Manta


* Globalização cá dentro (António Bagão Félix) 

* Yo no le perdono (Arturo González)
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«Análise Social» – tema do dia



Quando li a notícia, pensei imediatamente em Adérito Sedas Nunes: «Um dos mais importantes cientistas sociais portugueses do século XX, foi fundador, durante as décadas de 1950 e 1960, da moderna Sociologia em Portugal. Ajudou a criar, em 1962, o Gabinete de Investigações Sociais, o primeiro centro de investigação inteiramente dedicado às Ciências Sociais. Em 1963 foi fundador e primeiro director da revista Análise Social, a mais antiga e prestigiada neste domínio em Portugal.»

Embora sem ter nada a ver, profissionalmente, com a área da Sociologia, lembro-me bem da verdadeira pedrada no charco que constituíram a criação do Gabinete de Investigações Sociais e o lançamento da Análise Social e a oportunidade que criaram para tantos, conhecidos e até amigos próximos, nesse terrível país cinzento do início da década de 60.

E que diz a referida notícia de hoje, no ano da graça de 2014? Que a Análise Social foi suspensa pelo director do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, José Luís Cardoso, por conter um «ensaio visual» com texto de Ricardo Campos, intitulado «A luta voltou ao muro», acompanhado de fotografias de graffitis em paredes de alguns centros urbanos. O referido director considerou estar-se em presença da utilização de «linguagem ofensiva».

Ver para crer: a versão deste número da revista chegou a estar online, já foi retirada, mas pode ser vista aqui.Os exemplares em papel foram recolhidos dos postos de venda.

Negue-se ou não, estamos na presença de censura pura e dura (estúpida, ainda por cima), 51 anos depois de um acto de coragem, académico e de cidadania, ter conseguido furar anos de chumbo. Duro de engolir, mas é isso mesmo.

P.S. - Na imagem à direita, a primeira página do nº1 da Análise Social (1963). (Daqui.)
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Corte campeão, Bola de Ouro


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28.10.14

Um outro mundo é possível



Crónica de Diana Andringa, hoje, na Antena 1:

Um estudo realizado por dois economistas, e recentemente publicado, analisou a forma como as pessoas imaginavam as diferenças salariais entre os executivos e os trabalhadores de base das empresas, que diferenças entenderiam como justas e quais eram, realmente, essas diferenças.

Como era de prever, a maioria dos inquiridos entendia que as diferenças eram grandes demais e, embora aceitando o maior salário dos executivos, defendia que a diferença deveria ser menor.

Até aqui, nada que surpreenda. O curioso é que a ideia que os inquiridos tinham sobre as diferenças salariais estava muito aquém da realidade. Na Áustria, por exemplo, os inquiridos julgavam que um Director Executivo ganhava 5 vezes mais do que um trabalhador não qualificado, mas ganhava 36 vezes mais. Na Dinamarca, não ganhava duas vezes mais, como os inquiridos pensavam, mas 48 vezes – e na Suécia 89 vezes. Nos Estados Unidos, em lugar de ganhar, como pensavam os inquiridos, 6,7 vezes mais, um Director Executivo ganhava 354 vezes mais. Em Portugal, onde os inquiridos apontavam um rácio de 5, ele é, de facto, de 53. E o Público recorda a propósito que, em 2013, Pedro Soares dos Santos ganhou 108 vezes mais do que a média dos restantes trabalhadores da Jerónimo Martins.

Sim, conheço o argumento, é o peso da responsabilidade. Mas será justificável que essa responsabilidade se salde nestes valores?

Dias antes, saíram notícias sobre um homem que terminava o seu mandato como presidente de um país. País pequeno, é certo, mas talvez não seja excessivo comparar as suas responsabilidades às de um Director de uma grande empresa. No entanto, José Mujica, uma vez presidente do Uruguai, não viu razões para mudar da casa onde há anos vivia com a mulher, nem para auferir um salário muito superior ao que necessitava para viver – e doava 90% desse salário a obras de caridade… E não se pode dizer que não tivesse responsabilidades. O seu foi o primeiro país do Mundo a enfrentar o narcotráfico, legalizando a produção e a venda da cannabis.

Vi as duas notícias com poucos minutos de intervalo, e corri o risco de acreditar que, digam o que digam, um outro Mundo é possível.


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No reino da zaragata



«Quem governa Portugal? Presume-se que Pedro Passos Coelho, o primeiro-ministro. Mas, por vezes, há dúvidas. Não será Tulius Detritus, o mestre da arte da discórdia que Júlio César enviou para conquistar a aldeia gaulesa de Astérix?

Desde os primórdios da sua chegada ao poder que a estratégia política do Governo tem sido dividir para reinar. É certo que dividiu tanto que acabou por se dividir a si próprio. Mas conseguiu colocar jovens contra idosos, funcionários do sector público contra os do sector privado, reformados contra trabalhadores no activo. (...)

Passos Coelho, como todos os governantes que se afundam devagarinho nas águas movediças que criaram, ataca os media, o melhor saco de pancada para políticos sem rumo. O seu destino está traçado. Agora Passos Coelho só se quer salvar e tentar um milagre nas eleições. Mas antes, provando a capacidade de reforma de que sempre deu mostras, conseguiu o milagre da multiplicação: depois de mais uma trapalhada no OE, criou um IRS com dois sistemas, um para quem tem filhos, outro para quem não tem. E o cidadão que escolha o que quer. Se se enganar, ganha o fisco. Portugal transformou-se na aldeia idealizada por Tulius Detritus. Por obra e graça de Passos Coelho.»

Fernando Sobral

Lido por aí (148)

Cavaco Silva deve condecorar Sócrates como ex-primeiro-ministro?



Parece que se trata do único, entre os 19 chefes dos governos constitucionais posteriores ao 25 de Abril, a não ter recebido (ainda?) «a máxima condecoração atribuída por destacados serviços prestados ao país, a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo». A polémica está reaberta e há até quem escreva ao presidente da República, invocando todos os actos meritórios do último chefe de governo socialista.

Antes de mais, nunca me tinha apercebido desta tradição que considero absolutamente patética: bom, mau ou péssimo, qualquer cidadão que tenha exercido determinado cargo deve ser agraciado «por destacados serviços prestados ao país»? Porquê?

Recorda-se que «até» Santana Lopes recebeu a tal Grã-Cruz, apesar do seu curto e atribulado reinado (não das mãos de Sampaio, mas sim Cavaco Silva, cinco anos mais tarde). Portanto, caros socialistas, calma: alguém dará o colarzinho a José Sócrates, mais cedo ou mais tarde! E apertemos os cintos, porque Passos Coelho também o terá, numa próxima curva desta nossa triste historieta.

Aliás, que importância tem, a não ser para as vitrines dos netos, mais colar ou menos colar? Julgavam que isto era mesmo um país a sério? Pois não é.
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27.10.14

Vocações


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Louvores e aplausos, se faz favor


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Nicolau Santos, no Expresso diário de hoje (excertos).
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Lido por aí (147)


@João Abel Manta

* O cão que não ladrou (Francisco Louçã)

* Entre alucinação e miragem (Carvalho da Silva)

* Veinte propuestas de Podemos

União Europeia melancia



«Ronald Reagan chegou à Casa Branca dizendo coisas como estas: o contribuinte é uma pessoa que trabalha para o Governo mas sem ter feito concurso para funcionário. Em vez de se rever nelas, a União Europeia assemelha-se, cada vez mais, a uma melancia. Liberal por fora, bolchevique por dentro. Quanto mais defende o mercado e a livre escolha mais reforça o centralismo das decisões enquanto patrulha tudo o que se move fora das suas leis. (...)

Durão Barroso, em dez anos, mostrou o nível dos dirigentes e o contributo que têm dado para que a Europa seja hoje um museu de cera a nível global. Sabe-se agora que outro iluminado saído dos labirintos escuros de Bruxelas, Jyrki Katainen, e a Direcção-geral dos Assuntos Económicos de Bruxelas, escreveram uma redacção subordinada ao tema "Portugal". Elogia, claro, as "reformas fiscais" e depois, num momento de lucidez típica de Tio Patinhas quando encontra Donald, assegura que Portugal ainda tem "uma margem razoável para aumentar impostos". (...) Claro que é possível tributar mais. Talvez 100% do rendimento de trabalho. Nenhum português perecerá por causa disso. Claro que a UE terá uma solução. Recupera as senhas de racionamento como remédio. Os portugueses viveriam felizes.»

Fernando Sobral

26.10.14

No dia em que deixou a presidência



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Passos Coelho e cisnes brancos



Teimosia não é sinónimo de persistência, nem de tenacidade, e é raramente boa conselheira, sobretudo em épocas difíceis, quando aquilo que está em causa é garantir à governação uma imagem minimamente decente.

Manter Paula Teixeira da Cruz, Nuno Crato e, agora também Rui Machete, à frente de ministérios, depois de tudo o que se passou, é um erro que só vem tornar dramaticamente pior o fim do mandato de Passos Coelho.

Mas não só: afirmações ontem proferidas pelo primeiro-ministro, em que acusa comentadores e jornalistas de serem «patéticos» e «preguiçosos» por não apregoarem os êxitos do executivo, revelam um desespero já não contido, que soa, inequivocamente, a canto do cisne.

Preparemo-nos para o que se segue: em breve, virá a contestação dos resultados das sondagens. Alguém ainda se lembra de Santana Lopes, durante a campanha para as legislativas de 2005, quando afirmou que estava montada «uma megafraude em torno desta matéria» e ameaçou processar as empresas que falhassem previsões face aos resultados eleitorais?

E como se sabe, ao contrário do que reza a lenda, que os cisnes brancos não são mudos, mas que vão soltando, em vida, grunhidos e assobios, lá os vamos ouvindo, todos os dias, quando nos entram pela casa dentro.
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Lido por aí (146)

Liberdade, igualdade e democracia


No Público de hoje, um texto de Francisco Teixeira, que ajuda a pensar sobre conceitos fundamentais: 

«A principal crise do nosso tempo é democrática. Claro que a crise económica potencia a crise democrática. Mas a crise democrática é a mais decisiva das nossas crises. A democracia ocidental estrutura-se essencialmente à volta de três eixos: o eixo da liberdade (de expressão e económica), da igualdade (do equilíbrio na distribuição dos rendimentos económicos e sociais, perante e lei e de dignidades pessoal e familiar) e da democracia em sentido estrito, i.e., no sentido em que os cidadãos legitimam, com as suas escolhas individuais e colectivas, quem governa. Ora, estes três eixos estão em grave risco, senão em desabamento. O impressionante é que uma parte substancial das elites político-económicas se recuse, por um lado, a encarar a evidência destas crises e, por outro, contribua activamente para o seu aprofundamento. (...)

A crise da democracia como crise de legitimidade das formas de governação manifesta-se na crise do sistema representativo de eleição. (...) A ideia de sermos governados por representantes e não directamente tem, no essencial, que ver com duas razões: com a ideia segundo a qual as decisões políticas exigem um certo tipo de mediação discursiva e técnica entre as vontades individuais dos representados e as decisões finais, para as quais os representantes e o seu enquadramento institucional estão especialmente preparados; com a quantidade e complexidade das decisões das sociedades contemporâneas, por definição incompatíveis com as possibilidades decisionais directas. (...)

Por sua vez, a crise da democracia tem directamente que ver com a crise da igualdade como valor fundamental. (...) Quanto mais a democracia deliberativa se rarefaz no regaço de uma oligarquia, mais a desigualdade social e económica se acentuam, através dos mais diversos meios, como seja acabando com os principais instrumentos de ascensão social como a escola pública, o acesso à universidade ou desequilibrando as relação de força entre os empresários e os trabalhadores.

Debilitadas a democracia e a igualdade, a liberdade encolhe necessariamente. Desde logo a liberdade de expressão. (...) A perda da liberdade de expressão manifesta-se também, e talvez fundamentalmente, pela despolitização dos âmbitos sociais públicos e privados, onde as racionalidades que exprimam as conflitualidades e as cisões sociais serão, são, deslegitimadas e, até, proibidas, por instabilizarem aquilo que é dado por politicamente correto, o mesmo é dizer, racional. (...)

Sim, a democracia, a igualdade e a liberdade estão em crise. E sim, há uma divisão entre a direita e a esquerda sobre a natureza destes desafios, que passa pelo reconhecimento da deliberação e participação cívicas, sociais e pessoais, percebendo a necessidade urgente da renovação da mediação e deliberação política institucional, recuperando e rejuvenescendo as velhas tradições republicanas da cidadania activa e das escolhas directas.» 
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