12.12.15

Dica (182)




«A esquerda teve sempre o projecto de substituir o capitalismo pelo socialismo. Esse projecto morreu em 1991. Ela simplesmente não estava em posição de o levar a cabo. A maior ameaça para o capitalismo é o próprio capitalismo. Podemos ver isso na Europa. A Europa não está ameaçada pela esquerda. Até um pequeno país dirigido pela esquerda, do qual fui ministro das Finanças, acabou por tomar medidas muito conservadoras, políticas pró-capitalistas, simplesmente para tentar estabilizar os bancos. Esta conversa devia ter tido lugar há um século, quando a esquerda tinha um projecto para substituir o capitalismo. Mas o socialismo está morto. Dito isto, se ficamos à espera que o mercado crie um milagre e organize uma saída desta crise, só podemos fracassar.»
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100 anos são 100 anos



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Adeus «Público»



Além de quase toda a primeira página, o Público dedica hoje outras 7 a uma entrevista a Passos Coelho. E o resto é péssimo. Estou a despedir-me deste jornal: só para fazer o Sudoku e as Palavras Cruzadas não merece o que custa. 
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Pode dar muito jeito nos tempos que correm


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A Europa estilhaçada



«Átila pilhou Roma, mas não matou a sua população. Mais de sete séculos depois a comunicação já era mais rápida: a fama da crueldade das hordas de Gengis Khan antecedeu a chegada dos temíveis mongóis. O medo continuava a aterrorizar a Europa mesmo depois dele ter morrido, até porque não parecia haver líder à altura para o travar. A questão da liderança, quando o perigo é eminente ou o medo petrifica, é essencial para as nações e para os povos. Cercada por múltiplas crises, a Europa definha.

Não admira que o incontornável Wolfgang Munchau, no "Financial Times", escreva que: "eu não estou a falar da desintegração formal da UE, mas de uma gradual erosão da sua importância política". Porque, diz ele, a "maior característica da UE de hoje é uma acumulação de crises". Ele fala daquilo que David Cameron ou Viktor Orban clamam: o refreamento da liberdade de movimentos no espaço europeu, um pilar vital da união. Fragmentada por ser incapaz de dar uma resposta conjunta à crise dos refugiados, a Europa confronta-se com uma crise de segurança sem fim. Além disso assiste-se à sensação de fim de ciclo político, como evidencia a chegada de António Costa ao poder em Portugal, à previsível pulverização partidária em Espanha (um pólo central da UE), ao braço-de-ferro de Cameron com Bruxelas ou à vitória de Marine LePen em França, mostrando o avanço, com simpatia popular, das forças radicais no coração da Europa comunitária. (...)

A hegemonia ideológica do PPE está a ser torpedeada, porque esta política de sufoco permanente é incapaz de controlar as crises inesperadas. A história não é uma folha de Excel. As eleições espanholas, nesse aspecto, tal como a segunda volta das regionais em França, vão colocar a nu se estaremos a assistir a uma "revolta" dos países mais a sul face à ditadura do "não há alternativa" desenhado a norte da Europa. E se a emergência dos partidos que não costumam fazer parte do "arco da governação" não vão implicar mudanças na política económica europeia, incapaz de continuar neste ambiente irrespirável. Mas a isso junta-se a possível hipótese de um congelamento de Schenghen e o reforço das tendências securitárias na Europa. Para além do problema do terrorismo que ninguém queria ver, depois de tantas idiotices da política externa da EU no Médio Oriente.»

Fernando Sobral

11.12.15

Steve Jobs, refugiado sírio



Steve Jobs era filho de migrantes nascidos em Homs que viajaram para os Estados Unidos no fim da II Guerra Mundial.

Este trabalho faz parte de uma série criada por Banksy para criticar a actuação dos governos perante a crise de refugiados que a Europa atravessa. Numa viagem à cidade francesa de Calais, o artista pintou várias paredes da região portuária, onde centenas de refugiados aguardam pela oportunidade de viajar para o Reino Unido.  

(Daqui)

As empresas, o dinheiro, o dono (chinês) dele e a polícia

Nicolau Santos, no Expresso diário de 11.12.2015 (excerto). 
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Lula da Silva e os seus devaneios




Já eu penso que a culpa pela introdução de exames na 4ª classe deve ser atribuída aos Filipes.
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Marcelo Está Ganho de Sousa



«Na entrevista à SIC, Marcelo Rebelo de Sousa não hesitou: "A minha leitura das sondagens é que se não ganhar à primeira ganho à segunda. Só não sei é se a vitória na primeira volta é folgada o suficiente para não ter que ir à segunda". Pumba! Nem hesita. Marcelo estava à espera de vencer a figura do ano da Time, pelo menos na segunda volta. No final da entrevista, quando a Clara de Sousa se despediu e anunciou: "Na próxima entrevista teremos Sampaio da Nóvoa", só faltou Marcelo dizer: "para quê?!"

A verdade é que Marcelo está nas suas sete quintas. Depois de anos de homilia na TV, só perderia se o Fernando Mendes largasse tudo para salvar Portugal. (...)

Durante toda a entrevista, Marcelo puxou para a esquerda, como quem diz: nem vou perder tempo com vocês, gente de direita, porque se Aníbal teve o vosso voto duas vezes, só faltava não me darem um. A direita, nestas eleições, é vítima do seu clássico TINA - there is no alternative. Marcelo e Tina são imbatíveis à direita.

O cenário "vencedor antecipado" está escarrapachado na pose de Marcelo e na atitude, em relação ao candidato, por parte da comunicação social. Recentemente, numa entrevista a Costa, já PM, a jornalista perguntou se já tinha falado com Marcelo, como quem pergunta: já falou com o próximo PR? Não perguntou se Costa já tinha falado com o candidato a PR do PCP, depois de ter sido acusado de tantos pecados.

Para mim, o único problema das entrevistas com o candidato à Presidência Marcelo Rebelo de Sousa é que estamos sempre à espera que, no fim, ele nos recomende livros. Também temos de reconhecer que qualquer coisa é melhor que aconselhar-nos a ir ler os Roteiros.

Já lá vai o tempo em que Marcelo estava disposto a atirar-se a um rio de fezes para vencer eleições. Agora não está para sujar os sapatos. Já foi à festa do Avante e à festa da TVI e está feita a campanha.»

João Quadros

10.12.15

Natureza morta


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Marcelo Rebelo de Sousa – uma enorme bofetada de luva branca


Enquanto uns patós do PSD pedem que o partido expulse José Pacheco Pereira, MRS esteve ontem presente, em Peniche, no lançamento do 4º volume da biografia de Cunhal. Sabe-a toda.
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Dica (181)



How Inequality Kills (Joseph Stiglitz)
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França 2015


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Da contiguidade de obrigados




Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:


Na íntegra AQUI.
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A sra. deputada fez exame da quarta classe?





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O estranho caso do Conselho de Estado



«Em "O Estranho Caso de Benjamin Button", o conto de F. Scott Fitzgerald, Benjamin nasce com uma aparência de velho. Todos julgam que é um monstro e que morrerá rapidamente. Mas acontece o contrário: enquanto os outros envelhecem, ele vai ficando mais novo.

Em "O Estranho Caso do Conselho de Estado", escrito por Cavaco Silva, aquele foi considerado um Frankenstein, sobretudo depois da remoção de Dias Loureiro, e por isso foi colocado numa casa de repouso. Nesta crise, o PR ouviu toda a gente menos o Conselho de Estado, como se este fosse uma estátua de sal ou um conjunto desagradável de figuras de cera com cheiro a mofo. Mesmo as que Cavaco tinha nomeado para o aconselharem, o que não deixa de ser um desprestígio para estas.

Num novo ciclo político, o Conselho de Estado parece ir mergulhar numa fonte da juventude. Para o fazer renascer. Assim se compreende as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa ou a súbita paixão do Bloco de Esquerda para ter um seu representante no órgão. Na verdade é necessário ajudar o Conselho de Estado a encontrar um significado para a sua existência, aliviando assim a dor contínua que sofreu durante os anos do consulado de Cavaco.

Seja como for os conselheiros votados pela Assembleia da República deixarão de sair da sopa de pedra do "arco da governação" que vigorou durante anos. Um Conselho de Estado a sério deve reflectir a pluralidade da sociedade e não ser uma caixa de ressonância das ideias "certas". E, claro, deve ser o órgão sensato que a Constituição tipifica para aconselhar o PR. De outra forma não se justifica a sua existência. Rebaixado, até se tornar insignificante, o Conselho de Estado ou vive. Ou morre.»

Fernando Sobral

9.12.15

E foi mais ou menos isto


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«Voltar» a Cartagena de Índias



O Facebook recorda-nos agora o que publicámos no mesmo dia em anos anteriores. Por isso, diz-me hoje que, em 9 de Dezembro de 2012, eu estive nessa espantosa cidade que dá pelo nome de Cartagena de Índias (e não «das» Índias, como vulgarmente é designada). Por isso retomo, em parte, o que então escrevi, que mais não seja para voltar a mostrar imagens inesquecíveis!

Fundada por Pedro de Heredia em 1533, a cidade está especialmente bem localizada do ponto de vista estratégico, depressa se tornou um dos principais portos do império espanhol e passou a atrair corsários e piratas (entre os quais Francis Drake que a destruiu em 1586). A coroa espanhola decidiu então defendê-la e mandou construir um imponente castelo que ainda hoje existe.

Em 1811, Cartagena tornou-se independente dos espanhóis, passou depois por várias crises e é hoje belíssima, com um magnífico centro histórico, proclamado Património Mundial da Humanidade em 1984. Pelas infraestruturas turística de que dispõe, na parte nova, funciona como uma espécie de capital alternativa da Colômbia, albergando conferências, congressos e toda a espécie de grandes eventos.

O seu impressionante conjunto de edifícios coloniais é o maior e, sobretudo, o mais bem conservado que até agora vi. Lembra Havana, mas… sem prédios descascados e semidestruídos. As imagens falam por si (e eu tenho dezenas...).  





Mas Cartagena também é isto:

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Dica (180)




«O PSD e o CDS terão que engolir este candidato. De todas as formas, já perceberam que não têm eleições no verão e que não lhes cai uma crise no colo aos trambolhões. E António Costa vive bem com ele, sabendo que, em todo o caso, o PS desistiu das eleições presidenciais há muito e só anima candidatos para consumo interno. Resta-lhe por isso a coabitação, como sempre foi a regra. Tudo normal, é isso mesmo que Marcelo precisa que seja o mote da candidatura. Porque só assim disputa a eleição e mantém o favoritismo.

O PSD e o CDS resignam-se a essa normalidade, o PS aplaude-a, Marcelo tem até agora tudo o que quer e não podia pedir mais.» 
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Presidenciais –uma sondagem de hoje



Aximage, divulgada hoje pelo Jornal de Negócios
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As Boas Festas de uma família americana


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8.12.15

Dica (179)




«... e a Maria, a Maria, a Maria, a Maria e o ar dela e os presépios e o estilista do Fundão e a Kátia Guerreiro a cavalo e a dor de corno dos 50 dias... obrigado Aníbal, mil vezes obrigado. (...)

Não te preocupes Aníbal, estes meses finais vamos fazer de conta que já foste, que já não há ninguém em Belém, vamos fingir que já não existes. Não te preocupes Aníbal, nós ajudamos-te a terminar o mandato com dignidade... ignorando-te.» 
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John Lennon, 08.12.1980



John Lennon morreu há 35 anos, baleado à porta do edifício onde morava – o Dakota Building –, situado numa das esquinas do Central Park de Nova Iorque.

Primeiro um entre quatro, mais tarde a solo, «the smart Beatle», deixou uma marca que as três décadas e meia passadas sobre o dia em que foi estupidamente assassinado não apagaram.

Músico por excelência mas não só, activista também, ele que devolveu a medalha de Membro do Império Britânico à Rainha Isabel II, como forma de protesto pelo apoio do Reino Unido à guerra do Vietname e o envolvimento no conflito de Biafra. Já com Yoko, na década de 70, continuou a envolver-se numa série de iniciativas de luta pela paz, sobretudo e ainda por causa do Vietname. Tudo isto e o apoio explícito a organizações da extrema-esquerda, como os Panteras Negras, estiveram na origem de uma perseguição por parte do governo de Nixon com abertura de um processo para tentativa de extradição.

«Give peace a chance» (1969) e «Power to the people» (1971), entre outras, inscrevem-se expressamente nesta linha de actuação:




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Desculpem lá mas não resisto


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Quando eu perdi uma Nossa Senhora



Lembro-me sempre disto quando chega o 8 de Dezembro. Revejo a cena, algures não muito longe da praia da Polana, num pavilhão ao ar livre que servia de sala de aula ao que hoje seria a pré-primária, com um calor absolutamente abrasador de um Verão moçambicano.

Foi aí que tive o primeiro choque religioso de que guardo lembrança, quando percebi, já nem sei bem como, que só havia uma Nossa Senhora e não duas, tão diferentes que me habituara a vê-las! A da Conceição sempre me tinha parecido mais bonita do que a outra porque tinha aos pés muitos anjinhos e não umas pobres alpercatas, pairava nas nuvens e não em cima de uma árvore mais ou menos raquítica, marcava no calendário o dia da mãe (e a minha até se chamava Conceição…) e devia ser mais importante porque dava direito a um dia com praia e sem escola.

Mais ou menos inconscientemente, julgo que achava mais do que normal que uma criança que tinha dois pais, não ficasse atrás no que às mães dizia respeito. Crenças em bicefalismos antes de tempo... 
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7.12.15

Dica (178)




«Em entrevista à Reuters, o ministro das Finanças da Grécia diz que só um alívio da dívida poderá dar confiança aos investidores e afastar de vez o fantasma do Grexit.(...)

Já é uma certeza que a extensão dos prazos de pagamento e dos períodos de carência de juros e capital estarão em cima da mesa das negociações, bem como um teto para a despesa anual com a dívida.»
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Anda um espectro pela Europa: o espectro do fascismo



Daniel Oliveira, Expresso diário, 07.12.2015. 
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Paulo Portas vai apoiar o candidato Marcelo Rebelo de Sousa?




«Eu não estava à espera, no caso de Marcelo Rebelo de Sousa, de qualquer lealdade, porque não é o forte dele. Eu costumo dizer que ele é filho de Deus e do diabo: Deus deu-lhe a inteligência, o diabo deu-lhe a maldade».

(Segue-se a célebre história da vichyssoise.)
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Ide e lede


Uma importante e longa entrevista a Francisco Louçã, sobre o passado e o presente do Bloco de Esquerda, que talvez evite que se digam e escrevam por aí muitas baboseiras.  

Bloco’s Anti-Austerity Gamble.

Vamos lá ver o que isto dá



«A União Europeia nunca existiu. Foi uma fábula que enganou muitos ingénuos e apenas serviu para consolidar a Alemanha como novo império, e alimentar o capitalismo com outro fôlego. Nada digo de original. O terrorismo e os foragidos de todos os medos vieram demonstrar as enormes fragilidades da "União." Em pouco tempo, a Europa transformou-se numa fortaleza hostil, com muros, arame farpado e militares armados até aos dentes. Destinados a impedir, de qualquer forma, a invasão dos desesperados. O mito da fraternidade e da solidariedade europeia tombou com o estrondo que se conhece. (...)

Os países europeus que mais sofreram com a estratégia político-económica aplicada com zelo e pressa foram, naturalmente, os mais débeis. Portugal foi o fraco dos fracos. Acedeu a todos os propósitos. A todas as imposições, fossem elas quais fossem. Passos Coelho, assim que trepou ao poder, declamou o empobrecimento do país, como forma de pagar a "dívida." (...) Foi desnecessária e imoral esta política de "austeridade", que levou dois terços da população ao sofrimento mais atroz e à morte da esperança. (...)

Sabemos que vão ser dificultosos os tempos que aí vêm. Mas um tenebroso preconceito, que impedia o PCP de sequer almejar chegar ao poder, foi desfeito, pela persistência de António Costa e pela compreensão histórica de Jerónimo de Sousa, sem esquecer a lúcida combatividade de Catarina Martins. Com todas precauções que uma afirmativa desta natureza pode comportar, penso que se virou uma página da história política portuguesa, e que já era tempo de se entender que chegou uma nova época. Enfim: estamos cá para ver.»

Baptista Bastos

6.12.15

Triste França



A Frente Nacional, de Marine Le Pen, que nunca governou regiões em França terá ficado em primeiro lugar em 6 das 13 existentes, na primeira volta das eleições hoje realizadas.

À hora a que escrevo ainda não há resultados definitivos, apenas estimativas, mas a FN terá ficado em primeiro lugar a nível nacional. FN e Les Republicains de Sarkozy terão obtido cerca de 58% dos votos – vitória claríssima da direita, portanto – derrota do PS de Hollande e da esquerda em geral.

Estas eleições regionais são um pouco complicadas, mas este texto explica como funcionam: Elections régionales, mode d'emploi.

Triste França, pobre França.


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Juliette Gréco: uma bela entrevista

Dica (177)




«Nobody can accuse Finland of being spendthrift, or undisciplined, or technologically backward, or corrupt, or captive of an entrenched oligarchy, the sort of accusations levelled against the Greco-Latins.» 
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Protestos laborais

Tempos interessantes



«O que hoje se passa em Portugal mostra como a história é sempre surpresa e é por isso que é inovadora, para o bem ou para o mal. A maioria dessas surpresas é má, algumas muito más. Existe uma maldição, que passa por ser chinesa, embora tenha sido escrita por um inglês, e que diz: “Que vivas em tempos interessantes.” Vivemos hoje em Portugal esses ”tempos interessantes”, com todos os riscos inerentes. A quantidade de coisas que mudou nas últimas semanas criou esse carácter poético da história, criador e carismático, o que também significa que a sua novidade traz ao mesmo tempo esperança e insegurança. Insisto: nada garante que o que se está a passar é, como dizem as pessoas, “para melhor”, mas apenas que é diferente. E essa diferença exactamente por ser genuína não pode ser prevista, e as suas consequências e “normalização” também não. Mas uma coisa é certa: exactamente porque é uma genuína alteração, uma mudança, as pontes com o passado foram cortadas e o caminho para trás é impossível. Isso não significa que as forças do passado não estejam cá connosco, ainda assarapantadas com o que aconteceu, mas não menos vivas e perigosas. “Que vivas tempos interessantes.”»  

José Pacheco Pereira