Um grande, grande texto de Isabel Moreira: «Honrar Mandela por inteiro: da posição portuguesa».
«O pai da pátria sul-africana que conhecemos hoje não nasceu como político, lutador e líder da resistência no dia em que acabaram os conhecidos 27 anos de prisão. Honrar Mandela apenas “a partir da sua libertação”, sublinhando a opção pessoal e política pela conciliação nacional sem vingança histórica, é trair Mandela e a Política. (...)
Ao contrário das omissões presentes nos vários tributos a Mandela, ao contrário de frases que escutámos como “mas no período anterior à sua prisão não era um pacifista e houve crimes dos dois lados”, é precisamente a atitude de Mandela no contexto histórico de luta armada – o que não é terrorismo – contra o regime do apartheid, contra um sistema oficialmente racista – fundamento para a sua condenação a prisão perpétua – e a atitude de Mandela no momento histórico em que encontra e cria condições para a via da conciliação sem luta que faz deste homem um político e um homem de exceção. (...)
A apologia vazia do pacifismo esquece que quem pega nas armas arriscando tudo por um valor universal – a igualdade – não o faz para cometer crimes, fá-lo para pôr cobro a um sistema que é em si mesmo um crime contra a humanidade.
Por exemplo, quando Cavaco Silva diz que “sempre foi contra a luta armada”, e que até viu “com satisfação” que foi essa a via de Mandela, para além de proferir uma frase que me escuso de qualificar, mostra que condena a via da luta de armada que faz parte do percurso do Mandela, figura a quem adere aparentemente por inteiro mas tristemente pela metade.
Como se percebe, aderir “pela metade” é repudiar.»
Indispensável ler na íntegra.
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